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Soja dos Extremos: Lavouras 2021/22 acumulam perdas por falta ou excesso de chuvas em partes do BR

Publicado em 27/12/2021 17:19 e atualizado em 28/12/2021 09:07

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As perdas da safra 2021/22 por adversidades climáticas de diversas naturezas e intensidades estão se acumulando, se mostrando cada vez mais aparentes, porém, ainda são difíceis de serem contabilizadas. Já há consultorias estimando uma quebra de até 10 milhões de toneladas na produção da América do Sul, enquanto outras acreditam que a perda de 10 milhões pode dar-se somente no Brasil. 

O país passa por um cenário de extremos. O excesso de chuvas no Centro-Norte ainda não causa perdas agressivas para a soja, porém, começa a tirar a qualidade das lavouras, principalmente as que estão em estágios mais avançados de desenvolvimento. Enquanto isso, da região Sul partem relatos de perdas irreversíveis e de condições jamais vistas ocasionadas pela estiagem.

No Paraguai e na Argentina, cenários semelhantes. E o momento traz ainda mais incerteza sobre o real tamanho da safra sul-americana diante dos atuais desafios. De acordo com um levantamento feito pelo Grupo Labhoro, a produção paraguaia pode apresentar uma baixa de, pelo menos, 20%, ficando entre 8 e 8,5 milhões de toneladas, contra mais de 10 milhões da safra anterior. 

"As altas temperaturas previstas para o Sulda América do Sul, que podem bater na casa dos 40 graus no centro da Argentina, traz grandes preocupações para os produtores", afirma o diretor geral do grupo, Ginaldo Sousa.  

E os prejuízos tendem a continuar aparecendo, uma vez que as previsões climáticas continuam mostrando altos volumes de precipitações na metade norte do Brasil, enquanto o sul segue sofrendo com uma onda de calor severo, temperaturas se aproximando de 40ºC e pouquíssima ou nenhuma chuva. 

"As regiões centro-oeste, sudeste e MATOPIBA seguem com chuvas fortes, conforme a previsão do modelo GFS (americano). Para a região Sul, o modelo indica um aumento na pluviometria para os próximos dias. Para o Paraguai são indicados até 50 mm acumulados para a principal área produtora. O GFS indica chuvas leves para a Argentina, com exceção de Buenos Aires e La Pampa", complementa Sousa.

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No mapa acima é possível ver as previsões indicando, até 6 de janeiro, apenas chuvas leves de até 25 mm no centro do Rio Grande do Sul e Paraná. Já no norte gaúcho, Santa Catarina, sudoeste e nordeste paranaenses, e maior parte do Mato Grosso do Sul, centro-leste da Bahia o modelo indica chuvas de 40 a 60 mm.

Para Vlamir Brandalizze, consultor da Brandalizze Consulting, a América do Sul já está contabilizando perdas de quase 20 milhões de toneladas de soja. 

O Notícias Agrícolas foi ouvir algumas lideranças estaduais para entender o atual quadro da safra 2021/22 de soja em importantes estados produtores que sofrem com as extremas e paralelas adversidades de clima. 

RIO GRANDE DO SUL

No Rio Grande do Sul, a estiagem se dá em um momento diferente e também com intensidade não semelhante a de outros anos, como explicou o engenheiro agrônomo e consultor da Aprosoja RS, José Domingos Teixeira. "A situação do estado não é nada boa. Nem terminamos o plantio e a seca já está presente e muito forte. Assim, além de não conseguirmos dar sequência à semeadura, teremos a necessidade da resemeadura em muitas áreas", diz. 

Além dos problemas enfrentados nesta temporada, Teixeira lembra que o agricultor gaúcho vem trabalhando com níveis de umidade abaixo do ideal há três anos. "Caso as chuvas não cheguem até 15 de janeiro, como estão previstas, ele vai perder ainda mais ou nem mesmo colher nada", explica o consultor da Aprosoja. Assim, a área potencial de 6,1 milhões de hectares do estado pode não ser alcançada, bem como já é possível falar em perdas de 27% a 30% na produção. "Dessa área potencial não temos nem 5,6 plantados até agora. E o que for plantado mais a frente terá também potencial produtivo bem baixo".

Teixeira também reforça a preocupação dos impactos do clima para o estado gaúcho diante de sua importância na produção de sementes de soja. "As áreas irrigadas de soja são pontos muito importantes para a produção de sementes para a próxima safra. O Rio Grande do Sul é berço de sementes para o Centro-Oeste", explica. 

Além do plantio se desenvolvendo em ritmo mais lento do que o comum, o tempo seco e quente também freou expressivamente novos negócios com a soja no RS. "O estado é muito conservador na comercialização e, com isso, não tem 20% da soja 2021/22 vendida. O produtor vai vender no momento certo", relata. 

Para o presidente da Aprosoja RS, Décio Teixeira, o momento é muito difícil, mas deve ser também de resiliência do produtor gaúcho. "Situação muito crítica no nosso estado. Muitos produtores não conseguiram realizar seu plantio, não se sabe o que fazer. A soja toda está nesse porte bem pequeno (como mostram as imagens abaixo) e se não houver chuva nos próximos dias começa a morrer também", lamenta. 

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As lavouras que foram plantadas em outubro começaram a florescer, porém, também de forma comprometida e com porte pequeno, além de baixo potencial produtivo. "Quando chover, a planta vai largar flores e derrubar as vagens. É uma situação crítica, mas o produtor tem que resistir, tem que persistir", diz o presidente. "Tivemos duas colheitas extraordinárias este ano. A primeira de soja, a melhor em muitos anos, depois o trigo, inclusive com preços extraordinários também". 

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Lavouras de soja no Rio Grande do Sul

PARANÁ

"Eu nunca vi soja morrer no Paraná, este ano eu vi", relatou o presidente da Aprosoja PR, Márcio Bonesi, que cultiva a oleaginosa no estado desde 1994. Assim como no Rio Grande do Sul, os produtores no Paraná esperam com ansiedade pelas chuvas que estão previstas para 15 de janeiro. Caso elas não se confirmem, os sojicultores que já têm canivetinhos em suas lavouras colherão alguma coisa, os que ainda não têm correm o risco de não colher nada, ainda como explica o presidente.

Bonesi afirma que as perdas irreversíveis ainda estão contabilizadas, porém, reforça que estimá-las agora é um trabalho difícil, uma vez que a cada dia da estiagem o quadro se agrava no segundo maior estado produtor de soja do Brasil. Serão produtividades muito irregulares entre as regiões produtoras, da mesma forma como se comportaram as chuvas ao longo do desenvolvimento da safra 2021/22. "Devemos ter uma das piores safras dos últimos anos", acredita.

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Lavouras de soja em Palotina 

Além das perdas físicas, no campo, o presidente da Aprosoja regional ainda lembra que a maior parte dos produtores de soja do estado não possuem seguro, uma vez que perdas tão agressivas como estas são raras na sojicultura paranaense. "No milho safrinha é mais arriscado, mas nunca vi o que estamos passando na soja este ano. É uma situação dramática, mas é uma situação nova".

E ele ainda afirma que os contratos futuros são outra "preocupação gigante" entre os produtores, já que muitos comprometeram parte de sua safra e não sabem ainda quanto colherão.

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Lavouras de soja em Goioerê

Em Marechal Cândido Rondon, as primeiras colheitas de soja registram produtividade de apenas 8 sacas por hectare e a perda consolidada da safra do município é de 65%. A cidade registra microrregiões com mais de 60 dias sem chuvas, o que também já consolidou perdas de 85% na primeira safra de milho.

Veja a íntegra da entrevista de Edio Luiz Chapla, Presidente do Sindicato Rural de Marechal Cândido Rondon:

BAHIA

Nas regiões marcadas pelo excesso de chuvas, como a Bahia, as perdas ainda não são tão grandes como as registradas em áreas de seca, mas a qualidade da soja preocupa. A falta de luminosidade e campos alagados - como foram mostrados pelo Notícias Agrícolas há duas semanas - também deixam os sojicultores em alerta. 

Segundo a vice-presidente da FAEB (Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia), Carminha Missio, algumas cultivares mais precoces começam a apresentar abortamento de vagens, mas devido ao alto número de vagens por plantas, a situação ainda não preocupa.

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Lavouras de soja na Bahia - Fotos enviadas por Carminha Missio

Mais do que isso, Carminha ainda relata o temor dos produtores locais diante da impossibilidade de realizarem as aplicações de fertilizantes e defensivos em suas lavouras por conta dos solos encharcados e das precipitações constantes.

"Temos uma preocupação muito grande agora com os manejos que são necessários em cada período, que não podem ser realizados por conta das chuvas (...) Outro fator que nos preocupa também é que no segundo ciclo, de janeiro, daqui uns 15 dias, poderemos ter uma falta de chuvas. E com o excesso, o sistema radicular das plantas fica mais superficial, o que nos preocupa mais a frente. Mas, por agora, não podemos ainda mensurar perdas nas nossas lavouras", explica a vice-presidente. 

Acompanhe sua entrevista na íntegra no Notícias Agrícolas nesta segunda-feira:

TOCANTINS

Maurício Buffon, porta-voz da Aprosoja TO, comenta que as chuvas dos últimos três dias no estado trazem muita preocupação entre os produtores. "Está realmente muito complicado, com muita chuva. Condições das lavouras, aparência é uma coisa, mas produtividade é outra, muita doença. Nós já começamos a entrar em um ciclo de quebra de produção devido a muita doença e muita umidade", afirma. 

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Soja pós chuva TO - Fotos enviadas por produtores locais

Segundo dados coletados nas estações meteorológicas do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), nos últimos cinco dias os acumulados ultrapassaram os 100mm. 

Leia mais:

+ Excesso de chuva no Tocantins aumenta incidência de doença e soja entra em ciclo de quebra de produção, comenta Aprosoja

MATO GROSSO

Depois do plantio ocorrido dentro da janela ideal em Mato Grosso, o excesso de chuvas nas últimas semanas no maior estado produtor de soja do Brasil traz alguma preocupação com os manejos - como acontece na Bahia - que são necessários para as lavouras agora. Mas, obviamente, "o excesso de chuvas é menos preocupante do que a seca", relata o presidente da Aprosoja MT, Fernando Cadore. 

Ainda assim, apesar das chuvas acima da média, os problemas são operacionais, mas as lavouras se desenvolvem bem e a safra deve se concluir sem grandes perdas expressivas. "Os próximos 30 dias deverão definir a safra 2021/22 de soja. Estamos caminhando para a normalidade, com a produção alinhada com os últimos anos", diz o presidente. 

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Por:
Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte:
Notícias Agrícolas

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