Tarifas dos EUA sobre o BR rompem cadeias importantes do agronegócio global e setores esperam diplomacia do governo brasileiro

Publicado em 10/07/2025 15:48 e atualizado em 10/07/2025 18:00

Lula x Trump

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O que o agronegócio brasileiro ainda vai viver depois da imposição das tarifas de 50% dos EUA sobre os produtos do Brasil? Qual o impacto real para o produtor real? Estas são as perguntas mais frequentes desta quinta-feira, 10 de julho, o dia seguinte do anúncio da taxação. Há poucas respostas concretas ainda, uma vez que o último movimento do presidente americano Donald Trump chega com um peso político bastante expressivo e pode ainda apresentar uma série de desdobramentos e não só para o setor produtivo. 

No Brasil, a resposta está sendo  construída e precisa, como explicam os especialistas, ser clara, direta e garantir que, principalmente a competitividade dos produtos brasileiros seja preservada. Além disso, será necessário responder às declarações do presidente sobre os déficits aos EUA que a relação com o Brasil teria ocasionado nos últimos anos. 

"O governo brasileiro está mobilizando sua equipe ministerial e diplomática para avaliar respostas à medida, enquanto aguarda orientações do Palácio do Planalto. A decisão dos EUA aumenta a complexidade das relações bilaterais e pode ter impactos econômicos e geopolíticos relevantes", explica Carlos Cogo, sócio-diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio.

O ministro Carlos Fávaro, da Agricultura e Pecuária, trouxe seu posicionamento sobre as tarifas impostas ao Brasil pelos Estados Unidos de 50% nesta quinta-feira (10), chamando a ação do presidente americano Donald Trump de "indecente". Fávaro afirma que o Brasil está agindo de maneira pró-ativa, inclusive buscando diversificar ainda mais os mercados para os produtos brasileiros. 

O consultor de mercado, um dos mais respeitados do setor, continua afirmando ainda que "ao impor uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros que entram nos Estados Unidos (EUA), o presidente americano, Donald Trump, usou como um dos argumentos "déficits comerciais insustentáveis" contra o seu país. Mas a frieza dos números não corrobora as palavras de Trump. Aliás, se considerarmos os 25 anos deste século, o Brasil só teve superávit comercial com os norte-americanos nos primeiros oito, entre 2001 e 2008. A partir de então, são 17 anos consecutivos de saldo negativo nas trocas de mercadorias, incluindo o resultado acumulado em 2025 até agora".

Segundo informações da rede CNN, da tarde desta quinta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva informou, em um pronunciamento em rede nacional, "O governo brasileiro descarta dar uma resposta econômica e comercial à sobretaxa de 50% anunciada pelo presidente Donald Trump antes de a medida começar a valer, em 1° de agosto, data citada pelo próprio presidente americano. A avaliação é que a gestão Lula deverá usar os próximos dias para calibrar um posicionamento que não escale a crise". 

>> Na CNN: Brasil "segura" até agosto resposta a tarifaço

Do mesmo modo, ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) avalia entrar em negociação direta com a Casa Branca para tentar reverter o tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, também de acordo com o que pôde apurar a CNN. 

No espectro do agronegócio, os principais setores afetados poderão ser o sucroenergético - mais o etanol do que o açúcar - suco de laranja, ovos, café, carne bovina e produtos florestais, considerando que os EUA são um importante mercado para todos estes produtos e são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, ficando atrás apenas da China.

Tabela EUA x BR
Tabela: Cogo Inteligência em Agronegócio

"A medida, acompanhada da abertura de uma investigação sob a Seção 301 da Lei de Comércio de 1974, amplia o conflito e traz riscos significativos para diversos setores exportadores brasileiros", explica Cogo. "Além dos impactos econômicos imediatos, a decisão tensiona a agenda diplomática e exige respostas estratégicas para diversificação de mercados e defesa dos interesses do Brasil no comércio internacional. O cenário demanda mobilização coordenada do governo e do setor privado para minimizar os efeitos adversos e buscar alternativas de negociação e cooperação internacional, protegendo a sustentabilidade das cadeias produtivas brasileiras e sua inserção global".

Veja o relatório completo da Cogo Inteligência em Agronegócio:

O economista e professor do Insper, Roberto Dumas Damas, destacou em entrevista ao Notícias Agrícolas o fato do atual momento estar sendo marcado por uma profunda ingerência política, por ideologia e como este fato estreita ainda mais o espaço para uma negociação consciente, eficiente e pragmática entre as duas nações. 

"Eu acho muito difícil que isso fique nos 50%. O Trump sempre volta atrás e isso, lá na frente, pode chegar aos 10%. Mas, a idealização deste pacote, desta carta, já prejudica o cenário eleitoral brasileiro, transforma cada vez mais no "nós contra eles", detalha Dumas. 

Além disso, explica ainda que os impactos para o setor produtivo seja afetado não só pelos efeitos diretos - que é a questão pura das tarifas de 50% que podem começar a valer já a partir de 1º de agosto - mas também pelos efeitos indiretos, como a depreciação cambial, que pode encarecer os custos de produção. "E se o custo de produção fica mais caro, não só do agronegócio, mas de tudo que é commodity, a inflação fica mais resiliente no Brasil, mais demora para o Banco Central baixar a taxa de juros, ou seja, mais uma flecha para São Sebastião",  diz. 

Assim, o nome do jogo nos mercados agora é, inevitavelmente, volatilidade. Desde o anúncio trazido na tarde desta quarta-feira (9), o dólar - tanto no comercial, como o câmbio futuro - já testaram movimentos mais intensos, os quais se estenderam nesta quinta. A divisa norte-americana, neste 10 de julho, subia quase 1% e voltava à casa dos R$ 5,55. E para adiante, o patamar dos R$ 6,00 poderia ser retomado. 

E embora uma alta do dólar não seria, ao menos por agora, mal recebida por alguns setores - como o de soja e milho, que poderiam se valer da moeda mais alta para ver os negócios avançando no Brasil com um pouco mais de força, como explicou o analista de mercado da Pátria Agronegócios, Pedro Vasconcelos, também em entrevista ao Notícias Agrícolas - o impacto sobre os custos talvez preocupe mais. 

Nesta quinta-feira, os mercados de commodities agrícolas estiveram bastante voláteis e testaram caminhos distintos, dividindo-se entre os alertas impostos pela tarifa americana e seus próprios fundamentos. Assim, a soja e o milho terminaram a sessão na Bolsa de Chicago com estabilidade, enquanto o café saltou mais de 1% e o açúcar caiu quase 2% na Bolsa de Nova York. 

O Notícias Agrícolas ouviu representantes dos principais setores que podem ser afetados e fez uma cobertura dedicada ao assunto. Revisite os conteúdos: 

E ainda como analisou a Cogo Inteligência em Agronegócio, veja como poderia sentir o setor dos produtos florestais:

"Com o acréscimo de 50% no preço final, os produtos florestais brasileiros (como celulose, papel, madeira serrada, painéis de madeira e móveis) se tornam significativamente menos competitivos frente a concorrentes como Canadá, Chile e países europeus. Isso pode provocar perda imediata de contratos, redirecionamento de pedidos e substituição por fornecedores locais ou de países não tarifados. Em 2024, os produtos florestais foram o item agroexportador número 1 do Brasil para os EUA, somando US$ 3,72 bilhões e 4,87 milhões de toneladas exportadas.

Com a nova tarifa, parte significativa desse volume pode deixar de ser comercializada com os EUA, afetando diretamente a balança comercial e o superávit do agronegócio brasileiro. As empresas exportadoras, especialmente as grandes produtoras de celulose e papel, como Suzano, Klabin e Arauco (com operação no Brasil), podem ter suas margens comprimidas, caso optem por absorver parte do custo extra para manter mercado. Pode haver redução na produção, suspensão de investimentos e replanejamento logístico para outros mercados.

O setor florestal brasileiro é altamente gerador de empregos em regiões como o Sul, Sudeste e parte do Centro-Oeste. Com menos demanda externa, há risco de demissões, cortes em contratos com fornecedores e perda de renda em áreas de florestas plantadas. Empresas terão de intensificar esforços de diversificação de destinos, mirando Ásia, Europa e outros países da América Latina, embora isso possa exigir adaptação a novas exigências técnicas e regulatórias. O redirecionamento não será imediato e poderá gerar sobrecarga de oferta interna e pressão sobre preços domésticos".

Veja também como foi a repercussão na imprensa norte-americana, com o relato do jornalista brasileiro Márcio Fernandes Hubert, em entrevista ao Notícias Agrícolas, direto do Tennessee:

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Por:
Carla Mendes | Instagram @jornalistacarlamendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

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