União entre Shell e Cosan altera lógica do mercado global de etanol
A união Shell Brasil e Cosan tende a alterar drasticamente a forma como o etanol é produzido e vendido no mundo e lançar as bases para a criação de um mercado global de biocombustíveis. Nas palavras de Rubens Ometto Silveira Mello, acionista e presidente do conselho de administração da Cosan, "estamos dando o passo que estava faltando para o etanol se transformar numa commodity global".
Entre os especialistas da área de biocombustíveis, o negócio foi visto como uma mudança de paradigma. Na avaliação de Paulo Costa, consultor de agronegócios, bioenergia e comércio exterior de Buranello Passos Advogados, trata-se da associação mais estreita e arrojada já feita entre uma petroleira e uma indústria de etanol.
"É cedo para dimensionar o que essa nova empresa será capaz de fazer porque precisamos dos detalhes finais do acordo", diz Costa. "Mas com certeza foi o movimento mais agressivo feito por uma petroleira no mercado de etanol. Tudo indica que Shell e Cosan estão criando a maior distribuidora global de etanol e juntas podem lançar as bases para a criação do mercado internacional de biocombustíveis".
Atualmente, as vendas internacionais de etanol são feitas por médias e grandes comercializadoras de álcool e por tradings agrícolas. Essa característica faz com que a exportação anual seja instável e fragmentada em centenas de contratos de vendas, em sua maioria de curto prazo. Na prática, não se pode sequer dizer que já exista um mercado organizado de biocombustíveis. O produto sequer é cotado em bolsa de valores e os preços são negociados livremente entre vendedores e compradores.
Essa característica afasta clientes importantes. O Japão, por exemplo, não tornou obrigatória a mistura de 3% de álcool à gasolina porque o governo não sente segurança de que poderá receber o volume de combustível que precisaria para manter a mistura.
A associação entre Cosan, o maior produtor e exportador mundial de etanol à base de cana-de-açúcar, e Shell, uma das maiores produtoras e distribuidoras de combustíveis do mundo, tende a mudar esse cenário. O fator da mudança é a forma como a Shell passou a fazer parte do negócio.
Gestão compartilhada
A Shell tornou-se sócia da Cosan tanto na produção quanto na distribuição. Cerca de 70% dos ativos da Cosan vão ajudar a constituir duas novas empresas em sociedade com a Shell – uma de açúcar e álcool e outra de distribuição de combustíveis. Incluem-se na transação as 23 usinas da Cosan. Ainda não foi definida a participação de cada uma, mas a tendência é que a Cosan tenha o controle da produção e Shell, da distribuição – e que a gestão seja compartilhada em ambas.
Segundo Erick Scott Hood, analista de petróleo da SLW, apesar de Cosan e Shell falarem em joint venture, o negócio é uma fusão que tende a beneficiar os acionistas, inclusive os minoritários. "Por causa da presença da Shell, a nova empresa terá poder de barganha único para negociar presença em mercados importantes, como os Estados Unidos". Tal tendência foi reafirmada pelo mercado ao longo de todo o dia. As ações da Cosan lideraram as altas na BMF&Bovespa, com mais de 12% de valorização ao longo do pregão desta segunda-feira. Os papéis fecharam em alta de 10,5%.
Na avaliação de Costa, da Buranello Passos Advogados, a força global da nova empresa está na infraestrutura da Shell. A companhia é dona de um das maiores e mais ramificadas redes de distribuição de combustíveis do mundo. São 45 mil postos em cerca de 100 países. Na condição de sócia de uma empresa de biocombustíveis, ganha agilidade e segurança para negociar a venda e a entrega do etanol brasileiro ao redor do planeta – condição que nenhuma outra companhia tem hoje. Sua simples presença no negócio também confere mais segurança aos clientes ainda desconfiados com a estabilidade do etanol, como os japoneses.
Novas aquisições
A presença da Shell no setor também pode mudar o volume de produção e a escala do mercado de etanol a partir do Brasil. É da natureza das petroleiras operar com grandes volumes de combustíveis – e no médio e longo prazo não poderá ser diferente com os biocombustíveis. Segundo Vasco Dias, presidente da Shell no Brasil, a meta da companhia é ampliar a receita com a produção e a distribuição de energias renováveis. A Shell tem feito investimentos em parques eólicos e até 2015 pretende elevar os ganhos com biocombustíveis.
Juntas, Cosan e Shell podem comprar outras usinas, acelerando o já intenso processo de consolidação do setor no Brasil. Os executivos de ambas as empresas sinalizam que a tendência é exatamente essa. Em entrevista coletiva nesta segunda-feira, Vasco, da Shell, disse que "essa é uma empresa voltada para o crescimento". Marcos Lutz, presidente da Cosan, por sua vez afirmou que a “companhia está bem posicionada para fazer novas aquisições".
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Telmo Heinen Formosa - GO
União entre Shell e Cosan altera lógica do mercado global de etanol. 'Quando você não PODE com o inimigo, é melhor aliar-se a ele...' será que este é o pensamento da Shell? Holandeses tem muito a ver com ambientalismo. Shell tem predominância holandesa? Lembre-se, a Cosan adquiriu recentemente toda Esso Brasileira. Concentração...