A Oi é mais um exemplo de que o capitalismo de estado promovido pelo PT é caro e desastrado...

Publicado em 02/10/2013 19:08 e atualizado em 17/02/2014 12:10
por Reinaldo Azevedo, de veja.com.br

A Oi é mais um exemplo de que o capitalismo de estado promovido pelo PT é caro e desastrado. Ou: Do “espírito animal” e de animais sem espírito, mas de pança cheia

Abaixo, há uma reportagem de Ana Clara Costa e Naiara Infante Bertão sobre a compra — eufemisticamente chamada de “fusão” — da “Oi” pela Portugal Telecom. Trata-se de uma crônica dos desastres promovidos pelo PT, que resolveu recorrer ao BNDES e aos fundos de pensão para definir alguns “gigantes” da economia brasileira que passariam a ser empresas globais. Além de desastrada, a operação é cara e ineficaz. Deu tudo errado. Keynes atribuía o empreendedorismo a decisões ancoradas em informações racionalmente colhidas, mas também ao “espírito animal” dos empresários — o que implica um grau de incerteza e de aposta no incerto, sem o qual nada acontece. No Brasil, nossos “animais” estão mais para capões enjaulados, que se alimentam avidamente da ração oferecida por braços do estado, como o BNDES e os fundos de pensão — no fim das contas, dinheiro público também.

Eu sei que o mercado todo está saudando a operação e compreendo os motivos. Também eu saúdo. Tudo o mais constante, no ritmo em que ia, a Oi acabaria, bem…, “fora de área”. Mas que fique claro: as fusões só estão acontecendo no setor porque Lula mudou por decreto a Lei Geral de Telecomunicações, que, na forma original, garantia a competição. E o então presidente o fez justamente para beneficiar a Oi, que conseguiu, assim, comprar a Brasil Telecom.

Há realmente uma grande diferença entre os modelos tucano e petista na telefonia: o primeiro quebrou o monopólio estatal e recebeu alguns bilhões do setor privado; o segundo elege alguns “vencedores”, promove uma reestatização branca e torra bilhões de dinheiro público. Leiam a reportagem da VEJA.com.
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A chamada política das ‘campeãs nacionais’, criada há seis anos pelo governo Lula e executada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), encontra na Oi seu mais novo exemplo de fracasso. A fusão da operadora brasileira de telefonia com a Portugal Telecom, encarada pelo mercado como ‘venda’, deve se concretizar nos próximos meses e criar um gigante com receita da ordem de 40 bilhões de reais. Os investidores estão otimistas com a fusão, afinal, a entrada do capital português poderá ajudar a empresa a investir em infraestrutura e conquistar maior participação de mercado em telefonia móvel e em banda larga. “Para a Oi, é benéfico porque a empresa sai de uma situação de dívida altíssima para uma empresa com uma estrutura de capital bem melhor, além de fazer parte, agora, de um grupo internacional”, diz Pedro Galdi, da SLW Corretora. Contudo, a venda enterra, mais uma vez, o discurso do chamado “capitalismo de estado”, em que empresas são ‘turbinadas’ com dinheiro público para se tornarem multinacionais.

Essa política previa que o estado investisse em alguns segmentos do setor privado por meio do BNDES (comprando participação ou emprestando dinheiro com taxas de juros subsidiadas pelo Tesouro), com o objetivo de criar empresas brasileiras fortes para competir no mercado global. O banco injetou cerca de 20 bilhões de reais em companhias como JBS, Marfrig, Lácteos Brasil (LBR), Oi e Fibria. O resultado, seis anos depois, não é nada animador: LBR pediu recuperação judicial, Marfrig teve de vender a Seara para a JBS para reduzir seu endividamento, enquanto a empresa dos irmãos Wesley e Joesley Batista, apesar de em melhor saúde financeira que a concorrente, também sofre para reduzir as dívidas adquiridas ao longo de seu processo de expansão.

A Oi é um caso de fracasso à parte não só porque envolveu a participação maciça do BNDES. Sua própria constituição foi um exemplo de intervencionismo — e a venda para os portugueses evidencia o plano equivocado. Em 2008, o governo mobilizou todos os seus esforços sob o comando do próprio Lula, da então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e do ministro das Comunicações, Hélio Costa, para mudar a legislação e permitir que a Oi comprasse a Brasil Telecom.

O negócio, visto como prejudicial para os acionistas minoritários porque diluía sua participação e porque eles tampouco concordavam com o preço (5,8 bilhões de reais), foi viabilizado depois de um lobby ostensivo que contou até mesmo com um decreto do presidente mudando as regras do setor. Segundo a legislação da época, um mesmo controlador não podia ser dono de duas concessionárias de telefonia fixa. O problema foi resolvido por meio de um decreto sem que o Congresso sequer participasse da decisão.

O argumento do governo era de que o país não podia deixar todas as suas empresas de telecomunicações nas “mãos de estrangeiros”. E, como a Brasil Telecom vinha sendo assediada por investidores de fora, como o bilionário egípcio Naguib Sawiris, dono da Orascom, houve uma movimentação sem precedentes para que ela fosse adquirida pela Oi. “O discurso era claramente de que o Brasil tinha de preservar a soberania e não deixar um ativo tão importante nas mãos de um estrangeiro”, afirma um executivo que participou da negociação da Brasil Telecom, em condição de anonimato. O BNDES entrou na negociação financiando 2,6 bilhões de reais, enquanto 4,3 bilhões de reais foram aportados pelo Banco do Brasil. Os fundos de pensão Previ, Petros e Funcef, que já detinham participação na Brasil Telecom, passaram a ser donos de 34% das ações da nova empresa.

A história começou a mudar quando, em 2010, numa negociação entre três partes, a Portugal Telecom vendeu sua participação na Vivo para a Telefonica e entrou na Oi. “Quando isso aconteceu, todos esperavam que os portugueses assumissem o controle cedo ou tarde. Era apenas uma questão de tempo”, afirma outra fonte próxima da empresa, que preferiu não ter seu nome citado. Assim, o anúncio da fusão apenas costura o desfecho de uma estratégia que começou errada e, no lugar de criar uma grande multinacional, deu origem a uma tele ineficiente financiada pelo capital do BNDES. “A Oi receberá um novo aporte de 7 bilhões que ajudará a companhia a aumentar investimento e reduzir dívida. Contudo, o aporte não resolve todos os problemas da empresa. Ela precisará montar um plano para reduzi-la”, afirma Arthur Barrionuevo Filho, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

O negócio entre Oi e Portugal Telecom ainda não foi assinado, mas foi chancelado pelo governo e pelo BNDES. Em um ‘mundo perfeito’, essa chancela poderia ser compreendida como um reconhecimento, por parte do PT, de que a estratégia de interferir de forma tão contundente no setor privado não poderia render boa coisa. Mas a realidade é bem outra. O governo continua valendo-se do discurso da soberania, mas com outro objetivo — até mais danoso. Ao tentar forçar empresas estrangeiras de tecnologia, por meio do marco civil, a montar seus datacenters no Brasil, numa ingênua tentativa de ‘espantar’ a espionagem internacional, ele mostra ainda não ter aprendido com certos erros do passado.

Por Reinaldo Azevedo

 

Justiça lenta, feita para não funcionar, pode fazer com que larápios brasileiros recebam US$ 28 milhões, roubados do Brasil, que estão em cofres suíços

Você tem alguma dúvida, leitor amigo, sobre a existência de um excesso de recursos na Justiça brasileira? Hesita em considerar que o sistema brasileiro, na prática, existe para não funcionar? Chegou, alguma vez, a achar que há gente no Brasil chamando IMPUNIDADE de GARANTISMO? Então, como naquele bordão das Organizações Tabajara, do Casseta & Planeta, “seus problemas acabaram”. Já dá para ter certezas:
– há um excesso de recursos na Justiça brasileira;
– o sistema existe para não funcionar;
– estão chamando IMPUNIDADE de GARANTISMO.

Temo cobrar uma opinião de alguns ministros do Supremo e ouvir que assim é desde as Ordenações Filipinas — alguns preferem citar as Manuelinas, como se a impunidade, por aqui, fosse uma determinação da história… Sob o pretexto de coibir a sanha punitiva do estado, como se a justiça penal fosse o território privilegiado do debate sobre direitos individuais (é claro que ela tem de respeitá-los, mas sem abrir mão de punir culpados e desagravar agravados), beneficiam-se larápios. Até parece que, em Banânia, as garantias individuais não podem conviver com a celeridade da Justiça. Por que isso tudo?

Vocês se lembram do caso Silveirinha? Se não lembram, a memória lhes será refrescada daqui a pouco. Em síntese, é o seguinte. Descobriu-se que um gangue de fiscais havia lesado os cofres públicos em muitos milhões de dólares. A grana era enviada para a Suíça. Isso tudo faz dez anos. DEZ ANOS!!! Os operadores de bancos suíços que participaram da fraude já foram punidos com cadeia. JÁ CUMPRIRAM PENA. Os brasileiros ainda estão por aí, à solta. O PROCESSO SE ARRASTA DO STJ. Sabem o que pode acontecer?

A Justiça suíça retém naquele país US$ 28 milhões, frutos da falcatrua. Agora deu um alerta: se nada acontecer com os acusados brasileiros, vai ter de liberar a dinheirama. Não pode retê-la por mais de dez anos. Eles não compreendem por lá por que, até agora, o processo no Brasil continua em curso. EU ESCREVO DE NOVO: os suíços que ajudaram a esconder a grana roubada pelos larápios brasileiros já cumpriram suas respectivas penas; o Brasil, que foi roubado, até agora, não conseguiu punir seus culpados. Por conta dessa desídia legal, os que mandaram dinheiro para fora do país de forma ilegal podem ser premiados agora com a liberação da bufunfa. A história está contada em reportagem de Josette Goulart e Jamil Chade, no Estadão deste domingo. Reproduzo trecho. Volto em seguida.
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A lentidão da Justiça brasileira pode fazer com que cerca US$ 28 milhões que estão bloqueados na Suíça acabem retornando aos bolsos de condenados por corrupção, lavagem de dinheiro e quadrilha no caso que ficou conhecido como “propinoduto”, que envolvia fiscais das receitas federal e estadual do Rio de Janeiro, entre eles Rodrigo Silveirinha — ligado aos ex-governadores Anthony e Rosinha Garotinho.

As autoridades suíças enviaram um ofício ao governo brasileiro, datado de 17 de maio deste ano, cobrando uma definição do caso, que já dura uma década. Alertaram que, pela lei suíça, esse é o prazo limite para reter o dinheiro no país e que sem uma decisão final da Justiça terão de liberar os recursos para saque dos donos originais das contas bancárias.

O Ministério da Justiça repassou o alerta ao Ministério Público Federal que, na semana passada, ingressou com um pedido de “prioridade de julgamento” do recurso. Há quatro anos, o processo vai de um gabinete a outro no Superior Tribunal de Justiça (STJ), sem que seja apreciado. Já passou pela mão de cinco diferentes relatores, sendo que o último, a ministra Assusete Magalhães, está com o caso há apenas dois meses. Mesmo que seja julgado imediatamente pela turma da qual faz parte a ministra relatora, os quase 70 volumes terão ainda de passar pela análise dos ministros do Supremo Tribunal Federal.

Em Berna, fontes no governo suíço admitem que não entendem a demora da Justiça brasileira. Em Brasília, os procuradores se sentem frustrados, mas não falam oficialmente do caso. O Ministério da Justiça não deu qualquer posicionamento à reportagem. Já o STJ, questionado institucionalmente sobre a demora dos processos que chegam à casa, não fez qualquer comentário.

Condenações
O caso é emblemático pois todos os acusados foram condenados em apenas seis meses pela Justiça Federal do Rio, ainda em 2003, quando a denúncia foi apresentada à Justiça. Quatro anos depois, mesmo com todo o questionamento em torno da legalidade do julgamento da primeira instância (por ter sido tão rápido), todos os acusados foram novamente condenados no Tribunal Regional Federal da 2.ª Região. Boa parte deles com penas ainda maiores do que as originais.

Os recursos aos tribunais levaram quase dois anos para serem admitidos, mas em 2009 chegaram ao STJ. Foi nesta época que o então ministro da Justiça, Tarso Genro, chegou a comemorar o sinal verde dos suíços e emitiu um comunicado de imprensa para anunciar que os recursos seriam devolvidos. Contudo, meses depois, nenhum centavo entrou nas contas brasileiras porque a sinalização da Suíça era na expectativa de que o caso fosse julgado rapidamente no Superior Tribunal de Justiça. Em 2010, mais uma ação do governo foi conduzida. Mas sem resultado.

Prisão. A ironia, segundo o Departamento da Justiça suíço, é que o caso ganhou contornos impensáveis e levou a prisões também naquele país. Cinco banqueiros foram condenados por lavagem de dinheiro, numa ação contra os bancos que há décadas não se via na Suíça. O processo ainda confirmou o envolvimento de um banco suíço diretamente com esquemas de corrupção no Brasil, uma alegação que os tradicionais estabelecimentos suíços sempre se negaram a confirmar. Os banqueiros pegaram entre 405 e 486 dias de prisão, além de multas que variam entre US$ 12 mil e US$ 59 mil.

Todos, porém, já cumpriram suas penas e, nem assim, o processo acabou no Brasil. Essa não é a primeira vez que a demora da Justiça brasileira ameaça derrubar todo um processo de investigação e bloqueio de recursos.
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Encerro
Quem se atreve a defender nosso “modelo”? Já sei: “Desde as Ordenações Manuelinas..”

Por Reinaldo Azevedo

 

MARINA-CAMPOS 1 – Líder da Rede acerta ao acusar “chavismo” do PT e põe fim ao esforço de Lula para eliminar uma terceira força da disputa de 2014

Comecemos pela maior de todas as evidências: a entrada de Marina Silva no PSB, ainda que pro-tempore, demonstra como estavam errados, na situação e na oposição, os que tentaram definir os times dois anos antes do jogo. A observação vale para Lula e para FHC, para citar os respectivos técnicos do PT e do PSDB. ATENÇÃO! Estamos, neste sábado, a exato um ano do primeiro turno, marcado para o dia 5 de outubro de 2014. E se deu, desde que se fala no assunto, o fato mais importante do processo. Marina acaba de se filiar formalmente ao partido liderado por Eduardo Campos — segundo ela, trata-se do “Plano C” (“C” de Campos, entenderam?). Organizou-se, para tanto, uma cerimônia em que ambos discursaram. Se o observador se deixa levar pelo calor da hora, acaba concluindo que teve início uma marcha cujo desfecho é o triunfo. A tarefa é bem mais difícil do que parece. Chegarei lá em outro post. Destaco, como segundo dado relevantíssimo, uma crítica que Marina fez ao PT. Que dimensão ela vai tomar? É o que veremos no decorrer dos meses.

Na conversa que manteve com seus pares para tomar uma decisão, a ex-senadora, segundo revelaram interlocutores seus à imprensa, teria afirmado:
“Eu fiz esse acerto com o Eduardo Campos porque chegou a um ponto que eu não tinha outra alternativa. E o PSB é um partido sério. A minha briga, neste momento, não é para ser presidente da República; é contra o PT e o chavismo que se instalou no Brasil”.

Se Marina disse mesmo isso — e tudo indica que sim, porque as fontes variam, com conteúdo muito parecido —, então, pela primeira vez, eu a aplaudo. Eu, que não gosto das imprecisões de seus discursos, que considero que ela tem um pé no messianismo, que rejeito certas concepções de política que me parecem um tanto delirantes, afirmo: ela está certa ao apontar as tentações chavistas do petismo. Marina também teria dito que o PT tem mais de dois mil militantes espalhados na rede para desmoralizá-la.

É verdadeira a existência dessa máquina maligna, mas Marina não é seu único alvo. Qualquer força política que tenha a coragem de expressar um pensamento que o partido, ou seus esbirros, considerem contrários a seus interesses, passa a ser alvo dos ataques mais sórdidos: políticos de oposição, imprensa em geral e alguns jornalistas em particular. Nada escapa. A máquina de difamação dolosa, financiada por estatais e por gestões petistas, expressa o auge dos delírios totalitários do partido. Se uma das motivações de Marina para se juntar temporariamente ao PSB é a constatação de que é preciso vencer esse esquema criminoso, então a sua decisão tem o meu respeito e o meu apreço — ainda que eu não goste de quase nada do que ela diz, com especial ênfase para as suas preferências poéticas. Ocorre que a divergência sobre poesia é menos relevante do que as questões substanciais, e combater o chavismo petista é uma dessas questões substanciais.

Essa aliança, que ela chama programática — mas que é, no fundo, pragmática (já digo por quê) —, tem algumas implicações, que precisam ser pensadas.

1: Candidatura de Eduardo Campos ganha densidade
Parece evidente que, no terreno político ao menos — vamos ver como reagem os eleitores —, a candidatura de Eduardo Campos à Presidência da República ganha densidade política. Em muitos aspectos, Marina lhe fornece um conjunto de valores — coisa fundamental em política, como insisto há bem uns 20 anos — de que ele carecia. Embora o governador de Pernambuco tenha excelente trânsito na imprensa, circule com desenvoltura no mundo empresarial, lidere uma gestão muito bem avaliada em Pernambuco, eu não via, e ninguém via, por onde poderia excitar o imaginário do eleitorado. Dizer apenas que pode fazer melhor do que Dilma, que decide com mais desenvoltura, que é mais competente, bem, tudo isso, convenham, tinha muito pouco apelo.

2: Fratura do bloco hegemônico
Vocês sabem o que eu penso e o quanto lastimo a inexistência de um partido conservador forte no Brasil. Creio que está aí uma das raízes dos nossos desatinos. E esse partido inexiste justamente porque, exceção feita ao PT, as legendas brasileiras ou se perdem no administrativismo sem imaginação ou se entregam a miudezas fisiológicas — inclusive o PSB — sem apelar para conteúdos simbólicos, que marquem a adesão a uma visão de mundo. O PT comete, com ainda mais dedicação, garra e profissionalismo, todos os pecados da política, mas não se descuida dessa mística. Marina é uma liderança que se desgarrou do PT e que sabe operar essa tal esfera dos valores. Tanto é assim que a Rede, do ponto de vista ideológico, é um saco de gatos de várias cores, mas tem essa sacerdotisa que os une. Marina agrega à candidatura de Eduardo Campos um universo simbólico que, até havia pouco, ela não tinha.

Ora, pensemos um pouco: a ex-senadora vem do petismo; Campos, ele próprio, é uma das forças que se agregaram ao projeto petista. O que a eleição de 2014 pode trazer de inequivocamente novo é o racha do atual bloco hegemônico. Um pedaço dele — a frente ampla de esquerda que se formou em 2002, com agregados da direita — se descola da nave-mãe para buscar um voo solo. Se pensarem bem, a última vez em que se deu algo parecido no Brasil foi em 2002, quando o PFL resolveu se divorciar do PSDB. Todos saíram perdendo, muito especialmente o PFL, que, hoje com outro nome, beira a extinção — não só por aquilo, claro, mas foi o ato inicial.

Neste blog, não é a primeira vez que trato da questão. No dia 25 de fevereiro,escrevi aqui:

“Não são poucos os analistas que entendem que o petismo tomou de tal sorte conta da agenda política e construiu tal hegemonia que só será apeado do poder se o bloco hegemônico que lidera for fraturado. Cumpre lembrar que esse foi o episódio inaugural da derrota do PSDB em 2002: o fim da aliança com o PFL. Não estou escrevendo que tal episódio, sozinho, determinou a derrota. O fato é que as coisas começaram a desandar ali…”

3: Campos se fortalece, mas, curiosamente, aumenta o raio de manobra para não disputar
É preciso ver o que está em curso sem algumas travas do convencionalismo. No discurso na tarde deste sábado, Marina foi muito enfática ao afirmar que estava aderindo, por razões estratégicas, ao “Plano C” (Plano Campos). A candidatura do governador, afirmou ela, está posta. Assim, reitere-se, é óbvio que o governador sai fortalecido.

Mas não é menos evidente que falta muito tempo até a eleição. Vamos ver o que vai acontecer, como vão se mover as pesquisas. Noticiou-se que Marina estava indo para o PSB para ser vice na chapa, o que ninguém quis confirmar na solenidade, seguida de entrevista coletiva, neste sábado. O próprio Campos deixou a coisa em aberto — as definições ficam para mais tarde. Ora, quem tem a máquina do PSB nas mãos é ele, não ela. Logo, será candidato se quiser.

Mas digamos que se chegue a junho do ano que vem — vejam quanto tempo falta para a disputa e o quanto erraram PT e PSDB até aqui —, e as pesquisas insistam em apontar Marina com algo na casa dos 20 e poucos por cento dos votos, em segundo lugar, e Campos ali pelos 5% a 7%. A depender da conjuntura, uma Marina titular da candidatura pode ser a diferença entre haver e não haver segundo turno… Vênia máxima ao que parece óbvio, é evidente que o fortalecimento da candidatura de Campos convive perfeitamente bem com a ampliação, por contraste, da possibilidade de que ele não se candidate. Antes de Marina, ele estava entre duas alternativas:
a) candidatar-se mesmo nas circunstâncias mais adversas;
b) recuar, desmoralizando-se.
Agora, ele ganhou uma “Alternativa m”:
a) candidatar-se, mesmo nas circunstâncias mais adversas;
m) abrir mão em favor de Marina, em nome do segundo turno, guardando-se para 2018.

O mais provável é que se candidate, sim, mas não dá para ignorar que tem mais espaço para não disputar, com saída mais do que honrosa — o que antes não existia.

4: Para Dilma, essa união é boa ou ruim?
É evidente que é ruim. Os petistas saudaram entusiasmadamente o “não” do TSE ao partido Rede. Não partilho da ideia de que tenha havido alguma conspiração, mas é certo que os petistas gostaram daquele 6 a 1 no tribunal. Lula vinha atuando freneticamente para impedir também a candidatura Campos. O PT sonhava com a realização de um segundo turno já no primeiro. Num dado momento de sua fala na tarde deste sábado, Campos deu a entender que essa união com Marina acontece num momento em que ele próprio parecia um tanto desanimado. Assim, uma coisa é certa: a adesão de Marina ao PSB elimina uma dúvida do cenário: um dos dois será candidato. Já não há o que Lula possa fazer. Salvo um rompimento da aliança PSB-Rede — e creio que os dois lados serão espertos o bastante para evitá-lo —, já não há o que discutir: haverá, no mínimo, uma candidatura do PT, uma candidatura da oposição e uma candidatura do que Marina chama “posição”: ex-governistas tentando construir uma alternativa.

5: Para Aécio Neves, essa união é boa ou ruim? E para a oposição?
Para a oposição ao petismo (e à sua hegemonia autoritária), é certo que a união Marina-Campos é positiva — como seria, aliás, a eventual saída de José Serra do PSDB para disputar a eleição. Por quê? O argumento é aritmético antes de mais nada. Quando o partido do poder, que manipula uma habilíssima e maligna máquina de propaganda, joga todas as fichas na polarização, fragmentar a disputa é a forma mais inteligente de enfrentar o seu jogo. “Ora, se é bom para a oposição, então também é bom para Aécio, que é da oposição, certo?”

Errado! É um silogismo sem fundamento na realidade porque, nesse caso, desconsidera-se que, no terreno oposicionista, existe também uma disputa e que é preciso chegar em segundo lugar ao menos para ter direito à segunda rodada. Não estou aqui antevendo, de modo nenhum, que a dupla Campos-Marina se consolide em segundo lugar qualquer que seja a composição, mas é evidente que, em tese ao menos, essa possibilidade ganhou corpo.

6: Solenidade em favor da terceira via
É certo que, na solenidade deste sábado, quem mais apanhou foi o governo, foi o petismo em particular. Mais de uma vez, quando Marina e Campos se referiram a um tal “eles”, falavam de um sujeito oculto bastante conhecido. Mas a candidatura do PSDB também esteve na mira. A líder da Rede voltou a criticar a tal “oposição por oposição” e “situação por situação” (análise que considero besta, mas vá lá). O governador contestou o que chamou de “falsa polarização”.

Ainda que o PSB e o PSDB tenham feito uma espécie de pacto de não agressão, a dupla Campos-Marina, a partir deste sábado, convida, oficialmente, o eleitorado a dizer “não” tanto ao candidato do PSDB como à candidata do PT. De resto, é preciso convir que essas forças egressas do governismo conseguiram organizar um ato mais eloquentemente oposicionista do que conseguiu o PSDB nos últimos três anos. Assim, se Dilma não tem motivos para demonstrar satisfação, o mesmo se diga de Aécio, hoje considerado o candidato certo dos tucanos.

Ainda voltarei ao tema. A despeito da energia mobilizada neste sábado e da grandiloquência dos oradores, as dificuldades são imensas, bem maiores do que o entusiasmo dos protagonistas sugeria. De toda sorte, resta da união anunciada neste sábado uma crítica bastante dura ao autoritarismo do PT e do governo. E isso, numa democracia, é sempre saudável.

Por Reinaldo Azevedo

 

MARINA-CAMPOS 2 – Dificuldades são bem maiores do que sugere o entusiasmo da solenidade

O governador Eduardo Campos (PSB-PE) tem, como afirmo no texto 1, bom trânsito na imprensa e no empresariado. O mesmo se pode dizer de Marina. Ele conta com uma estrutura partidária sólida; ela, com uma fatia muito entusiasmada do eleitorado que dificilmente se deixaria atrair pelo PSB não fosse essa composição. Os partidários da Rede estão ressentidos. Atribuem a maquinações do Planalto, o que nem me parece provável, a rejeição ao registro da Rede. O governador sabe que o petismo está criando dificuldades as mais diversas para que se organize. É, por exemplo, o sujeito oculto a ditar o texto dos irmãos Gomes (Cid e Ciro), do Ceará, que agora tratam como inimigo o ex-aliado. Marina está furiosa, e com razão, com o processo de demonização de que está sendo vítima nas redes sociais e naquela área suja, financiada por estatais e por gestões petistas, que se confunde com a imprensa. A máquina fascistoide do PT não perdoa adversários nem ex-aliados. Se preciso, atira para matar a reputação de seus alvos. Tudo isso conferiu à solenidade da tarde deste sábado um certo caráter, não sem justeza, de resistência democrática.

Mas as dificuldades para que essa união seja bem-sucedida, convém a gente não se enganar, são gigantescas. A primeira e mais evidente delas diz respeito às parcerias para o horário eleitoral gratuito. Em 2010, é verdade, mesmo sem a tal “Rede” formada, Marina conseguiu 20 milhões de votos no primeiro turno com apenas alguns segundos na TV. Desta feita, em tese ao menos, está em situação melhor, mesmo sem partido: o espírito das ruas lhe é favorável ela tem sua própria legenda. O PSB, igualmente tem uma máquina considerável. Mas essa aliança que agora se faz vai se coligar com quem?

Vamos ver como ficará o PSB ao fim do indecoroso troca-troca partidário que está em curso. Marina filia-se pro-tempore ao partido, mas não agrega tempo de TV. Seis deputados do PSB se mudaram para o tal PROS, a legenda-ônibus do governismo (quatro deles, do Ceará, acompanham os irmãos Gomes). Quantos o partido de Campos ganhará? A legislação não abre janela para a migração para partidos já formados — o migrante pode alegar incompatibilidade com os caminhos adotados pela legenda, mas é terreno pedregoso. O risco da perda de mandato existe. Sem mudança nenhuma, o PSB teria coisa de 1min15s. Campos tem dito a interlocutores que precisaria fazer uma aliança que contasse com pelos menos 100 deputados federais, o que lhe daria 3 minutos no horário eleitoral. Hoje, essa tarefa parece impossível. Isso implicaria atrair mais ou menos uns 80. Não vejo onde há legenda para tantos parlamentares.

Durante uma parte da trajetória, o PSD de Gilberto Kassab caminhou em parceria com o PSB. A relação é cordial e coisa e tal. Mas não há a menos possibilidade de aquele partido fechar com Campos. Está 100% compromissado com a candidatura de Dilma Rousseff. O ex-prefeito de São Paulo só toma decisões importantes depois de conversar com a presidente. É uma espécie de PMDB menor e mais fiel. O Solidariedade, do deputado Paulinho da Força, a menos que faça da traição a sua divisa, está compromissado com o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que não mediu esforços para tornar viável o partido — e todos sabem disso. Há uma possibilidade de Aliança Campos-Marina contar com o apoio do PPS, aguerrido, sim, mas pequeno. Ganharia alguns segundos a mais de TV.

É claro que a união de agora dá um ânimo novo ao PSB, mas é certo que o governo não ficará dormindo no ponto. Tentará, por todos os meios, matar a candidatura de Campos (Marina) de inanição televisiva.

As alianças
O governador Eduardo Campos já avançou bastante nas alianças regionais. Em quase todos os estados, esses partidos são, na geografia convencional, mais “conservadores” do que o próprio PSB. Nesse caso, o que fará Marina Silva? Como atuará a Rede? Essa pergunta lhe foi feita na coletiva deste sábado. Marina falou que a aliança conserva a independência dos partidos. Em tese, parece coisa tranquila. Na prática, pode ser complicado. Os dois apareceriam, por exemplo, juntos na campanha nacional, mas separados nas regionais?

Será preciso ter habilidade, também, para distribuir as vagas na disputa proporcional. Os “marineiros” exigirão a sua cota em cada estado — para que possam depois migrar para a sua real legenda. A chance de haver curto-circuito nessa relação é grande. Em São Paulo, o PSB, caso não mude de rota, vai se aliar ao governador Geraldo Alckmin. Há até a chance de ter um lugar de vice na chapa. Os marino-peessebisas do estado vão aderir à campanha do seu partido oficial ou terão licença até para combater a candidatura e aderir a uma outra se acharem melhor? Embora o PSD vá apoiar Dilma Rousseff na disputa nacional, em Santa Catarina, o partido ficará com Eduardo Campos. O provável candidato da legenda ao governo do estado é o deputado Paulo Bornhausen, filho de Jorge, ex-presidente do ex-PFL. O que fariam os marineiros?

Notem: a aliança anunciada neste sábado, como já escrevi, tem o charme da “resistência”, mas, por isso mesmo, tem a marca do artificialismo. Não será nada fácil torná-la operacional no dia a dia da campanha.

Por Reinaldo Azevedo

 

O ANIVERSÁRIO DA PETROBRAS E AS MÃOS SUJAS DE LULA, CARIMBADAS NAS COSTAS DE DILMA. OU: EU, PETROBRAS, 60 ANOS, ENDIVIDADA E REBAIXADA

Como esquecer estas fotos? Já volto a elas.

Nos 11 anos de gestão petista, muito especialmente nos oito em que Lula esteve à frente do governo, nenhuma área do governo ou empresa estatal teve uma gestão tão arrogante, tão autoritária e, ao mesmo tempo, tão ineficiente quanto a Petrobras — e olhem que não se está falando exatamente de uma estatal. Como se sabe, trata-se de uma empresa de economia mista. Os desacertos foram se acumulando. Em vez de dar explicações quando confrontado com os problemas, o petista José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da gigante, demitido pela presidente Dilma em janeiro de 2012, respondia com grosserias e desaforos. Muito bem: a empresa está fazendo 60 anos. No seu aniversário, duas péssimas notícias: 1) a agência de classificação de risco Moody’s rebaixou as notas de crédito da estatal de A3 para Baa1 em razão do elevado endividamento (e, nesse particular, o governo Dilma tem uma parcela enorme de responsabilidade); 2) segundo relatório do TCU, o atraso na entrega do Complexo Petroquímico de Itaboraí (Comperj), no Rio, pode gerar um prejuízo para a empresa de R$ 1,4 bilhão.

A Petrobras encerrou 2010 devendo R$ 118 bilhões; em junho deste ano, já devia R$ 249 bilhões — parte desse rombo decorre de a Petrobras importar gasolina a um preço superior ao de venda no mercado interno. Como a economia degringolou, é preciso segurar o preço dos combustíveis para que a inflação não dispare.  E então voltamos às fotos. No dia 21 de abril de 2006, durante a inauguração da Plataforma P 50, em Campos, Lula repetiu o gesto de Getúlio Vargas, em 1952, e sujou as mãos de petróleo. O populista marcava o início da extração no Brasil; o petista comemorava a suposta autossuficiência do Brasil. Pois é…

Na gestão petista, a Petrobras, que nunca foi exatamente um exemplo de transparência, transformou-se, de fato, numa caixa preta. Exemplos escandalosos de má gestão e de uso político da empresa foram se acumulando. Em 2006, por exemplo, o presidente da Bolívia, Evo Morales, tomou duas refinarias da Petrobras no país — de arma na mão. Se a empresa recebeu alguma compensação justa, ninguém sabe, ninguém viu Nem por isso o índio de araque deixou de ser uma aliado e, na expressão de Lula, “um querido”.

Também em 2006, a Perobras resolveu comprar uma refinaria em Pasadena, nos EUA. A história toda, enroladíssima, atualmente sob investigação do Ministério Púbico, está explicada aqui. Prejuízo da operação comandada por Gabrielli: aproximadamente US$ 1,2 bilhão.

Acima, vão algumas das evidências de que a Petrobras foi mergulhando numa rotina de má governança. Não para por aí: com a mudança do regime de exploração do petróleo de concessão para partilha, no caso do pré-sal, a empresa é obrigada a ser sócia das explorações, o que lhe impõe pesados investimentos. Como investir se enfrenta um grave problema de caixa, que vai se agravar nos próximos anos, segundo a Moody’s?

Complexo Petroquímico
A Petrobras deveria ter inaugurado no mês passado o Complexo Petroquímico de Itaboraí, no Rio. A previsão, agora, é que o empreendimento seja entregue só em agosto de 2016 — com quatro anos de atraso. Segundo o Tribunal de Contas da União, isso acarretará um prejuízo de R$ 1,4 bilhão. A obra, inicialmente orçada em R$ 19 bilhões, não ficará por menos de R$ 26,6 bilhões, segundo reportagem do Jornal da Globo.

Entre os motivos do atraso, o tribunal aponta irregularidades na instalação das tubulações, que ficou a cargo de uma empresa chamada MPE. Só essa parte da obra foi orçada em R$ 730 milhões. Até abril, apenas 15% do trabalho havia sido realizado — quando deveria estar em 42%. Mais: o cadastro da MPE nos arquivos da empresa não recomendava a sua contratação. Mesmo assim, na licitação, ela venceu as concorrentes, embora tenha apresentado um sobrepreço, em relação às outras, de R$ 162 milhões.

Um pouco de memória
O PT foi fundo na impostura, e a Petrobras serviu ao uso eleitoreiro mais descarado. Em dezembro de 2009, Gabrielli teve a cara de pau de conceder uma entrevista afirmando que FHC havia tentando privatizar a Petrobras. Trata-se de uma mentira escandalosa, escancarada, vergonhosa. Nunca houve, INFELIZMENTE, nenhuma iniciativa de governo nenhum nesse sentido. Já seria um despropósito que o presidente de uma empresa mista, nomeado pelo governo, fizesse proselitismo eleitoral. Fazê-lo com mentiras era ainda pior. Ficou por isso mesmo.

Já candidata, durante o debate eleitoral, em 2010, Dilma insistiu naquela cascata de Lula de que o pré-sal era o “bilhete premiado”. Acusou José Serra, seu adversário tucano, que criticou o modelo da partilha porque impunha pesados desembolsos à Petrobras, de estar querendo entregar o “filé-mignon” para os estrangeiros. E chamou, então, 57 anos de história da Petrobras de “carne de pescoço”. Vejam o filme.

Observem com que energia ela fala, com que convicção, com que sabedoria. Vocês viram, na licitação do campo de Libra, quanta gente estava interessada no nosso “filé-mignon”…

Uma Petrobras rebaixada, endividada e encalacrada num modelo de exploração do pré-sal que lhe impõe um custo com o qual não pode arcar é, sem dúvida, uma obra inequívoca do PT. As barbaridades maiores foram cometidas, sim, na gestão Lula, mas não se pode esquecer de que a gerentona do setor de energia era Dilma.

Para encerrar: tentou-se fazer um enorme escarcéu com os delírios de Edward Snowden e Glenn Greenwald, segundo os quais o governo americano teria espionado segredos da Petrobras. Escrevi, então, que não havia mal que os gringos pudessem fazer à empresa que os governantes brasileiros não fariam, algumas vezes multiplicado, por sua própria conta.

Eis aí.

Por Reinaldo Azevedo

 

Marina anuncia nesta sexta o que fará em 2014; se cumprir o que andou prometendo a interlocutores, não será candidata

Marina Silva afirmou que anuncia a sua decisão nesta sexta-feira. A dúvida é uma só, como todo mundo sabe: ela vai ou não disputar a eleição presidencial no ano que vem por outro partido? Aliados seus dizem que sete legendas se ofereceram para abrigá-la. Na madrugada, escreverei com mais vagar a respeito. A ex-senadora deu uma declaração que honra seu estilo — que, vocês sabem, não me agrada muito em razão de certo apelo, sei lá como dizer, quase metafísico. Disse a líder da Rede:

“Já somos partido político sim. Se agora não temos o registro legal, temos o registro moral perante a sociedade brasileira. Eu não posso estar decepcionada se o que há de mais importante nós obtivemos nesta corte, a declaração de todos os ministros desse tribunal de que temos os requisitos mais importantes para sermos um partido político. Disseram que temos um programa, representação social e ética (…) Os cartórios, obviamente, em função de sua própria torpeza, agora se beneficiam dela para nos prejudicar. Este será um case para a história do Brasil; será um caso para os jovens advogados que haverão de se debruçar sobre a história de um movimento político que, desde 2011, tem trabalhado para ter representação social, para ter um programa, para ser coerente entre fins e meios”.

Não é uma boa fala. Se Marina cumprir o que andou anunciado a interlocutores seus, vai usar essa questão “moral” para começar a se turbinar para 2018.

Por Reinaldo Azevedo

 

O milenarismo supostamente científico de Marina e sua vocação autocrática

Volta e meia escrevo sobre as tentações messiânicas de Marina Silva. Atenção! A crítica nada tem a ver com o fato de ela ser evangélica. O problema da ex-senadora, entendo, não é seu milenarismo religioso — fosse, ela deixaria algumas questões para a segunda volta do Cristo… O que me incomoda nela é seu milenarismo supostamente científico, que avança para a irracionalidade. Líder carismática, ao menos entre os seus fanáticos, não junta, com frequência, lé com lé, cré com cré, mas seus seguidores atuam como se ela já tivesse feito uma viagem ao futuro e atuasse, então, no presente, para nos salvar das ameaças escatológicas. As suas prefigurações apocalípticas não têm nada a ver com o Cristo — atribuir à sua religiosidade o seu discurso impreciso é só uma forma de preconceito antirreligioso. Marina é, no Brasil, a expressão mais acabada — e, como todas, mal acabada — de uma dita agenda global: o mundo teria descoberto o caminho da paz perpétua. Essa agenda totalista, de viés docemente totalitário, não frutifica, por exemplo, em ditaduras. Vejam lá se a China está preocupada com as prefigurações apocalípticas de Marina. Ou a Rússia. Ou os países islâmicos. Perguntem, por exemplo, se George Soros se ocupa de financiar ONGs em Pequim… É preciso haver democracia para que se tenha a liberdade de tentar destruir a democracia. Enquanto os revoltosos não vencerem, a gente via levando…

Não estou aqui a dizer que Marina não acredita nas coisas que diz. Ela é uma profetisa que se leva a sério, sim. Desculpem ser literalmente “rasteiro” quando trato de Marina, vale dizer: ter de chegar ao chão propriamente. Eu ainda me pergunto o que aconteceria com o Brasil — que já está vendo sua balança comercial ir para a cucuia e que amarga os piores resultados nas contas externas — se o Código Florestal que ela brandiu como quem tivesse recebido as Tábuas da Lei tivesse sido aprovado. Resultaria em quê? Numa brutal redução da área plantada. “Ah, não simplifique, não é assim!” É assim, sim, senhores! Demonstrei à farta essa questão por ocasião do debate do tal código.

Pois bem! O deputado Alfredo Sirkis (RJ), do Rio, é um dos mais vistosos aliados de Marina Silva. Está entre aqueles que defendem que o grupo se organize, inclusive ela própria, para disputar as eleições de 2014. Há caminhos para isso. Legendas foram oferecidas à líder. Mas ela resiste. A questão foi debatida ontem à noite. O confronto entre os dois beirou o bate-boca. Marina acha que sua força simbólica diminui caso dispute a Presidência por outra sigla. De certo modo, tem razão: afinal, isso traria à luz o que ela faz de tudo para esconder: é obcecada pelo poder — embora, claro!, seja vista hoje em dia como uma pessoa quase etérea, que se preocupa apenas com a luz, como se suas ambições, à diferença da de outros políticos, não fosse constituída de matéria, mas apenas de energia. É mesmo, é?

Ora, ela pertencia ao maior partido do país. Poderia, por exemplo, ter lutado para arrebanhar forças internas e disputar posições de comando. Ocorre que Marina não queria ser mais uma; pretendia ser “a” protagonista. Seu grupo se mudou de mala e cuia para o PV. Finda a disputa presidencial, tentaram dar um golpe e tomar a legenda. Ela fez à direção do partido a mesma acusação que fez ontem ao TSE: arcaísmo, legalismo regressivo, burocracia… Comandou a debandada rumo à tal Rede. Alguém então indagou: “Para ser presidente?”. Nãããooo!!! Isso é coisa da “velha política”, das pessoas vulgares, dizia-se. Nunca um partido em formação teve tanto espaço na imprensa e nas redes sociais. A turma só se esqueceu, vamos dizer, de cuidar da cozinha. Com Marina, é assim: mordomos invisíveis sempre administram a casa, enquanto ela flana e vive de luz. Com todo o respeito ao doutor Torquato Jardim, um profissional de respeito, a argumentação no TSE beirou o ridículo: o que se pedia ali é que se descumprisse a lei. No estado democrático e de direito, quando uma lei é ruim, o que se deve fazer é mudá-la. Mas essa tarefa não cabe aos tribunais.

Sirkis escreveu um duro texto em seu blog intitulado “Cartório, auto-complacência…e sincericídio”, que reproduzo abaixo. Atenção! Eu sou um duro crítico de Marina e não estou tentando usar as palavras de um aliado seu para provar que estou certo. Não o conheço, e é provável que discordemos de uma porção de coisas. Não endosso algumas das coisas que vão ali, com destaque para a crítica nada sutil à religiosidade da ex-senadora. O texto serve, de todo modo, como evidência de que Marina, cercada por adoradores, exerce uma doce e iluminada autocracia. Se um dia for eleita presidente, das duas uma: ou será obrigada a renunciar às próprias convicções porque a governabilidade impõe limites racionais que seu discurso não reconhece ou empurra o país para uma crise. Essa conclusão é minha, não de Sirkis. Fiquem com seu desabafo. Chamo especial atenção para o trecho em que ele aborda a “diversidade ideológica” da Rede. Alguém dirá: “Que bom!”. Huuummm… Eu até hoje me pergunto como se conciliariam vocações francamente liberais lá abrigadas — ou “neoliberais”, como querem alguns — com convicções que, às vezes, estão bem à esquerda do petismo. Quem as unirá num único cálice? Bastará a força mística de Marina?
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O Brasil da secular burocracia pombalina, do corporativismo estreito e da hipocrisia politico cartorial falou pela voz da maioria esmagadora do tribunal. A voz solitária de Gilmar Mendes botou o dedo na ferida na forma do juz esperneandi. O direito de, literalmente, espernear.

Para mim não foi surpresa alguma, nunca foi uma questão de fé –Deus não joga nesta liga– mas de lucidez e conhecimento baseado na experiência pregressa. Eu tinha certeza absoluta que se não tivéssemos uma a uma as assinaturas certificadas, carimbadas, validadas pela repartição cartórios de zonas eleitorais íamos levar bomba.

A ministra relatoria fez uma defesa quase sindicalista da “lisura” de seus cartórios. Gilmar Mendes mostrou claramente o anacronismo deles na era digital. Prevaleceu a suposta “dura lex sed lex” mas que pode também ser traduzido, no caso, pelo mote: “aos amigos, tudo, aos inimigos, a Lei”. E o PT já tinha avisado que “abateria o avião de Marina na pista de decolagem”.

Mas não ter entendido que o jogo seria assim e ter se precavido a tempo e horas foi uma das muitas auto complacências resultantes de uma mística de auto ilusão.

Para ser direto em bom carioquês: “demos mole”.

Marina é uma extraordinária líder popular, profundamente dedicada a uma causa da qual compartilhamos e certamente a pessoa no país que melhor projeta o discurso da sustentabilidade, da ética e da justiça socioambiental. Possui, no entanto, limitações, como todos nós. As vezes falha com operadora política comete equívocos de avaliação estratégica e tática, cultiva um processo decisório ad hoc e caótico e acaba só conseguindo trabalhar direito com seus incondicionais. Reage mal a críticas e opiniões fortes discordantes e não estabelece alianças estratégicas com seus pares. Tem certas características dos lideres populistas embora deles se distinga por uma generosidade e uma pureza d’alma que em geral eles não têm.

Não tenho mais idade nem paciência para fazer parte de séquitos incondicionais e discordei bastante de diversos movimentos que foram operados desde 2010. A saída do PV foi precipitada por uma tragédia de erros de parte a parte. Agora, ironicamente, ficamos a mercê de algum outro partido, possivelmente ainda pior do que o PV.

Quanto à Rede, precisa ser vista de forma lúcida. Sua extrema diversidade ideológica faz dela um difícil partido para um dia governar. Funcionaria melhor como rede propriamente dita –o Brasil precisa de uma rede para a sustentabilidade, de fato– mas, nesse particular, querer ser partido atrapalha.

Ficarei com Marina como candidata presidencial porque ela é a nossa voz para milhões de brasileiros mas não esperem de mim a renúncia à lucidez e uma adesão mística incondicional, acrítica.

Minha tendência ao “sincericidio” é compulsiva e patológica. Nesse sentido não sou um “bom politico”. Desculpem o mau jeito. Hoje tenho oito horas para enfrentar um leque de decisões, todas ruins em relação ao que fazer com uma trajetória limpa de 43 anos de vida política. Mas vou fazê-lo sem angústia de coração leve e mente aberta.

Por Reinaldo Azevedo

 

ESCÂNDALO – MST e seus satélites divulgam carta contra a PF, que investiga roubalheira na área da agricultura familiar. Estão com medo de quê?

O Brasil está virando um lixão de corporações e feudos. Não há pedaço do governo que não tenha sido loteado ou entre os dignitários daquilo a que o petismo chamava antigamente “burguesia” (e que Lula chama hoje “companheirada”) — empreiteiros, fornecedores, “mercados”, escolham aí — ou entre os “representantes oficiais dos movimentos sociais e sindicatos”, aquele enorme contingente que batizei há muitos anos de “burguesia do capital alheio” — no mais das vezes, esse “capital” é nosso mesmo, dos trouxas pagadores de impostos. NOTA À MARGEM: o MST é o “latifundiário da terra alheia”.

No dia 24 do mês passado, publiquei neste blog um post sobre Operação Agro-Fantasma, posta em prática pela Polícia Federal, que investiga um esquema de desvio de recursos públicos do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), repassados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) a associações e cooperativas rurais como parte do Programa Fome Zero. O texto informa ainda que “além dos mandados de prisão preventiva, foram expedidos pela 2ª Vara Criminal da Justiça Federal de Curitiba (PR) sete mandados de suspensão cautelar da função pública, 37 mandados de busca e apreensão e 37 mandados de condução coercitiva em quinze municípios do Paraná, em Bauru (SP) e em Três Lagoas (MS).”

Muito bem! Dois dos investigados são os petistas Valomor Luiz Bordin e Silvio Porto — este último diretor de Política Agrícola da Conab. Ele continua no cargo. Nesta quarta, para escândalo do bom senso, mas sem que tenha surpreendido ninguém, o MST e mais 37 entidades divulgaram uma nota indignada contra a… Polícia Federal! Isto mesmo: esses patriotas se mostram bem pouco preocupados com o desvio de dinheiro. Preferiram atacar o órgão que investiga as irregularidades.

Faz sentido? No lixão corporativista brasileiro, faz, sim! A agricultura familiar, no Brasil, foi, digamos assim, privatizada pelo MST e seus satélites. O movimento deve ter bons motivos para não querer que a investigação se aprofunde. Leia a íntegra da nota. Volto em seguida.
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Carta Aberta ao Governo e à Sociedade Brasileira sobre o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)

O Brasil tem realizado, nos últimos anos, avanços significativos na promoção da segurança alimentar e nutricional (SAN) e na realização do direito humano à alimentação, com a superação da situação de pobreza e miséria de milhões de famílias e o fortalecimento da agricultura familiar.

O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) tem sido fundamental para a concretização destes avanços. O programa, que envolve vários ministérios, visa garantir a oferta de alimentos da agricultura familiar para grupos sociais em situação de insegurança alimentar, fortalecendo a agricultura familiar, povos e comunidades tradicionais, e garantindo o acesso a alimentos de qualidade para as pessoas mais pobres.

Graças ao seu sucesso no Brasil, comprovado por muitos estudos independentes e por muitos documentos de organizações beneficiárias, o PAA é reconhecido internacionalmente, e é referência para diversos programas similares em outros países, da América Latina e da África.

Atualmente o programa adquire alimentos de mais de 185 mil agricultores familiares, beneficiando 19.681 entidades recebedoras dos alimentos, com a distribuição de 529 mil toneladas de alimentos por ano. O PAA já beneficiou, ao longo dos seus 10 anos, 2.352 municípios em todos os estados do Brasil.

A Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), através da Diretoria de Política Agrícola e Informações, dirigida por Silvio Porto, tem cumprido papel determinante na efetivação do programa.

Recentemente a Polícia Federal deflagrou a operação denominada de “agrofantasma”, que investiga supostas irregularidades e desvios de recursos no programa. Tal operação chamou a atenção pelo aparato policial utilizado e pela repercussão desproporcional do fato nos meios de comunicação.

Tal operação resultou na detenção de 10 agricultores e do funcionário da Conab no Paraná, Valmor Bordin, bem como no indiciamento policial do Diretor de Política Agrícola e Informações da Conab, Silvio Porto.

Os movimentos sociais e organizações da sociedade civil aqui representados repudiam os procedimentos utilizados, bem como a forma distorcida e pouco clara que as informações sobre a operação foram divulgadas por grande parte dos meios de comunicação. Vale destacar que mesmo o processo correndo em sigilo, alguns meios de comunicação contavam com informações privilegiadas no dia da realização da operação policial.

Os procedimentos da operação policial e sua divulgação contribuem para criminalizar as organizações da agricultura familiar e deslocam a atenção da sociedade da necessária apuração de irregularidades na execução do programa para um tratamento meramente policial de um programa fundamental para a realização do direito humano à alimentação. É importante salientar que estes mesmos canais de comunicação divulgam muito pouco ou quase nada os resultados positivos do programa em todas as regiões do Brasil.

O PAA é implementado há 10 anos, ao longo dos quais foram criados e aprimorados mecanismos de gestão e controle social do programa. Sua execução é acompanhada por centenas de conselhos municipais e estaduais de segurança alimentar e nutricional, assistência social e desenvolvimento rural.

A busca pela transparência e pela responsabilidade no trato do recurso público tem sido permanente nos espaços de gestão e acompanhamento do programa, seja no seu Grupo Gestor, Comitê Consultivo, ou no Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea).

Este aprimoramento tem se orientado pela transparência e pela busca da adequação de seus procedimentos à realidade da agricultura familiar e povos e comunidades tradicionais, segmentos da população que, embora responsáveis pela maior parte dos alimentos consumidos pela população brasileira, foram historicamente excluídos das políticas agrícolas.

Defendemos a apuração de toda e qualquer irregularidade, da mesma forma que defendemos o amplo direito à defesa das pessoas que se encontram detidas e indiciadas. Manifestamos nosso repúdio à forma como a ação policial foi realizada, efetivando detenções de agricultores e funcionários da Conab que vinham colaborando com as investigações.

Os movimentos sociais e as organizações aqui representadas reafirmam a relevância do Programa de Aquisição de Alimentos e exigem sua continuidade e ampliação, nos marcos que vem sendo discutidos em suas instâncias de gestão e controle social.

Reafirmamos a importância da Conab como órgão executor do PAA e o nosso reconhecimento e plena confiança no seu Diretor de Política Agrícola e Informações, Silvio Porto, gestor público reconhecido pela sua ética e retidão no exercício da função pública e dotado de uma história de vida pública na área do abastecimento e segurança alimentar e nutricional que lhe confere idoneidade e capacidade técnica e gerencial para a implementação e gestão do PAA. Repudiamos as tentativas de “linchamento” político dos gestores públicos da Conab e de lideranças de organizações beneficiárias.

Assinam:

AARJ – Articulação de Agroecologia do Rio de Janeiro

ABRA – Associação Brasileira de Reforma Agrária

ACTIONAID Brasil

ANA – Articulação Nacional de Agroecologia

ANA – Amazônia

ANC – Associação de Agricultura Natural de Campinas e Região

AOPA – Associação para o Desenvolvimento da Agroecologia

APTA – Associação de Programas em Tecnologias Alternativas

ASA – Articulação Semiárido Brasileiro

AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia

ASSOCIAÇÃO AGROECOLÓGICA TIJUPÁ

CÁRITAS Brasileira

CAA – Centro de Agricultura Alternativa do Norte de MG

CENTRO ECOLÓGICO

CONAQ – Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais

Quilombolas (Conaq)

CONTAG – Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadores na Agricultura

CNS – Conselho Nacional das Populações Extrativistas

CPT – Comissão Pastoral da Terra

ECONATIVA – Cooperativa Regional de Produtores Ecologistas do Litoral Norte

do RS e Sul de SC

FASE – Federação de Órgãos para a Assistência Social e Educacional

FBSSAN – Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional

FEAB – Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

FESANS-RS – Fórum Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável do Rio Grande do Sul

FETRAF – Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar

Fórum de Segurança Alimentar e Nutricional do Paraná

FOSAN-ES – Fórum de Segurança Alimentar e Nutricional do Espírito Santo

GESAN – Grupo de Estudos em Segurança Alimentar e Nutricional

IBASE – Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas

MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens

MCP – Movimento Camponês Popular

MMC – Movimento de Mulheres Camponesas

MPA – Movimento dos Pequenos Agricultores

MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

PESACRE – Grupo de Pesquisa e Extensão em Sistemas Agroflorestais do Acre

Rede de Mulheres Negras pela Segurança Alimentar e Nutricional

REDE ECOVIDA DE AGROECOLOGIA

SASOP – Serviço de Assessoria às Organizações Populares Rurais

UNICAFES – União Nacional de Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária

VIA CAMPESINA

Retomo
É um texto asqueroso. Se leram, vocês perceberam, claro!, que “os meios de comunicação” são tratados como vilões. Por quê? Ora, porque cumpriram a sua obrigação e divulgaram a notícia. Quando à operação policial, o MST e signatários não dizem o que há de errado com ela. Parece que o seu descontentamento é um só: investigar crimes cometidos pelos companheiros corresponde a “criminalizar os movimentos sociais”. Os condenados do mensalão, diga-se, também afirmam que a apuração daquelas irregularidades é uma tentativa de “criminalizar o PT”.

Agora está tudo entendido. Os “companheiros” são sempre inocentes, mesmo quando são culpados. Seus adversários são sempre culpados, mesmo quando são inocentes. Há muito tempo não lia um troço tão asqueroso.

O MST e seus satélites estão com medo de quê?

Por Reinaldo Azevedo

 

O mau espírito das ruas chegou à Justiça. Ou: Segundo um juiz, o que se vê abaixo é “manifestação”

O mau espírito das ruas chegou aos tribunais. Como vocês leram aqui, a Justiça de São Paulo negou pedido da Reitoria da USP de reintegração de posse e marcou uma “audiência de conciliação” para a próxima terça-feira, dia 8. Segundo o juiz Marcos Pimentel Tamassia, da 12ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, não se poderia efetuar uma reintegração convencional porque a ação dos invasores se assemelha a um “ato de manifestação”. Ah, bom, agora entendi tudo!

Vamos ver alguns “atos” que o doutor considera “semelhantes a manifestação”. Abaixo, os invasores quebram a porta da Reitoria com uma marreta, em fato de Danilo Verpa, da Folhapress.

Nas duas imagens seguintes, de Leonardo Neiva, do G1, primeiro eles tentam arrombar a porta do Conselho Universitário com uma placa arrancada do estacionamento, que indicava a vaga de deficientes. Como não conseguiram, recorreram, então, a um pé-de-cabra e, de novo, à marreta.

Fico cá a pensar: o que será que os extremistas de esquerda da USP precisam fazer para que o doutor Tamassia considere tratar-se de depredação do patrimônio público, por exemplo? Ainda que essa gente não tivesse recorrido à violência, cabe a pergunta: é lícito que uma minoria proíba a administração da universidade de exercer suas funções?

“Audiência de conciliação”, doutor? Conciliar quem com quem? Quê com o quê? Quem recorre a marretas e pés-de-cabra, meritíssimo, espera que o outro lado apresente que tipo de argumento? Qualquer concessão que a universidade pudesse fazer — ou venha a fazer, sei lá… — significaria o endosso a um método, a uma forma de luta, a um jeito de fazer política estudantil.

Não é de hoje que grupelhos extremistas agem assim dentro da USP e das universidades públicas — nas privadas, a PUC costuma assistir a atos parecidos. Nesse sentido, não se pode dizer que esses brucutus estejam se inspirando nas jornadas de junho. Já a Justiça… Pergunto: quando um grupo recorre à violência para ocupar uma área pública ou privada, impondo-se pela força, é papel da Justiça proceder a uma espécie de exame de mérito dos motivos da mobilização para só então decidir se devolve ao agravado os direitos que lhe foram surrupiados? Acreditem: não se condescende com um comportamento como esse em lugar nenhum do mundo.

Não por acaso, como já escrevi (ver post), no mesmo dia em que a Justiça negou a liminar, vândalos repetiram a operação na Unicamp para protestar contra a “presença da PM no campus”. No dia 21 de setembro, um aluno foi linchado e morto por uma gangue de punks nas instalações da universidade. Mas os extremistas de esquerda não querem a PM lá. Privatizaram as universidades públicas; acreditam que podem impor a sua vontade ao conjunto da comunidade universitária.

Vê-se agora que não estão sozinhos nessa crença. Também a Justiça começa a condescender com os motivos dos vândalos e dos violentos. É possível até que o governo de São Paulo tenha erguido as mãos para o Céu. Reintegrações de posse não costumam ser coisas muito suaves. A imprensa se esbalda com as fotos dos policiais “reprimindo” esses poetas. Na USP, quem comanda a bagunça é o PSOL — o partido de doces de coco como Marcelo Freixo, Jean Wyllys, Randolfe Rodrigues, Chico Alencar, todos eles tratados quase como ídolos por certos setores da imprensa. Ah, sim: também é a legenda de Janira Rocha, aquela senhora que admitiu ter usado dinheiro de um sindicato na construção do partido e na disputa eleitoral… Uma verdadeira constelação de éticos.

“O que você tem contra a conciliação? É um recurso de que dispõe a Justiça!” Não tenho nada. Desde que seja, de fato, matéria de conciliação. Quem, num regime democrático, regido pelo direito, recorre a marretas e pés-de-cabra para argumentar, impondo-se pela violência, não precisa de conciliação, mas de Polícia. Pergunto ao juiz: em que outras circunstâncias o meritíssimo acha descabida uma reintegração de posse? Diga-me cá, doutor: se um grupo de paulistanos invadir a sala do prefeito Fernando Haddad com uma pauta de reivindicações e se lhe for dado decidir sobre uma liminar de reintegração de posse, Vossa Excelência faz o quê? Marca uma audiência de conciliação entre o prefeito e os invasores?

Encerro
É claro que os vândalos que ocuparam a USP estão empenhados em produzir imagens para a campanha eleitoral. Nesse sentido, o despacho do juiz é até positivo. Ocorre que não penso decisões judiciais segundo conveniências políticas. Se a Justiça marca uma audiência de conciliação entre invasores e aqueles que tiveram seus direitos agravados, está dizendo que, entre eles, existe, quando menos, uma equivalência moral. Não dá para aceitar.

Por Reinaldo Azevedo

 

Fascistas invadem de novo a Reitoria da USP de marreta na mão. E um pouco de didatismo com uma diretora do DCE que resolveu privatizar a universidade

Vejam agora esta foto de Danilo Verpa, da Folhapress.

Sabem o PSOL, aquele partido de doces de coco como o deputado federal Jean Wyllys (RJ), o senador Randolfe Rodrigues (AP) e o deputado estadual Marcelo Freixo (RJ), todos eles tornados verdadeiros bibelôs de parte considerável do jornalismo? Então… O partido manda no DCE da USP. E o faz com tal graça e apuro democrático que, em 2011, na iminência de perder a eleição “para a direita”, os valentes deram um golpe, adiaram o pleito e prorrogaram o próprio mandato. Huuummm… Ninguém pode acusá-los de querer democracia, não é? Eles são, afinal de contas, socialistas!

Muito bem! Voltemos à foto. São estudantes — ou que nome tenham, já que não vejo livros ali — da USP quebrando a porta da Reitoria da universidade com uma marreta. Cerca de 400 deles invadiram o prédio nesta terça e prometem manter a ocupação, sem prazo para sair. As paredes internas foram pichadas. São todos amantes do pensamento…

Os invasores, liderados pelo DCE, querem que a eleição do reitor, prevista para o fim do mês, seja direta. Informa a Folha:
“No fim da tarde, a USP divulgou mudanças nas eleições. A escolha caberá a uma Assembleia Universitária, formada pelo Conselho Universitário, por conselhos centrais (das unidades), conselhos dos institutos e museus e outros. O processo também passou de dois turnos para turno único e haverá uma consulta em caráter apenas informativo à comunidade da USP (o que inclui alunos e funcionários). A lista tríplice –um dos pontos de crítica dos alunos– não sofreu alterações. Nesse sistema, os nomes dos três candidatos mais votados passam pelo Conselho Universitário, que os envia ao governador do Estado. Ou seja: cabe ele a escolha do reitor. O atual, João Grandino Rodas, era o segundo na lista de 2008.”

Pois é…

Luísa Davola, estudante de Letras e diretora do DCE, achando que estava tendo uma grande sacada, resolveu falar ao jornal: “A gente escolhe até o presidente da República, por que não podemos escolher o reitor da USP, que é pública?”.

A pergunta é triste porque expressa uma deficiência de formação e informação democráticas cuja cura não é simples nem é rápida. Requer leitura, estudo, reflexão, bibliografia, coisas para as quais os socialistas de hoje não têm tempo, ocupados que estão em ter ideias e invadir prédios…

Vamos ver se consigo ser didático com a moça. Justamente porque a USP é pública, moça, ela não é privada — e isso quer dizer que não pertence aos estudantes, aos professores e aos funcionários. Os “donos” da USP são todos os moradores do estado de São Paulo, que aqui trabalham e recolhem seus impostos.

As democracias delegam ao conjunto dos cidadãos a escolha dos governantes e do Poder Legislativo justamente porque os países, a exemplo das instituições públicas, pertencem a todos e não pertencem a ninguém em particular. Atenção, dona Luísa Davola! O colégio eleitoral do estado de São Paulo tem 31 milhões de eleitores, que escolhem aquele que governa mais de 40 milhões de pessoas. Quando os votantes vão às urnas, estão escolhendo também o homem que vai indicar o reitor das três universidades públicas que lhes pertencem.

É a senhora, dona Luísa, que está tentando usurpar um direito; é a senhora que está tentando cassar de 40 milhões, representados pelos 31 milhões com direito a voto, a competência legal para cuidar dos destinos das instituições universitárias. A USP deve ter perto de 100 mil alunos, 15 mil funcionários e uns 6 mil professores. Esse colégio é inferior ao número total de votos obtidos pelos dois vereadores mais votados da cidade de São Paulo — faço essa lembrança só para lhe dar uma noção de grandeza.

Uma universidade, moça, não é uma corporação, um modelo muito próprio dos regimes fascistas — sim, eu sei que a diferença entre o fascismo e o socialismo é só de inflexão, não de essência. Outra foto de Danilo Verpa, da Folhapress, chamou a minha atenção. Vejam.

“Quem tem medo da democracia”? Não se trata de medo, mas de ódio. Os que recorrem à marreta como argumento certamente a odeiam. Os que querem cassar de 41 milhões um direito em nome dos interesses de uma minoria certamente a odeiam.

Ah, sim: os 400 invasores também decretaram uma “greve geral”. Isto mesmo: 400 decidiram que mais de 120 mil pessoas vão parar. Não vão, é claro! É só a minoria barulhenta se aproveitando do excesso de tolerância da maioria silenciosa. É só a truculência dos maus ocupando o espaço deixado pela omissão dos bons.

Por Reinaldo Azevedo

 

Voto obrigatório – Quando os bons defendem causas ruins, é sinal de que tudo pode ser pior

É lamentável, mas é assim. A Comissão de Constituição e Justiça do Senado rejeitou, por 17 votos a 6, uma PEC de autoria do senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), com voto favorável do relator, Pedro Taques (PDT-MT), que instituía o voto facultativo no Brasil. Como vocês sabem, no Brasil, votar é chamado de um “direito” que o cidadão é obrigado a exercitar. Se não o fizer e não se justificar, ele é severamente punido. O Brasil tem dessas delicadezas. Com alguma frequência, chama-se, por aqui, imposto de “contribuição”, e o “direito” se transforma numa imposição. E mais triste ainda é quando o erro recebe o endosso dos bons.

O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) votou contra. E deu uma justificativa lastimável, informa Gabriel Castro, na VEJA.com: “As democracias avançadas e consolidadas têm uma sociedade civil muito forte”. Como assim? Estaria, então, a sociedade brasileira num processo de formação? Será que o Brasil é, digamos assim, infantil para poder lidar com coisas sérias como… voto facultativo? O senador certamente é capaz de explicação melhor do que essa. Não conheço nenhuma, mas ele pode tentar.

Nos últimos 40 anos, os EUA , por exemplo, foram governados por quatro republicanos — Nixon-Ford (1973-1976); Reagan (1981-1988); Bush pai (1989-1992) e Bush Filho (2001 a 2008). São seis mandatos do partido. Ao todo, 24 anos. Tiveram três democratas (o quarto está em curso): Carter (1977-1980); Bill Clinton (1993-2000) e Barack Obama (2009-2012) — um total de 16 anos. Ao fim de 2016, com o Obama II, serão 20. O quase empate se verifica caso de estenda o levantamento ao século passado. Por lá, o voto é facultativo — como é na Venezuela, onde sucessivos golpes no processo eleitoral têm impedido a alternância no poder. Nicolás Maduro só é presidente porque houve, nesta ordem: a) um golpe legal, b) fraude eleitoral.

Assim, não é o voto obrigatório ou facultativo que faz a qualidade da democracia. Eu até tendo a achar, contra as minhas convicções mais gerais, que o voto facultativo contribui para submeter o processo político a uma torção à esquerda porque as esquerdas são sempre mais organizadas do que os conservadores. Mas e daí? Há, independentemente da questão ideológica, um fator de princípio: direito não é obrigação nem mesmo quando uma eventual imposição contribui para proteger o indivíduo da própria negligência. O uso de cinto de segurança, por exemplo, é uma imposição — ainda que faça bem ao usuário. Mas continua a não ser um direito.

Pedro Simon (PMDB-RS) se saiu com outro argumento de impressionante fragilidade. Segundo ele, em cidades com eleitorado pequeno, poderia haver manipulação e tal. É mesmo, é? Digamos que um coronel local pudesse dar uma grande churrascada para que pessoas deixassem de votar. Isso é diferente de, por exemplo, oferecer transporte gratuito para que votem? Ora… Taques disse a coisa certa: “Ou nós chegamos à conclusão de que o cidadão brasileiro está preparado para fazer opções ou vamos continuar numa atitude paternalista de que o cidadão precisa ser tutelado por aquele que é mais inteligente”.

Lamentável a decisão da CCJ e mais lamentáveis ainda os argumentos dos bons em favor de uma causa ruim.

Por Reinaldo Azevedo

 

Fortuna de Eike encolhe para US$ 70 milhões, mas pode zerar, diz Bloomberg

Na VEJA.com:
A revista norte-americana Bloomberg Businessweek estampou o empresário Eike Batista na capa da edição que chegou às bancas nesta quinta-feira. Em reportagem especial, a publicação conta a ‘incrível’ história de ascensão e queda do ex-bilionário que chegou a ser o oitavo homem mais rico do mundo em 2012, com uma fortuna avaliada em mais de 34 bilhões de dólares. Contudo, segundo a publicação, o patrimônio do empresário não só derreteu, como também pode estar negativo — ou seja, ele pode estar enfrentando uma situação em que suas dívidas superam a fortuna que restou.

Um vídeo que acompanha a reportagem afirma ainda que, apesar de a Bloomberg contabilizar a riqueza de Eike no patamar de 70 milhões de dólares, o editor Matthew Miller, responsável pelo ranking de bilionários criado pela rede americana, afirma que o patrimônio do empresário pode ter evaporado completamente. Segundo Miller, a dinâmica de vender ativos em uma empresa para saldar dívidas de outra, expediente usado por Eike nos últimos meses, pode ter minado todos os seus recursos, ainda que não haja comprovação disso até o momento. Com uma fortuna de cerca de 70 milhões de dólares, o empresário não conseguirá fazer um aporte de 1 bilhão de dólares na OGX nos próximos meses, conforme a empresa exige valendo-se dos termos do acordo de acionistas. “Há grande chances de ele já estar com o patrimônio negativo”, diz Miller.

De acordo com a reportagem, sinais de que as coisas não iam bem poderiam ter sido notados desde 2010, quando o empresário começou a vender fatias de suas empresas a investidores estrangeiros, como a Mubadala, empresa de investimentos do fundo soberano de Abu Dhabi. ABusinessweek ainda afirma que investidores tiraram lições valiosas do colapso das empresas de Eike. Uma delas é a de nunca mais investir em empresas de petróleo que ainda não estão produzindo nada.

“Batista vendeu seus aviões e seu helicóptero, e credores estão brigando pelo que restou de suas empresas. Ele não está mais no ranking de bilionários e se tornou alvo de piadas no Brasil. Uma dela sugere que o papa Francisco planeja retornar ao país logo e visitará os pobres, incluindo Batista”, diz o texto. O empresário protagonizou na terça-feira um calote de cerca de 45 milhões de dólares em juros que deveriam ser pagos a investidores sobre títulos da OGX. Eike tem até o final do mês para pagar os juros antes de ser considerado, oficialmente, caloteiro.

Por Reinaldo Azevedo

 

Sem Marina, o que fariam seus potenciais eleitores? Ou: A decisão negativa e a mística

Até acho, e já escrevi aqui, que, caso Marina Silva não consiga legalizar a tempo seu partido e não participe do pleito, isso pode ser bom para a candidatura de Dilma Rousseff à reeleição, mas imaginar que o Planalto possa estar por trás de uma conspiração para inviabilizar a Rede é um negócio um tanto alucinado. Quem pode garantir com certeza qual seria o efeito de uma não participação da ex-senadora? De resto, ela só fica fora do pleito se quiser.

Como parcela significativa do eleitorado de Marina é de esquerda — ainda que uma esquerda meio, assim, clorofilada e bicicletada —, é claro que há a possibilidade de haver uma migração expressiva para Dilma. Mas não se descarte o crescimento significativo de votos brancos e nulos em sinal de protesto. Afinal, Marina foi a personalidade que mais obteve ganhos com os movimentos de ódio à política que tomaram as ruas.

Mas há também, para Dilma, o risco de se espalhar a versão de que forças nada ocultas tiraram a ex-petista da disputa. Nesse caso, o eventual voto de protesto poderia migrar para a oposição.

Marina, em todo caso, só não disputa se não quiser. Legendas já lhe foram oferecidas, mas ela se nega a trabalhar com a hipótese, e seus conselheiros mais próximos acham que ela tem de recusar essa possibilidade, porque gesto típico da um político tradicional, coisa que ela não seria. Caso o TSE recuse mesmo o registro à Rede e ela não concorra à Presidência agora, isso será ruim para os políticos que se ligaram à causa. Para Marina propriamente, a recusa só aumentaria a mística rumo a 2018.

Por Reinaldo Azevedo

 

Cresce o déficit de vagas de creches em SP. Ou: Haddad, um bom candidato a diretor de teatro amador

A cada dia, a gestão do petista Fernando Haddad à frente da Prefeitura de São Paulo me deixa mais comovido. Desde que assumiu, entre outros feitos, ele mandou o Arco do Futuro para o espaço e decidiu aumentar o IPTU, usando como falso pretexto uma suposta obrigatoriedade legal. Já lhe ofereci a saída, que é um reajuste simbólico de 0,1%. Ele não aceitou, é claro. Mas e as criancinhas? Políticos adoram dizer que cuidam de criancinhas. Vejam este filmeco da campanha eleitoral do petista.

A gente sabe que o PT é um exímio criador de maquetes e realidades virtuais. Haddad já exerceu quase um quarto do seu mandato. O que terá acontecido com as creches no período? Leio nesta quarta, no jornal Agora, alguns números espantosos. Reproduzo:

“A fila da creche em São Paulo ganhou 11.040 crianças em apenas um mês, agosto deste ano. No mesmo período, a prefeitura criou apenas 959 vagas, segundo dados da Secretaria Municipal da Educação. Nesse ritmo, a prefeitura precisaria de 153 meses, ou quase 13 anos, para oferecer educação a todas as crianças do município — isso se ninguém mais entrasse na fila. A quantidade de crianças de zero a 3 anos e 11 meses à espera de vaga passou de 136.181, em julho, para 147.221, em agosto, último dado disponível (aumento de 8,1%). No mesmo período, as matrículas passaram de 211.784 para 212.743 (crescimento de 0,45%).”

Viram só? Como é mesmo? “Existe amor em SP”, né?, como repetiam os propagandistas de sua candidatura. Tanto existe que as criancinhas estão aumentando. O que não existe mesmo é creche. O pior é que a Prefeitura andou eliminando vagas. No dia 3 de abril, informava a Folha:

“A suspensão de contratos entre a prefeitura e o Instituto Rosária Barone, que administra três creches na região central e zona sul da capital, deixaram cerca de 300 crianças sem vagas. As creches Meimei, que atendia 110 crianças, e a Mater Christi, com 104 alunos, encerraram as atividades em 27 de fevereiro de 2013. Já a Pérolas de Maria, com capacidade para atender 96 crianças, fechou as portas anteontem, diz Siumara Martins, coordenadora educacional do instituto. O problema, de acordo com Siumara, começou porque a DRE (Diretoria Regional Ensino), do Ipiranga (zona sul), não aceitou notas fiscais emitidas pelo instituto.”

Não foi o único caso. Muito zeloso com o dinheiro público, numa outra penada, em maio, Haddad conseguiu fechar mais 700 vagas, conforme noticiou o Agora:

“Cerca de 700 crianças ficaram sem creche depois que a Prefeitura de São Paulo encerrou o contrato que mantinha com uma entidade que administrava três unidades nos bairros Cidade Julia, Jardim Cupecê e Americanópolis, todas na região de Cidade Ademar (zona sul). As creches deixaram de funcionar no dia 22 de abril. Com o fechamento das vagas, muitas mães deixaram de trabalhar porque não têm com quem deixar os filhos. É o caso da diarista Rose Maria do Nascimento, 42 anos, que tem uma filha de quatro anos matriculada no CEI (Centro de Educação Infantil) Rita Luiza da Cunha 2, em Americanópolis. ‘A creche fechou de repente. Ninguém da direção avisou para onde as crianças vão’, disse. O espaço atendia 284 crianças, segundo a Secretaria Municipal da Educação.”

Pois é…

Vejam este outro filminho de campanha:

Retomo
Haddad deve se candidatar a diretor de peça de teatro amador.

 Por Reinaldo Azevedo

 

Se você, político, não é petista, uma boa chance de ser vaiado é subir no palanque com Dilma

Os políticos não petistas ainda não perceberam o que é uma rotina. O governo federal arma palanques para inaugurações e solenidades, Dilma comparece, discursa e é aplaudida por uma plateia formada, majoritariamente, de petistas, e tudo fica lindo. Vai o pobre não petista tentar falar, e lá vêm as vaias. É assim desde Luiz Inácio Lula da Silva. Nesta quarta, no Rio Grande do Norte, onde a presidente esteve para a inauguração de três institutos federais de educação, não foi diferente. Dilma foi aplaudida na cidade de Ceará-Mirim, mas a governadora Rosalba Ciarlini, uma “dilmista” do DEM, foi impiedosamente vaiada por uma plateia de estudantes. Não lhe deram um minuto de folga nos sete que durou a sua fala.

Dilma ainda tentou sair em socorro da governadora, informa a Folha: “A gente pode discordar delas [das pessoas], mas a gente tem que deixá-las dizer o que pensam. Vamos respeitar a governadora que está aqui. Isso é feio”. Nessa hora, até ela própria foi vaiada. Mas foi o único momento. No mais, foi bastante aplaudida.

Rosalba, é verdade, amarga índices bastante baixos de popularidade, com uma gestão desaprovada por 83%, segundo uma pesquisa. Mas esse não é e nunca foi o elemento definidor desse tipo de comportamento. Trata-se apenas de mais uma manifestação da conhecida intolerância do petismo.

Dilma, diga-se, ela mesma, fez uma coisa muito feia no Rio Grande do Norte. Mas fica para o post seguinte.

Por Reinaldo Azevedo

 

Dilma volta a demonizar os médicos brasileiros, acusando-os de negligentes. E dá a receita: os brasileiros não precisam nem de hospitais nem de postos de saúde, mas de cubanos que possam apalpá-los

A presidente Dilma Rousseff esteve no Rio Grande do Norte para inaugurar três institutos federais de educação e concedeu duas entrevistas a rádios locais. E aproveitou para demonizar os médicos, categoria que, pelo visto, vai servir de saco de pancada da campanha eleitoral petista. Disse a governanta:
“Uma pessoa me disse: ‘O médico não me toca’. Ela queria que o médico tocasse nela. Ela queria que o médico lhe tocasse, aquilo que a gente, pelo menos eu, meu médico sempre me apalpou, olhou o coração, olhou a garganta.”
A gente perdoa o uso muito particular que Dilma faz da língua portuguesa, quase um idioleto às vezes. O “apalpar”, claro!, está no sentido mais denotativo possível: “tatear, tocar com as mãos”.

As palavras, então, fazem sentido. Quando a presidente afirma que seu médico “olha o coração”, “olha a garganta”, está fazendo uma acusação generalizada de descaso que atinge toda uma categoria profissional. Por um desses milagres de opinião pública de que só o petismo é capaz — em razão da Al Qaeda eletrônica que o partido controla com o intuito de difamar os inimigos da vez —, Dilma está apontando os supostos culpados pela calamidade que vive a saúde no Brasil: os médicos!!!

Pois é… Quando Dilma assumiu o governo, anunciou as suas metas para 2011 As mais vistosas na área de Saúde eram a construção, NAQUELE ANO, de 2.174 Unidades Básicas de Saúde e de 125 UPAs (Unidades de Pronto Atendimento). Só para não deixar passar: as metas de 2011 incluíam ainda 3.288 quadras esportivas em escolas, 1.695 creches (seriam 5 mil até 2014) e 723 postos de policiamento comunitário. Não tente saber o que aconteceu com cada uma dessas promessas. Elas sumiram do mapa. No ano que vem, a presidente as renova, entenderam?

O fato é que a saúde mergulhou no caos — e Dilma, é bom que vocês saibam, não vê a hora de se livrar de Alexandre Padilha, o ministro da pasta. Vai fazer de tudo para tentar elegê-lo governador de São Paulo. E aí os paulistas que se virem. Não que ela saiba direito o que fazer na área. Ocorre que ele também não. O programa “Mais Médicos” é, assim, um golpe marqueteiro para supostamente oferecer atendimento à população em postos caindo aos pedaços, sem infraestrutura, remédios, ataduras, nada. Na noite de ontem, no entanto, no “Profissão Repórter”, da Globo, comandado por Caco Barcellos, ficamos sabendo que os brasileiros pobres recebem os médicos estrangeiros sob aplausos, com solenidade e até festinha. Restou a sugestão de que as vilãs são mesmo as associações médicas, que resistem ao programa.

O governo petista tem algumas marcas na área de saúde, conforme noticiei aqui no dia 22 de agosto. Entre 2002, último ano do governo FHC, e 2005, terceiro ano já do governo Lula, o número de leitos hospitalares havia sofrido uma redução de 5,9%. Era, atenção!, A MAIS BAIXA EM TRINTA ANOS! Números fornecidos pelo PSDB? Não! Por outra sigla: o IBGE. Em 2002, havia 2,7 leitos por mil habitantes. Em 2005, havia caído para 2,4. A OMS recomenda que essa taxa seja de 4,5. “Ah, Reinaldo, de 2005 para cá, já se passaram oito anos; algo deve ter mudado, né?” Sim, mudou muito! O quadro piorou enormemente: a taxa, agora, é de 2,3 — caiu ainda mais. E caiu não só porque aumentou a população, mas porque houve efetiva redução do número de leitos púbicos e privados disponíveis: só entre 2007 e 2012, caíram de 453.724 para 448.954 (4.770 a menos).

No dia seguinte, em outro post, informava que, entre 2005 e 2012, o SUS havia perdido 41.713 leitos — vale dizer: hospitais privados pediram descredenciamento do sistema por causa da tabela indecorosa.

Mas agora tudo será diferente, não é mesmo? Dilma não fez as UPAs prometidas, não fez as UPs prometidas, e, durante o governo do PT, o número total de leitos no país caiu 15%, e o SUS perdeu 41.713.

Tudo besteira! O que os brasileiros precisam é de cubanos que os apalpem.

Por Reinaldo Azevedo

 

Obama vai além da conta e mexe com coisa perigosa

Escrevi ontem um post em que aponto o crescente movimento de demonização da política e da divergência que está em curso nas próprias democracias ocidentais, com especial ênfase na América Latina. Alguns grupos que se apresentam como donos da “boa opinião” e monopolistas da racionalidade pretendem que determinadas posições representem não uma escolha ideológica, com seria a de seus adversários, mas a expressão máxima do humanismo. Logo, para eles, combater os adversários é uma obrigação ética dos que lutam pelo progressismo. Quando, no entanto, seus adversários os combatem, bem, nesse caso, o que se tem é uma agressão à civilização e aos direitos humanos. Nesse mesmo texto, expliquei por que Barack Obama simboliza a contaminação da política americana pelas piores práticas ainda vigentes no Terceiro Mundo (ou, se quiserem, em países com déficit democrático, Brasil incluído).

A despeito daquela casca de civilidade, Obama, como todos os ícones dos politicamente corretos, pode ser notavelmente intolerante — ou incentivar a intolerância. Observem: posso até achar, e acho, que a ala mais dura do Partido Republicano erra ao impor condição tão dura para aprovar a elevação do teto da dívida. Mas daí a demonizar a política, tentar jogar a opinião pública contra o partido e ainda se entregar a digressões sobre o comportamento dos mercados, como fez o presidente americano nesta quarta, vai uma grande diferença.

Leiam o que informa a VEJA.com. Volto em seguida.
Em entrevista à rede de televisão norte-americana CNBC na tarde desta quarta-feira, o presidente dos Estados Unidos Barack Obama afirmou que Wall Street precisa estar “verdadeiramente preocupada” com o que está acontecendo em Washington. “Quando se tem uma situação em que uma facção está disposta a colocar o país em default, é porque estamos com problemas”, disse Obama.

Na entrevista, o presidente disse estar “exasperado” com o Tea Party, a ala conservadora do Partido Republicano, afirmando que a hostilidade desse grupo afeta não somente o funcionamento do governo, mas a saúde da economia. “Estou exasperado com a ideia de que, a não ser que eu diga a 20 milhões de pessoas que elas não poderão ter plano de saúde, eles (os republicanos) não vão colocar fim à paralisação. Isso é irresponsável”, disse o presidente.

Obama também criticou a difícil tarefa de manter a governabilidade num cenário de completo impasse entre os dois partidos. “Se isso virar um hábito, nenhum presidente que vier depois de mim será capaz de governar com eficiência”, afirmou. “Sei que o povo norte-americano, e acredito que as empresas também, estão cansadas dessa governança de crise a crise. Será ainda pior se nos colocarem em default pela primeira vez na história”, disse o presidente, referindo-se à possibilidade de calote de suas obrigações com os juros da dívida, caso o estado fique sem recursos para pagar os investidores de títulos públicos.

Obama também se disse irritado com o fato de os republicanos terem se recusado a retirar demandas que levaram o governo à paralisação. “Estou irritado? Absolutamente irritado”, disse ele, acrescentando que a paralisação foi totalmente desnecessária. Apesar de dizer que não toma decisões baseadas na performance do mercado de ações, o presidente frisou que o atual impasse pode ter grande impacto nas empresas. A afirmação feita pelo presidente em entrevista ao vivo é percebida claramente como uma jogada política para pressionar os republicanos a ceder, por meio da pressão dos mercados.
(…)

Voltei
Obama é presidente dos Estados Unidos da América, não um deputado radical da esquerda democrata, que precisa nivelar a sua retórica com algum representante mais entusiasmado do Tea Party. Aonde pretende chegar assim? Ao evocar a estabilidade dos mercados, mexe com coisa muito perigosa.

É evidente que ele não tem de ficar contente com o que está em curso, mas, na sua posição, precisa é abrir as portas da negociação. Nas democracias em que parlamentares não são comprados e vendidos no mercadão, a exemplo do que se passa no Brasil, o voto é o instrumento de que dispõe o eleito para negociar saídas que são de natureza política. Pode-se acusar, claro, os radicais do Partido Republicano de agir na base do “ou dá ou desse”. Mas convenham: nos embates políticos, só se pode agir dessa maneira quando o outro lado também fala essa linguagem.

O que me incomoda no noticiário, especialmente o brasileiro e, claro!, o da ala democrata da imprensa americana, é a impressão de que Obama é um exímio negociador, eventualmente perturbado por extremistas de direita. Qualquer pessoa com um mínimo de apreço pela história e pela lógica haveria de se perguntar por que, então, a oposição ao presidente caminhou para o extremo. Seria pela habilidade de Obama na negociação? Ora…

Por Reinaldo Azevedo

 

Rio – Levei borrachada da ditadura porque queria democracia; se há gente levando borrachada da democracia, vai ver quer é uma ditadura. Ou: Os black blocs de Caetano em ação

O plano de carreira proposto pela Prefeitura do Rio, se visto com calma e serenidade, sem chicana político-partidária e sem os olhos vesgos dos “socialistas” que comandam o sindicato da categoria, é bom. Ainda que ruim fosse, a manifestação a que se assistiu nesta terça, pela undécima vez, é inaceitável. Não dá! Eu não tenho motivos para pedir desculpas pelo meu passado e, por isso, não preciso condescender, no presente, com pistoleiros ideológicos da ordem legal e institucional, que andam a empregar a seu favor uma imprensa que perdeu a noção da diferença entre o certo e o errado, entre a ordem e a desordem, entre o legal e o ilegal.

Tomei borrachada da ditadura porque queria democracia. Se há gente tomando borrachada da democracia, é muito provável que queira uma ditadura. E, vamos ser claros, é o que quer a miríade de esquerdistas que comanda o Sindicato dos Professores do Rio e que promoveu a baderna desta terça, em parceria com os vândalos do black blocs.

Polícia violenta? Cinco pessoas se feriram nos confrontos — quatro são policiais. Os protestos deixaram um novo rastro de destruição. O sindicato quer impedir o prefeito de administrar a cidade. Tenta impor a sua vontade na marra. Ainda que não goste do plano de carreira e que queira abrir negociação, é evidente que o caminho não é este. Nesta terça, professores e black blocs se misturaram. Estão juntos. Vejam estas duas fotos de Pablo Jabob, da Agência O Globo.

O que se vê nas ruas é fruto da aquiescência de supostos bem-pensantes com a violência. Até agora me lembro daquela apresentadora de TV chamando de “pacífica” uma arruaça sobre o teto do Congresso Nacional, com vândalos segurando tochas nas mãos. O “pacifismo” acabou resultando na depredação do Palácio do Itamaraty. Vejam esta outra foto, de Yasuyoshi Chiba, da AFP.

Trata-se de um black bloc — Caetano diz que os “black blocs fazem parte” (ele não disse do quê) usando a força do argumento. Falta uma Leni Riefenstahl do Leblon para poetizar seu “passo ginástico”, como no Manifesto Futurista de Marinetti, glorificando ainda ”o movimento agressivo, a insônia febril,  o salto mortal, a bofetada, o soco.”

Vejam esta outra imagem, de Christophe Simon (AFP). Ao fundo, um dos poetas de Caetano; no primeiro plano, uma triste figura usa estilingue contra os policiais. Não se enganem: seu alvo é o estado democrático e de direito. Ele pode nem saber disso, mas é. A democracia não tem de ser condescendente com cretinos dessa espécie.

O vandalismo se espalhou noite adentro. Nesta foto de Mariana Sallowicz, da Folhapress, vocês veem uma das lojas saqueadas. Os vândalos abriram um rombo na parede.

É negociação o que quer essa gente? É evidente que não! Ao longo da vida, meus caros — e sei que não é diferente com vocês —, a gente acerta e erra. Sempre tenho um grande receio de ver a história a se fazer debaixo do meu nariz, sem me dar conta da real natureza dos eventos a que assisto. Assim, procuro sempre tomar um imenso cuidado.

Um dos meus acertos, contra o que parecia ser uma soma de evidências e obviedades, foi jamais ter caído de encantos pelas “jornadas de junho”. Achava, como acho, que ela acabaria submetendo o processo político a uma torção à esquerda e por exacerbar a violência e a intolerância política.

E eu estava certo.

A propósito: Caetano não vai dedicar nenhum verso à força vital e à vontade de potência dos black blocs?

Por Reinaldo Azevedo

 

As tolices de Lula: agora ele defende ministro do STF com mandato. Ou: OAB chama para ato em homenagem à Constituição aquele que comandou a rejeição à Carta

Um dos segredos de Lula é não ter medo do ridículo. Como imprensa, sistema político e instituições reagem cada vez com mais mansidão às tolices que diz, ele segue adiante, sem medo, desde sempre, de ser feliz. Ele foi, nesta terça, um dos convidados de uma solenidade feita pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) em homenagem aos 25 anos da Constituição. Faltou à Ordem, é evidente, um mínimo de bom senso. Considerando que se trata da entidade por excelência dos advogados, que devem ter como guia a Carta Magna, eu diria que também a decência saiu arranhada. O PT é o partido que se negou a comparecer ao ato de homologação da Constituição, o que correspondeu, simbolicamente, a um “não” ao documento. Por que uma entidade que simboliza o sumo da defesa da ordem jurídica e constitucional convida para uma solenidade alguém que se recusou a endossar a Constituição? Servidão voluntária? Vício de servir? Tenham paciência!

Depois da solenidade, o ex-presidente, que anda mais assanhado que chinoca em dia festa — para lembrar ditado gaúcho —. resolveu deitar falação sobre o STF. E ousou fazer uma proposta que não ocorreu nem aos generais mais duros da ditadura. Segundo o valente, os ministros do STF deveriam ter mandatos. Leio na Folha : “É preciso que a gente decida a questão do Supremo. Se vai ter mandato ou não, se vai ser 75 anos, se vai ficar como está. Porque, senão, as pessoas ficam 40, 35 anos. Acho que poderíamos consultar a OAB. Pode ter um mandato. É uma coisa que tem que ser discutida”.

Ora, ora, ora. Digam-me cá: em que lugar, em que instância, em que foro se discute se “juiz deve ter mandato”? Se isso existe, está apenas na cabeça do gênio. A propósito: se Dias Toffoli ficar no tribunal até os 70, serão 28 como ministro do Supremo. Chegou lá aos 42 justamente pelas mãos de Lula. O único dado de sua biografia que explicava, mas não justificava, a nomeação, era a sua vinculação com o PT. Tinha sido reprovado num concurso para juiz.

Os nove ministros da Suprema Corte dos EUA permanecem no cargo enquanto tiverem condições de exercer o seu trabalho. Caso não peçam para sair, ficam até a morte. Aprovados pelo Senado, o cargo é vitalício. E, obviamente, não ocorreria a um ex-presidente ou a um líder político sugerir que tivessem “mandatos”. A razão de ser da vitaliciedade de um juiz é justamente impedir que se vergue a conjunturas políticas. Para tanto, claro!, é fundamental que as indicações feitas obedeçam a critérios que guardem intimidade apenas com a Justiça, não com a política. Ridículo no Brasil, isto sim, e cada vez mais, especialmente em face do aumento da expectativa de vida, é a aposentadoria compulsória aos 70 anos. Tanto é assim que ministros aposentados seguem trabalhando em escritórios privados de advocacia, gozando de plena saúde física e mental.

De volta à Constituição
Mas até Lula é, às vezes, mais severo com o seu partido do que a própria imprensa, que costuma lhe ser reverente. Ao comentar o comportamento do PT na Constituinte, afirmou:
“O PT foi o único partido que, no dia da instalação da Constituinte, entregou um projeto de Constituição. Só tínhamos 16 deputados, mas éramos desaforados como se fôssemos 500. Se nossa Constituição fosse aprovada, certamente seria ingovernável, porque éramos muito duros na queda”.

Acerta numa coisa: submetido às vontades, então, do PT, o país seria ingovernável, como ingovernável teria sido se Lula tivesse vencido as eleições presidenciais em 1989, em 1994 ou em 1998. “Duros na queda” uma ova! O nome é outro: se alguém propõe um arcabouço constitucional que torna o país ingovernável, o nome disso é irresponsabilidade.

Lula só encontrou um país “governável” porque FHC fez reformas que o PT, obviamente não faria, contra a quais lutou bravamente, sabotando — cabe, sim, a palavra — todos os esforços para tirar o país de um atraso crônico. Dessa resistência, fez, diga-se, a sua plataforma, em muitos aspectos ignorada depois que chegou ao poder. Apontem uma só mudança estrutural importante implementada pelo petismo que concorre para a tal “governabilidade”. O que se reformou no governo FHC reformado foi; o que não se conseguiu fazer ficou para a calendas.

Quem sabe Lula faça um novo mea-culpa daqui a 25 anos…

Por Reinaldo Azevedo

 

Subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil leva pau em prova para mestrado na USP. Acaba de nascer um candidato ao STF por “notório saber petista”

Já deveria ter comentado aqui, mas me escapou. No Painel de hoje da Folha, informa Vera Magalhães:
Dependência
O subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Ivo Corrêa, foi reprovado no mestrado em Direito do Estado da USP (Universidade de São Paulo). O auxiliar de Gleisi Hoffmann não obteve nota mínima exigida na prova discursiva para ingressar no curso em 2014.

Comento
Que coisa, hein? Tudo bem! De reprovação em reprovação, ele ainda conseguirá ser ministro do Supremo Tribunal Federal. Afinal, em certos casos, por ali, o notório saber jurídico pode ser substituído pelo “notório saber petista”, não é mesmo?

Por Reinaldo Azevedo

 

Lobão põe o debate no eixo e canta para Capilé e sua turma: “Eu não vou deixar”

Na VEJA.com:
Para marcar a sua diferença com o coletivo Fora do Eixo (FdE), o músico Lobão lançou nesta terça-feira a canção Eu Não Vou Deixar, no site que leva o nome da música — eunaovoudeixar.com.br. A composição surgiu após as controvérsias envolvendo o líder do coletivo cultural, Pablo Capilé, em agosto, quando a cineasta Beatriz Seigner e outros artistas acusaram a organização de estelionato, retenção de cachê e outros crimes.

“Logo que surgiram as denúncias, eu já estava indignado, sabia como o coletivo agia e que os artistas não recebiam pagamento. Fui ao Facebook do Capilé e havia um post dele desafiando qualquer músico e produtor cultural interessado a debater com ele. Eu embarquei na ideia”, diz Lobão, que programou um hangout ao vivo na internet e convidou Capilé. Ele aceitou prontamente, mas no dia seguinte desmarcou. “Fui procurá-lo novamente no Facebook e ele não me respondeu. Comecei a soltar algumas indiretas nas redes sociais. Disse que faria uma camisa escrita: ‘Cadê o Capilé?’.”

Após as mensagens, Capilé respondeu e disse a Lobão que assim que estivesse disponível agendaria uma nova data. “Depois disso, ele desapareceu”, disse Lobão, que faria o hangout no mesmo dia do Festival Agreste in Rock, em Caruaru, Pernambuco. “Foi então que pensei em fazer a música para tocar no festival”, conta o músico, que escreveu a canção em 15 minutos.

Em um trecho da letra, Lobão, que toca todos os instrumentos da música, canta: “Mané querendo mudar o mundo/ engenheiro social/ tungando a grana de artista/ inventando edital/ direito autoral ele também não quer,/ mas eu não vou deixar.”

“Quis gravar todos os instrumentos como um argumento contra os coletivos culturais, que formam pessoas fracas. Fiz tudo nessa música para provar que um indivíduo bem formado é capaz de fazer qualquer coisa”, explica Lobão. “O conceito de toda a música é isso, que o individuo é forte, o autor é indissociável. O autor sempre será a célula inicial da criação. Não se pode desvalorizar o trabalho do artista. Nem abrir mão do direito autoral que é o seu ganha-pão.”

Segundo o músico, a canção é um “grito de guerra” contra o coletivo, base da Mídia Ninja. “O Fora do Eixo monopolizou toda a rede de música independente. Se você não reza na cartilha deles, você não existe. Isso prejudica os novos artistas. É uma situação muito grave. Meu desejo é que essa instituição seja desmantelada.”

 

Por Reinaldo Azevedo

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Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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