Entenda porque a manifestação de domingo em São Paulo contra o Código Florestal não significa nada

Publicado em 20/05/2012 18:12 e atualizado em 05/09/2013 12:38
por Ciro Siqueira, do blog www.codigoflorestal.com

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Protestando contra o Brasil rural em frente ao Monumento às Bandeiras 

Durante o mestrado, na Universidade de Brasília, tive um grande professor de economia, professor Pedro Zucchi. Entre muitas outras coisas professor Pedro me ensinou a diferença entre os conceitos de envolvido e comprometido. Ele usou uma metáfora para explicar a diferença. Ele me disse que no filé-a-cavalo, o cavalo está apenas envolvido, quem está comprometido é o filé bovino e o ovo da galinha. Professor Pedro Zucchi é um grande professor.

Ontem, domingão de sol, em São Paulo os ambientalistas fizeram uma manifestação contra a reforma do Código Florestal. Nos deram outra grande metáfora que bem exemplifica a diferença entre envolvimento e comprometimento.

Assim como o cavalo do filé-a-cavalo, os militantes da manifestação contra o Código Florestal estão só envolvidos com o tema. Quem está comprometido mesmo é o produtor rural. É muito fácil militar por leis que outros se esfalfarão para cumprir. A Cristiane Torloni, o Vitor Fasano, o Bono Vox, o James Cameron, a Madre Marina de Xapurí, os padres, os universitários, os cientistas e os ambientalistas, não terão fazer qualquer esforço para cumprir o que exige a lei. Eles não são produtores, não serão multados por falta de Reserva Legal, nem perseguidos pelo Ibama por falta de APP.

Logicamente, se os produtores rurais brasileiros debilitarem a agricultura nacional para recuperar RL e APP, Torloni, Bono, Fasano, Madre Marina de Xapuri e os outros, ficarão bem felizes e confortáveis em um planeta com um grande jardim. Ir para a rua exigir um mundo melhor, mais preservado, empurrando o ônus desse melhoramento para "o outro" e se eximindo de arcar com sua parte desse latifúndio, é bastante confortável. 

É divertido lutar pelo bem quando a gente fica só com o benefício e a parte dura e onerosa fica lá com os "ruralistas". Afinal, preservar meio ambiente no * dos outros é refresco.

Em tempo, a incoerência é tanta que os ambientalistas acharam de reunir seus militontos para protestar contra a reforma do Código Florestal diante da escultura de Victor Brecheret erguida em homenagem ao esforço dos bandeirantes para desbravar o nosso país. Na frente do Monumento aos Bandeirantes onde os ambientalistas protestaram hoje em São Paulo há um mapa de Afonso Taunay, esculpido no granito, mostrando o roteiro das expedições e os nomes dos bandeirantes mais famosos, entre eles Fernão Dias, Anhangüera, Borba Gato e Raposo Tavares.

Ambientalista é um bicho naturalmente incoerente.

 

Porque a ignorância de Inácio de Loyola Brandão não é inocente

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Não sou eu quem está chamando Inácio de Loyola Brandão de ignorante. Foi ele mesmo quem assumiu a condição em um dos seus últimos textos publicados no Estadão: Toquei a sumaúma, árvore de 500 anos.

O escritor escreve sobre sua experiência recente de perambular pela Amazônia a bordo de um transatlântico cujo motor e os condicionadores de ar que movimentaram e amenizaram o calor da região eram movidos à combustível fóssil. O texto de Brandão transpira o deslumbramento natural que os não amazônidas sentem quando percebem a Amazônia.

No meio do texto, prenho desse deslumbramento, o escritor diz sobre a reforma do Código Florestal: "me dei conta de como somos ignorantes em relação ao Amazonas. Tão ignorantes quanto esses que redigiram e aprovaram o novo Código Florestal, que a presidente deveria vetar, num gesto de sabedoria e amor à pátria. Aliás, os que redigiram e aprovaram não são ignorantes, são espertos, manobradores e safados em relação ao Brasil."

A ignorância do velho escritor é evidente só pela confusão entra o rio Amazonas e a região Amazônica, duas coisas intimamente relacionadas, mas completamente diferentes. Fico me perguntando se Inácio de Loyola Brandão conhece ou ignora o texto do Novo Código Florestal. A impressão que tenho é a de que ele não leu o texto, portanto o ignora. Apesar disso foi capaz de tecer tão dura crítica ao texto.

Eu até entendo o escritor. A Amazônia em geral, e o Amazonas em particular, causam nas pessoas, sobretudo nos forasteiros, um sentimento impressionante de deslumbramento, como um indivíduo diante de uma maravilha antes desconhecida. Esse sentimento misturado a rumores de que a tal maravilha está ameaçada pelo mal e desprotegida causa nas pessoas uma vontade de se lançar em sua defesa. É essa a origem de apupos como que deu Inácio de Loyola Brandão contra o Código Florestal.

Agora, há diferenças entre almas medíocres e grandes almas. Euclides da Cunha fez uma viagem pelo Amazônas semelhante a que fez Inácio de Loyola Brandão e também deslumbrou-se diante da paisagem. Brandão provavelmente leu os relatos de Euclides da Cunha sobre suas viagens ao pelo Amazônas. O termo "paisagem avassaladora" usando por Brandão é euclidiano. Mas, ao contrário de Inácio de Loyola Brandão, Euclides da Cunha, mesmo diante do deslumbramento, foi capaz de enxergar o que Brandão viu no seu Amazônas: os amazônidas.

É certo que quando Euclides da Cunha navegou pelo Rio Amazônas não havia ameaça ambiental à região. Fato que pode ter tornado Euclides menos cego aos dramas humanos escondidos sob a floresta. O fenômeno recente da ameaça ambiental à região perpetrada pelo homem tornou as pessoas mais propensas a relativizar seu humanismo. Assim, um escritor que se deslumbre com a floresta nos dias de hoje pode defender leis que anulem o homem caso essas leis protejam o objeto daquele maravilhamento.

Veja por exemplo o vídeo abaixo. Euclides, com a mente livre da trave da necessidade de salvar a Amazônia dos homens, viu a protagonista do vídeo; Loyola Brandão, cego pela vontade de proteger a maravilha ameaçada, não viu.

 

Eu acho que a Amazônia precisa ser salva da ignorância. No fundo, quem ameaça a floresta não é a humanidade em si, mas a ignorância dos bem intencionados.

Vejam aí mais alguns vídeos que mostram o que há de desumano na ignorância de Inácio de Loyola Brandão:

Em tempo, me deixem lhes contar uma história sobre sumaúma. Eu estudei em Belém, no Pará. Certo dia fui com alguns colegas de faculdade tomar cerveja e bordejar em uma município vizinho à grande Belém. Escolhemos um boteco às margens de um dos milhares de igarapés que há por lá. Havia uma imensa Sumaumeira de mais de 500 anos no pátio do botoco, bem na beiro do riozinho e foi debaixo da Sumaúma que nós nos abancamos. Pusemos as mesas e espalhamos as cadeias meio cercados pelas imensas raízes da árvore histórica. Ficamos ali, tomando cerveja, comendo caranguejo e peixe frito. Não demorou e começaram as intermináveis discussões filosóficas sobre agronomia, meio ambiente, ambientalismo, onguismo, Amazônia e por aí vai.

Em um determinado momento do qual me lembro como se tivesse acontecido ontem, eu e um colega estudante de economia estávamos recostados nas cadeiras, apoiadas apenas nos dois pés de trás, e com os encostos apoiados na raiz da Sumaúma. Eu de uma lado da mesa, ele do outro. Um colega estava de pé do lado da mesa martelando uma patola de caranguejo e as três mulheres do bando estavam pubando no igarapé só com as cabeças de fora. Era um daqueles momentos rápidos em que o assunto se esvai e fica só um silêncio. Do nada meu colega economista disse um frase impressionante. Eu estava olhando a copa da sumauma quando o grande filósofo perorou: "Se um gringo me pagar 5 mil por mês eu faço um casa e vou morar na copa dessa sumaúma".

É, ou não é, um gênio da economia ambiental.

 

O Agro precisa aprender a guerrear na guerra da comunicação

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Transcrevo abaixo artigo do Professor MARCOS FAVA NEVES da FEA/USP Campus Ribeirão Preto, coordenador científico do Markestrat que particiou, ao contrário do Sarneyzinho Filho que fugiu, da audiência pública da Câmara na ultima quarta feira.

O VETO A COMUNICAÇÃO DESONESTA NO BRASIL

Na Câmara dos Deputados em 16 de maio foi realizada mais uma audiência para discutir o recém-aprovado Código Florestal, que impactará nas atividades agrícolas. Deputados, jornalistas e interessados lotaram o auditório.

O evento teve detalhada explanação do relator, mostrando as mudanças do novo aparato institucional que visa contribuir ao avanço ambiental no Brasil. Segue-se uma apresentação do agro como o principal negócio da sociedade brasileira e abre-se aos debates, em mais um exercício de democracia.

Ao final de quase 5 horas, são evidentes os ganhos na compreensão dos presentes, e aparecem mais convergências do que divergências, mostrando consenso. O Código foi debatido por anos pela sociedade, em audiências por todo o país e foi aprovado democraticamente no Senado e na Câmara.

Este artigo chama a atenção para algo que será cada vez mais frequente e para o qual o agro deve estar melhor preparado: a perigosa inovação na batalha de comunicação, liderada por ONG’s internacionais e nacionais, que encontram eco na parte desinformada e incendiária da imprensa e tem rápida adesão das mídias digitais e redes sociais.

Esta inovadora ação, encontrando eco na população desinformada, pois não dedicou tempo para estudar o Código, foi muito hábil para oportunisticamente colar o Código e a agricultura ao aumento do desmatamento, à motosserra, à destruição da Amazônia, secas, enchentes, desmoronamentos, aquecimento global e outros flagelos, cuja ciência leva tempo para desmistificar, mas desmistifica.

Destruição de árvores e matas são imagens sensíveis a todos os seres humanos e a campanha ganhou rapidamente conotação internacional, tendo ainda a sorte de ter a conferência Rio+20 como fato de pressão. Nota dez para a inovadora campanha, nota zero para o conhecimento, para a leitura e para a ética.

Associar a agricultura e o desenvolvimento do agro à destruição de matas foi uma deplorável mas vencedora estratégia, que maculou a imagem nacional e internacional do principal setor econômico do país, responsável por US$ 100 bilhões em exportações.

O Código Florestal é similar a um processo de planejamento para uma organização. Após ampla discussão, o processo termina, aprova-se e coloca-se em marcha. Agora é sancionar, implementar e iniciar os debates para corrigir e continuamente aprimorar.

Aos que aderiram à inovadora campanha “Veta Dilma” na empolgação das mídias sociais, opiniões de artistas, intelectuais, empresários e ONG’s, fica o aprendizado de sempre ler, estudar e perguntar sobre o assunto a quem é do ramo, antes de aderir à onda, para depois não se arrepender do ímpeto. Ver a vergonha que hoje passam os apocalípticos do aquecimento global.

Deve-se vetar os que desrespeitam quem acorda cedo e enfrenta todas as adversidades para plantar, produzir, industrializar e colocar comida boa e barata nas mesas dos brasileiros e que financiam, com os alimentos exportados para as mesas estrangeiras, as importações dos equipamento digitais usados na campanha.

O agro não precisa derrubar uma árvore sequer para triplicar a produção de alimentos.

MARCOS FAVA NEVES é professor titular de planejamento e estratégia na FEA/USP Campus Ribeirão Preto e coordenador científico do Markestrat. Fez a apresentação da importância do Agro no evento citado.

 

ONGs armam golpe para mudar o Código Florestal aprovado na Câmara

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A agência Reuters acaba de informar que o Governo pretende vetar pontos do Código Florestal e tapar as lacunas dos vetor parcial não com uma Medida Provisória, mas com um Projeto de Lei do Senado. Isso porque a Medida Provisória inicia a tramitação no Parlamente pela Câmara, passa pelo Senado, mas acaba na Câmara que lhe dá a redação final. O PL do Senado é diferente. Embora tenha que passar pela Câmara dos Deputados o PL do Senado finaliza a tramitação no Senado onde as ONGs têm mais controle sobre os parlamentares.

Ainda segundo a Reuters, a saída foi arquitetada em uma carta escrita pelos fundamentalistas ambientais Tasso Azevedo, André Lima e Raul do Valle. Os três marina's boys sugeririam na carta que o Executivo substitua o texto aprovado na Câmara por um projeto iniciado no Senado por acreditar que poderiam manter o controle sobre a Casa Revisora. "Fala-se da alternativa de uma Medida Provisória concomitante com a mensagem de veto parcial. Porém esta não é uma solução, pois devolve à [...] Câmara dos Deputados o poder final de decidir novamente sobre a mesma matéria. O texto aprovado na Câmara dos Deputados merece ser vetado na íntegra pela presidenta da República. Ato contínuo deve ser constituído uma proposta a ser apresentada no Senado Federal", escreveram os três ecólatras, Tasso Azevedo, André Lima e Raul do Valle. (Leia).

A sugestão foi encampada por um grupo de senadores do qual participam Luiz Henrique (PMDB-SC), Jorge Viana (PT-AC), Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), Blairo Maggi (PR-MT), Aloysio Nunes (PSDB-SP) e Waldemir Moka (PMDB-MS). "Nós não teríamos grandes discussões no Senado", disse o senador Blairo Maggi à Reuters. A partir do veto, os senadores devem construir o projeto alternativo, que já tem Rodrigo Rollemberg, que já foi diretor de ONG ambiental e vem de uma unidade da federação sem importância rural, como o mais cotado para relator. "Queremos construir uma solução política para o veto", disse Rollemberg à Reuters.

A única saída ao estratagema das ONGs é forçar o Congresso a derrubar o veto do Executivo. Resta saber se nossas lideranças topam o desafio de peitar o governo.

Leiam o texto da Reuters na íntegra.

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Fonte:
Blog Ciro Siqueira

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1 comentário

  • carlo meloni sao paulo - SP

    A luta e' desigual, 5 milhoes de agricultores contra 150 milhoes de

    moradores das cidades.E' um defeito da democracia onde os grandes

    poluidores do planeta sao os moradores das cidades, e aos agricultores

    cabe o onus da limpeza gratuita.A unica saida das minorias e' a

    justiça.

    0