Importação do biocombustível dos EUA ganha mais relevância
Publicado em 28/04/2011 07:06
Se forem mantidas em 2011 as mesmas condições de oferta e demanda de etanol de 2010 no Brasil, o volume de importações do combustível dos Estados Unidos poderá se repetir na temporada recém iniciada, a 2011/12. Qualquer mudança no percentual de mistura de etanol anidro na gasolina no mercado brasileiro terá reflexos no ritmo dessas compras, mas é fato que o produto americano começa a se firmar como uma opção importante na complementação da oferta doméstica.
Os números da safra 2010/11 surpreenderam. Só o Centro-Sul importou 228 milhões de litros de etanol, segundo a consultoria Datagro. Considerando-se o volume já realizado e o que será confirmado no Nordeste até agosto - quando termina oficialmente a safra da região -, as importações brasileiras de etanol dos EUA atingirão cerca de 430 milhões de litros.
Quem trouxe o produto americano na entressafra brasileira - de janeiro a abril - teve margens de lucro expressivas, uma vez que a importação chegou ao Brasil a preços bem inferiores aos internos. O pico dessa rentabilidade foi em abril, quando o valor interno do litro do anidro atingiu patamares muito elevados, próximos de R$ 3.
"No mesmo momento, o etanol americano posto em São Paulo estava chegando a um custo de R$ 1,60 por litro", diz Tarcilo Rodrigues, diretor da Bioagência, que responde pela comercialização de cerca de 10% do etanol produzido no Centro-Sul. Ele acredita que boa parte do volume importado de abril foi vendida entre R$ 2,20 e R$ 2,30 o litro.
Martinho Seiiti Ono, diretor da SCA Trading - que reúne usinas que respondem por 20% do etanol do Centro-Sul -, confirma que, no Brasil, o segmento pode novamente olhar mais "de perto" para o mercado americano. "Nesta safra 2010/11, a importação foi um mero casuísmo, pois o comportamento do consumidor [muitos não pararam de usar etanol mesmo com preços elevados] pegou todos de surpresa. Mas, daqui para frente, importar dos Estados Unidos pode ser visto como uma oportunidade de negócio".
Do ponto de vista do equilíbrio entre oferta e demanda, Plínio Nastari, presidente da Datagro, não vê necessidade de o Brasil importar. Para ele, os preços internos do etanol serão mais elevados neste ano e naturalmente inibirão o consumo. A Datagro projeta que em 2011 o preço mínimo do etanol hidratado - usado diretamente nos tanques - será de R$ 0,95 a R$ 1 por litro (na usina, livre de impostos), ante R$ 0,70 em 2010 e R$ 0,58 em 2009.
Nastari acredita que a retração nas bombas trará de volta o equilíbrio com a oferta, que deverá ser semelhante à da safra 2010/11. A Datagro prevê para o Centro-Sul produção de 25 bilhões de litros.
Rodrigues, da Bioagência, não acredita em arrefecimento da demanda no mercado interno. O consumo de combustíveis em geral, diz ele, está crescendo, acompanhando o aumento da renda do brasileiro. "Ainda que haja um susto inicial por causa do preço, depois o consumidor se acostuma e continua a usar o carro, em vez do transporte coletivo, a viajar etc. Vejo, sim, potencial para repetirmos os níveis de importação de etanol nessa nova safra".
Ele pondera, entretanto, que se as regras do jogo e os preços mudarem, obviamente as perspectivas também sofrerão alterações. "Se a remuneração do anidro ficar acima da registrada no açúcar, o caldo da cana pode ser redirecionado do adoçante para o anidro".
Conforme a Datagro, pela primeira em vez desde janeiro de 2009 o anidro - que está em níveis elevados por causa dos estoques apertados na entressafra - está remunerando mais que o açúcar. Em preços equivalentes a libra-peso, o anidro está valendo 45,6 centavos de dólar, mais que o açúcar de mercado interno (32,5 centavos de dólar), que o hidratado (27,5 centavos) e que o açúcar de exportação (o contrato 11 na bolsa de Nova York está em 24,5 centavos de dólar). "Com a entrada da safra, os preços do anidro caem, mas de R$ 2,70 para R$ 1,40 ou R$ 1,50", diz.
Neste momento, apesar das estimativas oficiais, a incerteza ainda é grande e muitos ainda duvidam de processamento de cana acima de 555 milhões de toneladas no Centro-Sul. A União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica) prevê crescimento da moagem de 2,11%, para 568,5 milhões de toneladas. A estimativa da Datagro aponta para 561 milhões de toneladas.
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Fonte:
Valor Econômico
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