MERCADO DO AÇÚCAR: Cansado de Apanhar?

Publicado em 30/04/2012 07:46
Por Arnaldo Luiz Corrêa. Comentário Semanal – de 23 a 27 de abril de 2012.
O mercado de açúcar em NY fechou mais uma semana em baixa. O vencimento maio, que expira na segunda-feira com uma provável entrega de 400.000 toneladas do Centro Sul, encerrou a semana cotado a 21,22 centavos de dólar por libra-peso, uma queda de 71 pontos na semana, ou 15,65 dólares por tonelada. Os demais meses da safra 2012/2013 caíram em média 8 dólares por tonelada. 

O spread maio/julho, que estava a 100 pontos de prêmio há um mês, fechou praticamente no zero. É o jogo do spread que muitos participantes do mercado não entendem muito bem, mas que permite às tradings movimentar o açúcar físico com um olho no mercado futuro e optar pela entrega ou recebimento do produto se o spread lhe for conveniente, agregando o ganho de um mercado ao outro. O volume negociado nos spreads é quase 50% do total de contratos negociados na bolsa.

A rentabilidade do açúcar apesar do dólar mais forte em relação ao real está minguando. Se a usina fizer o NDF do dólar (operação a termo para fixação futura da moeda, oferecida pelos principais bancos financiadores do setor) obteria um retorno médio de 15,5% sobre o custo de produção nos quatro meses de vencimento (maio, julho, outubro e março, volumes distribuídos uniformemente). Está aí uma oportunidade a ser claramente aproveitada. Existe um descompasso do dólar que mostra que dificilmente ficaríamos muito tempo acima dos 1,9000. Vender o que está caro e comprar o que está barato deveria ser a ordem do dia.

Não dá para dizer se o mercado está cansado de apanhar. Alguns traders acreditam que vamos para os 20 centavos de dólar por libra-peso antes de melhorar. Nos níveis atuais temos visto alguns novos especuladores na venda e recompra de produtor com fixação por parte dos consumidores industriais na outra ponta. Outros acreditam que mesmo com uma safra pequena, a produção de etanol será mais do que suficiente para atender à demanda de etanol e que mais açúcar deverá ser produzido. Some-se a esse quadro baixista a safra estupenda da Tailândia, a autorização pelo governo indiano de mais exportação por parte daquele país e o mundo pode viver sem o Brasil. Já vimos esse filme antes. 

As margens de contribuição do açúcar na exportação e do etanol no mercado interno estão se alinhando. Isso quer dizer o seguinte: estamos próximos do nível em que, para as usinas, começa a fazer sentido mudar o mix. Pelo nosso modelo, uma queda de mais 90 pontos na média dos vencimentos de maio/2012 até março/2013 é o ponto de virada. Isso equivale a 20,35 centavos de dólar por libra-peso.

O que mais preocupa os estrategistas em mercados que oscilam muito são os operadores que ficam baixistas na baixa e altistas na alta, e começam a criar mirabolantes teorias conspiratórias em suas pequenas cabeças. Acredite: tem gente que mencionou o número 16 como possibilidade de ornamentar os preços de açúcar em NY. Dezesseis centavos! Vistos pela última vez em julho de 2010. Não é de estranhar. Lembro que em 2010, quando o mercado retomava a queda ocorrida em maio e chegara a 36,08 centavos de dólar por libra-peso, havia um gestor de fundo localizado na Ásia que previra que o mercado de açúcar iria em breve para 66 centavos de dólar por libra-peso! É sempre assim.

Em 40 sessões o mercado de açúcar em NY foi de 26,20 para 20,90, uma queda de 20% que fez os fundos liquidarem suas posições compradas e atraiu alguns novos vendedores especulativos. Uma parte dessa derrocada deve-se ao câmbio que, segundo uma respeitável instituição financeira do setor, foi responsável por grande parte da queda, pouco maior do que os níveis comentados aqui na semana passada. 

Na crise financeira de 2008 nós vimos o mercado com desempenho semelhante chegando a cair, no mesmo espaço de tempo, mais de 22%. Depois, em 2010, a queda dobrou para 44% até atingirmos os 13,60 centavos de dólar por libra-peso em maio daquele ano. 

Para aqueles que gostam de olhar as médias móveis do mercado, uma curiosidade: no dia 27 de fevereiro o fechamento do mercado ficou abaixo da média de 50, 100, 200 e 400 dias. De lá para cá foi só água de morro abaixo.

Estimativas do mercado dão conta de que o PIB do setor sucroalcooleiro é de R$ 42 bilhões, o mesmo valor do endividamento. Se fizermos uma conta do custo da dívida e da margem de comercialização necessária para amortizá-la e dar espaço para um crescimento sustentável para os próximos 5-10 anos, no visor da minha HP-12C aparece ERROR. Prezado leitor, o que aparece no visor da sua? 

A quarta estimativa da Archer Consulting para a safra 2012/2013 do Centro-Sul aponta uma produção de 508 milhões de toneladas divididos em 32,51 milhões de toneladas de açúcar e 21,2 bilhões de litros de etanol. 

O custo de produção do anidro e do hidratado, de acordo com o modelo desenvolvido pela Archer Consulting, é de R$ 1,1846 e 1,1372, por litro na usina, respectivamente. Comparando com o fechamento da BM&F Bovespa, o hidratado apresenta uma rentabilidade média de 1,08% comparada ao custo de produção para o segundo trimestre de vencimento de 2012.

Bons negócios e um excelente final de semana prolongado para todos.
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Fonte:
Archer Consulting

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