Muita propaganda e pouco resultado: Juros altos e custeio caro promovem "desidratação tecnológica"

Publicado em 01/07/2025 18:39 e atualizado em 08/07/2025 15:36
Carla Mendes - Jornalista
Seguro Rural nem ao menos foi citado pelas autoridades no anúncio desta terça-feira (1) e continua sendo um dos principais pontos de preocupação do produtor brasileiro. Além disso, armazenagem, custos e investimentos deixam o setor em alerta.
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Com juros altos e custeio mais caro, Plano Safra 25/26 promove "desidratação tecnológica" do agronegócio brasileiro

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O Notícias Agrícolas recebeu especialistas em diversos setores para uma análise crítica e apurada do Plano Safra 2025/26 para a agricultura empresarial anunciado pelo Governo Federal nesta terça-feira (1), em Brasília. 

Entre os convidados estiveram presentes Fernando Pimentel, sócio-diretor da Agrometrika, membro da Câmara de Modernização do Credito (MODERCRED e representante da SNA (Sociedade Nacional da Agricultura); Paulo Bertolini, presidente da Abramilho e da CSEAG (Câmara Setorial de Equipamento para Armazenagem de Grãos) e Jânio Zeferino, diretor da Agroeasy Consultoria e Soluções Financeiras. 

Foi ponto de convergência entre todos o impacto nocivo e preocupante dos juros altos apresentados no plano - os quais variam de 8,5% a 14% - além do encarecimento do custeio e do fato de, na prática, os recursos serem ainda mais enxutos, apesar do plano ter sido divulgado como o maior da história com o recurso total anunciado em R$ 516,2 bilhões. 

O vídeo acima traz as análises completas, acompanhe!

A equipe de jornalismo do Notícias Agrícolas apurou também o impacto do Plano Safra para alguns setores específicos, como as proteínas animais e o setor sucroenergético. Confira:

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O presidente executivo do CNC (Conselho Nacional do Café), Silas Brasileiro, também trouxe o posicionamento da instituição. 

"Sobre o expediente referente aos recursos para o Plano Safra, na área do café, nós estamos contemplados. Os valores que nós aprovamos através do Comitê Técnico e depois pelo CDPC, na sua assembleia, R$ 7,187 bilhões, eles nos atendem perfeitamente. 

A comercialização, nós carregamos um pouco a mão, exatamente porque sabíamos que o café poderia ter uma leve queda e ela está, inclusive, mais acentuada do que esperávamos. Mas nós colocamos recursos para que o produtor possa depositar o seu café, levantar o recurso e, consequentemente, vender no momento mais próprio do mercado. Então, esses R$ 2,599 é exatamente para suprir o caixa do produtor. 

O custeio, R$ 1,811 bilhão, também é suficiente para o custeio. Tivemos uma alta, sim, de insumos, mas não foi tão significativa. Nossa preocupação maior é com o combustível. 

E o fundo para aquisição de café também ficou bem distribuído. Participam, então, as indústrias, participam em cooperativas. Isso faz com que haja uma pulverização desse recurso, que é R$ 1,686 bilhão.

O capital de giro, arredondando 1 bilhão e 59, também é suficiente para capital de giro. Nesse caso, quem utiliza esse capital de giro são as indústrias para aquisição de café e, também, no caso, algumas cooperativas utilizam esse recurso. Recuperação de cafezais, nós vimos que a condição climática foi normal, consequentemente, não vai precisar. Não tivemos nem chuvas em excesso, granizo, nem seca prolongada. Então, tem R$ 31 milhões, isso forma, então, o total de R$ 7,187. A expectativa nossa é com relação aos juros. 

Nós podemos aplicar taxa diferenciada em relação àquilo que vai ser colocado para as outras culturas, mas isso vai depender de uma reunião do comitê técnico para estabelecer e, naturalmente, pela aprovação do Conselho Deliberativo da Política do Café. Então, é uma sugestão que virá depois, mas, lógico, nós vamos acompanhar bem de perto aquilo que está sendo colocado para as outras culturas através do Plano Safra. Então, são essas informações, mas sentimos gratificados, não houve nenhum corte e temos recursos realmente bastante substantivos para essa Safra 25/26". 

“Plano Safra é propaganda; quem paga a conta é o produtor”, diz presidente da FPA 

Pedro Lupion afirma que governo anuncia crédito recorde para o agro, mas só controla 22% dos recursos e impõe ao setor até R$ 58 bilhões a mais em juros

O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Pedro Lupion (PP-PR), afirmou nesta terça-feira (1º) que o Plano Safra 2025/26, lançado pelo governo federal, “é mais uma peça de marketing do que uma política efetiva”. Segundo ele, o valor anunciado de R$ 516,2 bilhões para a agricultura empresarial contém distorções e omissões que comprometem a transparência do programa e impõem custos sem precedentes ao setor produtivo.

Pedro Lupion - Coletiva Plano Safra

“O governo anuncia um plano de R$ 516 bilhões, mas só tem controle real sobre 22% disso. O restante é dinheiro dos bancos, a juros de mercado, muitas vezes acima de 2% ao mês. Não se pode vender isso como apoio estatal ao agro”, disse Lupion.

De acordo com o deputado, no ano passado o governo havia prometido R$ 138 bilhões em recursos com juros controlados, mas contingenciamentos reduziram a execução a R$ 92,8 bilhões. Neste ano, o governo anunciou R$ 113,8 bilhões nessa mesma categoria, o que representa aumento frente ao que foi efetivamente executado, mas queda em relação ao valor prometido no ano anterior.

“Quando comparo o que foi anunciado em 2023 com o que está sendo prometido agora, houve recuo. Estão vendendo crescimento onde há perda de ambição”, afirmou.

Lupion também criticou o volume de recursos da União destinados diretamente à agricultura empresarial. Dos R$ 13,5 bilhões previstos para equalização de juros na safra 2025/26, R$ 9,5 bilhões serão para a agricultura familiar e somente R$ 3,9 bilhões para a empresarial.

“Esse é o gasto real do governo com o agro empresarial. Todo o resto é dinheiro de banco, do mercado, emprestado a taxas muitas vezes impagáveis. No fim, o governo gasta pouco e transfere o custo ao produtor”, alertou.

Produtor pagará até R$ 58 bilhões a mais em juros

Segundo Lupion, o impacto da alta da Selic — atualmente em 15% ao ano — vai impor um peso inédito à produção. Ele estima que, mesmo com parte do crédito rural operando com equalização, o custo adicional só com juros será de pelo menos R$ 54 bilhões em 2025/26, podendo ultrapassar R$ 58 bilhões se considerados também os efeitos da tributação sobre instrumentos como as Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs).

“Esse é o verdadeiro recorde que o governo está entregando: R$ 58 bilhões a mais em juros para o produtor pagar. O plano é recorde no custo, não no apoio”, criticou o presidente da FPA.

Tributação das LCAs ameaça crédito rural

Lupion também voltou a criticar a MP 1303/2025, que prevê a taxação das LCAs, responsáveis por financiar até 43% da produção rural na última safra.

“Mexer nas LCAs é atacar o coração do crédito rural. A insegurança jurídica afasta investidores e tira liquidez do sistema. É um risco enorme para quem produz e para quem financia”, afirmou.

Segundo ele, os próprios bancos poderiam ampliar o volume de recursos destinados ao setor agropecuário se elevassem de 50% para 60% a exigência de aplicação das LCAs. Isso injetaria cerca de R$ 64 bilhões adicionais no crédito rural sem qualquer impacto sobre o orçamento público.

“Há alternativas viáveis e sem custo fiscal. Mas, em vez de estimular isso, o governo prefere criar insegurança e tributar o instrumento que mais funciona no agro”, disse.

Seguro rural foi esquecido

Outro ponto de preocupação destacado por Lupion é o silêncio do governo sobre o seguro rural. De acordo com ele, essa é a principal política de proteção da agricultura, e sua ausência compromete a segurança da produção.

“O governo sequer mencionou o seguro rural no lançamento do plano. É como se fosse algo secundário. Mas sem seguro, o produtor fica exposto e o país termina discutindo dívidas e renegociações”, apontou.

Segundo dados do Portal da Transparência, dos R$ 1 bilhão previstos no orçamento para o seguro rural em 2025, apenas R$ 67 milhões foram executados até o momento — pouco mais de 6% do total.

Lupion reconheceu aspectos positivos do anúncio, como o discurso do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que destacou a importância estratégica do agro e demonstrou sensibilidade com o Rio Grande do Sul. Ele também elogiou o aumento do teto do PRONAMP, de R$ 3 milhões para R$ 3,5 milhões, e a elevação do limite do PCA para 12 mil toneladas.

Por outro lado, o presidente da FPA responsabilizou diretamente a política fiscal do governo pelos juros elevados.

“A Selic subiu para 15% porque o governo perdeu o controle dos gastos. É o Banco Central que segura a inflação, porque o Executivo não segura a despesa. O resultado é crédito caro, produção pressionada e comida mais cara para o consumidor”, afirmou.

Para Lupion, o Plano Safra 2025/26 repete a fórmula de anúncios grandiosos com pouca execução prática.

“No ano passado, 32% do crédito prometido sequer foi contratado. E neste ano o plano já nasce com o orçamento contingenciado. Enquanto isso, o produtor vai bancando a conta de uma irresponsabilidade fiscal que prejudica toda a cadeia produtiva”, concluiu.

Propostas estruturais

A FPA apresentou um pacote de propostas para reduzir gastos públicos e aumentar a eficiência estatal, entre elas:

- Transferência do Cadastro Ambiental Rural (CAR) para o Ministério da Agricultura, evitando sobreposição com o MMA;
- Redução do número de ministérios de 31 para 19;
- Fim dos supersalários e controle das verbas indenizatórias;
- Reestruturação dos imóveis públicos para reduzir aluguéis e gerar receita.

Na agenda econômica, a FPA defende ainda:

- Prorrogação da alíquota zero do IOF-Câmbio até 2030;
- Segurança jurídica para operações de crédito rural com risco sacado;
- Manutenção da isenção da cesta básica como mecanismo anti-inflacionário.

Aprosoja MT alerta para os impactos da taxa de juros elevada anunciada para o Plano Safra 2025/26

Entidade vê com preocupação o novo plano, que impõe taxas de juros elevadas e limitações ao acesso ao crédito rural, agravando o cenário de endividamento no campo

Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja MT) expressa preocupação com o Plano Safra 2025/26 anunciado nesta terça-feira (01.07) pelo Governo Federal. Com juros próximos da taxa Selic atual, o crédito rural se torna praticamente inacessível para a maioria dos produtores, sobretudo em um momento de elevado endividamento no campo.

Embora o volume total anunciado seja de R$ 516,2 bilhões, parte significativa dos recursos R$ 185 bilhões será captada via Cédulas de Produto Rural (CPR) lastreadas em Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), instrumentos privados que não possuem taxas controladas. Ao excluir essa parcela, o volume de recursos disponível sofre uma redução nominal de 17,3%.

Veja o posicionamento do presidente, Lucas Costa Beber:

Na prática, os valores controlados, montante com juros prefixados, cresceram 5% em relação ao plano anterior, o que representa um decréscimo de 0,32% em termos reais, quando ajustado pela inflação acumulada nos últimos 12 meses. Além disso, parte desses recursos já está comprometida com financiamentos da safra anterior.

Os R$ 69,1 bilhões destinados ao Pronamp mantêm juros diferenciados, mas não corrigem as perdas inflacionárias. No setor agropecuário, os investimentos controlados de R$ 79,93 bilhões também apresentaram crescimento nominal insuficiente, enquanto os R$ 21,6 bilhões de recursos livres foram reduzidos em 31% e continuam sujeitos a garantias mais onerosas.

“Na prática, temos menos dinheiro disponível para contratar”, alerta o presidente da Aprosoja MT, Lucas Costa Beber, ao destacar que os aumentos marginais não compensam a corrosão do poder de compra dos produtores.

“Considerando que no último Plano Safra apenas 70% do valor anunciado chegou efetivamente ao produtor e que a linha de custeio empresarial  na qual a maioria se enquadra, teve a taxa elevada de 12% para 14%, fica evidente a queda gradativa na sua eficiência”, ressaltou o diretor administrativo da Aprosoja MT, Diego Bertuol.

O novo Plano anuncia, também a taxa de 10% ao ano para o Pronamp e entre 8,5% e 14% para demais operações de custeio e investimento, dependendo do porte e finalidade do financiamento. Para muitos pequenos e médios produtores, essas taxas tornam o acesso ao crédito inviável, especialmente quando boa parte do orçamento precisa ser destinada à quitação de dívidas anteriores.

Além disso, o crédito de custeio agrícola agora exige cumprimento das recomendações do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), instrumento recorrentemente defasado em relação à prática agrícola.

A Aprosoja MT havia sugerido, com base em estudos do déficit de armazenagem, ampliar o orçamento do Programa de Construção de Armazéns (PCA) para R$ 9 bilhões, com condições facilitadas para pequenos e médios produtores. No entanto, o governo destinou apenas R$ 3,7 bilhões para estruturas de até 12 mil toneladas, com taxa de 8,5% ao ano, e R$ 4,5 bilhões para estruturas maiores, com juros de 10%.

Sob a ótica da sustentabilidade, a entidade havia solicitado o incentivo no rebate e de 1 ponto percentual nas taxas de juros para produtores que participam de programas de melhoria contínua reconhecidos pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA). Contudo, o governo concedeu apenas 0,5%, sem promover na prática, iniciativas sustentáveis como tanto têm propalado.

"Alguns parâmetros anunciados soam inexequíveis diante do cenário econômico. O governo precisa revisar seus gastos crescentes. O ajuste fiscal é essencial para que as ferramentas monetárias funcionem a favor da produção de alimentos, o que há poucos dias parecia preocupar o executivo”, afirma Lucas Costa Beber.

A Aprosoja MT reforça que, afora das peças publicitárias, o Plano Safra 2025/26 não trouxe avanços significativos e que o excesso de regulamentação prejudicará a efetividade da política pública. A entidade continuará atuando em defesa da política agrícola nacional, concreta e exequível, nos termos da Constituição Federal para que os recursos efetivamente cheguem às propriedades e para que o produtor rural tenha acesso a crédito com condições justas.

Plano Safra é insuficiente e não atende o setor, avalia SRB

A Sociedade Rural Brasileira (SRB) recebeu com insatisfação as medidas do Plano Safra 2025/2026 apresentado nesta terça-feira, 1º de julho, pelo governo federal, em Brasília.

A entidade reconhece o esforço do Ministério da Agricultura na busca de recursos para o Plano Safra, mas considera os volumes insuficientes e as taxas de juros inadequadas.

“O Plano Safra não atendeu o setor, aumentou muito pouco o volume total e diminuiu o volume de recursos para investimentos. As taxas de juros são elevadas ainda e o tema do seguro agrícola nem foi tocado pelo governo, o que é negativo para nós”, avaliou o presidente da SRB, Sérgio Bortolozzo.

Entre os pontos preocupantes do Plano está o aumento das taxas de juros, que subiram até 2 pontos percentuais em todas as linhas, com o custeio empresarial chegando a 14% a.a., o que supera a expectativa de retorno de muitas culturas e encarece o crédito, podendo restringir investimentos e ampliar riscos financeiros dos produtores.

Além disso, houve queda de R$2 bilhões nos recursos equalizados para o Pronaf e estagnação no Moderfrota, transferindo maior risco para produtores e instituições financeiras, além de reduzir a atratividade do crédito subsidiado.

A SRB entende que o corte de 5,4% nos programas de máquinas, irrigação e armazenagem limita o avanço tecnológico e a produtividade futura, comprometendo a competitividade do setor no médio e longo prazo. É fato que houve aumento no volume de recursos anunciado, totalizando um valor recorde de R$ 594 bilhões, somando-se agricultura familiar e empresarial. Porém, o crescimento nominal do crédito (1,5% para empresarial e 3% para familiar) fica abaixo da inflação acumulada (IPCA de 5,2%), reduzindo o poder real de compra e o impacto efetivo do financiamento.

A SRB gostaria de um plano safra mais abrangente, que acompanhasse o crescimento vigoroso do agro brasileiro, mas também avalia alguns pontos positivos.

Destacamos, por exemplo, a prioridade para linhas empresariais de custeio, o que ajuda a manter a liquidez dos produtores diante da compressão das margens, reduzindo o risco de inadimplência.

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Fonte:
Notícias Agrícolas

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