Mau sinal: dois novos ministros do STF mudam decisão do STF e protegem parlamentares condenados; mensaleiros gostaram da decisão

Publicado em 05/08/2013 17:42 e atualizado em 11/09/2013 13:55
por Reinaldo Azevedo, de veja.com.br

Ainda voltarei ao assunto. Mas começo assim: eu bem que adverti, não é? Luís Roberto Barroso, novo ministro do Supremo, não me surpreendeu. Começou cumprindo as minhas piores expectativas. Leiam o que informa Laryssa Borges, na VEJA.com:

Ao votarem nesta quinta-feira durante julgamento que determinou a condenação do senador Ivo Cassol (PP-RO), os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki e Luís Roberto Barroso revelaram posições que podem ser decisivas no desfecho do julgamento do mensalão. Em seus respectivos votos, os dois ministros se manifestaram pela manutenção do mandato parlamentar a despeito da condenação pela prática de crime.

Advogado constitucionalista até chegar à Suprema Corte, Barroso argumentou que a deliberação pela perda do mandato é competência do Legislativo. “Lamento que o texto constitucional tenha essa disposição, mas não posso vulnerar um texto. [Se determinarmos a cassação imediata] Nós nos tornamos usurpadores do poder constituinte. Não posso produzir a decisão que gostaria, porque a Constituição não permite”, disse. Ele citou o parágrafo 2º do artigo 55 da Constituição Federal, que estabelece a perda do cargo “por voto secreto e maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa”.

Por esse entendimento, caberá à presidência da Câmara e do Senado determinarem a abertura de processos de cassação de mandato, que têm um caminho regimental a ser seguido no Legislativo antes de ser analisado em plenário – que pode cassar ou não os mandatos. Ou seja, o corporativismo de deputados e senadores poderá inclusive criar a insólita figura do parlamentar encarcerado.

No processo do mensalão, um dos chamados embargos declaratórios, apresentado pelo deputado João Paulo Cunha (PT-SP), questiona justamente a perda automática do mandato em caso de condenações. O conflito entre o “decretar” do STF e o “decidir” do Congresso é apontado por Cunha como uma contradição. Além do petista, outros três deputados estão em situação similar: José Genoino (PT-SP), Valdemar Costa Neto (PR-SP), Pedro Henry (PP-MT).

Nesta tarde, além de Zavascki e Barroso, mais quatro ministros votaram pela manutenção dos mandatos – José Dias Toffoli, Cármen Lúcia, Rosa Weber e Ricardo Lewandowski. Do outro lado ficaram Joaquim Barbosa, Gilmar Mendes, Marco Aurélio e Celso de Mello – Luiz Fux declarou-se impedido de votar porque atuou no julgamento do processo no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Barbosa e Mendes, aliás, criticaram a interpretação: “Não é possível um sujeito detentor do mandato cumprindo pena de cinco ou dez anos. É a solução jabuticaba, só existe no Brasil”, disse Mendes. “Condenar a cinco anos e deixar a decisão final para a Congresso. Vossa Excelência sabe que consequência dará [...] Essa Corte tem de decretar a perda, sob pena de nossa decisão daqui a pouco ser colocada em xeque”, afirmou Barbosa.

No mensalão, o acórdão registrou que, depois de transitado em julgado, ficam suspensos os direitos políticos de todos os réus condenados e, no caso de Cunha, Costa Neto e Henry Neto, o tribunal, por maioria, decretou a perda do mandato eletivo. Ficou decidido que a deliberação da Casa Legislativa tem efeito meramente declaratório, sem poder de rever a decisão do STF.

Por Reinaldo Azevedo

 

Novos ministros do STF dão a primeira piscadela a mensaleiros. Haverá outras? Ou: O súbito amor de um ministro pela letra da Constituição que ele já lutou bravamente para ignorar. Ou ainda: Seis ministros acham que se pode ser presidiário e parlamentar ao mesmo tempo!

Barroso: em interpretação que pode beneficiar mensaleiros, um amor incontrolável pela literalidade. Já em outras questões…

Ai, ai…

No julgamento de ontem do senador Ivo Cassol (PP-RO), por seis votos a quatro, o Supremo Tribunal Federal resolveu percorrer o caminho do absurdo, do impensável, do estrambótico, do ridículo, do risível, do patético! Justiças, mundo afora, hão de rir do Brasil e perguntar: “Mas quem foi que pariu tal gente? Aonde pretendem chegar?”. É possível que cheguemos aonde já estamos, se é que vocês me entendem: na mediocridade arrogante, satisfeita, ancha, tão cheia de si na sua vasta solidão. Que decisão tão singular foi essa? Agora com nova composição, o tribunal reviu entendimento anterior e decidiu, ora vejam, que parlamentar condenado em processo criminal não perde automaticamente o mandato, não! Caberá ao Legislativo decidir.

No julgamento do mensalão, esse já tinha sido o entendimento especioso de quatro ministros, que o repetiram nesta quinta: Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli, Rosa Weber e Carmen Lúcia. Mas foram, então, votos vencidos. Ocorre que a composição do tribunal agora é outra. Teori Zavascki e Luís Roberto Barroso também esposaram essa tese — este último, note-se, com um insuspeitado amor à letra da Constituição. Já chego lá.

O acórdão do Supremo está redigido. Ocorre que, como informa Laryssa Borges, na VEJA.com, abriu-se uma fresta. Reproduzo: “No processo do mensalão, um dos chamados embargos declaratórios, apresentado pelo deputado João Paulo Cunha (PT-SP), questiona justamente a perda automática do mandato em caso de condenações. O conflito entre o ‘decretar’ do STF e o ‘decidir’ do Congresso é apontado por Cunha como uma contradição. Além do petista, outros três deputados estão em situação similar: José Genoino (PT-SP), Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Pedro Henry (PP-MT).”

É claro que se abriu uma fresta para privilegiar também os mensaleiros. Antes que fale um pouco de Barroso, vamos lembrar qual é o busílis.

Vamos ver o que diz o Inciso III do Artigo 15 da Constituição:
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:
(…)
III – condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos.

A rigor, convenham, ele deveria bastar, não? Se o condenado em sentença definitiva em processo criminal perde os direitos políticos, sendo a representação um desses direitos, a conclusão parece óbvia. Mas aí vem o Artigo 55, que estabelece alguns complicadores. Vamos ver o que ele diz (em azul – ATENÇÃO PARA O INCISO IV):

Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador:
I – que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo anterior;
II – cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro parlamentar;
III – que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta autorizada;
IV – que perder ou tiver suspensos os direitos políticos;
V – quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos nesta Constituição;
VI – que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado.
§ 1º – É incompatível com o decoro parlamentar, além dos casos definidos no regimento interno, o abuso das prerrogativas asseguradas a membro do Congresso Nacional ou a percepção de vantagens indevidas.
§ 2º – Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será decidida pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por voto secreto e maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.
§ 3º – Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será declarada pela Mesa da Casa respectiva, de ofício ou mediante provocação de qualquer de seus membros, ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.

Reparem que o Inciso IV está no parágrafo 3º: a cassação será apenas DECLARADA pela mesa. “Ah, mas a lei é omissa para tratar do caso de um parlamentar condenado por um acidente de trânsito… É razoável que perca os direitos políticos?” Tá… Então vamos seguir.

Um mandato tem de ser cassado segundo a Constituição e a lei. Houvesse alguma dúvida do resultado da combinação dos artigos 15 e 55 da Constituição, há o Artigo 92 do Código Penal, que não foi revogado. E o que ele diz?

Art. 92 – São também efeitos da condenação:
I – a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública;
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos.

“O Reinaldo está querendo dizer que o Código Penal é superior à Constituição!!!” Errado! O Reinaldo está dizendo que o Artigo 92 do Código Penal fornece a lei que permite a aplicação segura, sem ambiguidades, de forma hígida, do princípio constitucional. A Carta continua a reger a decisão. O Código Penal é apenas seu instrumento.

Admita-se, vá lá, que possa haver — e há — certa confusão no Artigo 55. Ora, o 15 dirime a dúvida: condenação criminal transitada em julgado implica a perda de direitos políticos. Cabe à Mesa apenas declarar formalmente essa perda. E há, adicionalmente, a alínea “a” do Inciso I do Artigo 92 do Código Penal. Os crimes dos mensaleiros são claras “violações de dever para com a Administração Pública”.

Parlamentar encarcerado
O mais espantoso nessa história é que a decisão dos ministros abre a possibilidade para que venhamos a ter um deputado ou senador… presidiário. Seria o caso de João Paulo Cunha (PT-SP). Se a sua sentença for confirmada, ele terá de começar a cumprir a pena em regime fechado. Não obstante, continuaria… deputado! É um escárnio.

Agora Barroso
Lewandowski, Toffoli, Carmen Lúcia e Rosa Weber não surpreenderam ninguém. Repetiram seu voto. Teori Zavascki já havia expressado esse entendimento na sabatina do Senado. Não se conhecia direito o que pensava Barroso. E ele o disse nesta quinta… Mas aí eu quero refrescar um pouco a memória do ministro. Antes, vamos ver que argumentação empregou.

Barroso votou contra a cassação automática brandindo o Parágrafo 2º do Artigo 55 da Carta. E produziu esta fala:
“Lamento que o texto constitucional tenha essa disposição, mas não posso vulnerar um texto. [Se determinarmos a cassação imediata] Nós nos tornamos usurpadores do poder constituinte. Não posso produzir a decisão que gostaria, porque a Constituição não permite”.

É mesmo, é?

Barroso nem parece o mesmo homem que promoveu a igualdade entre a união de héteros e homossexuais, não é mesmo? Não vou debater o mérito agora, não! Noto que, nesse caso, ele não viu mal nenhum em “vulnerar” o texto constitucional e se opor, então, à vontade do Constituinte. Ora, o que diz o Parágrafo 3º do Artigo 226 da Constituição? Isto:
“§ 3º – Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.”

Salvo melhor juízo, o ser “homem” e o ser “mulher” não estão submetidos a juízos subjetivos. A gente até pode achar injusto e coisa e tal, mas não há dúvida de que, no caso, o Constituinte expressou uma vontade, não é mesmo? Aliás, o que vai nesse artigo é muito menos ambíguo ou controverso do que o que há no Artigo 55. Mas que se note: no caso da cassação de mandato dos cassados, Barroso está sendo fiel apenas à sua interpretação, não à lei.

Aborto de anencéfalos
Pergunto a Barroso: o Legislativo também não deixou clara a sua vontade, no Código Penal, ao definir as hipóteses de aborto legal? Lá está: em caso de estupro e de risco de morte da mãe. E só. Mas doutor Barroso foi um dos patrocinadores da legalização do aborto de anencéfalos. Nesse caso, ele militou ferrenhamente para que o Supremo emendasse, por sua conta e sem competência para tanto, o Código Penal. A nossa Constituição, como ele sabe, protege a vida sem reservas, deixando para a lei as exceções que estão… na lei. Nesse caso, no entanto, ele achou que estava tudo certo e ainda fez peroração sobre a decisão em sua página na Internet. Mais do que isso: escreveu que é chegada a hora de debater a questão sem preconceitos. Ele certamente é favorável à descriminação do aborto e acha que quem discorda dele é preconceituoso.

O excelentíssimo vote como quiser. É o senhor absoluto da sua opinião. O que me incomoda é ver um inédito apego, vamos dizer, literalista à Constituição, justamente ao trecho que abre uma janela aos mensaleiros. Ele poderia, apegando-se à letra da Carta e do Código Penal votar contra o risco de a gente ter parlamentares presidiários. A propósito: a lei não faculta a possibilidade de haver presidiários parlamentares, mas os seis do Supremo acenaram para a possibilidade de termos parlamentares presidiários…

Por Reinaldo Azevedo

 

A Siemens é uma das maiores fornecedoras do governo federal; quer dizer que, com petistas, não existe safadeza? Por quê? Eles seriam éticos demais? Ou: É preciso distinguir a punição de culpados da conspirata política

Já afirmei aqui uma 300 vezes — mais? — que não me deixo patrulhar. Podem se esgoelar à vontade. Se há quem ache que é manchete um e-mail que relata um suposto encontro e que denuncia fatos que comprovadamente não aconteceram, fazer o quê? Ou estamos diante de uma questão político-ideológica ou de uma concepção muito particular de jornalismo. Não é a minha. E a minha não põe em risco a reputação alheia só para demonstrar que sou “isento”. Quem se deixa patrulhar dessa maneira já perdeu a isenção faz tempo. Leiam o post anterior. Se o acordo entre a Siemens e a CAF tivesse ao menos acontecido, vá lá… Mas nem assim se teria um indício razoável de que José Serra o tivesse sugerido. Ocorre que nem isso houve. Nada! Parece-me que até o site do PT teria mais cuidado. Mas isso é o de menos agora.

Este blog apurou que partiu da matriz alemã da Siemens a ordem para que se fizessem mundo afora os tais “acordos de leniência” — ou seus correspondentes nos vários países onde pesavam suspeitas contra a empresa.

Atenção! A Siemens tem contratos bilionários, nas mais diversas áreas, com o governo federal, chefiado pelo PT. Isso tudo ainda virá a público, estou certo. Pergunto: quer dizer que, com os petistas, nunca se fez nada de errado? Como se trata de um partido comprovadamente ético, que não se mete em sujeira, não havia o que denunciar nessa relação? Será que a empresa alemã não relatou ao Cade nada de especioso na relação com o governo federal?

“Ah, então você está justificando…” Não estou justificando nada! Continuo a pedir cadeia para os canalhas, tenham que coloração partidária for. O que não é aceitável é um órgão federal vazar documentos selecionados para a imprensa que comprometem não exatamente figuras do partido adversário, mas o partido inteiro — e sem que os acusados tenham acesso ao processo porque, ora vejam, “corre em sigilo”? Qual sigilo?

Uma coisa são os eventuais crimes cometidos — e que se punam os responsáveis. Quem advoga impunidade para os seus são os petistas. Outra, diferente, é transformar a investigação numa conspirata política, o que é coisa de estados policiais. Como eu não me deixo patrulhar por essa gente que vive de dinheiro público, seja a Mídia Ninja, seja o JEG, escrevo o que acho que tem de ser escrito. A cada vez que eles me acusam de não ser isento, fica para mim mais claro que estou no caminho certo. À diferença de uns aí, não quero que eles gostem de mim nem acho que podem ser meus juízes. Eles vivem de dinheiro público; eu não! 

Por Reinaldo Azevedo

 

Em nota, direção da Siemens diz refutar acusações que não sejam baseadas em provas validadas por órgãos oficiais

A assessoria de imprensa da Siemens enviou ao blog a nota que segue, tornada pública nesta sexta:

A Siemens tem conhecimento das investigações conduzidas pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), tornadas públicas pela imprensa, quanto a um suposto cartel no fornecimento de carros de trens, manutenção e construção de linhas de trens e metrôs, objeto de licitações ocorridas entre meados da década de 1990 e 2007.

A empresa coopera integralmente com as autoridades, manifestando-se oportunamente quando requerido e se permitido pelos órgãos competentes. Tendo em vista que as investigações ainda estão em andamento, e a confidencialidade inerente ao caso, a Siemens não pode se manifestar publicamente quanto ao teor das matérias que têm sido publicadas pelos diversos veículos de comunicação. E espera que o assunto seja tratado com a devida seriedade e não como instrumento para qualquer outro uso ou interesse.

Por isso, a Siemens vem a público refutar quaisquer acusações que não sejam baseadas em provas validadas por órgãos oficiais competentes e que denigram a imagem, seja da empresa, de governos, partidos políticos, pessoas públicas ou privadas, ou qualquer integrante da sociedade.

Em 2007 estabelecemos um sistema de Compliance (Integridade e obediência às leis) para detectar, remediar e prevenir práticas ilícitas que porventura tenham sido executadas, estimuladas ou toleradas por colaboradores e chefias da Siemens em qualquer lugar do mundo. Trata-se de um compromisso inegociável, que assumimos mundialmente, de eliminar tais condutas e que nos coloca na vanguarda da mudança que todos querem para a sociedade.

Infelizmente isso pode ser entendido de forma equivocada. Esse é o preço de um movimento transformador da sociedade. Não se trata de um discurso vazio ou estratégia publicitária. É um compromisso sério, que não admite desvios. E não se refere somente ao presente e ao futuro, mas também ao passado, sem se eximir de investigar casos que tenham ocorrido em qualquer lugar do mundo.

Estamos vivendo um momento ímpar da História do País, rumo a uma sociedade mais ética, à integridade e às mudanças necessárias para que haja um legado de transparência. A Siemens acredita que somente a concorrência leal e honesta pode assegurar um futuro sustentável para as empresas, os governos e a sociedade como um todo. Desta forma, reiteramos nosso compromisso e empenho em dedicar todos os esforços para que os nossos funcionários e parceiros ajam de acordo com os mais elevados padrões de conduta.

Paulo Stark
Presidente e CEO da Siemens no Brasil

Por Reinaldo Azevedo

 

Uma imprensa patrulhada por petralhas ninjas e por ninjas petralhas. Ou: Matarazzo e Serra e o jornalismo na fase surrealista

Vamos lá, caminhando na contramão, o que, absolutamente, não me constrange. A depender de que venha na mão influente (refiro-me, nesse caso, à armação política), é mais do que uma determinação em favor dos fatos: é também uma questão de decência. Vi há pouco no Jornal Nacional as reportagens sobre o caso Alstom, em que a Polícia Federal tenta envolver o vereador Andrea Matarazzo (PSDB), e a reportagem sobre a Siemens, com que buscam atingir o ex-governador José Serra.

Quero aqui propor mais algumas questões para a reflexão daqueles que… estão dispostos a refletir. Os doze anos de pregação do PT e de suas franjas contra o jornalismo surtiram efeito. Não foram em vão. O partido não conseguiu fazer o tal “controle social da mídia” — não ainda —, mas lhe impôs um misto de canga ideológica com medo da independência. Como o petismo, reproduzindo palavras de um de seus, como direi?, agitadores culturais resolveu “meter a mão na merda”, o jornalismo, cumprindo o seu papel, noticiou o que apurou. E então começou a pressão: “A imprensa e tucana, é conservadora, é de direita”…

Essa imprensa poderia ter ignorado a gritaria dos petistas e dos sedizentes “ninjas”, mas resolveu provar a seus algozes e maus juízes que é “independente”. Numa formulação simples e exata: para demonstrar que não é antipetista, atira, se preciso,  em tucanos, ainda que contra a evidência dos fatos.

O caso Siemens
Há gente que fez safadeza no caso Siemens? Que se apure e que a Justiça mande os culpados para a cadeia. Mas releiam a reportagem da Folha. Revejam na Internet a do Jornal Nacional.
1 – Num e-mail, um ex-diretor da empresa deixa claro que a Siemens perdeu a concorrência para a espanhola CAF e que estava disposta a entrar na Justiça (o que fez);
2 – informa que Serra teria afirmado que, se a CAF fosse desqualificada, ele cancelaria a licitação. E faria muito bem! Afinal, a Siemens havia oferecido o pior preço — diferença da ordem de R$ 200 milhões;
3 – no e-mail, o tal diretor diz que Serra teria sugerido que as empresas entrassem num acordo e que pelo menos 30% do contrato vencido pela CAF fossem repassados à empresa alemã;
4 – Serra nega ter tido esse tipo de conversa, mas nem seria preciso confiar na sua palavra. O que apontam os fatos?
a – A CAF venceu — oferecia o menor preço;
b – não houve a divisão do contrato; a Siemens não executou os tais 30%;
c – ao contrário, a Siemens recorreu à Justiça — e enfrentou, do outro lado, o governo do Estado; foi derrotada no STJ;
d – a empresa alemã também entrou com recursos administrativos, na esfera governamental. Foram negados.

Atenção, meus caros! A investigação que se faz no Cade é a de formação de um suposto cartel, originado lá no governo Mário Covas. Muito bem: no caso em questão, o que se vê é, nitidamente, uma… ação anticartel!!! É de uma evidência cristalina.

Mas e o e-mail?
Mas e o e-mail do tal diretor a seus superiores? Um e-mail comporta qualquer coisa. O sujeito poderia apenas estar tentando convencer os chefes de que estava lutando para ganhar o contrato, de que estava fazendo as negociações etc. A investigação em curso sugere que a Siemens pagou propina a funcionários do governo paulista. Eu estou enganado, ou a ação de Serra, AO CUMPRIR A LEI E OS TERMOS DA LICITAÇÃO, contrariou os interesses da empresa alemã? Está sendo acusado de quê?

Cumpre informar aos leitores: em tempos menos obscurantistas, de valores mais claros, essa reportagem seria derrubada antes mesmo de ser escrita. Porque envolve os tucanos? Não! Porque não existe nada — não nesse caso ao menos — além de especulação. OS FATOS QUE O E-MAIL DENUNCIA ESQUECERAM-SE DE ACONTECER.

Estou disposto a aprender. É possível que a Folha ou o Jornal Nacional tenham boas respostas para o que segue. Se houver, gostaria de ler. O tal diretor, no e-mail, diz que Serra chegou a propor um acerto. O ex-governador nega. Ok. Até aí, teríamos 1 a 1. O passo seguinte para que se saiba que tratamento dar é ver se o tal acerto denunciando (ou informado) aconteceu ou não. Não! Ele não aconteceu. Não só não aconteceu como a Siemens recorreu à Justiça contra decisão do governo — e isso sugere que a empresa, quando menos, não teve a sua vontade contemplada por Serra. Como a querela envolvia um dinheirão, é razoável supor que possa ter restado algum ressentimento. É bom não esquecer que a investigação original aponta para o pagamento de propina a funcionários que teriam endossado a formação de cartel. Deve-se concluir, no caso, que Serra apanhou por ter… combatido o cartel?

Andrea Matarazzo
O caso de Andrea Matarazzo chega a ser mais absurdo porque as consequências já são mais graves. A Polícia Federal decidiu indiciá-lo, acusando-o de estar entre aqueles que saberiam e/ou teriam se beneficiado de supostas propinas pagas pela Alstom. Já escrevi um post a respeito.

Uma mensagem de diretores da Alstom de 1997 fala em pagamento de propina para a Secretaria de Energia do Estado de São Paulo. O caso que serviu para a PF indiciar Matarazzo diz respeito a um contrato de R$ 72 milhões para o fornecimento de equipamentos para uma empresa chamada EPTE. Por determinação legal — e não mais do que isso —, o secretário acumula o cargo de presidente do conselho das empresas de energia: além da EPTE, também a Cesp, Tietê, Cetep, Eletropaulo, Comgás, Emae, Bandeirantes e Paranapanema. MAS ATENÇÃO! O CONSELHO NÃO INTERFERE NEM TOMA DECISÕES SOBRE ADITIVOS DE CONTRATO.

Ocorre que Matarazzo só se tornou secretário, por meros sete meses, em 1998. Reportagem do Estadão desta quinta tenta explicar o absurdo: por que o vereador foi indiciado. Reproduzo trecho:

“A PF usa a teoria do domínio do fato contra Matarazzo. Ao justificar o indiciamento, o delegado Milton Fornazari Junior escreveu: ‘Matarazzo era secretário de Energia e pertencia ao partido político que governava São Paulo à época, motivo pelo qual se conclui pela existência de um conjunto robusto de indícios de que ele tenha se beneficiado, juntamente com o partido político, das vantagens indevidas então arquitetadas pelo grupo Alstom’”.

Isso não é Teoria do Domínio do Fato porcaria nenhuma! Isso é só exercício porco do direito; guarda intimidade com a chamada “responsabilização objetiva”, que é coisa própria das ditaduras. Não custa lembrar que a Teoria do Domínio do Fato ajudou a condenar José Dirceu. MAS ATENÇÃO! NUNCA NINGUÉM DISSE QUE A DITA-CUJA DISPENSA AS PROVAS. No caso do chefão petista, elas existem. No caso de Matarazzo, ele está sendo indicado porque… era secretário. E só! O presidente do conselho, como é sabido, não tem poder para assinar contratos ou para impedir que sejam assinados. Vai ver o autor da mensagem de 1997 era a Mãe Dinah das propinas e já poderia antever o que aconteceria em 1998.

Começo a encerrar
Tudo isso se dá, reitero, num ambiente de vazamentos de informação e quando está mais do que na cara que o petismo das sombras resolveu botar as garras de fora, já no começo da corrida eleitoral em São Paulo.

Em tempos em que a imprensa não estivesse sob pressão, escandalosamente patrulhada para provar que “ninguém presta”, tais coisas não aconteceriam. Mas que não se culpe só a petezada por isso, não! O jornalismo que se deixa patrulhar é tão responsável pelas reputações de inocentes que massacra quanto aqueles que o fazem por razões político-ideológicas.

É inútil, reitero, tentar me patrulhar nos comentários. Se houve safadezas nos casos Alstom e Siemens, que se apure, que se denuncie, que a Justiça, quando chegar a hora, puna os responsáveis. Mas não vou, sob nenhuma hipótese, coonestar essas barbaridades. E não vou porque não aceito que petralhas e ninjas — ou que ninjas petralhas — sejam os meus juízes. Não lhes devo satisfações nem quero que eles tenham um bom juízo a meu respeito. Não vou provar a vagabundos, financiados com dinheiro público, a minha honestidade, queimando, para tanto, a reputação alheia. Seria indecente! Para encerrar mesmo: o processo no Cade, segundo José Eduardo Cardozo, o ministro da Justiça, continua sob sigilo, tá, pessoal? Vamos ver que outros vazamentos selecionados reserva a sexta-feira…

O PT voltou.

Por Reinaldo Azevedo

 

Invasão da Câmara do Rio é só manifestação de truculência do PSOL, um partido amigo de ditaduras. Ou: A agenda aloprada

A pauta aloprada dos invasores da Câmara, no Rio

Um grupo de 100 pessoas invadiu a Câmara dos Vereadores do Rio. Por quê? Porque eles exigem, ora vejam, que o vereador Eliomar Coelho, do PSOL, seja nomeado relator da chamada CPI dos ônibus. A comissão foi proposta, de fato, por Eliomar, mas, em qualquer câmara legislativa, de qualquer esfera, os partidos que têm a maioria comandam a comissão — a não ser que abram mão disso num acordo. Para citar o caso mais famoso, a CPI dos Correios (do Mensalão) tinha como presidente o senador Delcídio Amaral, do PT, e como relator o deputado Osmar Serraglio, do PMDB, partidos da base. Essa história de que autor de requerimento de CPI aprovada deve ser seu relator é direito criativo praticado pelos crentes de Marcelo Freixo, que é a mão que balança o berço…

O arquivo do blog está aí. Houve um tempo em que integrei, acho, um amplo grupo de uns, deixem-me ver, TRÊS jornalistas críticos ao PMDB do Rio, estadual (muito especialmente) ou municipal. A blindagem deslumbrada promovida por certos setores da imprensa era estúpida, puxada pela suposta novidade — e maravilha! — das UPPs. Aí os humores mudaram, e, agora, qualquer bagunça promovida na capital fluminense aspira à condição de manifestação democrática. Uma ova! A anarquia tem tanta relação com a democracia quanto a ditadura.

Também no caso em questão, a invasão é um despropósito. Aliás, sempre que uma coisa assim se der fora do ambiente de uma rebelião popular contra uma ditadura, o absurdo está dado. Como nos falta a ditadura, esse simulacro de rebelião é só uma patetice autoritária. E, no caso, o autoritarismo não é dos vereadores. Não! Eu não gosto do PMDB. Não, eu nunca apoiei blindagem nenhuma, como é sabido, mas também não apoio a truculência de “psois” e outras esquerdas ainda mais alopradas.

Lá no alto, vai uma carta distribuída por invasores. Fazem reivindicações sobre a CPI, mas pedem também:
1) Projeto de lei (???) para libertar presos políticos
É a ignorância a serviço da mistificação. Não existem presos políticos no Brasil — e, pois, nem no Rio. Houvesse, não seriam soltos por meio de projeto de lei.
2) Fim imediato dos processos contra os manifestantes
A reivindicação, igualmente ignorante, não pertence à esfera do Executivo ou do Legislativo; é coisa da Justiça.
3) Projetos de Lei para dar posse aos índios da chamada Aldeia Maracanã e criação do Fundo Social Indígena
Dizer o quê? Aí a gente sai do terreno da política e começa a entrar no da psiquiatria.
4) Contra remoções e despejos
É preciso ver o que se entende por isso. Obras de urbanização ou reurbanização, no mundo inteiro, podem obrigar a deslocamentos e remoções. A reivindicação correta é que se façam as coisas dentro da lei e que ninguém seja posto ao relento ou em lugar degradante.

Se eu achasse que esse tipo de procedimento torna o Brasil melhor e mais democrático, é claro que eu estaria apoiando. Mas acho precisamente o contrário. Há uma diferença entre a organização política, que pressiona o poder público — e assim se faz nos regimes de liberdade — e a tática de tomar de assalto os órgãos de representação.

O melhor deles é ruim
É bom lembrar que o PSOL é parte da extrema esquerda que se desligou do PT porque o considerava um partido, como direi?, moderado demais, excessivamente à direita. Não custa lembrar que o regime cubano ainda é uma referência positiva para esses valentes, daí que eles tenham integrado a tropa de choque que hostilizou no Brasil a blogueira Yoani Sánchez. Como esquecer que o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), um queridinho da imprensa e considerado, imaginem!, a voz moderada do partido, aconselhou Yoani a ir para Miami? Sim, ele resolveu hostilizar, em nosso país, uma pessoa que é politicamente perseguida em seu país de origem.

Entre o PMDB e o PSOL, escolho a democracia.

(Reinaldo Azevedo)

 

Cineasta rompe o silêncio e denuncia como trabalha o “Fora do Eixo”, a seita que está na raiz da “Mídia Ninja”: ela acusa a exploração de mão de obra similar à escravidão, a apropriação indébita do trabalho alheio e ódio à cultura e aos artistas

Beatriz Seigner: cineasta rompe o silêncio e denuncia os métodos com os quais operam o Fora do Eixo e Pablo Capilé

Beatriz Seigner é cineasta (“Bollywood dreams — Sonhos bollywoodianos”). Uma rápida pesquisa no Google indica a sua intimidade com a área. Ela postou no Facebook um impressionante depoimento sobre a sua experiência com o tal “Fora do Eixo” — a ONG (ou sei lá que nome tenha) comandada por Pablo Capilé, o chefão do grupo que está na origem da tal “Mídia Ninja”, que vem sendo reverenciada por alguns bobalhões da imprensa como a nova, moderna e mais aguda expressão do jornalismo.

O depoimento é longuíssimo, mas vale a pena ler. Beatriz sustenta, e os fatos que ela elenca parecem lhe dar razão, que o tal Capilé é uma espécie de chefe de uma seita. O jornalismo investigativo, se quiser, pode fazer a festa. A Mídia Ninja — que parecia tanger todas as cordas do lirismo, coisa de jovens ousados dispostos a afrontar os limites do conservadorismo —, como se pode depreender do texto de Beatriz, é uma máquina ideológica muito bem organizada, azeitada, que obedece ao comando político de um líder acima de qualquer questionamento: Capilé.

Em seu depoimento, Beatriz acusa o Fora do Eixo — que não tem existência legal e não pode, portanto, ser acionado na Justiça — de:
- apropriar-se indevidamente do trabalho dos artistas;
- de explorar uma forma moderna — ou “pós-moderna” — de mão de obra escrava;
- de passar a patrocinadores públicos e privados informações falsas sobre a real dimensão do Fora do Eixo;
- de ameaçar as pessoas que tentam se desligar do grupo.

Uma seita
Eu, confesso, ignorava — e não havia lido isso em lugar nenhum — que o Fora do Eixo mantém “casas”, onde, vejam só, moram pessoas mesmo, mais ou menos como essas seitas religiosas que estimulam os jovens a abandonar a família.

Segundo Beatriz, esses moradores não recebem salário nenhum — vivem com o que lhes fornece o “coletivo” — e se dedicam integralmente ao Fora do Eixo: não têm individualidade, não assinam seus trabalhos, não põem sua marca pessoal em nada. Se deixam a casa, saem sem nada.

Isso tem explicação. A cineasta acusa Capilé de ter enorme desprezo pela arte e pelos artistas — parece que esse rancor é especialmente devotado aos livros (“uma tecnologia ultrapassada”), em particular aos clássicos. Os abduzidos do Fora do Eixo, que entregam graciosamente a sua mão de obra a Capilé, não têm tempo de usufruir de bens culturais nem acham isso necessário: tudo pela causa.

Capilé: incentivador da cultura ou chefe de uma seita que explora trabalho similar à escravidão?

Neste primeiro post (ainda volto ao assunto), seleciono alguns trechos do depoimento de Beatriz. Leiam. É estarrecedor.

O primeiro contato com o “Fora do Eixo”
Conheci um representante da rede Fora do Eixo durante um trajeto de ônibus do Festival de Cinema de Gramado de 2011, onde eu havia sido convidada para exibir meu filme “Bollywood Dream – O Sonho Bollywoodiano” e ele havia sido convidado a participar de um debate sobre formas alternativas de distribuição de filmes no Brasil. Meu filme havia sido lançado naquele mesmo ano no circuito comercial de cinemas, em mais de 19 cidades brasileiras, distribuído pela Espaço Filmes, e o rapaz me contava de como o Fora do Eixo estava articulando pela internet os cerca de 1000 cineclubes do programa do governo Cine Mais Cultura, assim como outros cineclubes de pontos de cultura, escolas, universidades, coletivos e pontos de exibição alternativos, que estavam conectados à internet nas cidades mais longínquas do Brasil, para fazerem exibição simultânea de filmes com debate tanto presencialmente, quanto ao vivo, por skype. Eu achei a ideia o máximo. Me disponibilizei, a mim e ao meu filme para participar destas exibições (…)

Remuneração?
Com relação à remuneração eles me explicaram que aquele ainda era um projeto embrionário, sem recursos próprios, mas que podiam pagá-lo com “Cubo Card”, a moeda solidária deles, que poderia ser trocada por serviços de design, de construção de sites, entre outras coisas. Já adianto aqui que nunca vi nem sequer nenhum centavo deste cubo card, ou a plataforma com ‘menu de serviços’ onde esta moeda é trocada. E fiquei sabendo que algumas destas exibições com debate presencial no interior de SP seriam patrocinadas pelo SESC – pois o SESC pede a assinatura do artista que vai fazer a performance ou exibir seu filme nos seus contratos, independente do intermediário. E só por eles pedirem isso é que fiquei sabendo que algumas destas exibições tinham sim, patrocinador. Fui descobrir outros patrocinadores nos pôsteres e banners do Grito Rock de cada cidade. Destes eu não recebi um centavo.

Os sustos de Beatriz
Meu primeiro susto foi quando perguntaram se podiam colocar a logomarca deles no meu filme – para ser uma ‘realização Fora do Eixo’, em seu catálogo. Eu disse que o filme havia sido feito sem nenhum recurso público e que a cota mínima para um patrocinador ter sua logomarca nele era de 50 mil reais. Eles desistiram.

O segundo susto veio justamente na exibição com debate em um SESC do interior de SP, quando recebi o contrato do SESC, e vi que o Fora do Eixo estava recebendo por aquela sessão, em meu nome, e não haviam me consultado sobre aquilo. Assinei o contrato minutos antes da exibição e cobrei do Fora do Eixo aquele valor descrito ali como sendo de meu cachê, coisa que eles me repassaram mais de 9 meses depois, porque os cobrei, publicamente.

O terceiro susto veio quando me levaram para jantar na casa da diretora de marketing da Vale do Rio Doce, no Rio de Janeiro, onde falavam dos números fabulosos (e sempre superfaturados) da quantidade de pessoas que estavam comparecendo às sessões dos filmes, aos festivais de música, e do poder do Fora do Eixo em articular todas aquelas pessoas em todas estas cidades. Falavam do público que compareciam a estas exibições e espetáculos como sendo filiados a eles. Ou como se eles tivessem qualquer poder sobre este público.

O mundo do pensador Capilé. Ou: Ele precisa de duto, de esgoto
Foi aí que conheci pela primeira vez o Pablo Capilé, fundador da marca/rede Fora do Eixo (…). Até então haviam me dito que a rede era descentralizada, e eu havia acreditado, mas imediatamente, quando vi a reverência com que todos o escutam, o obedecem, não o contradizem ou criticam, percebi que ele é o líder daqueles jovens e que, ao redor dele, orbitavam aqueles que eles chamam de “cúpula” ou “primeiro escalão” do FdE.

(…) Capilé dizia que não deveria haver curadoria dos filmes a serem exibidos neste circuito de cineclubes (…) e que ele era contra pagar cachês aos artistas, pois, se pagasse, valorizaria a atividade dos mesmos e incentivaria a pessoa “lá na ponta” da rede, como eles dizem, a serem artistas e não “DUTO”, como ele precisava. Eu perguntei o que ele queria dizer com “duto”, ele falou sem a menor cerimônia: “Duto, os canos por onde passam o esgoto”.

Eu fiquei chocada. Não apenas pela total falta de respeito por aqueles que dedicam a maior quantidades de horas de sua vida para o desenvolvimento da produção artística (e, quando eu argumentava, isso ele tirava sarro dizendo “todo mundo é artista”’ao que eu respondia “todo mundo é esportista também”)
(…)

Ódio à cultura e aos livros
E o meu choque, ao discutir com o Pablo Capilé, foi ver que ele não tem paixão alguma pela produção cultural ou artística, que ele diz que ver filmes é “perda de tempo”, que livros, mesmo os clássicos (que continuam sendo lidos e necessários há séculos), são “tecnologias ultrapassadas” e que ele simplesmente não cultiva nada daquilo que ele quer representar. Nem ele nem os outros moradores das casas Fora do Eixo (já explico melhor sobre isso).

Ou seja, ele quer fazer shows, exibir filmes, peças de teatro, dança, simplesmente porque estas ações culturais/artísticas juntam muita gente em qualquer lugar, que vão sair nas fotos que eles tiram e mostram aos seus patrocinadores dizendo que mobilizam “tantas mil pessoas” junto ao poder público e privado, e que por tanto, querem mais dinheiro, ou privilégios políticos.

A manipulação
Vejam que esperto: se Pablo Capilé disser que vai falar num palanque, não iria aparecer nem meia-dúzia de pessoas para ouvi-lo, mas se disserem que o Criolo vai dar um show, aparecem milhares. Ou seja, quem mobiliza é o Criolo, não ele. Mas, depois, ele tira as fotos do show do Crioulo, e vai na Secretaria da Cultura dizendo que foi ele e sua rede que mobilizou aquelas pessoas. E assim, consequentemente, com todos os artistas que fazem participação em qualquer evento ligado à rede FdE. Acredito que, como eu, a maioria destes artistas não saiba o quanto Pablo Capilé capitaliza em cima deles e de seus públicos.

As planilhas
[Capilé] diz que as planilhas do orçamento do Fora do Eixo são transparentes e abertas na internet, sendo isso outra grande mentira deslavada — tais planilhas não se encontram na internet, nem os próprios moradores das casas Fora do Eixo as viram ou sabem onde estão. Em recente entrevista no Roda Viva, Capilé disse que arrecadam entre 3 e 5 milhões de reais por ano. Quanto disso é redistribuído para os artistas que se apresentam na rede? O último dado que tive é que o Criolo recebia cerca de 20 mil reais para um show com eles, enquanto outra banda desconhecida não recebe nem 250 reais, na casa FdE São Paulo.

Os patrocinadores
Mas seria extremamente importante que os patrocinadores destes milhões exigissem o contrato assinado com cada um destes artistas, baseado pelo menos no mínimo sindical de cada uma das áreas, para ter certeza de que tais recursos estão sendo repassados, como faz o SESC.

A seita tem “casas”. Ou: Trabalho similar à escravidão?
Depois desse choque com o discurso do Pablo Capilé, ainda acompanhei a dinâmica da rede por mais alguns meses (foi cerca de 1 ano que tive contato constante com eles), pois queria ver se esse ódio que ele carrega contra as artes e os artistas era algo particular dele, ou se estendia à toda a rede. Para a minha surpresa, me deparei com algo ainda mais assustador: as pessoas que moram e trabalham nas casas do Fora do Eixo simplesmente não têm tempo para desfrutar os filmes, peças de teatro, dança, livros, shows, pois estão 24 horas por dia, 7 dias por semana, trabalhando na campanha de marketing das ações do FdE no Facebook, Twitter e demais redes sociais.

E como elas vivem e trabalham coletivamente no mesmo espaço, gera-se um frenesi coletivo por produtividade, que, aliado ao fato de todos ali não terem horário de trabalho definido, acreditarem no mantra “trabalho é vida” e não receberem salário — e, portanto, se sentirem constantemente devedores ao caixa coletivo, da verba que vem da produção de ações que acontecem “na ponta”, em outros coletivos aliados à rede — faz com que simplesmente, na casa Fora do Eixo em São Paulo, não se encontre nenhum indivíduo lendo um livro, vendo uma peça, assistindo a um filme, fazendo qualquer curso, fora da rede. Quem já cruzou com eles em festivais nos quais eles entraram como parceiros sabem do que estou falando: eles não entram para assistir a nenhum filme, nem assistem/participam de nenhum debate que não seja o deles. O que faz com que, depois de um tempo, eles não consigam falar de outra coisa que não seja deles mesmos.
(…)

Expropriação do trabalho
(…) reparei que aquela massa de pessoas que trabalham 24 horas por dia naquelas campanhas de publicidade das ações da rede FdE não assinam nenhuma de suas criações: sejam textos, fotos, vídeos, pôsteres, sites, ações, produções. Pois assinar aquilo que se diz, aquilo que se mostra, que se faz, ou que se cria é considerado “egóico” para eles. Toda a produção que fazem é assinada simplesmente com a logomarca do Fora do Eixo, o que faz com que não saibamos quem são aquele exercito de criadores, mas sabemos que estão sob o teto e comando de Pablo Capilé, o fundador da marca.

Sem existência legal
(…) a marca do fora do Eixo não está ligada a um CNPJ, nem de ONG, nem de Associação, nem de Cooperativa, nem de nada — pois, se estivesse, ele [Capilé] seguramente já estaria sendo processado por trabalho escravo e estelionato (…) por dezenas de pessoas que passaram um período de suas vidas nas casas Fora do Eixo e saem das mesmas ao se deparar com estas mesmas questões que exponho aqui, e outras ainda mais obscuras e complexas.

Os escravos
(…) o que talvez seja mais grave: os que moram nas casas Fora do Eixo abdicam de salários por meses e anos — e, portanto, não têm um centavo ou fundo de garantia para sair da rede. Também não adquirem portfólio de produção, uma vez que não assinaram nada do que fizeram lá dentro – nem fotos, nem cartazes, nem sites, nem textos, nem vídeos. E, portanto, acabam se submetendo àquela situação de escravidão (pós)moderna simplesmente porque não veem como sobreviver da produção e circulação artística fora da rede.

Capilé incentiva que se abandone a universidade
Muitas destas pessoas são incentivadas pelo próprio Pablo Capilé a abandonar suas faculdades para se dedicarem integralmente ao Fora do Eixo. Quanto menos autonomia intelectual e financeira estas pessoas tiverem, melhor para ele.

Medo da retaliação: o poder de Capilé
E, quando algumas destas pessoas conseguem sair, pois têm meios financeiros independentes da rede FdE para isso, ficam com medo de retaliação, pois veem o poder de intermediação que o Capilé conseguiu junto ao Estado e aos patrocinadores de cultura no país, e temem ser “queimados” com estes. Ou mesmo sofrer agressões físicas. Já três pessoas me contaram ouvir de um dos membros do FdE, ao se desligarem da rede, ameaças tais quais “você está falando demais, se estivéssemos na década de 70 ou na Faixa de Gaza, você já estaria morto/a.” Como alguns me contaram, “eles funcionam como uma seita religioso-política, tem gente ali capaz de tudo” na tal ânsia de disputa por cada vez mais hegemonia de pensamento, por popularidade e poder político, capital simbólico e material, de adeptos. Por isso se calam.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

Fora do Eixo, a seita totalitária 2 – Ex-interna relata o dia a dia da Casa dos Horrores em que Pablo Capilé é rei e profeta: amizades monitoradas, vida afetiva e sexual patrulhada, técnica de assédio a novatos, sexismo, humilhações

Resolvi manter este post no alto por mais algum tempo

No post anterior (leiam), anuncio que vou tratar do depoimento de Laís Bellini, que tambémfala sobre a sua experiência com o Fora do Eixo e Pablo Capilé. Laís diz ter se sentido estimulada a revelar o que viveu ao ler as revelações feitas pela cineasta Beatriz Seigner, a que este blog deu destaque.

Muito bem! O texto da moça é gigantesco. Mais de 45 mil toques. Essa parece ser, aliás, uma constante das pessoas que conseguem se desligar da seita. Estão de tal sorte sufocadas pela pressão que decidem falar tudo ao mesmo tempo. Talvez seja a reação natural de quem estava exposto a uma tirania. Ainda que algumas já tenham deixado o Fora do Eixo há algum tempo, não tinham um canal para se expressar. Ao contrário: viam Pablo Capilé, o Kim Jong-un do movimento, nos píncaros da glória.

À diferença da cineasta Beatriz, a estudante de jornalismo Laís (abandonou, à época, o curso para se dedicar à causa!!!) passou a ser uma “interna” da Casa Fora do Eixo São Paulo. Passou a morar na “comunidade”, submetida à ditadura de Pablo Capilé e de alguns de seus, como posso dizer?, “ministros”.

O relato é de arrepiar e coincide com outros tantos que estão na rede.
- o Fora do Eixo é uma monarquia absolutista, e é proibido questionar Pablo Capilé;
- Laís relata o que é o dia a dia de pessoas submetidas a uma forma moderna de escravidão;
- a sociedade “Fora do Eixo” é rigidamente hierarquizada, e os que ainda não têm lastro (tempo de casa) só podem conversar com os seus “gestores” (os chefes);
- o contato com as outras pessoas dentro da casa é rigidamente controlado, e as amizades são desestimuladas, censuradas ou mesmo proibidas — nada que desvie as pessoas do trabalho;
- ninguém recebe salário ou algo semelhante; no máximo, as pessoas ganham um “bônus”, uma moeda inventada por Capilé;
- para sair da Casa, é preciso pedir permissão;
- é proibido se relacionar com pessoas que não pertençam ao Fora do Eixo;
- Laís relata o que, tudo indica, parece ser um esquema de fornecimento de notas frias para que o Fora do Eixo justifique gastos — afinal, recebe dinheiro tanto de empresas públicas como privadas (e tem a Lei Rouanet);
- o Fora do Eixo monitora a vida afetiva e sexual de seus internos;
- pessoas são instruídas a assediar novatos, numa técnica chamada de “pós-amor” (???);
- os novatos, fica claro, funcionam como escravos de Pablo Capilé e daqueles que dividem com ele o controle do Fora do Eixo;
- o clima de trabalho se dá em regime de terror, humilhação, xingamentos;
- discriminadas, as mulheres vão para a cozinha; os rapazes discutem política;
- Laís confirma relato feito por Beatriz e diz que Pablo Capilé tem profundo desprezo pela leitura de livros, uma coisa, segundo ele, ultrapassada.

Abaixo, meus caros, vai um testemunho do que é a Casa dos Horrores. Eu cortei bastante coisa, mas ainda ficou enorme (há o link com a íntegra). Mas vale a pena ler. Eu havia pensando, nos primeiros dias, que esse tal Fora do Eixo era só, assim, um CPC (Centro Popular de Cultura) fora de época e, claro!, com muito menos qualidade. Não é, não!

Os relatos que estão na rede dão conta de que estamos diante de algo bem mais complexo e, em muitos aspectos, perigoso. Há um frenético trabalho de cooptação de jovens e, percebe-se pelos testemunhos, de lavagem cerebral mesmo.

Pablo Capilé, parece, pretende ser uma mistura de Che Guevara pós-moderno com Jim Jones, aquele maluco que conduziu 918 pessoas ao suicídio, em novembro de 1978, na Guiana.

 Recoloco a questão: como é que estudantes universitários descolados, que se querem, vamos ser claros, mais inteligentes do que os “caretas conservadores”, caem nessa conversa e acabam atuando como escravos de alguns espertalhões?

Estarreçam-se com o relato de Laís. Os entretítulos são deste editor.

O começo e o fim
2011 começou como o que seria meu último ano em Bauru, cidade onde cumpria meu curso de jornalismo pela Unesp, mesma universidade que uniu os primeiros integrantes do Enxame Coletivo, ponto da rede Fora do Eixo por lá. (…) Me encantei, e como sempre faço quando me apaixono por qualquer coisa, me joguei. Fui fundo, bem fundo, tapei meus olhos, cerrei minha boca (fui cerrando aos poucos, melhor dizendo). Meus ouvidos, a cada mês, ficavam mais aguçados (recebiam bem as mensagens vindas de cima) e a mente, mais convencida e dependente… 9 meses depois, antes que chegasse a bater a cabeça no fundo do poço, segurei numa cordinha que pendia perto da minha queda e voltei à realidade. Frustrada sim, decepcionada por demais, mas enfim, voltei a pensar.

Aparece Pablo, o mago
Conheci o Pablo, e ele, obviamente, viu nos meus olhos que eu estava ali, encantada com tudo o que estava ouvindo, conhecendo, descobrindo. Me chamou para uma conversa pessoal (o que deve acontecer com um monte de gente, mas no dia, eu me senti muito importante, e meus próximos ficaram intrigados do porque “O grande Pablo Capilé” queria falar comigo, hoje eu bem sei que ele queria saber mesmo o quanto eu já estava dentro, envolvida, fascinada). Na conversa, fez com que eu me sentisse importante naquela rede, me fez ver o quanto meu papel como “mulher”, como ele dizia, era essencial para que Bauru voltasse com toda a potência como antes (…). Em pouco tempo estava no núcleo duro do coletivo de Bauru, e por consequência, morando na sede de lá.
(…)

Tranca a universidade
(…) Meu último semestre na universidade ia por água abaixo. Liguei pra minha mãe e disse: “Mãe, não vou terminar a faculdade, a universidade não está com nada, vou trabalhar com educação popular, com conhecimento compartilhado, que vai além desse engessamento institucional e blá-blá-blá. Ela, como sempre, tentou me entender e me disse: “Confio em você”. E assim foi intensamente, me joguei por completo. Já fazia parte de reuniões da regional São Paulo, e, com cada vez mais envolvimento e, bem percebido pelo núcleo duro geral da rede, estava sendo muito acionada por integrantes de outros pontos, “pequenos”, da regional São Paulo. (…)

O senhor de tudo
Através de imersões (que aprendemos a fazer durante uma nossa lá na Casa Fora do Eixo São Paulo), começamos a espalhar o conhecimento da rede, as ideias, os vocabulários, os vícios, as dependências, e tudo mais que vem embolado nessa seita, com cara de culturalmente popular, musicalmente descolada, pessoalmente encantadora, internamente… cheio de gente incrível que está cega como eu já estive e com um número contável nas mãos de quem são os controladores e administradores da rede querendo consumir só uma coisa em você: a sua mente. E para quê?! Sinceramente até hoje eu não sei o que é que realmente o Capilé quer fazer da vida dele, nem até onde ele quer chegar. Antes eu pensava que ele queria, sei lá, virar ministro da Cultura, saca? Hoje eu acho que isso tá pequeno pra ele. Ele quer mais, e é por isso que não se diz de partido algum, surfa no mar de vários, tem interlocutor no partido da Marinão que eu sei, tem interlocutor no PT (que é o partido com quem esteve sempre mais próximo), e por aí vai. Hoje eu vejo o Fora do Eixo como uma rede que tá alimentando a imagem do Pablo Capilé, o grande criador da ideia de valorizar a troca de produtos e serviços, o grande criador da moeda solidária, que é o tal maldito “card”. Aliás, na moral, se o Fora do Eixo fosse pagar tudo o que deve em card (e em dinheiro) para os outros, poderia fatalmente decretar falência.
(…)

O convite
Em pouco tempo eu já havia adquirido o vocabulário que encanta quando bem discursado e saía por aí espalhando essa seita São Paulo a fora). No último dia de turnê, o Capilé ligou no meu celular. Perguntou como tava rolando a turnê, como tava minha articulação com os possíveis novos pontos e tal… No fim da conversa disse assim: “Então, o que você vai fazer sábado!?” isso era quinta, eu estava voltando para Bauru. “Eu gostaria que você viesse pra São Paulo sábado, aqui na casa fora do eixo São Paulo… Vai rolar a festa de 10 anos da Fórum e eu gostaria que você estivesse aqui pra participar com a gente”. Puuuuuuuta que pariu! Me senti importante pra caraaaaaalho e olha só que irônico… Hoje, eu vejo essa minha reação como nada mais que uma pessoa que inconscientemente ignorava o propósito horizontal da rede, pois ali eu estava vendo um momento de “subir na rede” como tanto já tinha ouvido falar (…)

Sai sem nada
Sim, tenho amigos ali dentro que me veem como quem desistiu, mas não se dão conta do escravismo que estão vivendo, e aqui eu digo escravismo referindo-me ao mental e ao financeiro. Quem toma coragem pra sair da rede tem que ter algum recurso financeiro para recomeçar a vida do zero, e muitos, que eu sei, ainda enfrentam longas sessões de terapia. Muitos amigos meus preferiram mudar de cidade, mudar de ares, enfim, pra tentar tudo de novo…

A cúpula
Ah, quando eu digo cúpula, falo das seguintes pessoas, que, a meu ver, seguem sua própria escadinha de hierarquização, de poder (lastro, como eles dizem): Pablo, Lenissa, Mari e Carol e Felipe (os dois últimos num mesmo nível). Vejam aqui que isso aqui é mera opinião minha, um peixe pequeno naquele mar cheio de espécies…

Pablo, o infalível
Eu já vi gente que tem mesmo tempo de rede baixar a cabeça, já vi medo estampado no rosto de pessoas que estão ali na mesma dedicação que ele, já ouvi me falarem que tem que ficar quieto porque ele sabe o que tá fazendo e que a gente tem que confiar e não ficar perguntando muito.

Hierarquia – o gestor
(…) a coisa ali funciona bem assim. Comecei a trabalhar então pelo Congresso Fora do Eixo que aconteceu em dezembro de 2011, em São Paulo. A gente trabalhava das 8h, 9h da manhã até às 03h, 04h… E olha que eu não reclamo de muito trabalho quando acredito na causa… Mas o problema que eu vejo é que ali parecia uma nóia coletiva de um querer demonstrar mais trabalho que o outro para o seu gestor. Sim, porque ali dentro havia gestores. A galera nova que chegava tinha seu gestor, dependendo em que área ia trabalhar. Eu fiquei trabalhando com a Carol, na Universidade Fora do Eixo, e diversas vezes eu saquei que o “lastro” da Lenissa era o maior ali entre as meninas, e ela, junto da Mari que já estavam havia mais tempo, ficavam constantemente posicionando a Carol para ela se impor por cima de mim. E aí vem uma lista de coisas absurdas da vivência ali dentro que eu acho que tem que ser explicitada

(…)

Coreia do Norte
Quer fazer crítica!? Faça diretamente ao seu gestor que ele resolve com você. Você quer conversar com seu amigo? Você não pode. Sim, você tem um gestor lá dentro da casa e, sim, você não pode sair por aí conversando com sua amiga que vive e trabalha no mesmo lugar que você. (…) Eu conversei algumas vezes com alguns amigos e, no que se chama lá dentro de “choque pesadelo”, fui chamada várias vezes pra conversas em off, a pressão é forte ali… Na hora, você se sente a pessoa mais errada do mundo, sente que tá fodendo com um propósito muito maior e para de conversar com a sua amiga. Sério… Eu fui proibida, digo proibida mesmo… de conversar com o cara que ali dentro eu considerava ser o meu melhor amigo. A seguinte frase foi dita a mim: “Laís, o Gabriel era seu “amigo” lá em Bauru. Agora ele está aqui para trabalhar com o Felipe. Qualquer coisa que ele precisar ele tem que conversar com o Felipe. Você tem que conversar com a Carol. Vocês não têm que ficar de conversa. Aqui dentro, vocês não são amigos. Vocês trabalham para a rede e em setores diferentes.” Claro que a coisa começou a pesar pro meu lado porque eu comecei a sacar que me tornei uma espécie de vírus ali. Não podia mais conversar com as pessoas que queria, com quem me sentia à vontade. Sinceramente, era muito nítida a falsidade todas as vezes que a Carol ou a Lenissa e a Mari me chamaram pra conversar como “amigáveis”. Mas, quando se está lá dentro, você tem medo, medo de responder, de questionar e acaba acreditando que fazer o que estão te pedindo será melhor para o coletivo. Ou seja, é bom você não conversar com seus amigos ali dentro porque, se conversar, pode ficar espalhando críticas absurdas que são “da sua cabeça”, e isso não é bom… Até porque, na concepção delas, eu era uma garota mimada, de classe média, que não vi o que é sofrer pra crescer na vida e, portanto, não aguentava viver na pressão que a rede tinha pra conseguir se desenvolver. Se eu queria perguntar, eu tava perguntando demais, tava com, como a Lenissa me dizia, “síndrome da aparecidisse”.

(…)

Assedias, catar e cooptar – O pós-amor
Catar e cooptar. Vejam bem, moças e rapazes, se você for considerado um perfil estratégico para estar e entrar na rede, cuidado! Você em breve pode perceber alguma pessoa que vai se aproximar bastante de você, mas bastante mesmo, a ponto de demonstrar muito desejo por você. Quando você está se aproximando, há reuniões que acontecem dentro da cúpula, às vezes com mais uns ou outros, que podem ser indicados para tal ação, para definir quem é a pessoa que tem mais perfil para dar em cima de você e te fisgar pra dentro da rede. Sim, essas conversas acontecem em reunião, e, ali, é definido o nome da pessoa que vai partir pra cima. Cada um aqui que tire a sua conclusão. Tanto sei desse papo que soube ainda que ficaram preocupados quando o cara que foi enviado para partir pra cima de mim não conseguiu, e por isso não sabiam o quanto eu estava me envolvendo realmente com a rede ou não. Só pra pontuar: quando eu ainda estava lá, eu participei de uma conversa na qual propunham que eu tinha de demonstrar que eu estava mais dentro, que eu estava mais entregue à rede, pra que elas pudessem confiar em mim e pra que eu pudesse partir pra fazer ações estratégicas como sair pra catar e cooptar uns caras que considerassem interessante estar dentro. Uma semana depois dessa conversa, eu estava fora. E não se enganem, queridos, o amor tá aí pra ser mais uma ferramenta… seja você um(a) universitário(a), um(a) intelectual, um(a) artista interessante pra eles, um(a) professor(a) bem posicionada politicamente. Não importa, se você é alvo, o “amor”, ou melhor, o “pós-amor” é uma ferramenta.
(…)

Sexismo
Me perguntem qual o sexo do gestor da cozinha. E me perguntem quem sai pra uma ou outra noitada do Fora do Eixo pra dar as caras na festa com uma “galera”.

Confinamento
Com quem você se relaciona?! Não queira estar lá dentro e se relacionar amorosamente com qualquer outra pessoa que esteja fora da rede. Você vai viver aquilo ali e nada mais. Ficar dentro da casa o dia inteiro e só sair quando é necessário para a casa (cumprir alguma agenda da sua frente de trabalho ou, então, se você está escalado para almoço, compras, algo do tipo). Você não vai sair de casa para ir ao cinema, tampouco ao teatro. Você não vai sair pra ouvir um som nem tomar uma cerveja com o seu vizinho. Afinal, você nem conhece seu vizinho, porque não há tempo, espaço, disponibilidade. Você vive dentro da Casa Fora do Eixo São Paulo, e isso é a sua vida. Se você quer visitar seus pais no interior… “Olha, sinceramente, que você tenha um bom motivo. E que não vá pedir dois meses seguidos. Sim, porque ali o verbo era esse. “Posso ir visitar minha mãe essa semana?”, coisas do tipo. Quer encontrar uma pessoa que não faz parte da rede?! Vai inventar a maior mentira pra conseguir sair dali uma noite, e, no dia seguinte, se demorar pra voltar, não tem cara bonita te dizendo bom-dia, não. Ali, é cobrança 24h por dia. Agora, ai de você perguntar por que o Pablo tá saindo. Por que a Lenissa vai passar três dias fora. Você não tem de perguntar. Ela vai sair, vai usar o dinheiro do caixa coletivo, não vai pedir a ninguém o quanto vai usar. Mas, claro!, veja bem, ela tem “mais lastro que você”. O Pablo resolveu dormir até mais tarde e perdeu o voo? Não importa, ele nem se deu a obrigação de cancelar o vôo. “Você vai ligar lá, Laís, vai dar um jeito de trocar a passagem.” “Mas já passou a hora do check in” “Não importa, troca, ou compra outra, tem que comprar outra, rápido, Laís, já resolveu (o gtalk bombando!!!)? Vai, Laís, vai logo, menina! Tá lerda hoje! Você é lerda mesmo né? Parece retardada”. Sim, você fica na função de comprar 70 passagens aéreas e não para durante 4 dias, fazendo todas as cotações possíveis e impossíveis. (…) “Laís, você é retardada, NÃO TÁ OUVINDO O QUE EU TÔ FALANDO?” É nesse nível!
(…)

Curtir o Pablo
Eu já estive lá. Já vivi momentos em que aparecia um texto com crítica ao Fora do Eixo e aparecia o Pablo sala por sala ou recebíamos a informação via gtalk: “Escrevam aí sobre o quanto você curte estar vivendo isso aqui, o quanto a gente faz coisa massa”, e aí, como mais uma demanda, em 15 minutos, o Facebook tinha 300, 400, 500 textos com esses mesmos tantos de curtir e compartilhar. É bom lembrar que curtir e compartilhar coisas que o Pablo e mais outros por lá escrevem no Facebook é demanda diária. Mas, quando você está lá dentro, parece mais que você está defendendo a causa da rede, que por mais que você tenha crítica, todo mundo tá ali pra algo maior.
(…)

Proibido falar com estranhos
Eu já cheguei a ouvir da Carol (e sinto muito que são fortes recomendações da Lenissa e do Pablo) coisas do tipo: “Com quem você está conversando aí no Facebook, Laís? Esse cara nem é do Fora do Eixo. Quem é ele?! Por que você está conversando com ele?” E, veja bem, ai de você perguntar alguma coisa a Pablo, Felipe, Mari, Lenissa, Carol no mesmo nível de prepotência. Ai de você querer saber com quem o Pablo conversa horas de porta fechada. Qual o assunto da conversa fechada em gtalk entre eles e assim por diante.
(…)

Armação para xingamentos
Eu sei que, depois disso que tô escrevendo, vai aparecer muita gente dizendo que é tudo mentira, que sou rancorosa, mesquinha, filha de mamãe e blá-blá-blá. Ok, ok, eu também já escrevi textos dizendo que tal pessoa era rancorosa, mentirosa e que eu era pós-rancor. Eu sei como funciona, apesar de ter passado só 9 meses na rede, pouco tempo na Casa Fora do Eixo São Paulo, ter tido pouco “lastro”, foi bem mais que o suficiente para me implodirem lá dentro ao perceberem que eu estava despertando, claro.

Vida amorosa patrulhada
Sim, me distanciaram dos meus amigos. Me questionaram sobre minha vida amorosa. Disseram pra eu não me relacionar com tal pessoa porque “este não é o momento de você se relacionar com tal pessoa. É o momento de você trabalhar para subir na rede, para adquirir lastro, para ter espaço pra falar, pra conquistar essas coisas, você tem que assumir esses papeis”. “Laís, por que você tá indo caminhar todos os dias no Parque com a Bianca? Acho que vocês duas estão conversando muito. Não é para vocês ficarem conversando muito”. “Laís por que hoje você ficou de risadice com os meninos na cozinha!? Você é mulher, tem que se posicionar como tal, não é pra ficar de conversa, de risada com ninguém na cozinha. Vai na cozinha porque tá com fome. Pega o que tem que comer e voltar a trabalhar. Não tá vendo que tá todo mundo aqui focado!?”.
(…)

Mais trabalho escravo sem cultura
Na moral, o que é se “posicionar” como mulher? E foco? Ali é passar o dia inteiro fazendo marketing online do Fora do Eixo. Toma banho rápido. Vai no banheiro correndo. Ninguém na casa lê livro algum, porque não dá tempo, isso não existe. E, ainda mais com o discurso do Capilé de que ler é perda de tempo, que agora a comunicação está mais dinâmica, que a gente usa o Facebook pra ter informação de tudo e que isso basta, juntando um ou outro artigo e tal que você vai ler porque obviamente estará falando do Fora do Eixo, e sim, isso é tudo. Cinema… tem um clube de cinema dentro da rede, e marcávamos uma vez por semana (que era nossa hora de descanso da semana) para assistir a algum filme. Mas, sim, rolava uma puta pressão psicológica e disfarçada. Porque, na real, se a sua gestora não vai assistir, por que você vai?! Você tem que trabalhar e trabalho ali, meu amigo, não tem fim.
(…)

O dinheiro: nota fria?
O Fora do Eixo é uma rede com vários coletivos. Quando existia em Cuiabá o Cubo, eles tinham uma associação, a Asprogic, cuja presidenta, se não me engano, é a Lenissa. Em São Carlos, uma outra associação existia e se chamava Associação Caminho das Artes, cuja presidenta, depois de um tempo, se tornou a Carol. A partir disso, tem-se, ali dentro da cúpula do Fora do Eixo, duas pessoas que são presidentas de duas associações, portanto, que podem emitir notas, e podem emitir, portanto, notas de serviço a outras organizações. Organizações tais que podem ser, por exemplo, o Fora do Eixo, que recebe dinheiro público por editais ou relações diretas com empresas privadas como a Vale do Rio Doce, a Petrobrás, a Oi, etc. Quem recebe dinheiro para apoiar atividades culturais tem que justificar os gastos. Por exemplo, então, a associação Caminho das Artes pode prestar um serviço ao Fora do Eixo e emitir uma nota sobre sua atividade prestada a tal organização, que vai servir de justificativa ao que o Fora do Eixo tem que apresentar ao governo ou a empresas que o apoiam.

A vida cotidiana: Pablo, o monarca
Pergunta pra Ivana Bentes e pro Claudio Prado se eles vão sair de suas bem acomodadas e “media ou alto classeadas” casas e vidas para ir viver numa casa Fora do Eixo, dividir seu quarto com mais 8 pessoas, suas roupas com mais 20, 30 pessoas, seu sabonete com mais 22, sua bermuda com mais 15 caras, vai lavar a louça do almoço pra 80 pessoas e o prato do Capilé (que eu nunca vi lavar uma louça em todo tempo que estive morando lá, “mas calma lá, Laís, ele tem coisa mais importante pra fazer”). Também nunca vi Carol, Lenissa e Mari fazer um almoço, uma janta. Ops, vi sim, acho que duas vezes, quando deu uma vontadezinha de fazer uma coisa diferente. “Mas, Laís, deixa de ser mesquinha, egoísta, você acabou de chegar, tá perguntando coisa demais, fica de boa, vai de boa”. Eu nunca vi Mari, Lenissa, Carol, Pablo, Felipe levantar da cadeira pra lavar um banheiro pós-domingo na casa… E nunca vi também alguém ter coragem de pedir pra eles ajudarem, sendo que batia final de domingo na casa, e o resto da casa toda levantava e ia limpar a parte inteira externa pra ficar limpa porque, na segunda-feira, a vida e o trabalho continuam. Eu nunca vi nenhum deles sair pra fazer compras.
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Monarquia absolutista
O Fora do Eixo é uma das estruturas mais engessadas que eu conheço na minha vida; “ditatorial” diria eu. Com seus ministros e seu presidente muito bem autointitulado rei-mor da bancada. Diria mais: ali se vive uma ditadura monárquica, com toda a sujeira de autoritarismo de milhões de outras caras bonitas que possa haver num governo que se descreva como tal. Monárquica porque o Pablo é um rei lá dentro. Só não parece porque ele não se importa muito em demonstrar e porque também, pô!, é bem descolado aparecer como um cara de boa, que não liga pra roupa que tá vestindo, tá sempre tranquilão… É o pós-rei-cult. E digo ditatorial porque a única coisa que eu consigo associar com o medo que existe nas pessoas em questionar o poder da cúpula é a ditadura.
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Ameaças a quem sai
u espero que mais gente tenha a coragem da Beatriz, a minha coragem e a de tanta gente que ainda vai aparecer, cada uma a seu tempo, cada uma no seu espaço, porque abrir a boca pra falar disso aqui não é fácil, não. Sim, eu tenho amigos que já foram ameaçados e não venham pedir nomes, cada um vai falar da sua experiência a hora que bem entender.

Dívida e estelionato
Saí com o Fora do Eixo me devendo pouco menos de 5 mil reais (não em card, em real mesmo…). Negociei com eles porque muita coisa diziam que era “investimento meu na rede” e diziam ainda que, no fundo mesmo, eu que devia pra eles pelo tanto de coisa que eu aprendi enquanto estive na rede. O que toparam pagar segue: passagem aérea comprada no cartão de crédito da minha mãe, meu limite do cartão que ficou negativo, mais de 8 multas no período de um mês com meu carro circulando São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais. Sendo que eu não considerei, por exemplo, cobrar a batida no carro que acabou com uma lateral, devolvi o carro pra minha mãe assim mesmo, um ano de 3G no meu cartão e mais. Eu não queria mais ficar debatendo, fechei em cerca de 3 mil reais. Sò vi a cor de 500 reais, e já trocamos incansáveis 57 e-mails. A resposta sempre é que o orçamento, o caixa, não deu pra fechar, pra pagar esse mês. Lembrando ainda que colocaram meu nome no Serasa por não pagarem uma conta de um celular que não era meu, mas estava no meu nome, mesmo depois de eu ter saído, e eu é que fui pagar essa conta um ano depois pra que meu cartão fosse liberado, e meu nome, limpo. Eu saí do Fora do Eixo em fevereiro de 2012. Estamos em agosto de 2013. E que aqui cada um pense o que quiser.

Desqualificação
Cada um sai da casa com uma TAG. Lembro que tinha a ?#?traíra?, o ?#?filhodaputa?, eu sai como a?#?desistente?, sei que, depois de mim saiu, a ?#?loca? e por aí vai. Pra cada um que se vai, eles justificam com um milhão de defeitos da pessoa (…). Até quando eu estava lá, tinha uma frase do Pablo pra quando alguém saía: “pode ir, pra cada um que sai, chega 10 a mais”. A coisa já não tá mais bem assim. As pessoas estão acordando, e eu espero que esse meu relato seja mais um despertar. Eu sei que, depois deste texto, podem rolar diversas reações da Casa. Ou eles vão ignorar ou vão retaliar a minha pessoa como bem tentam fazer. Podem falar, podem gritar. Pode ser que doa dependendo de quem escreva, até porque, de lá de dentro, eu ainda guardo carinho de muita gente, mas o meu papel hoje tá sendo social, de despertar o olhar de quem tá vendo de fora e também de quem não tá vendo de dentro. Que fique claro que, quando eu trato de Fora do Eixo, eu não tô generalizando as pessoas da rede que fazem parte dela, como eu fiz, eu tô falando de quem a comanda, quem a organiza, quem a vê como ferramenta estratégica para chegar eu não sei aonde.
(…)

Humilhação
Quando eu saí da casa, pedi pra sair tranquila, avisei a Carol que eu não queria alarde, que eu não estava bem, tinha passado dois dias acordada, pensando na atitude a tomar. Não aguentava mais a pressão, não queria mais estar ali, só queria ir embora tranquila, sem discutir, sem problemas. A resposta pra esse meu pedido foi colocar as 22 pessoas que viviam comigo e mais umas outras que estavam ali na casa no dia na minha frente numa reunião geral. Descer uma enxurrada de argumentos, aos quais eu não estava afim de responder. Esquentaram meu psicológico até eu não aguentar mais. Eu só chorava, queria sair dali, sem problemas, sem mal-estar. As pessoas ali me olhavam com cara de “coitada, desistiu!”, e a cúpula, mais precisamente Lenissa e Mari, com uma certa cara de que eu era lamentável, falando com arrogância (…) De verdade, eu mal me lembro do que me disseram naquela noite. Eu só queria sair dali e me mantiveram ali, como se eu tivesse que bater cartão pra galera, já que eu estava saindo. Fizeram isso comigo porque eu não tava saindo de lá sabendo de nada demais que pudesse comprometê-los. Eu era só um peão ali dentro. Quem sabia muito, eles fizeram sair na surdina. Da noite pro dia, como rolou com muita gente que ainda não se sentiu à vontade pra falar, mas que, com certeza, tem muito mais que eu pra contar. A mim me colocaram diante de todos ali que eram meus amigos, até então alguns bem próximos, e perguntaram: “Por que você tá saindo, Laís?” Eles sabem que o estado em que eu me encontrava, psicológica e emocionalmente, não daria condições para que eu contra-argumentasse e puxasse um debate coletivo ali. Hoje, como diriam os Doces Bárbaros, de “pé quente e com a cabeça fria”, eu lhes dou essa resposta. A última fala daquela conversa foi, obviamente, do Capilé: “Laís, independente de qualquer coisa, a gente vai se cruzar por aí, tenho certeza”. E, sim, Capilé, é aqui que a gente tá se cruzando de novo. Eu aqui, você aí.”
Laís Bellini

Por Reinaldo Azevedo

 

O outro do Mídia Ninja — Torturra: busca de financiamento para a turma e LSD

Bruno Torturra é a outra figura do Mídia Ninja que se tornou mais conhecida. Concedeu, ao lado de Pablo Capilé, a entrevista ao Roda Viva. Os jornalistas, infelizmente, não tinham a menor noção do que era o tal “Fora do Eixo” e de quem era Capilé. Ou, estou certo, as perguntas teriam sido outras. Menos as de Eugênio Bucci: ele estava entusiasmado demais para ceder aos fatos.

Em seu perfil no Facebook, Torturra defende o Fora do Eixo e seu parceiro de Mídia Ninja, sem, no entanto, responder às acusações. O texto se chama “Deprimido, confesso”. Ele ainda tenta minimizar a força do depoimento da cineasta Beatriz Seigner. E conclui seu texto dizendo que vai se ocupar da busca de financiamento para o Mídia Ninja. Ah, sim: havendo tempo, de LSD também. Leiam.

Arrumar financiamento e tomar LSD? Ele está falando do ácido mesmo, ou, nessa minha ignorância sobre a cultura dos últimos cinco minutos, “LSD” é alguma gíria nova do coletivismo?

No Roda Viva, Torturra disse que iria se mobilizar para que o Mídia Ninja tivesse uma editoria só para debater a legalização das drogas. Vamos ver quais serão os financiadores. Convenham: na defesa das drogas, a concorrência com o que eles chamam “mídia tradicional” será acirrada. Será difícil descobrir quem é o mais fanático.

Comentem com moderação. 

Por Reinaldo Azevedo

 

Rui Falcão, no Roda Viva, cita os nomes de quem está a serviço do PT na rede; Pablo Capilé é um deles

O Roda Viva, da TV Cultura, convenham, à sua maneira, prestou relevantes serviços ao esclarecimento do que é realmente o tal “Fora do Eixo”, que comanda a Mídia Ninja. Abaixo, há, um trechinho da entrevista que Rui Falcão, presidente do PT, concedeu ao programa. Percebemos quão verdadeiramente independente é a turma.

No vídeo, Falcão categoriza a rede de bogueiros a serviço do PT, citando seus respectivos nomes. E informa o óbvio: os valentes do “Fora do Eixo” atuaram na campanha eleitoral de Fenando Haddad e são os “companheiros” que, digamos, mais interessam no momento. Vejam o vídeo. Transcrevo a fala em seguida e comento:

“[O PT] não depende só do marqueteiro. Nós temos vários tipos de militantes nas redes sociais. Você tem os grandes blogueiros, você tem aqueles que estão mais estabelecidos como o Nassif, o Paulo Henrique, o Rovai, o do “Vi o Mundo”, né?, o… como é o nome dele, o “Do Vi o Mundo”? O Azenha… Você tem os hackers, que (sic) nós não trabalhamos com eles. Aliás, nós fomos vítimas agora, quando tiraram o site do PT do ar. Então não há controle. Quanto mais espaço, quanto mais liberdade houver, mais eles difundem. E nós estamos tomando contado agora com experiências interessantes, como os jovens que fizeram a campanha de difusão e de mobilização de apoiadores, que é o que mais está me interessando no momento, que é ter militantes que (sic) a gente possa discutir com eles, como é o caso agora desse companheiro da casa Fora de (sic) Eixo, o Pablo Capilé”.

Comento
Trata-se de uma fala de 1min11s, mas muito rica. Em primeiro lugar, destaco o que parece ser uma bobagem porque, a esta altura, todo mundo sabe… o que todo mundo já sabe, mas agora foi oficialmente admitido: o presidente do PT lista os nomes dos que estão a serviço do partido — e que fazem, pois, militância político-partidária, certo?, coisa diferente de jornalismo. Só achei uma pena ele não ter citado os respectivos nomes dos que compõem o primeiro grupo, o dos “grandes blogueiros”.

Essa gente tem todo o direito de fazer militância, note-se. A democracia lhe assegura isso. O que Falcão omite em sua fala é que essa militância é paga, direta ou indiretamente, com dinheiro público: com o patrocínio de estatais e do próprio governo federal. Resta a pergunta óbvia: é lícito o que é de todos — a verba estatal — financiar os que estão a serviço de um partido? De resto, Falcão está sendo incompleto e injusto. Há mais gente recebendo uma bolada — talvez maior do que a destinada aos nomes citados — que não foi mencionada. Em suma, o presidente do PT fez de conta de que a militância não é financiada com o capilé público.

Quanto ao “Fora do Eixo”, eis aí o depoimento que desmente a suposta independência arrotada por Pablo Capilé e Bruno Torturra no próprio Roda Viva. A turma fez a campanha do PT. Fim de papo! E se nota que é uma colaboração profunda mesmo. Hoje, revela Falcão, e a que mais desperta o seu interesse.

Há, note-se, certa indisposição entre os blogueiros a serviço mais antigos, que já podem ser considerados, digamos, “tradicionais”, e essa gente que gosta de falar em “novas mídias”, “novas plataformas”, “tecnologia de mobilização”, misturando, assim, semiótica, informática e mistificação.

Sabem como é… Há muitos brigando pela mesma coisa: grana! Em nome da democracia, é claro!, e contra a “Dona Zelite, a direita, os reacionários…” De uma coisa, no entanto, nenhum deles abre mão: do dinheiro dos desdentados .

PS – Este ainda não é texto prometido no post anterior.

Por Reinaldo Azevedo

 

Fora do Eixo, a seita totalitária 1 – Mais uma vítima torna público o seu depoimento. Ou: À diferença de Capilé, digo: “Não me sigam!”

Publiquei ontem aqui parte do depoimento-desabafo da cineasta Beatriz Seigner, que acusa os métodos muito pouco civilizados empregados pelo Fora do Eixo, grupamento que comanda a tal “Mídia Ninja”, que andou sendo reverenciada por alguns tolos desinformados e deslumbrados da grande imprensa. Impressionante a repercussão! O post correu, perdoem-me o clichê, como um rastilho de pólvora no Facebook e no Twitter. Beatriz acusa a existência de trabalho semelhante à escravidão, apropriação indébita de trabalho e de recursos, ódio à cultura, culto à personalidade… Bem, no link da reportagem, remeto para a integra de seu depoimento. Agora, dou visibilidade a um outro, este de autoria de uma moça chamada Laís Bellini. Se o texto de Beatriz espanta, o de Laís assusta. Se, até havia pouco, recorria-se a uma metáfora para falar do Fora do Eixo como uma seita, agora já não se trata de figuração. E Pablo Capilé, sabe-se lá no uso de quais atributos não perceptíveis a olho nu (o discurso racional é que não é), é o seu Profeta, é o homem da Revelação. Pior: aparece também, depreende-se do depoimento de Laís, como um tirano com poderes maiores do que aqueles de que dispõe Kim Jong-un, o anão tarado que tiraniza a Coreia do Norte. Ao ler as palavras da moça, a gente se pergunta: como é que jovens alfabetizados, com aspirações ou reais dotes artísticos, caem na lábia de Capilé? Bem, não é de hoje que a literatura religiosa trata dos falsos profetas, não é mesmo?

Antes que prossiga, uma informação relevante. Laís, que escreve o depoimento, cujos trechos transcreverei, não gosta de mim. Na verdade, ela me detesta. Como eu não sou o Capilé e não preciso que ninguém me adule, antes de reproduzir qualquer coisa de sua autoria, informo na íntegra o que ela diz a meu respeito:
“ (…) espero eu que pessoas como Reinando Azevedo, um dos caras que mais me enojam na grande mídia, não venha considerar que quem está descrevendo aqui sua experiência tem alguma coisa a ver com seus ideais… pelo contrário.”

Comento
Não sei se entendi direito, mas parece que Laís teme que, por ter se tornado uma crítica do Fora do Eixo, eu passe a considerar que ela é da minha turma. Fique tranquila, moça! Eu não tenho turma! Zero! Nenhuma! Sou do bloco do “eu sozinho”. Não sou profeta. Não catequizo. Não tento ganhar ninguém para a minha “causa” porque não tenho causa nenhuma — não, ao menos, consubstanciada numa doutrina. Não preciso que ninguém me adule. Todas as pessoas que eu queria que gostassem de mim já gostam. Todas aquelas cujo ódio me regozija já me odeiam. Se eu ganhar novos amigos, Laís, fico contente. Mas também não os procuro porque estou satisfeito com os que tenho. Se eu quisesse companhia, não escreveria certas coisas, não é? Seria mais tendente a buscar o acordo, o meio-termo, o meio do caminho, a média de opiniões. Mas eu gosto, Laís, é do dissenso, do confronto de ideias, do choque. Eu, Laís, gosto mesmo é de coisas fora do eixo, daí a razão por que repudie, por princípio, que alguém crie uma entidade gigantesca para cuidar da suposta cultura alternativa. Ora, que alternativa pode haver, como você experimentou muito bem, num aparelho montado para odiar certas coisas e reverenciar outras? Que alternativa pode haver onde há doutrinação ideológica e moral, para dizer o mínimo?

Eu a enojo? Só se for por causa dos valores que vão acima. Não será pelo meu hálito, garanto, tampouco pelo cheiro que exalo — além do banho diário (no mínimo, um), anuncio aqui a descoberta de uma essência deliciosa em minha recente incursão pela Toscana… É claro que você não é seguidora não precisamente das minhas ideias, mas, vá lá, de alguns dos meus valores. Se me lesse com um pouco mais de cuidado, não teria caído na conversa de tipos como Pablo Capilé. Teria percebido a tempo, sem passar pelos óbvios constrangimentos por que passou, que, em que pese a dimensão coletiva da arte, é só no sossego do claustro e no mergulho da própria intimidade que se produz uma obra relevante. Teria, quem sabe?, sido advertida há tempos e a tempo de que tudo aquilo que esmaga a individualidade acaba servindo sempre a um senhor, a um tirano — nem que seja um tirano de almas.

Ainda que me solidarize com você, moça — solidariedade que devo a qualquer um que sofre ou que é vítima de uma burla —, não dou destaque a seu depoimento apenas para emprestar relevo à sua história. Espero, isto sim, que ela sirva de advertência a outros tantos jovens vulneráveis ao discurso dos falsos profetas.

Este post já ficou longo demais. Volto no próximo, então, com o depoimento de Laís.

Por Reinaldo Azevedo

 

O que revela a planilha de projetos do “Fora do Eixo”, que comanda a “Mídia Ninja”. Ou: Ministério da Cultura é cartório da turma; a generosidade de Minas e a bondade da Petrobras

Quanto mais escarafuncho essa história do tal “Fora do Eixo” — de que a Mídia Ninja é apenas uma expressão —, mais me surpreendo. Acho absolutamente espantoso que essa gente administre “casas” onde os “trabalhadores da cultura” realmente moram — SEM RECEBER SALÁRIO, É CLARO!!!, QUE ESSE NEGÓCIO DE SALÁRIO, VOCÊS SUPÕEM, O TAL PABLO CAPILÉ DEVE ACHAR QUE É COISA DE PORCO CAPITALISTA!!! Os porcos coletivistas usam a mão de obra dos abduzidos, pagam o trabalho com um prato de comida — sabe-se lá de que qualidade — e nem lhes reconhece o crédito.

Vocês pensam que o tal “Fora do Eixo” é pouca porcaria? É nada! É grande! Custa caro! Se vocês clicarem aqui, terão acesso a uma planilha gigantesca que está no Google com 124 projetos da “turma”. Em Goiás e em Dois Córregos, quando a gente quer designar o falso sonso, fala-se assim: “Esse, de bobo, só tem o andado”. É isto: de bobos, os chefões do Fora do Eixo só têm o andado.

A planilha demonstra que, com esses 124 projetos, o Fora do Eixo reivindicou do poder público R$ 25.312.930,96. Desse total, obteve autorização para captar R$ 5.096.403,55. A captação efetiva, nesse grupo de propostas, teria ficado em R$ R$ 627.904,00. E aí há algumas curiosidades.

Se vocês pesquisarem a planilha, verão que o Ministério da Cultura virou quase uma espécie de cartório do Fora do Eixo. Quase todos os pedidos feitos com base na Lei Rouanet receberam autorização para a captação máxima ou perto disso. Vejam:

O tal Capilé parece não gostar muito de tucanos, mas os de Minas, pelo visto, adoram a turma. A lei de incentivo do estado consegue ser ainda mais generosa nas autorizações. Observem.

E bem mesmo eles se deram com a Petrobras, não é?, em Porto Alegre. A Casa Fora do Eixo da cidade pediu R$ 577.904,00 à “Petrobras Cultural”, teve esse montante autorizado e recebeu esse valor. Dinheiro para um projeto chamado “Rede Brasil de Festivais Independentes”. Deve existir alguma rede de “festivais dependentes”, né? Ignoro.

Eu estou adorando este assunto. É claro que ainda voltarei a ele.

Por Reinaldo Azevedo

 

A “imprensa tradicional” cede à pressão dos fascistoides; campanha eleitoral em SP já começou; PT faz seu primeiro ato nesta sexta; o Cade é seu grande cabo eleitoral

Um desses mequetrefes a soldo que estão por aí posando de independentes mandou bala: “Reinaldo resolveu atacar o Fora do Eixo e a Mídia Ninja e ignorar o caso do PSDB”. Nem uma coisa nem outra. Estou publicando INFORMAÇÕES, não ataques, sobre os dois primeiros. E, basta ler o meu blog, não estou “ignorando” as denúncias contra o PSDB. Posso não escrever o que alguns gostariam de ler. Isso é coisa muito diferente. Adiante.

Na entrevista que concedeu ao programa Roda Viva, Pablo Capilé, o chefão do “Mídia Ninja”, acusou a grande imprensa — que certos vagabundos chamam de “mídia tradicional” — de não dar o devido destaque às acusações que há contra o PSDB. Trata-se de uma mentira escandalosa: basta ler os jornais, os portais e atentar para o noticiário da TV, em particular o Jornal Nacional: dá-se um destaque gigantesco às denúncias.

A patrulha feita por esses fascistoides surte efeito. O jornalismo que eles chamam “tradicional” se deixa capturar pelo cerco que eles fazem — o mesmo acontece em relação às acusações feitas pelo JEG (Jornalismo da Esgotosfera Governista). Profissionais que deveriam ter compromisso apenas com o fato, com a notícia, fazem um enorme esforço para provar que eventuais notícias contra o PT não atendiam a nenhum pressuposto ideológico. E como provam a sua “inocência”? Mandando para a fogueira a reputação de alguns tucanos, com ou sem provas, com ou sem razão.

E vão ficando para as calendas algumas questões essenciais. Duas acusações que atingem hoje alguns tucanos são emblemáticas de certo estado de coisas. E também indicam que, sem dúvida, o PT está trabalhando e está recuperando a iniciativa. Ficou um tanto perdido nos dias que se seguiram aos protestos, mas já encontrou o seu eixo — o velho eixo, que consiste em usar instrumentos de estado, a exemplo do que fazem os bolivarianos, para eliminar seus adversários.

No próximo post, chamo a atenção para algumas informações essenciais, que são publicadas, sim, pela, como é mesmo?, “mídia tradicional”. Só que estão escondidas no corpo das reportagens.

Campanha eleitoral
Se vocês clicarem aqui, encontrarão a convocação que o PT de São Paulo faz para o um tal “Encontro do Interior”. Acontece nesta sexta e sábado, em Bauru, com a presença de Lula. É o primeiro ato da campanha de Alexandre Padilha ao governo de São Paulo.

Tivesse acontecido há 15 dias, talvez certa melancolia tivesse caracterizado o encontro. Nesta sexta, clima será de euforia. A campanha já está na rua. Os maiores cabos eleitorais dos petistas, agora, são o Cade, a Polícia Federal e a “imprensa tradicional”, que mimetiza os métodos da Mídia Ninja.

Por Reinaldo Azevedo

 

A “mídia tradicional” em tempos de “Mídia Ninja” – A espantosa acusação contra Serra, sustentada em fatos que… desmentem a denúncia

Título da manchete da Folha de hoje: “Serra sugeriu que Siemens fizesse acordo, diz e-mail”.

Título da reportagem na página interna: “Executivo afirma que Serra sugeriu acordo em licitação”

Décimo parágrafo dos 17 compõe a reportagem:
“Os documentos examinados pela Folha não contêm indícios de que Serra tenha cometido irregularidades, mas sugerem que o governo estadual acompanhou de perto as negociações entre a Siemens e suas concorrentes.”

Eis a “mídia tradicional” (como “eles” chamam) que o subjornalismo petralha e a Mídia Ninja consideram proteger os tucanos. Ainda que a manchete da capa e da página atribuam a um “e-mail” a acusação contra Serra, é evidente que a abordagem agride a reputação do ex-governador. É preciso que se chegue ao 10º parágrafo — E NÃO SERÁ ELE A SE MULTIPLICAR NAS REDES SOCIAIS — para que se saiba que “os documentos examinados pela Folha não contêm indícios de que Serra tenha cometido irregularidades”.

Os documentos
Um pouquinho a mais de reflexão, e o surrealismo vai se adensando. Que documentos são esses — os que não incriminam Serra, note-se — a que a Folha teve acesso. O nono parágrafo da reportagem explica:

“O e-mail examinado pela Folha faz parte da vasta documentação recolhida pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), do Ministério da Justiça, na investigação aberta para examinar a prática de cartel em licitações da CPTM e do Metrô de São Paulo de 1998 a 2008.”

Explicado. O tal e-mail, então, integra a documentação de uma investigação feita pelo Cade — subordinado ao ministro José Eduardo Cardozo — que se dá, atenção!, EM SIGILO. E tanto a coisa é sigilosa que o governo de São Paulo recorreu à Justiça para ter acesso ao material e teve seu pedido recusado.

Corolário: A JUSTIÇA NEGA A SÃO PAULO AQUILO QUE ALGUÉM DO CADE — QUEM? — FORNECE A JORNALISTAS.

Quem acusa?
E quem faz a tal acusação? Um sujeito chamado Nelson Branco Marchetti, então diretor da Siemens, num e-mail a seus superiores. E o que diz a tal mensagem? Reproduzo trecho da reportagem:
A mensagem relata uma conversa que um diretor da Siemens, Nelson Branco Marchetti, diz ter mantido com Serra e seu secretário de Transportes Metropolitanos, José Luiz Portella, durante congresso do setor ferroviário em Amsterdã, na Holanda.
Na época, a Siemens disputava com a espanhola CAF uma licitação milionária aberta pela CPTM para aquisição de 40 novos trens, e ameaçava questionar na Justiça o resultado da concorrência se não saísse vitoriosa.
A Siemens apresentou a segunda melhor proposta da licitação, mas esperava ficar com o contrato se conseguisse desqualificar a rival espanhola, que apresentara a proposta com preço mais baixo.
De acordo com a mensagem do executivo da Siemens, Serra avisou que a licitação seria cancelada se a CAF fosse desqualificada, mas disse que ele e Portella “considerariam” outras soluções para evitar que a disputa empresarial provocasse atraso na entrega dos trens.
Segundo o e-mail, uma das saídas discutidas seria a CAF dividir a encomenda com a Siemens, subcontratando a empresa alemã para a execução de 30% do contrato, o equivalente a 12 dos 40 trens previstos. Outra possibilidade seria encomendar à Siemens componentes dos trens.

Retomo
Ao jornal, Serra nega que tenha se reunido com o tal executivo. Ainda que tivesse ameaçado cancelar a licitação, teria, parece, atendido ao interesse público, não? Se a Siemens não oferecia o melhor preço e se conseguisse tirar da disputa quem ofereceu o menor, o prejuízo seria dos cofres públicos. Mas agora vem o fato estupefaciente.

O suposto acordo, como evidenciam os fatos, não aconteceu. A Siemens perdeu mesmo. Recorreu à Justiça e não foi bem-sucedida. Serra ganhou na testa uma manchete em razão de um troço que o próprio jornal admite não apresentar indícios de irregularidade e que remete a um suposto acordo que… não aconteceu. O que é fato, isto sim, é que a Siemens tentou, sem sucesso, melar a disputa.

Surrealismo pouco é bobagem: em outro e-mail, o tal executivo diz que o governo de São Paulo gostaria que a Siemens executasse pelo menos um terço do contrato. E ISSO TAMBÉM NÃO ACONTECEU. Assim, temos uma manchete que confere ares de escândalo ao nada, ao que não houve, ao que não é fato.

Como???

Os e-mails que estão com o Cade foram passados pela própria Siemens, como parte do tal “Acordo de Leniência” (farei um post específico a respeito). A Folha, sei lá por quê, informa que tentou ouvir o Cade. Pra quê? Não está com o processo? E sabem o que respondeu o órgão subordinado a José Eduardo Cardozo? Reproduzo: “Procurado pela Folha, o Cade informou que o caso está sob sigilo e nenhuma informação sobre o assunto poderia ser repassada à imprensa.”

Não é mesmo o requinte do cinismo? A reportagem é feita com peças cuidadosamente selecionadas do processo que está no Cade — e, pois, vazadas por alguém de lá —, mas o órgão afirma que não pode se pronunciar em razão do… sigilo!

Começo a encerrar
A Mídia Ninja, com a sua particular forma de entender o trabalho jornalístico, costuma enfiar câmeras e gravadores na cara dos policiais militares quando estes estão enfrentando manifestantes truculentos. É claro que os PMs acabam sendo retratados como bandidos, e alguns bandidos, como heróis.

A imprensa que os delinquentes chamam “tradicional” começam a mimetizar esses métodos. Um e-mail que relata um fato cuja veracidade é, para dizer pouco, duvidosa — já que aconteceu o contrário do que anuncia — serve para engolfar Serra na voragem de denúncias, embora se admita que os documentos “não contêm indícios de que ele tenha cometido irregularidades”.

Isso vem a público um dia antes de o PT realizar o seu primeiro ato oficial com vistas à disputa pelo governo de São Paulo. Teoria conspiratória? Não! Fato. Uma realidade tão fática quanto a inexistência de qualquer indício contra o ex-governador. E que não se ignore: uma peça dessa natureza é produzida no momento em que se especula a possibilidade de que ele busque uma alternativa para disputar a Presidência da República.

No mundo das trevas em que costuma transitar, o PT está de parabéns! Está conseguindo sair da crise, de braços dados com setores da imprensa, aliados importantes já há muitos anos. E começa a sair do sufoco fazendo aquilo em que é mestre: escandalizando o nada para destruir a reputação alheia. E ainda não acabei.

Por Reinaldo Azevedo

 

Dilma diz que IPCA de julho mostra inflação sob controle; comemoração é precoce

Na VEJA.com:
Em entrevista a rádios do sul de Minas Gerais, a presidente Dilma Rousseff afirmou nesta quarta-feira que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de julho mostra uma inflação “bastante sob controle”. “A inflação vem sistematicamente caindo”, comentou. Ela ressaltou também que o resultado de julho é um dos mais baixos para o período e que o preço da cesta básica caiu em todas as dezoito capitais pesquisadas. Nesta manhã, o IBGE informou que o IPCA ficou praticamente estável em julho, em 0,03%, com alta acumulada de 6,27% em 12 meses.

A comemoração vem em momento pouco oportuno. A desaceleração do índice de julho é fator sazonal e ocorre devido à queda dos preços das commodities agrícolas no mercado internacional somada à redução das tarifas de transporte público após os protestos que varreram o país. Para se ter uma ideia, em 2009, 2010 e 2011, anos de inflação alta, o indicador esteve próximo de zero nos meses de julho. Em 2012, teve comportamento atípico e ficou em 0,33%, oscilação considerada alta para o período, devido às quebras de safra ocorridas no Brasil e nos Estados Unidos.

Apesar do otimismo da presidente nas declarações desta manhã, economistas continuam céticos. No último relatório Focus, divulgado pelo Banco Central, a previsão para o IPCA no final de 2013 se mantém em 5,75%, bem acima do centro da meta de 4,5%. Já para 2014, o cenário piora: a estimativa para o indicador é de 5,87%.

Os comentários feitos pela presidente apenas reforçam a percepção do mercado de que o governo culpa o cenário externo quando a inflação sobe, mas toma para si os louros quando o indicador recua – comportamento que dificulta a retomada da credibilidade da economia brasileira. Dilma segue: “a inflação está completamente sob controle, atingindo os valores mais baixos do período, e você detecta isso em todos os quesitos, tanto na alimentação quanto no setor de serviços e de transportes. É um fenômeno que está se espalhando por todos os preços”, afirmou. A presidente disse ainda que houve “um estardalhaço” desnecessário com a inflação.
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Por Reinaldo Azevedo

 

O alucinado trem-bala de Dilma é atropelado pela realidade

Os consórcios da Espanha e da Alemanha querem adiar o leilão do trem-bala, que está marcado para a próxima terça-feira. A presidente Dilma Rousseff, segundo informou a Folha, está propensa a aceitar o adiamento. Ai, ai… Peço que vocês leiam o texto que vai abaixo, em azul, que considero a mais detalhada desconstrução da maluquice da presidente. Tudo o que você quer ou precisa saber sobre o assunto está aí. Volto depois.
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O projeto do Trem de Alta Velocidade (TAV) entre São Paulo e Rio de Janeiro, o trem-bala, poderia ser usado em cursos de administração pública como exemplo do que não se deve fazer. Foram cometidos vários erros básicos nos estudos preliminares – parecem deliberados de tão óbvios. Em primeiro lugar, foi superestimada a demanda de passageiros – e, portanto, a receita futura da operação da linha – em pelo menos 30%.

Além disso, o TAV não custaria R$ 33 bilhões, como dizem, e sim mais de R$ 60 bilhões. Isso porque não incluíram reservas de contingência, não levaram em conta os subsídios fiscais e subestimaram os custos das obras, como os 100 km de túneis, cujo custo foi equiparado aos urbanos. Esqueceram que os túneis para os TAVs são bem mais complexos, dada a velocidade de 340 km por hora dos trens; além disso, longe das cidades, não contam com a infra-estrutura necessária, como a rede elétrica, por exemplo.

Foram ignoradas também as intervenções necessárias para o acesso às estações do trem, caríssimas e não incluídas naqueles R$ 60 bilhões. Imagine-se o preço das obras viárias para o acesso dos passageiros que fossem das zonas Sul, Leste e Oeste de São Paulo até o Campo de Marte!

O último leilão do TAV fracassou não porque os empresários privados não gostem de receber subsídios ou que o governo do PT seja refratário a concedê-los. Pelo contrário! Até os Correios e os Fundos de Pensão de estatais podem ser jogados na aventura. Ocorre que o projeto é tão ruim que o ponto de convergência tornou-se móvel: afasta-se a cada vez que parece estar próximo.

Apesar de tudo, o governo vai insistir, anunciando agora duas licitações: uma para quem vai pôr o material rodante, operar a linha e fazer o projeto executivo da segunda licitação, na qual, por sua vez, se escolheria o construtor da infra-estrutura. Este seria remunerado pelo aluguel da obra concluída, cujo inquilino seria a empresa operadora, bem como pelo rendimento da outorga que essa empresa pagou para vencer a primeira licitação. Entenderam? Não se preocupem. Trata-se de uma abstrusa mistificação para, de duas uma: encobrir o pagamento de toda a aventura pelos contribuintes ou fazer espuma para que o governo tire o time sem dizer que desistiu.

A alucinação que cerca o projeto do TAV fica mais evidente quando se pensa a questão da prioridade. Imaginemos que pudessem ser mobilizados recursos da ordem de R$ 60 bilhões para investimentos ferroviários no Brasil.

Que coisas poderiam ser feitas com esse dinheiro? Na área de transportes de passageiros, R$ 25 bilhões de novos investimentos em metrô e trens urbanos, beneficiando mais de três milhões de pessoas por dia útil em todo o país: Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Belo Horizonte, Rio, Goiânia, Brasília, Salvador, Recife, Fortaleza… Sabem quantas o trem-bala transportaria por dia? Cerca de 125 mil, numa hipótese, digamos, eufórica.

Na área de transportes ferroviários de carga, os novos investimentos atingiriam R$ 35 bilhões, atendendo à demanda interna e ao comércio exterior, conectando os maiores portos do País com os fluxos de produção, aumentando o emprego e diminuindo o custo Brasil. Entre outras linhas novas, que já contam com projetos, poderiam ser construídas a conexão transnordestina (Aguiarnópolis a Eliseu Martins); a ferrovia Oeste-Leste (Figueirópolis a Ilhéus); a Centro-Oeste (Vilhena a Uruaçu); o trecho da Norte-Sul de Açailândia a Barcarena, Porto Murtinho a Estrela do Oeste; o Ferroanel de SP; o corredor bioceânico ligando Maracajú-Cascavel; Chapecó-Itajaí etc. Tudo para transporte de soja, farelo de soja, milho, minério de ferro, gesso, fertilizantes, combustíveis, álcool etc. É bom esclarecer: o trem-bala não transporta carga.

Além de ter sido vendido na campanha eleitoral como algo “avançado”, o TAV foi apresentado como se o dinheiro e os riscos fossem de responsabilidade privada. Alguém acredita nisso hoje?

Inicialmente, segundo o governo, os recursos privados diretos não cobririam mais de 20% da execução do projeto. E isso naquela hipótese ilusória de R$ 33 bilhões de custo. Outros 10% sairiam do Tesouro Nacional, e 70%, do BNDES, que emprestaria ao setor privado, na forma do conhecido subsídio: o Tesouro pega dinheiro a mais de 12% anuais, empresta ao BNDES a 6%, e a diferença é paga pelos contribuintes. Com estouro de prazos e custos, sem demanda suficiente de passageiros, quem vocês acham que ficaria com o mico da dívida e dos subsídios à tarifa? Nosso povo, evidentemente, por meio do Tesouro, que perdoaria o BNDES e bancaria o custeio do trem.

Há outras duas justificativas para a alucinação ferroviária: os ganhos tecnológicos e ambientais! A história da tecnologia é tão absurda que lembra os camponeses do escritor inglês Charles Lamb (num conto sobre as origens do churrasco), que aprenderam a pôr fogo na casa para assar o leitão. Gastar dezenas de bilhões num projeto ruim só para aprender a implantar e a fazer funcionar um trem-bala desatinado? Quanto vale isso? Por que não aprender mais tecnologia de metrô e trens de carga? Quanto ao ganho ambiental, onde é que já se viu? Como lembrou Alberto Goldman, a saturação de CO² se dá nas regiões metropolitanas, que precisam de menos ônibus e caminhões e de mais trens, não no trajeto Rio-SP.

O projeto do trem-bala é o pior da nossa história, dada a relação custo-benefício. Como é possível que tenha sido concebido e seja defendido pela principal autoridade responsável pela condução do país? Eis aí um tema fascinante para a sociologia e a psicologia do conhecimento.

PS – A região do projeto do trem-bala em que há potencial maior de passageiros é a de Campinas (SP) e Vale do Paraíba, que poderia perfeitamente receber uma moderna linha de trem expresso, com custo várias vezes menor e justificativa econômica bem maior, especialmente se ocorrer a necessária expansão do aeroporto de Viracopos.

Voltei
Esse artigo foi publicado no Estadão, atenção!, no dia 14 de julho de 2011. Há dois anos!!! É de autoria de José Serra. Dilma experimentava os píncaros da glória e poderia se dar ao luxo de ignorar não a voz rouca das ruas, mas as vozes lúcidas da racionalidade. A realidade mudou, mas a presidente ainda não recobrou o juízo. A melhor coisa que tem a fazer é desistir dessa estupidez. Mas ela parece ter sido tomada por aquela doença do espírito que leva uma pessoa a se apegar uma ideia com um entusiamo inversamente proporcional à sua viabilidade. Atende pelo nome de teimosia. O chato é que, se esse troço prospera, nós é que vamos pagar a conta. Já estamos pagando. No dia 1º de março deste ano, informava O Globo: ”O trem-bala ainda nem foi licitado e já custou aos cofres públicos pelo menos R$ 63,5 milhões, com estudos de viabilidade econômica e de engenharia, honorários advocatícios e criação da estatal Empresa de Planejamento e Logística (EPL), uma estrutura robusta que já conta com 151 empregados.”

Por Reinaldo Azevedo

 

A petralhada que vá patrulhar a vovozinha Metralha. No caso do CadeLeaks, ou se revele a investigação inteira ou cessem os vazamentos. Sigilo com vazamento é coisa de estado policial bolivariano

A petralhada que vá patrulhar a Vovó Metralha em vez de vir encher o meu saco, atribuindo-me coisas que não escrevi. Alguém enfiou a mão no dinheiro público em licitações dos trens e do metrô em São Paulo, endossando a formação de cartel? Cadeia no valente, depois do devido processo legal e se ficar provada a falcatrua. Sou tão tucano quanto petista ou pecedobista… Todos os partidos que estão aí são expressões da democracia — embora alguns deles não a acatem como horizonte último —, mas nenhum deles, como diriam aqueles, ME representa. Não representam a mim, mas representam a outros (NOTA: olhe o objeto direto preposicionado aí — recado a um leitor que me dirigiu uma pergunta sobre o assunto…). Por isso eu critico a turminha que levanta cartazes com essa frase estúpida. Adiante.

Eu não pedi impunidade pra ninguém nem neguei que tenha havido irregularidades. Até porque, a exemplo da esmagadora maioria dos brasileiros, não conheço o processo. O que afirmei, sim, e continuo a sustentar é que existem circunstâncias que apontam para uma outra tramoia — na hipótese de que o direcionamento das licitações tenha mesmo acontecido.

É um absurdo que o governo de São Paulo não conheça o processo. “É que existe o sigilo!” Sigilo? Qual sigilo? O vazamento está por aí, em todo canto. E não, como fica evidente, do processo inteiro, até porque é impossível. Há uma cuidadosa seleção de partes que são tornadas públicas, que, curiosamente, não trazem o nome de ninguém. Virou coisa, como a imprensa noticia, de “governos do PSDB”. A intenção de criminalizar todas as gestões tucanas fica mais do que evidente. Pior: sustenta-se que “o governo sabia”. Quem é “o governo”? Que figura é essa? Os governadores sabiam? Teriam dado o aval?

Ninguém me patrulha, não! E não vou ficar aqui fazendo o joguinho das compensações. No dia em que me sentir compelido a essa prática covarde, paro de escrever. Cadeia para eventuais ladrões do dinheiro público em São Paulo. Cadeia para eventuais ladrões do dinheiro público onde quer que estejam. Mas não me peçam para endossar esses procedimentos típicos de repúblicas bolivarianas, especialmente quando um José Eduardo Cardozo, chefe funcional do Cade, vem a público para declarar a excelência do órgão e silencia sobre o vazamento.

Em editorial, o Estadão sugeriu que o governador Geraldo Alckmin fez mal em ter recorrido à Justiça para conhecer o processo. É mesmo? Fez mal por quê? Então já não se deve garantir nem mais instrumentos que possam instruir ou a defesa ou, atenção!, a eventual punição de culpados que possam estar por aí?

Pra cima de mim, não! Golpeadores da democracia dos mais diversos quilates, ao longo da história, recorreram às acusações de corrupção para liquidar adversários políticos. Tanto mais cuidado se deve tomar quanto mais próximos do poder estiverem os que apontam as irregularidades. Vejam como funcionam as coisas na Venezuela de Chávez/Maduro, na Bolívia de Evo Morales e no Equador de Rafael Correa.

Eu não vi o governador Geraldo Alckmin ou qualquer outro tucano a passar a mão na cabeça de larápios, como Lula já fez. Se alguém viu, me conte, aponte. Mas vi, sim, e faz todo sentido, um secretário de estado a acusar o Cade de se comportar como polícia política, no que está coberto de razão. Seria porque o órgão investiga licitações havidas em São Paulo? Não! A acusação se deve ao fato de que, sem sombra de dúvidas, montou-se uma central de vazamentos — e o objetivo dessa operação, que é ilegal, é político.

De resto, eu não me sinto obrigado a provar à patrulha petralha que sou uma pessoa de bem. Olho as companhias dessa gente e quem são os seus heróis, e, definitivamente, não há a menor chance de que eles me acolham. E há o fato adicional de que não quero ser acolhido por eles. Meu blog não depende, para existir, da aprovação daqueles que o detestam. Tampouco busco ganhar essa gente. Se me leem, e leem, é porque querem, não porque eu tente cooptá-los. 

Cadeia para larápios, sim!, onde quer que estejam. Mas reitero que, da forma como se dão as coisas, por enquanto, ainda que todos os crimes tenham acontecido, escolheu-se o caminho da chicana, da politicagem e da mobilização de uma estrutura do estado para perseguir inimigos políticos.

Quem disse, para ir para o extremo, que os motivos dos fascistas eram sempre falsos? Às vezes, até eles lidavam com a verdade. O problema é que essa verdade servia à farsa. Não cabe ao PSDB, ao PT, a partido nenhum, defender bandidos. Mas cabe a qualquer partido — e a qualquer pessoa sensata — defender as regras do estado democrático e de direito.

Revele-se o inteiro teor da investigação ou cessem os vazamentos selecionados. Uma coisa e outra são próprias das democracias de direito. Sigilo combinado a vazamentos industriados é coisa de estado policial bolivariano, né, José Eduardo Cardozo? E não haverá petralha nesta terra capaz de me intimidar com sua patrulha boçal. Se existem bandidos em São Paulo, que parem de escondê-los, ora!

Vão patrulhar a Vovó Metralha!

Por Reinaldo Azevedo

 

O resultado burro colhido pelo Ibope Inteligência. Ou: A tolice sobre a reforma política e o financiamento público, com a chancela da OAB!

Não sei se notaram. Voltei das minhas férias ainda menos disposto a condescender com a estupidez — se é que havia antes algum espaço para isso. Refiro-me à prontidão mesmo para recusar o que deve ser recusado. Leio no Estadão que uma pesquisa feita pelo Ibope Inteligência (não acompanhei esta questão: existe algum outro, sem a “Inteligência”?) aponta que 92% dos brasileiros são favoráveis à reforma política; 80% querem que as mudanças valham já para 2014.

Santo Deus! A pesquisa foi encomendada por um tal MCCE (Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral), do qual faz parte a OAB. O MCCE é autor da proposta de inciativa popular que recebe o apelido de “eleições limpas”! Eles querem o fim da doação de empresas a campanhas políticas, o que teria o apoio de 78% dos que responderam à pesquisa; a contribuição privada ficaria limitada aos indivíduos.

O resultado da pesquisa do Ibope Inteligência é burro. Não porque eu discorde dele, mas porque o instituto, a pedido do tal movimento, foi às ruas colher as flores do óbvio. Ora, num momento de inédito descrédito da política, o que vocês acham que diriam os entrevistados quando indagados se são favoráveis a que isso mude? Se o Ibope Inteligência indagar se as pessoas são contra ou a favor a Lei da Gravidade, estou certo de que o resultado será inferior a 92%.

O mesmo se diga da pergunta — não sei como foi formulada — sobre a doação de empresas privadas. Os que responderam sabem que, sem as empresas privadas:
a: o dinheiro que vai financiar as eleições sairá dos cofres públicos — leia-se: do bolso delas?
b: sem haver mecanismos para coibir as doações ilegais — e não há —, vai aumentar o caixa dois de campanha. É preciso ser muito energúmeno para não constatar o óbvio.

Esse é o pior aspecto desses momentos de transe, em que a gritaria e o alarido superam qualquer manifestação de racionalidade.

O tal projeto que conta com o apoio da OAB traz ainda um outro mimo: a eleição em dois turnos para o Legislativo, o que faz o custo da operação alcançar dimensões astronômicas. Num primeiro momento, o eleitor escolheria o partido; estabelecido o número de cadeiras, votaria, então, no candidato. Que eu saiba, seria, assim, uma coisa bem jabuticaba, entendem?, que só vicejaria no Brasil. O outro produto tipicamente nativo é a besteira.

Por Reinaldo Azevedo

 

Sob o signo da estupidez. Ou: Trata-se de escolher se vamos dizer “sim” ou “não” à violência

Num mundo em que triunfassem os valores dele, você seria mais livre ou menos?

Sabem os leitores que, desde as primeiras manifestações, quando ainda conduzidas pela meia dúzia de gatos-pingados do Movimento Passe Livre (o queridinho de alguns anarquistas velhuscos da “mídia tradicional”), repudio os atos de violência. Com a ajuda da imprensa — sim, a dita “tradicional” (existe alguma outra?), criou-se a farsa de que o confronto das ruas se dava entre manifestantes essencialmente pacíficos e uma polícia essencialmente violenta. Não se atentava, e não se atenta ainda, para o óbvio: impedir, ao bel-prazer dos donos do espaço público, o livre direito de ir e vir viola um direito constitucional. Pode parecer um direito besta, irrelevante, mas ele é o resultado de alguns séculos de luta em favor de prerrogativas individuais. Num estado democrático e de direito, a ágora é terra de todos; na barbárie, é terra de ninguém.

O Estadão de domingo traz uma reportagem de Bruno Paes Manso intitulada “Black Blocks já se articulam em 23 Estados do País”, vazada numa abordagem, como posso dizer?, benigna, para dizer pouco, com o movimento que faz a apologia da violência.

Embora se dê de barato que, para a turma, a “violência é uma intervenção simbólica que atinge o cerne do capitalismo: a propriedade privada”, não há a menor sombra de reprovação — ao contrário até — de tal escolha. Alguém poderia dizer: “A função do jornalismo não é julgar, mas apenas retratar…”. É? Isso vale também para outros crimes (como corrupção, por exemplo), ou essa suposta neutralidade só é considerada obrigatória no caso dos ataques à “propriedade privada”? Deve-se, assim, supor que, a partir de agora, também para o Estadão, “toda propriedade é um roubo”?

Paes Manso resolveu ouvir “especialistas” nessa tática de violência. E aí nos damos conta da miséria intelectual que toma conta também da academia. Leiam isto: “Muitos dos jovens que estão usando essa estratégia da violência nas manifestações vieram das periferias brasileiras. Eles já são vítimas da violência cotidiana por parte do Estado e por isso os protestos violentos passam a fazer sentido para eles”. A afirmação e do professor Rafael Alcadipani Silveira, que é coordenador de pesquisas organizacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP). Segundo informa o texto, ele acompanha as discussões virtuais dos anarquistas e esteve nos últimos protestos.

Cadê os dados? Cadê os presos que violaram uma penca de leis? Cadê os estudos sobre o perfil de tais “jovens”? Ao contrário do que ele diz, os que ganharam alguma visibilidade são estudantes de classe média, que não precisam nem mesmo trabalhar para ganhar a vida. Podem depredar a propriedade alheia porque pais abastados se encarregam de cuidar de seu futuro patrimônio.

Outro “estudioso” ouvido por Manso é um notório extremista de esquerda chamado Pablo Ortellado. Já escrevi sobre ele neste blog. Uma rápida pesquisa na Internet dirá quem é o valente. Reproduzo mais um trecho da reportagem (em vermelho):

“Depois de Seattle, os movimentos sociais passaram a aceitar a violência como uma das estratégias políticas e a debater abertamente a questão”, explica o filósofo Pablo Ortellado, coautor do livro Estamos Vencendo! (Conrad), sobre os movimentos autonomistas no Brasil. Além da estratégia dos Black Blocs, há nos movimentos globais as ações lúdicas e festivas (chamadas de Pink Blocs), estratégias no Brasil representadas pelas Paradas Gays, Marchas da Maconha e das Vadias, e as pacifistas (White Blocs).

Notem que, então, a diferença entre o pacifismo e a violência não é de convicção; será ditada apenas pela necessidade. Assim, entende-se que os “pobres da periferia” do professor Alcadipani são participantes do “movimento global” do professor Ortellado… Ou Manso não encontrou ou não teve tempo de falar com “especialistas” que criticam a violência… E por que não?

Porque a imprensa brasileira — com raras exceções —, na ânsia de competir com grupelhos da Internet, deixou que as redações fossem ocupadas NÃO PELO JORNALISMO, MAS PELA MILITÂNCIA POLÍTICA. Isso se verificou especialmente nas TVs, que pareciam tomadas por uma horda de adolescentes arruaceiros.

Conservadores equivocados
Muitos liberais e muitos conservadores se deixaram e se deixam ainda trair pelo que vai nas ruas. Por quê? Porque também o governo Dilma e as gestões petistas foram tragados pela voragem. A questão que sempre me pareceu pertinente — e que segue mais relevante do que nunca — é esta: esse movimento em favor, como direi?, da superação do petismo se dá pela esquerda ou pela direita? Essa pressão se exerce em favor de mais eficiência, de mais ordem e de um uso mais racional dos recursos, ou se dá em prejuízo da ordem democrática, dos canais institucionais de representação e da racionalidade mais comezinha? A resposta me parece óbvia.

Sei que o que vou dizer agora marcha na contramão do confortável descontentamento difuso “contra tudo o que está aí”, mas precisa ser dito. Apesar da sem-vergonhice que vigora no Brasil, a despeito de toda roubalheira, mesmo com uma das piores elites políticas do planeta, o fato é que, ora vejam!, os dados sobre mortalidade infantil e expectativa de vida recentemente divulgados indicam que o Brasil avançou bastante. “Mas não é o suficiente!” Ora, é claro que não é! Mas certamente não foi a anarquia que nos conduziu até aqui.

Eu quero conhecer a base de dados do professor Rafael Alcadipani Silveira — do tal Ortellado, nada me interessa porque eu o considero só um prosélito vulgar. Leio em seu currículo que Silveira ensina “disciplinas relacionadas com estudos organizacionais, métodos de pesquisa e perspectivas críticas em análise das organizações em cursos de graduação, mestrado, doutorado e educação executiva”. Parece ser coisa séria. Suponho que tenha um sólido banco de informações demonstrando que são mesmo os pobres que estão botando pra quebrar nas ruas.

Meu currículo perto do dele é de dar pena. Por isso, humildemente, aguardo a sua pesquisa. Até onde acompanho — analiso comportamentos, fragmentos de significação como roupa, estilo, pele e até os dentes dos manifestantes (é um método mais próximo de Nelson Rodrigues) —, não só não há pobres nas manifestações como estes não estão quebrando é nada. O movimento Passe Livre tentou, por exemplo, organizar protestos na periferia de São Paulo. Deu-se mal. Compareceram apenas algumas dezenas de manifestantes — a maioria oriunda de bairros ricos, que não tinham a menor noção do que era periferia. Imaginem se a Rocinha ou o Complexo do Alemão, no Rio, decidirem descer para o asfalto… Não dá para chamar de “povo” os vermelhos do Leblon, Copacabana e Ipanema, né?

A mesma lógica do terror
Atenção! Ainda que fosse verdade — e não é! — que os vândalos que estão nas ruas apenas reagem a um histórico de violências de que teriam sido vítimas, cumpriria indagar: deveria, por isso, a sociedade aceitar essa forma de expressão política (notem que nem me refiro a, sei lá, “método de solução de conflitos”)? A resposta, claro!, é negativa. Essa é, sem tirar nem pôr, a lógica que justifica o terrorismo: recorre-se, então, à violência indiscriminada porque, de algum modo, os potenciais alvos da barbárie seriam os verdadeiros responsáveis pelos males que passam a afligi-los.

Os black blocs e outros são mesmo “anarquistas”, como informa a reportagem de Manso, e atacam a propriedade privada porque julgam que, assim, estão a fragilizar o capitalismo? De que anarquismo se cuida? Alguma referência teórica há de haver. São partidários, por exemplo, de Bakunin ou apenas se aproveitam de um momento em que a imprensa, temerosa de perder a batalha para a informalidade da Internet, decidiu aderir à onda demencial, demonizando os fundamentos da ordem democrática, de que fazem parte, sim, as polícias?

Notem que as Polícias Militares do Brasil inteiro estão inermes. A chamada mídia tradicional resolveu dar as mãos à tal “Mídia Ninja” — como ninguém se alimenta de maná, é o caso de saber quem financia essa gente — e passou a selecionar, de maneira meticulosa, imagens que caracterizam os policiais como truculentos, violentos, autoritários etc. Já aqueles que, de modo deliberado, vão para as ruas para quebrar e para impor a sua vontade na porrada surgem como anunciadores de uma nova ordem.

Assim, tanto a “mídia tradicional” como aquela que se quer alternativa passam a ser cúmplices e promotoras, voluntárias ou não, da violência. Por que aquela gente está de rosto coberto? Por que não pode expor a cara no estado democrático e de direito? A resposta é óbvia: porque está ocupando o espaço público para, deliberadamente, impor a sua vontade por intermédio da pancadaria. O nome disso é banditismo.

Pessoas eventualmente flagradas quebrando o que encontram pela frente são detidas pela polícia e postas em liberdade em seguida — afinal, estavam, como é mesmo?, apenas combatendo o capitalismo por intermédio da agressão “à propriedade privada”. E, como a gente pode ler, o Ministério Público e as Defensorias Públicas logo se mobilizam para pôr na rua esses partidários da truculência. A impunidade conduz à reincidência e convida outros a agir de igual modo. Assim, a violência passa a ser admitida como uma forma aceitável e eficiente de expressão de uma contrariedade.

Caminhando para a conclusão
Vou caminhando para a conclusão deste texto, mas volto ao assunto. O papel da dita “imprensa tradicional” precisa ser visto com mais cuidado. O jornalismo, meus caros, tem obrigações que vão muito além da isenção, palavra que também requer algumas considerações.

Entre a depredação da ordem democrática e essa própria ordem, a isenção se chama “flerte com o terror” — quando não se trata mesmo de uma forma velada de apologia da barbárie.

Por Reinaldo Azevedo

 

Estes são os candidatos a ditadores da “mídia alternativa”. Ou: Imprensa presta servilismo ético e estético a autoritários disfarçados de libertários

Vejam estas fotos.

Este rapaz que aparece ao lado de José Dirceu, Dilma Rousseff e Fernando Haddad é Pablo Capilé. Na terceira foto, a seu lado, está Bruno Torturra. Ambos são as principais referências da chamada “Mídia Ninja”. Os dois são os entrevistados de hoje do programa “Roda Viva”. Volto ao ponto mais tarde. Sigamos.

Prometi, no post anterior, que falaria um tantinho sobre o papel da imprensa, que certa delinquência chama da “mídia tradicional”, nos protestos de rua. E é o que passo a fazer agora. De maneira geral, os veículos de comunicação decidiram competir com a Internet, aderindo à estética, quando não à ética, dessa tal “Mídia Ninja”, um grupo que pode ser acusado de tudo, menos de ser ideologicamente neutro e de fazer jornalismo. Essa gente realiza uma suposta cobertura jornalística a partir de um ponto de vista: o dos manifestantes. Tente encontrar um só vídeo ou uma só abordagem que não caracterizem os manifestantes como anunciadores de uma nova era e os policiais como brucutus a serviço da repressão. Não há! Além da ideologia, há razões que poderíamos chamar, de algum modo, “de mercado”. A “Mídia Ninja” não quer trair o seu público… A palavra “NINJA” é uma sigla: significa “Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação”. Independente de quem ou do quê? As companhias frequentes parecem falar por si.

Não existe, de fato, isenção absoluta — não na boa imprensa ao menos, aquela que, ao longo dos anos, contribuiu para criar as sociedades mais democráticas e mais abertas do planeta. Mais do que contribuir: ela foi e tem sido um dos seus pilares.

Essa boa imprensa de que falo se torna ainda melhor a partir, justamente, do ponto em que deixa de ser isenta para assumir um lado. Qual lado? O dos valores democráticos! Isto mesmo: nas sociedades livres, o jornalismo não está comprometido apenas com a isenção no relato das partes em conflito. A depender dos atores, a depender do objeto que esteja em disputa, a depender da contenda, assumir um lado é um imperativo ético.

Que isenção pode haver, por exemplo, entre a ordem democrática e um grupo que tente solapá-la por intermédio de ações terroristas? Ser “isento”, nesse caso, corresponde a uma forma covarde e não assumida de alinhamento com o terrorismo. Peguemos o caso dos sedizentes anarquistas que estão nas ruas, que dizem atacar a propriedade privada como forma de ataque ao capitalismo. A imprensa que os vigaristas chamam “tradicional” estará cometendo algum adernamento condenável se defender, de maneira clara e inequívoca, a propriedade privada? Parece-me que não. Quando menos porque não se inventou ainda um sistema de liberdades públicas que não tivesse a defesa da dita-cuja como um de seus pilares.

Parece-me evidente que cumpre, sim, em respeito aos fundamentos da Constituição brasileira, que tem um compromisso com os direitos fundamentais do homem, criticar a truculência e os exageros da polícia. Mas calma lá! Há uma diferença enorme entre cobrar que essa polícia se comporte segundo as regras e simplesmente declarar, ainda que por vias oblíquas, como se tem feito, a sua ilegitimidade. E é, infelizmente, o que se vem verificando mesmo naqueles setores da imprensa cuja RAZÃO DE SER é a defesa da ordem democrática. Recorre-se a um sem-número de truques — não cabe outra palavra — que transformam em pacifistas os teóricos da violência e numa horda de truculentos os que detêm o monopólio do uso legítimo da força.

Ocorre, meus caros, que foram necessários alguns séculos até que esse monopólio pudesse ser garantido pela ordem democrática e regulamentado por leis. Não é coisa que se possa jogar fora assim, do nada, de repente. Sem isso, estamos de volta ao estado da natureza.

Por que é assim? Porque a imprensa está sob uma patrulha como nunca houve. A multiplicação de meios para vender versões nunca foi tão grande — e vai se expandir cada vez mais. É evidente que haverá na rede tantas versões interessadas quantos forem os manifestantes como uma câmera na mão e algumas ideias (ou titicas) na cabeça. As tais “mídias ninjas” das ruas estão tentando convencer alguns incautos de que eles são, sim, parte “dessa luta”, mas com isenção suficiente para passar uma versão crível dos fatos. Mentira! Então me digam onde estão as narrativas produzidas por essa gente que façam a apologia da ordem. De qual ordem? Da ordem fascista? Não! Da ordem do estado democrático e de direito. Não há!

Não estou aqui a acusar esses valentes de tentar usurpar um espaço que não lhes pertence. O seu papel é tentar ganhar adeptos. Não há nem mesmo ineditismo nisso. A dita imprensa alternativa é muito mais antiga do que essa gente. Não é a primeira vez que verdades parciais tentam se vender como o bem universal. Estou aqui a indagar — e dirijo a minha questão não a esses que se querem os arautos da nova ordem (mero papo-furado), mas àquela dita imprensa tradicional — é que “alternativa” é essa de que falam. Recoloco a questão: com quais valores?

Oficialismo de segunda geração
De que alternativa se cuida? Antes que responda, uma pequena digressão.

Vocês conhecem aquelas pessoas estranhas que se intitulam, como é mesmo?, adversárias do “Partido da Imprensa Golpista”. Já as classifiquei aqui de JEG (Jornalismo da Esgotosfera Governista). Esses caras, uns sem-vergonhas, vivem à custa do dinheiro público, especialmente das estatais, e se alinham escancaradamente com o PT. Os que têm ainda menos vergonha do que eles são petistas na esfera federal e podem ser tucanos, peemedebistas ou outra coisa qualquer nos estados e capitais. Quem paga leva os elogios. Quem resiste ao achaque vira alvo. Fiquei sabendo que o negociador que falava em nome de certo governante gravou a conversa em que foi vítima da abordagem delinquente. Cedeu, mas gravou. Paga religiosamente a bolsa-elogio, mas guarda a prova para o caso de a relação azedar. Bandido não confia em bandido. É da tradição. Esses grandes moralistas se querem uma “alternativa” à dita “imprensa tradicional”. Faz parte da boa tradição do jornalismo deixar que o departamento comercial cuide do caixa. A redação é que cuida das notícias. Foi assim que a democracia avançou.

Muito bem. Leio no Globo que a tal “Mídia Ninja” já está de olho em financiamento público. Caso se investigue a rede de interesses a que essa gente está ligada, o capilé oficial já se faz presente por intermédio da ONG Fora do Eixo, que traz o logo oficial da Lei Rouanet. Reproduzo, em azul, trecho da excelente reportagem de Chico Otávio. Volto depois.

A reunião patinava, sem que os presentes se entendessem sobre o uso ou não de recursos públicos, até que um homem barbudo, de blusa molhada, interrompeu o recinto para anunciar: “Invadimos a Câmara Municipal!” Uma explosão de vivas e aplausos tirou o terceiro encontro da Mídia Ninja (de Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação) no campus da UFRJ, na Praia Vermelha, da encruzilhada do impasse.
A novidade, ao ser anunciada na primeira pessoa do plural, seria um escândalo em qualquer redação. Mais ou menos como se um repórter de Política soltasse um “ganhamos a eleição” ou o colega de Esportes festejasse um gol com algo como “vencemos o clássico”. Para os ninjas, porém, não há campo neutro. O movimento que saiu às ruas do país, registrando as manifestações de protesto com transmissões ao vivo, de celulares com acesso 3G (internet de alta velocidade), não esconde seu lado: “Fazemos uma cobertura ao vivo, em tempo real, chapa quente. Nossos atos de jornalismo são multifacetados, parciais, com impressões e avaliações de cada um”, sintetiza Pablo Capilé.
Oficialmente, a Mídia Ninja não tem uma voz de comando. Mas era para Capilé, um mato-grossense de 32 anos que considera o australiano Julian Assange, criador do WikiLeaks, a versão moderna de Jimmy Hendrix, que a atenção dos 80 ninjas presentes à reunião de quarta-feira estava voltada. Fundador da ONG paulista “Fora do Eixo”, de onde saiu a estrutura e a inspiração para o grupo, ele se valia da popularidade conquistada nas transmissões ao vivo para convencer os militantes da necessidade de disputar as verbas federais destinadas à área de Comunicação. Sua defesa, recheada de termos como “midia-livrismo”, “hackear”, “downloadear” e “espraiar”, não foi suficiente para remover desconfianças.

Polêmica entrevista com Paes
Com celulares que mobilizam manifestantes, os ninjas ecoam as vozes das ruas e caçam P2 (agentes secretos da Polícia Militar) nos protestos. Entendem-se como jornalistas. Porém, ao executar suas “pautas” com a paixão de um ativista, confundem-se com os personagens de suas histórias.
Em campo, aproximam seus celulares da ponta do nariz dos policiais e exigem deles respostas sobre o desfecho da manifestação, por exemplo. Quem assiste pela web sente que eles, muitas vezes, provocam a notícia — em vez de apenas revelá-la.
(…)

Retomo
É evidente que isso pode ser qualquer coisa — jornalismo não é. Jornalistas não comemoram invasão de prédios públicos, ainda que, intimamente, possam concordar com ela e até vibrar. Isenção e neutralidade absolutas, reitero, não existem porque, numa democracia, a imprensa livre é um dos esteios da democracia e está comprometida com os seus valores.

Não estou aqui a escrever um texto para tentar demonstrar que o tal Capilé e o tal Torturra não são lá de confiança… Cada um faça o juízo que achar melhor. Meu ponto, reitero, é outro: estou, isto sim, a afirmar que a ética e a estética perturbadas dessa gente estão contaminando o jornalismo que tem compromisso com os fatos, não com a militância; que tem compromisso — ou deveria ter — com os valores de uma sociedade democrática, não com a imposição da vontade de um pequeno grupo na base do berro.

De volta ao Roda Viva
Mas lá estão os dois representantes da Mídia Ninja numa emissora pública de TV, que é expressão, salvo melhor juízo, daquele estado democrático que os tais ninjas não reconhecem — ou não comemorariam invasões…

As companhias do sr. Capilé, como se pode ver lá no alto, são bastante eloquentes, não é mesmo? Parece que a sua suposta independência se encaixa melhor no figurino petista.

Mas estará hoje no Roda Viva. Vamos ver se assistiremos a uma entrevista de fato. O seu companheiro de programa é o notório Torturra. Já é um conhecido de vocês. Ele ficou encarregado do Twitter quando o entrevistado era o médico Ronaldo Laranjeira, que coordena o programa do governo de São Paulo contra o crack. Torturra é simpatizante do grupo “Existe Amor em SP”, que ganhou um cargo na gestão do petista Fernando Haddad na Prefeitura de São Paulo. Enquanto o entrevistado defendia seus pontos de vista, o tuiteiro o difamava. Agora o rapaz ocupa o centro da roda…

Capilé tem, com efeito, algumas ideias muito interessantes sobre o que é mídia alternativa e coisa e tal. Vejam este textinho singelo postado no Facebook.

A exemplo de Lula e da turma do Foro de São Paulo, ele acha que o Brasil tem o que aprender com os bolivarianos da Venezuela. Isso é que é ser… alternativo!

Por Reinaldo Azevedo

 

O caso Siemens à luz de Kafka. Ou: O vídeo em que o Carvalho do Cade se mostra muito grato ao Carvalho de Lula. Ou ainda: Teoria conspiratória uma ova!

“Por que não fala sobre a Siemens?”, esgoela-se a petralhada. E logo vem a suposição, que a súcia pretende seja uma resposta: “Só porque, desta vez, envolve o PSDB?”. Ora, ora… Os tucanos, e com razão, são sempre os primeiros a negar o parentesco entre o que eles pensam e o que eu penso. Já afirmei aqui umas 300 vezes, e posso repetir outras tantas, que — para fazer uma blague influente, nestes dias — o PSDB não me representa. Mas votarei, sim, em Geraldo Alckmin em 2014 — e não vejo por que alguém deva supor algo diferente disso. Ou me imaginam escolhendo, deixem-me ver, Alexandre Padilha, do PT, ou Paulo Skaf, do PMDB? Falo, sim, sobre o caso Siemens, um troço que guarda mais parentesco com uma novela de Kafka do que com um processo conduzido num país em que vige um estado democrático e de direito. Vamos ver.

Se alguém cometeu alguma safadeza nas licitações do metrô, que seja punido. Por que haveria de ser diferente? Mas é evidente que não dá para ignorar os absurdos que envolvem essa denúncia. Vejamos. O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), uma autarquia subordinada ao Ministério da Justiça — cujo titular é o notório José Eduardo Cardozo —, conduz uma, atenção!, “INVESTIGAÇÃO PRELIMINAR” para apurar se houve uma espécie de formação de cartel, com combinação de preços, que teria resultado em prejuízos aos cofres do estado — fala-se de irregularidades em São Paulo e no Distrito Federal. Primeira dúvida: nos demais estados, a Siemens agiria de modo diferente? Por quê? E quando negocia com o governo federal? Adiante.

Ficamos sabendo que existe o chamado “Acordo de Leniência”, por meio do qual executivos da Siemens — a empresa nega que seja a fonte de informação — teriam revelado as irregularidades, sustentando que o governo de São Paulo (no caso, o de Mário Covas) teria ciência das irregularidades, compactuando com elas. Contratos renovados nos governos seguintes carregariam, então, o mal de origem. Essas informações, ou suposições, vieram a público em reportagens da Folha e do Estadão.

Notem que, obviamente, não estou aqui a negar que tenha havido safadeza. Como poderia? Não conheço o processo. Não tenho os dados em mãos. Ocorre que há uma coisa espantosa: o governo de São Paulo, o principal interessado nessa história, também não tem. Assim, o ente “governo do estado” está sendo acusado na imprensa de ter compactuado com uma tramoia, mas — e eis o dado kafkiano — não tem acesso à investigação porque, afinal de contas, ela está resguardada pelo sigilo de Justiça.

Então vamos ver se a gente consegue entender direito: jornalistas, como resta evidente, tiveram acesso a pelo menos parte da investigação que está no Cade. O principal acusado, no entanto, está a chupar o dedo. NÃO TEM COMO SE DEFENDER PORQUE NÃO SABE DIREITO DO QUE É ACUSADO. A justificativa do Cade é que o papelório está protegido por sigilo de Justiça. Leio na Folha:

“O procurador-geral do Estado de São Paulo, Elival da Silva Ramos, disse que a lei permite ao CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) fornecer à administração paulista documentos da investigação sobre a suposta formação de cartel em licitações de trens em São Paulo, independentemente de autorização judicial.
O CADE, órgão federal de combate às práticas empresariais prejudiciais à livre concorrência, sustenta que só pode fornecer os papéis após decisão da Justiça. Segundo Ramos, a recusa de entrega de dados atrasa eventuais ações de reparação de danos a serem iniciadas pelo Estado caso haja provas de conluio nas concorrências.
A Procuradoria-Geral do Estado, órgão responsável pela defesa jurídica do Executivo paulista, afirma que foi obrigada a preparar um mandado de segurança para pedir ao Judiciário o acesso às informações da investigação.”

Retomo
Não se trata de exercitar teoria conspiratória, não! Estamos diante de uma matéria de fato. Há uma investigação preliminar no Cade; dados dessa apuração chegam à imprensa em tom acusatório — com um genérico “o governo sabia de tudo” —, mas não se sabe que “tudo” é esse, quais as pessoas envolvidas e que irregularidade foi cometida.

Pode até ser que o escândalo tenha mesmo acontecido — e, se assim foi, cadeia para a turma. No momento, o único escândalo incontroverso é esse vazamento seletivo de dados de uma investigação sem que o principal acusado consiga ter acesso aos autos. Esse é um procedimento muito comum, hoje em dia, nas ditas repúblicas bolivarianas. Chávez (e agora Nicolás Maduro), Rafael Correa e Evo Morales costumam recorrer a acusações de corrupção para se livrar de seus adversários políticos.

Falas suspeitas
Ademais, não dá para ignorar certas falas, não é? O site “Implicante” levou ao ar o vídeo que registra a solenidade de posse de Vinícius Marques de Carvalho, presidente do Cade. Prestem atenção:

Notem a sua verdadeira devoção a um outro Carvalho, o Gilberto. A proximidade é de tal sorte que, rompendo com o protocolo, trata o ministro como “você”. Trata-se, mesmo, de uma relação de profunda amizade; se os “Carvalhos” do sobrenome traduzem parentesco, isso não sei. Há quem diga que sim. Pouco importa. Por que um chefe do Cade recorre a esse tom laudatório para se referir ao “engajamento” de um ministro?

“O que você está querendo dizer com isso, Reinaldo?” Nada de muito misterioso: um órgão técnico como o Cade não poderia, parece-me, estar sujeito a esse tipo de sotaque político. Não é preciso ser um gênio da raça para que se perceba a óbvia influência de Carvalho, o Gilberto — braço operante de Lula no Planalto —, na autarquia.

Mais: o Cade pertence ao Ministério da Justiça. Dos ministros de Dilma, Cardozo tem sido o mais dedicado à tarefa de criar dificuldades para a gestão do PSDB em São Paulo. Teoria conspiratória? Não! Mais uma vez, matéria de fato. O ministro está na raiz da crise que resultou na demissão de Ferreira Pinto, ex-secretário de Segurança do estado. O ministro tentou tirar uma casquinha dos protestos em São Paulo. Escrevi vários textos a respeito. 

É evidente que o vazamento obedece a um propósito político. Sem que a investigação seja tornada pública, a coisa fica como o PT e o diabo gostam, não é mesmo? A suspeita recai genericamente sobre os “tucanos” e suas sucessivas gestões no estado. Nestes dias em que qualquer grupinho de 20 para a Paulista, o objetivo é fornecer combustível aos protestos de rua em São Paulo. E justamente na área que está a origem das mobilizações de rua: transporte público.

Concluo
A turma não brinca em serviço. E olhem que o jogo mal começou.

Por Reinaldo Azevedo

 

Absurdo! Justiça nega a SP o direito de saber do que está sendo acusado; com decisão, quem lucra são os criminosos, que continuarão a burlar o sigilo judicial

Pois é… O estado de São Paulo continuará a ser acusado de alguma coisa no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e continuará sem saber do que se trata, tendo de ficar à mercê dos vazadores de informações. A Justiça Federal negou o pedido feito pelo estado para ter acesso aos dados da investigação. É o fim da picada! Decisão judicial deve ser, claro!, cumprida, mas é evidente que pode e deve ser discutida — especialmente quando a gente não é, a exemplo deste escriba, membro do poder público.

Prestem atenção a este trecho da decisão do juiz Gabriel José Queiroz Neto, da 1ª Vara Federal do DF para negar o pedido de liminar feito pelo estado:
“Deve-se ponderar, ainda, que grande parte da documentação foi obtida mediante ordem judicial e esta ordem foi expressa no sentido de que o Cade deveria manter os documentos sob sigilo. Ou seja, a cautela do Cade está plenamente justificada: amparada em ordem judicial prévia.”

É uma resposta surrealista. O estado teve de recorrer à Justiça justamente porque há a ordem de sigilo; não houvesse, ninguém procuraria as luzes do meritíssimo Queiroz Neto, certo? O doutor continuou a desafiar o bom senso nesta outra passagem:
“Enfim, entendo que o Estado de São Paulo, na sua esfera de atribuições, pode, a todo instante, fazer suas investigações sem problemas, uma vez que o ordenamento jurídico como um todo lhe dá poderes para tanto. Com isso, quero dizer que, neste instante, não vejo como a falta dos documentos em poder do Cade possa inviabilizar sua atividade investigativa. Quando muito, os documentos poderiam apenas facilitar sua atividade. Entretanto, ao menos para esta sede liminar, não vejo a alegada urgência.”

Como assim? Ele quer que se investigue exatamente o quê? Um boato? Mais: parte da documentação, como ele próprio reconhece, foi enviada ao Cade. O estado de São Paulo — QUE É A VÍTIMA — não sabe nem mesmo que denúncia, afinal de contas, está sendo investigada em razão do tal acordo de leniência.

Classifiquei de kafkiana a situação num post desta manhã. Agora, o absurdo se extrema. A razão é simples. A mesma fonte que vem fazendo vazamentos seletivos para setores da imprensa continuará com o seu servicinho sujo: a acusação genérica, sem alvo, que busca atingir todas as gestões, de Mário Covas para cá.

O doutor Queiroz Neto se sente confortável sabendo que, ao negar a liminar, quem ganha — independentemente de sua vontade — são aqueles setores que escolheram o comportamento criminoso?

É evidente que a fonte original do vazamento é o Cade — afinal, é o órgão que responde pelo sigilo da investigação; é ele que detém, nesse caso, a prerrogativa. Se a acusação está na praça, a coisa partiu de lá. O conselho é subordinado ao Ministério da Justiça, cujo titular é José Eduardo Cardozo, que tem atuado de maneira deletéria em assuntos que dizem respeito ao estado de São Paulo.

O titular do Cade, ademais, é um peixinho de Gilberto Carvalho, o braço de Lula no governo federal, conforme evidencia o vídeo abaixo, que publiquei nesta manhã. Vejam de novo. Volto para encerrar.

Pergunto ao juiz: caso o estado tivesse acesso à investigação, de que modo ela poderia ser prejudicada? A resposta óbvia: de modo nenhum! Só perderiam os pescadores em águas turvas. Com a decisão, os que cometem o crime de violar o sigilo judicial continuarão a lucrar com o seu servicinho sujo. Que tipo de lucro? Quando menos, pode se supor que há gente buscando um ganho político, não é mesmo?

Encerro
Para não dizer que não falei das flores: e a imprensa? Deveria ser proibida de publicar informações de processos e investigações que correm em sigilo de Justiça? Darei a resposta que já dei aqui muitas vezes: embora os jornalistas tenham de saber que, em casos assim, nem sempre estão prestando um serviço apenas ao público, o fato é que não cabe estabelecer nenhuma forma de restrição ao trabalho da imprensa. Não é o jornalismo que tem o dever do sigilo, mas o poder público — no caso, o Cade.

Caberia, isto sim, um procedimento administrativo severo para tentar saber como se deu o vazamento. Mas isso não vai acontecer.

Por Reinaldo Azevedo

 

Lula decide que o “poste” Padilha será o candidato do PT ao governo de SP. Ou: Disputa no estado está na raiz do transe que fez de Dilma, por enquanto, a principal vítima

Luiz Inácio Lula da Silva bateu o martelo. O candidato do partido ao governo de São Paulo será mesmo Alexandre Padilha, ministro da Saúde. É o que informa reportagem de Natuza Nery, na Folha. Nenhuma novidade. Quem toma as decisões relevantes no dito “único partido de massas” no Brasil é um homem só: Lula. Ele acredita que poderá repetir com sucesso a fórmula que resultou na eleição de Fernando Haddad para a Prefeitura de São Paulo. O titular da Saúde, há tempos, era o seu preferido.

Os critérios adotados por Lula já na disputa de 2012, na capital paulista, afastavam, de saída, os dois pré-candidatos a 2014 mais conhecidos: Aloizio Mercadante e Marta Suplicy. São nomes considerados “velhos demais” e excessivamente identificados com o PT. Ao escolher Padilha, o Apedeuta pretende apresentar o velho como o novo. Há um viés cínico na escolha. Explico.

O núcleo duro do PT, Lula incluído, detesta São Paulo. Seus “inteliquituais”, a exemplo de Marilena Chaui, consideram que o estado reúne a nata do reacionarismo nacional. Marta e Mercadante, por exemplo, que trazem na testa a marca petista, tenderiam a despertar de imediato um forte sentimento de rejeição. Essas considerações já eram feitas antes mesmo das “Jornadas de Junho”. Depois delas, Lula reforçou a convicção de que o partido precisa apresentar um nome mais “neutro”, com um perfil mais supostamente “técnico”. Padilha é um virtual desconhecido do grande eleitorado. O seu grande ativo seria a baixa rejeição.

É uma estratégia de risco? É, sim! E isso só revela as dificuldades do partido. Um dos motes das manifestações de rua é “hospitais padrão Fifa”. A penúria em que vive o setor — mais por falta de competência do que de dinheiro — responde, certamente, em grande parte, pelo apoio popular aos protestos.

Lula quer que o ministro de uma área que se tornou foco especial de atenção vá para uma disputa eleitoral. O senso comum — e até o bom senso — recomendaria que se fizesse outra escolha. Mas, para tanto, forçoso seria que houvesse alternativas. Não há. A aposta, informa a reportagem, é que o tal programa de importação de médicos estrangeiros produza efeitos nas urnas. Vamos ver.

Confirmado o nome de Padilha, o marketing petista certamente tentará opor o “novo” Padilha ao “velho” Alckmin. Pode não ser assim tão fácil. As “Jornadas de Junho” foram muito mais cruéis com a reputação do prefeito Fernando Haddad, por exemplo, do que com a do governador. Haddad passou a ser visto como uma espécie de emblema do embuste petista. A sua gestão, que deveria ser exemplar, funciona mais como uma advertência sobre os perigos da inexperiência administrativa.

Cardozo fora
Tudo bem pensado, a eleição em São Paulo está na origem do transe vivido pela política brasileira. Nunca se esqueçam: os ditos protestos começaram na capital paulista, com meia dúzia de gatos-pingados, que adotaram, desde o início, a tática da violência. Eram todos aliados tradicionais do petismo, que ajudaram a eleger Fernando Haddad. Até aquele momento, os petistas eram os principais beneficiários da “política fora dos partidos”; da “política como movimento da rua”; da “política fora dos espaços tradicionais de representação”. Uma ligeira pesquisa no noticiário político de 2010 e 2012 (eleições, respectivamente, de Dilma e Haddad) vai indicar a mobilização, em favor dos petistas, dos ditos  “coletivos” — esse nome de sotaque saborosamente soviético para designar movimentos supostamente espontâneos, mas que sempre votavam com “o partido”.

Quando a baderna de extrema esquerda — e era disso que se tratava — enfrentou a reação mais forte da polícia, amplos setores da imprensa (a mesma que os petistas adoram demonizar) compraram a causa dos manifestantes, que passaram a ser tratados como heróis da cidadania. Os petistas tentaram, imediatamente, “liderar as massas” e jogá-las contra o governo de São Paulo. Quem não se lembra de José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, a tirar uma casquinha dos confrontos? Chegou a oferecer “ajuda federal” a Alckmin por intermédio da imprensa. Cuidava, isto sim, de sua própria pré-candidatura ao governo do Estado.

Menos de duas semanas depois, o governo federal demonstrava que não conseguia responder pela imposição da ordem nem em Brasília. O processo de demonização das Polícias Militares, que ainda está em curso, resultou numa espécie de “ocupe a rua que está dentro de você”. Todas as insatisfações se juntaram e resolveram ganhar o espaço público. De fato, não era mais “pelos 20 centavos”. Começava-se a assistir a uma jornada contra a política e contra os políticos. Como os petistas estão no poder, sofreram o maior desgaste. A popularidade de Dilma, mais do que a de Alckmin (alvo inicial da súcia), despencou. O tiro saiu pela culatra de maneira espetacular.

E a pré-candidatura de Cardozo — aquele que resolveu fazer proselitismo em meio à pancadaria — foi para o brejo. Ele já contava com um adversário poderoso: Lula o detesta e nunca o quis como o nome do partido na disputa pelo governo do estado. Era o preferido de Dilma — talvez uma boa forma de se livrar de sua incompetência…

Lula volta a seu plano original, ao tempo em que ele dizia que, “de poste em poste”, iria “iluminar todo o país”. O poste da hora é Padilha. Ocorre que a má consciência do PT acabou gerando um curto-circuito na política. Ninguém entendeu muito bem o que está em curso, mas os mais perplexos são mesmo os petistas. Não deixa de ser divertido assistir ao desespero da turma.

Por Reinaldo Azevedo

 

Futuro carregador das quentinhas de José Dirceu resolve me atacar num texto em que defende os crimes do Foro de São Paulo. Faço um desafio ao valentão

Um carregador de malas de José Dirceu — em breve, carregará as quentinhas para forrar o estômago do chefe na cadeia — resolveu me atacar, numa tentativa malsucedida de tréplica ao filósofo Olavo de Carvalho. Não costumo dar bola pra essa súcia porque a canalha conta com a audiência do meu blog para propagar suas ofensas. Mas decidi escrever uma coisinha ou outra. O sujeito estava infeliz porque foi intelectualmente humilhado por Olavo, a quem inicialmente provocou. Desmoralizado, restou-lhe partir para a ofensa e para a conclamação nem tão sutil à violência contra aqueles a quem considera “trânsfugas” — pessoas que foram de esquerda na juventude e que hoje, segundo as suas considerações, seriam servis ao “liberal-fascismo”. Além de Olavo e de mim, inclui no grupo Arnaldo Jabor, Demétrio Magnoli e Marcelo Madureira.

Não sei o que quer dizer “liberal-fascismo”. Nem ele. Pela simples, óbvia e boa razão de que não se pode ser, a um só tempo, liberal e fascista — a não ser na mente perturbada, ignorante e criminosa de certa esquerda. O fascismo compreende necessariamente um movimento de massa, instrumentalizado por uma elite delinquente. Pode assumir características de direita — a exemplo dos vários fascismos europeus do século passado — ou de esquerda, a exemplo desses que pipocam na América Latina neste começo de século 21, de que o petismo é a expressão nativa. Costumo brincar que nunca ninguém viu as massas na rua cobrando estado enxuto, privatização e redução de gastos públicos.

O futuro carregador de quentinhas, que transformou o “socialismo” numa profissão e num meio de vida, não se conforma que outros possam ganhar a vida de maneira honesta, sem assaltar os cofres públicos e, às vezes, até os próprios colegas. Mais: justificador de um modelo de sociedade que só se impôs pelo terror e pela violência, deixando um rastro impressionante de quase 150 milhões de mortos, considera “trânsfugas” os que escolheram o caminho civilizado para o exercício da divergência. Não por acaso, em seu texto, faz uma convocação oblíqua para que os objetos de sua fúria sejamos devidamente punidos. Não sei o que o rapaz tem em mente. Coisa boa não é. É o caso de enviar o texto para que a polícia tenha por onde começar uma investigação caso seus asseclas acatem a sugestão.

O homem está desesperado. O tiro, reitero o que escrevi em outros posts, saiu pela culatra. O PT, por intermédio de suas falanges — quem é fascista mesmo? — tentou criar o baguncismo em São Paulo e se deu muito mal. O movimento, inicialmente estimulado pelo partido, avançou para um protesto generalizado contra a política e contra os políticos. Como o petismo está no poder e é establishment, acabou se transformando num dos alvos principais dos protestos.

Estafeta por vocação e profissão, o rapaz não admite que possa haver pessoas independentes, que pensem sem pedir autorização a ninguém. Basta ler o que cada uma das personalidades mencionadas no primeiro parágrafo disse ou escreveu sobre “o povo na rua” para constatar que não formam um grupo. Tomo como exemplo o caso de Jabor: seja lá qual for o tema — incluindo os protestos em curso —, temos muito mais divergências do que convergências. Mas a todos, incluindo Jabor, reconheço ao menos uma virtude, não houvesse outras: pensam o que bem entendem; servem apenas a suas convicções; não se subordinam a projetos de poder; não são esbirros de máquinas partidárias ou de fantasias ideológicas; não pretendem impor o seu pensamento calando a boca dos que divergem. Têm ainda em comum o apreço pela liberdade. E isso é insuportável para o carregador de malas.

Embora ele cante vitória e exalte o que considera a vitória esmagadora da esquerda, é visível que o homem está em pânico. Há quatro meses, seu partido via as eleições de 2014 como mero processo homologatório. Havia mesmo quem raciocinasse como se as urnas fossem já uma obsolescência. Ora, se o povo estava com o PT, eleição pra quê? Essa certeza acabou. E o dado mais saboroso desse pânico é que esse é o resultado inesperado de uma ação calculada pelo partido e suas falanges para esmagar o que restava de oposição no país. E, apesar disso, como sabem os meus leitores, não sou um entusiasta do movimento das ruas porque não gosto de sua retórica contra a política e contra os políticos. Considero, como já deixei claro tantas vezes, que esse ímpeto é de matriz fáscio-petista, ainda que possa episodicamente se voltar contra o próprio PT.

A humilhação
Mas por que o pit bull de Zé Dirceu está rosnando? Num texto em que defendia o Foro de São Paulo — reunido na capital paulista desde segunda-feira (fica até domingo) —, fez um ataque boçal a Olavo e recebeu o troco, com sobras. Tratou-se, justiça se faça, de uma reação desproporcional de Olavo: desproporcional no apego aos fatos, desproporcional na capacidade argumentativa, desproporcional na inteligência, desproporcional no aporte de racionalidade. Olavo teve a indelicadeza de lembrar a folha corrida de crimes cometidos por essa entidade que congrega partidos de esquerda da América Latina e Caribe. Reproduzo (em azul):

Ao longo de duas décadas e picos, o Foro de São Paulo acumulou uma folha de realizações que ninguém deveria ignorar:

1) Deu abrigo e proteção política a organizações terroristas e a quadrilhas de narcotraficantes e sequestradores que nesse ínterim espalharam o vício, o sofrimento e a morte por todo o continente, fazendo mesmo do Brasil o país onde mais cresce o consumo de drogas na América Latina.

2) Ao associar entidades criminosas a partidos legais na busca de vantagens comuns, transformou estes últimos em parceiros do crime, institucionalizando a ilegalidade como rotina normal da vida política em dezenas de nações.

3) Burlou todas as constituições dos seus países-membros, convidando cada um de seus governantes a interferir despudoradamente na política interna das nações vizinhas, e provendo os meios para que o fizessem “sem que ninguém o percebesse”, como confessou o sr. Lula, e sem jamais ter de prestar satisfações por isso aos seus respectivos eleitorados.

4) Ocultou sua existência e a natureza das suas atividades durante dezesseis anos, enquanto fazia e desfazia governos e determinava desde cima o destino de nações e povos inteiros sem lhes dar a mínima satisfação ou explicação, rebaixando assim toda a política continental à condição de uma negociação secreta entre grupos interessados e transformando a democracia numa fachada enganosa.

5) Gastou dinheiro a rodo em viagens e hospedagens para muitos milhares de pessoas, durante vinte e três anos, sem jamais informar, seja ao povo brasileiro, seja aos povos das nações vizinhas, nem a fonte do financiamento nem os critérios da sua aplicação. Até hoje não se sabe quanto das despesas foi pago por organizações criminosas, quanto foi desviado dos vários governos, quanto veio de fortunas internacionais ou de outras fontes. Nunca se viu uma nota fiscal, uma ordem de serviço, uma prestação de contas, um simulacro sequer de contabilidade. A coisa tem a transparência de um muro de chumbo.

Retomo
Lula, um dos fundadores do Foro (o outro é Fidel Castro), faz hoje o seu discurso no evento. A peça de resistência da reunião deste ano é, imaginem vocês!, a celebração da herança chavista. Para a turma do Foro, é na Venezuela que se vive a verdadeira democracia. Lembro que foi num desses encontros que Chávez, segundo ele próprio confessou, encontrou-se com o Raúl Reyes, aquele líder terrorista e pançudo das Farc, morto pelas tropas colombianas num acampamento no Equador. As Farc, como é de conhecimento público, dedica-se ao narcoterrorismo e mantém ainda hoje campos de concentração na floresta amazônica. E o engraxate de Zé Dirceu se mostra interessado em, literalmente, caçar os partidários de um certo “liberal-fascismo”…

Aguardam-se para o encerramento do evento as sábias palavras de Evo Morales, o índio de araque que governa a Bolívia. Faz sentido. Evo tomou uma refinaria da Petrobras de armas na mão; criou novos campos de folha de coca — de uma variedade que não serve para mascar — na fronteira com o Brasil; decidiu criar uma indústria de legalização de carros roubados em nosso país e mantém presos brasileiros que não cometeram crime nenhum. O carregador das cuecas de Dirceu não se importa, é claro! A agenda da turma transcende essas questões meramente locais. O patrimônio da Petrobras, por exemplo, foi usado pelo governo Lula para dar uma forcinha a um dos governos comandados pelo Foro. Entre o Brasil e a “organização”, os petistas fizeram a sua escolha.

Cada um fale por si. Entendo por que o eunuco moral me detesta. Estivesse na oposição, é evidente que eu levaria essa questão para o horário eleitoral gratuito, revelando ao conjunto dos brasileiros o modo como o PT privatiza o patrimônio público.

Em seu texto, o dito-cujo sugere que o Foro e seu partido estão com as massas e as representam. É? Então marquem uma concentração em praça pública e deem vivas ao PT, a Chávez e a Evo Morales. Se o povo está junto, vai ser uma festa. Coragem, valentão!

Por Reinaldo Azevedo

 

Intelectuais ligados à “Rede” já leram “O Príncipe”; Marina Silva tem de ler ao menos “O Pequeno Príncipe”. Ou: A democracia comporta vândalos que recorrem a barras de ferro como argumento?

Alguns intelectuais ligados ao (ou “à”?) Rede, partido de Marina Silva, já leram “O Príncipe”. Marina, se for o caso, tem ao menos de ler “O Pequeno Príncipe” e saber que, moralmente, um político se torna responsável por aqueles a quem cativa com o seu discurso, como ensinava a raposinha chatinha. A ex-senadora petista é quem mais lucrou politicamente com o transe das ruas. Sua fala de substantivos abstratos e frouxos é obviamente simpática ao movimento das ruas. Em suas intervenções públicas, apresenta-se como uma espécie de teórica desse momento de suposta falência dos mecanismos institucionais de representação. Isso não quer dizer que Marina e sua turma estejam na raiz das manifestações, mas que foram mais ágeis na sua apropriação oportunista. Por que isso tudo?

Leio em reportagem da Folha que um rapaz chamado Pedro Piccolo, 27 anos, sociólogo, admitiu ter participado da confusão que resultou em quebra-quebra no Palácio do Itamaraty no dia 20 de junho. Nas fotos, ele aparece cobrindo o rosto com uma camiseta da “Rede” e com uma barra de ferro na mão. À Folha, ele declarou o seguinte: “Estou à disposição e tranquilo para o que for decidido. Foi uma coisa pessoal minha, fiquei muito excitado, mas não depredei nada”.

Certo! Em sua página no Facebook, ele escreveu este texto singelo:
“Vi uma barra de ferro no chão e a agarrei, inicialmente com a intenção de me defender, caso as coisas piorassem por ali. Depois, com as emoções à flor da pele, a pressionei algumas vezes contra diferentes pontos de uma estrutura também de ferro do próprio prédio e em seguida a joguei. Não quebrei nada”.

Ai, ai… Volto à frase precisa do compositor Lobão para designar certa ética da responsabilidade no Brasil: “Peidei, mas não fui eu”. Piccolo se juntou à turma que queria depredar o Itamaraty, mas usava a barra de ferro para… se defender!!! Ele não depredou, apenas a “pressionou” contra “diferentes pontos da estrutura”. Se não era para depredar, vai ver estava interessado em escrever uma tese sociológica sobre a resistência de materiais… E tudo isso por quê? Porque essa criança de 27 anos estava muito “excitada”. Assim, concluo que se deve tomar cuidado quando Piccolo se excita…

Marina é responsável por todo maluco que veste uma camiseta da Rede? Depende. O “excitado” de que se cuida acima é, atenção!, um dos dirigentes do partido. Se continuar nessa condição e se não for expulso da legenda (ou do grupo, já que o partido não tem ainda existência legal), então Marina passa, sim, a endossar a sua ação. Em nota, o partido disse repudiar toda forma de violência e que a participação de simpatizantes do partido nos protestos “não guarda relação com discussões ou posicionamentos da Executiva ou da Comissão Nacional Provisória”.

Não? Marina tem dado palestras por aí sobre esse novo “momento” da política e já se colocou como uma espécie de vanguardista, profeta ou pitonisa do que vai nas ruas. Embora, é claro!, repudie a violência.

Já escrevi bastante, como sabem, sobre os tais “protestos”. As três semanas de férias não mudaram a minha leitura sobre o que está em curso. Uma coisa é a justa insatisfação de amplos setores da sociedade brasileira com o governo petista em particular, com os governos no geral e, mais amplamente, com os políticos. Outra, distinta, é a negação sistemática dos caminhos institucionais, legais e democráticos de solução de conflitos e contendas. Aí, não! Aí estamos lidando com fascistas de esquerda, que sempre estiveram, é bom que se diga, a serviço do petismo.

O que é novo nesses dias é o fato de os petistas terem perdido o controle dessas “ações diretas”. O partido sempre foi muito hábil em manipular a cachorrada, disfarçada de “militantes sociais”, contra seus adversários. À medida que o partido se “aburguesou”, que passou a falar, por força de sua condição, em nome da “ordem”, a turma do pega-pra-capar foi buscar abrigo em outras praças da utopia.

A fala frouxa de Marina Silva — contra “tudo isso que está aí”, para lembrar antigo mantra petista — serve, sim, como uma espécie de catalisador desse sentimento difuso de justiça. Não há nada de errado com sentimentos de justiça, difusos ou não. Quando, no entanto, eles recorrem a “barras de ferro” para “forçar vários pontos da estrutura” de um prédio público, num regime de plena democracia, aí se está lidando com depredadores dessa ordem democrática.

E o lugar de gente assim é a cadeia. Daqui a pouquinho falo de alguns bandidos disfarçados de defensores da democracia que tentaram promover a baderna ontem em São Paulo.

Vamos ver qual será a decisão da cúpula da Rede. O partido vai dizer até onde podem ir os seus “excitados”.

Por Reinaldo Azevedo

 

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Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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