Mantega, o místico das esferas siderais. Ou: Cadê a Mãe Dinah?

Publicado em 04/11/2013 14:39 e atualizado em 19/02/2014 14:20
por Reinaldo Azevedo, de veja.com.br

Mantega, o místico das esferas siderais. Ou: Cadê a Mãe Dinah?

Consta que Eike Batista — por pouco o Brasil não tem o maior rio do mundo e o maior bilionário do mundo, além da maior pororoca — apela a pessoas que têm contatos com seres elementais para ajudá-lo na condução dos negócios. Quem há de negar que deu certo? Um dos seres do outro mundo que o auxiliaram bastante foi o BNDES, por exemplo… Mas sigo. Na Folha, Valdo Cruz e Natuza Neri informam que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem comentado com interlocutores que o Brasil está vivendo “o inferno astral” na área fiscal.

Entendi tudo direitinho. Eu achava que haviam feito escolhas erradas e temerárias na área fiscal, mas, agora, estou mais tranquilo. O governo é bom. Ocorre que nada pode fazer contra forças que estão acima da sua alçada.

Mais de uma vez — consultem o arquivo — sugeri que o Brasil trocasse Mantega por Mãe Dinah. Nunca acataram a minha sugestão. Deve-se ao excelente Sandro Vaia a melhor síntese sobre as previsões de Guido Mantega para o crescimento, por exemplo: atua como institutos de pesquisa, com margem de erro de dois pontos. No caso dele, a realidade se encarrega sempre de ficar na banda inferior: o país cresce pelo menos dois pontos percentuais a menos do que ele antevê. Já a inflação fica sempre dois pontos e pouco acima do centro da meta.

Pois é… O cristianismo, especialmente o catolicismo, a gente sabe, anda em baixa no Ocidente. As pessoas costumam preferir orientalismos e perspectivas siderais que desafiam a astronomia. Com o tempo, os cristãos foram se tornando racionais demais para dar conta da complexidade do mundo.

Minha proposta sobre Mãe Dinah continua de pé. Místicos costumam fazer previsões mais ou menos pessimistas, passando ao consulente uma dieta comportamental para mudar seu destino. No caso do governo, por exemplo, poder-se-ia sugerir que Dilma e Mantega carregassem um ramo de arruda atrás da orelha e fossem mais responsáveis com os gastos. A arruda funciona.  “Podiscrê”, como se dizia antigamente.

Por Reinaldo Azevedo

 

Aprovação do governo Dilma ainda patina. Ou: números discrepantes

Veio a público nesta quinta uma nova pesquisa, encomendada pela CNT (Confederação Nacional dos Transportes), feita pelo instituto MDA. O índice de aprovação do governo Dilma, por mais que o PT queira comemorar, não é grande coisa: 8% o consideram ótimo; 31% dizem ser bom, 37,7% avaliam que é apenas regular, e 22,7%, que é péssimo. Vejam bem: há o “Mais Médicos”, o leilão do pré-sal, a onipresença da presidente na televisão… Lula também voltou a falar pelos cotovelos. Mas Dilma parece empacada nesse patamar. Não é exatamente confortável.

O instituto testou também cenários eleitorais, sem Serra. Naquele considerado mais provável, Dilma vence no primeiro turno, com 43,5% dos votos. O tucano Aécio Neves obtém 19,3%, e Eduardo Campos (PSDB), 9,5%. No dia 12 do mês passado, os números do Datafolha para esse mesmo trio, eram estes, respectivamente: 42%, 21% e 15%. No Ibope divulgado no dia 24 passado, 41%, 14% e 10%. Se a candidata for Marina, o MDA aponta estes números: Dilma: 40,6%; Marina: 22,6%; Aécio: 16,5%. No Datafolha, na mesma sequência: 39%, 29% e 17%. No Ibope: 39%, 21% e 13%.

Na pesquisa CNT-MDA, se Dilma disputasse o segundo turno com Marina, venceria por 45,3% a 29,1%; contra Aécio, por 46,6% a 24,2%; contra Campos, por 49,2% a 17,5%. Eis estas mesmas disputas no Datafolha: 47% a 41%; 54% a 31%; 54% a 28%. Agora no Ibope: 42% a 29%; 47% a 19%; 45% a 18%.

Os números que dizem respeito a Dilma apresentam certa compatibilidade entre os institutos. No caso dos demais candidatos, as disparidades são gigantescas. O que há de comum em todos eles é o fato de Marina aparecer com o dobro (ou mais) dos votos de Eduardo Campos.  Se a realidade estiver mais próxima dos números do Datafolha de há quase um mês, Dilma tem com o que se preocupar: ficou apenas seis pontos à frente de Marina no segundo turno. No Ibope, no entanto, essa diferença é de 13 pontos; no MDA, de 16,2.

Por Reinaldo Azevedo

 

Royal decide fechar instituto. Em “Animal Farm”, porcos viram bípedes; na fazendola brasileira, homens viram quadrúpedes

Este iluminista venceu. Vejam a luz ao fundo; é o carro de uma emissora de TV em chamas em frente ao Instituto Royal. Foto  Alex Falcão/Futura Press

Este iluminista venceu. Vejam a luz ao fundo; é uma viatura da PM, em chamas, em frente ao Instituto Royal. Foto Alex Falcão/Futura Press

Que bom!

Ah, como é mesmo o nome dela? Luísa Mell (ainda não voltou para a TV?) venceu. O Bruno Gagliasso também. Nunca mais animaizinhos serão “torturados” no Instituto Royal. O laboratório decidiu fechar a sua unidade de São Roque, no interior de São Paulo. O Brasil está de parabéns. O deputado estadual Fernando Capez (PSDB-SP) pode bater no peito cheio de orgulho. O deputado federal Ricardo Tripoli (PSDB-SP), que “adotou” dois cães que pertenciam ao instituto, pode se orgulhar de sua obra.

A empresa já havia anunciado que pretendia retomar as atividades. Ocorre que a Prefeitura de São Roque, que já havia inspecionado o local sem encontrar nenhuma irregularidade, suspendeu a licença por 60 dias. A empresa alega que não tem condições de se recuperar do baque. A sua unidade do Rio Grande do Sul, que não realiza testes com animais, continua a funcionar normalmente.

Que bom! Agora estamos todos pacificados. No Jornal Nacional e no Fantástico, aprendemos que essa questão tem dois lados, “lado” e “outro lado”. Uns são contra testes com animais; outros, a favor. Decretado esse empate de “achares”, vence quem tem o argumento mais forte, não é? Como se trata de ciência, é evidente que o argumento mais forte é daquele que consegue ser mais ameaçador. Em matéria de ciência, deve prevalecer a força bruta, a truculência.

No comunicado em que anuncia o encerramento da atividade, o instituto diz que era o único a realizar testes pré-clínicos para desenvolver medicamentos para o tratamento de doenças como câncer, diabetes, hipertensão e epilepsia. “A partir de agora, qualquer empresa interessada na realização de testes para registro de medicamento será obrigada a realizar suas pesquisas fora do país, até que outro laboratório seja credenciado pelo Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal para essa atividade”, afirma a nota.

A menos que a Luísa Mell se apresente. A menos que Gagliasso se apresente. A menos que Capez se apresente. A menos que Tripoli se apresente. Mas nem assim adiantaria. Protocolos internacionais, próprios do mundo civilizado, obrigam que testes sejam feitos antes em animais…

Eis aí mais uma legítima conquista do chamado “espírito das ruas”. Afinal, não é assim? Nos dias que correm, a imprensa tem de ir aonde o “povo” está, certo? Se alguém cismar que a Lei da Gravidade é reacionária, é o caso de lhes dar voz; se alguém provar que a aritmética tem sido, historicamente, um instrumento usado pelas elites contra os justos, aboliremos esse instrumento da reação.

O próximo passo, agora, creio eu, é anunciar o fim do uso de porcos em aulas de traqueostomia. Médicos que fossem obrigados a realizar tal procedimento — um trauma mesmo para os mais experimentados — o fariam pela primeira vez em humanos.

Em “Animal Farm”, de Orwell, os porcos, que comandam a revolução, aprendem a andar sobre duas patas. No Brasil, vai se dar o contrário: seremos obrigados a andar de quatro. Aliás, foi essa a tentação confessa de Voltaire, revelada em carta ao próprio autor, quando leu o “Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens”, de Rousseau.

Voltaire e seu imenso nariz não sabiam o que estavam por vir. Este cão (segundo Miriam Leitão) se desculpa pela falta de jeito, é claro. Nessa toada, a “Revolução dos Bichos”, no Brasil, ainda vai virar uma fábula iluminista.

Por Reinaldo Azevedo

 

Justiça determina que tenha fim ação criminosa na USP; invasores farão “assembleia”. Ou: Para chocar Miriam Leitão

Leio na VEJA.com que o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) notificou na manhã desta quarta os estudantes que invadiram a reitoria da Universidade de São Paulo (USP) para que deixem o prédio imediatamente, sob pena de uso de força policial para realizar a desocupação do local. A decisão a favor da reintegração de posse foi proferida na terça-feira pelo desembargador Xavier de Aquino, do 1º Grupo de Direito Público do TJ-SP. Pois é…

A Reitoria da USP foi invadida no dia 1º de outubro por uma súcia, sob o comando do DCE, que é aparelhado pelo PSOL e pelo PSTU.

Miriam Leitão, a colunista das Organizações Globo que decidiu dar pitaco na Folha de S.Paulo, me chamou de cachorro e afirmou que a culpa é minha.  Segundo ela, eu provoco essa reação. Eu sou o culpado por ela ser malcriada. Por que seria? “Veja aí, você chama estudantes de súcia.” Não chamo, não! Súcia é quem faz isto, ó, como se vê em foto de Danilo Verpa, da Folhapress.

USP reitoria 1 - Marreta

Súcia esconde da democracia o seu rosto.
Súcia invade prédio público (e privado) com marreta.
Súcia não conversa. Súcia quebra.

Tirem-se as máscaras desses caras, e talvez se descubra que alguns deles nem estudantes são.

A USP já havia solicitado à Justiça a retomada do local no mês passado. No entanto, no dia 15 de outubro, uma decisão judicial deu prazo de 60 dias para que os manifestantes desocupassem o prédio. A universidade entrou com novo recurso e, desta vez, obteve decisão favorável. Aquino argumenta que o caso é “extremamente grave” e que “alunos e pseudoalunos” vêm atrapalhando o bom andamento da universidade.

Um pouco de luz nas trevas.
Antes dessa decisão, houve uma outra, do juiz Adriano Marcos Laroca, da 12ª Vara da Fazenda Pública. Ao negar a liminar de reintegração de posse, afirmou:

“A ocupação de bem público (no caso de uso especial, poderia ser de uso comum, por exemplo, uma praça ou rua), como forma de luta democrática, para deixar de ter legitimidade, precisa causar mais ônus do que benefícios à universidade e, em última instancia, à sociedade. Outrossim, frise-se que nenhuma luta social que não cause qualquer transtorno, alteração da normalidade, não tem força de pressão e, portanto, sequer poderia se caracterizar como tal.”

Laroca ainda aproveitou para dar um pito na vítima — no caso, a Reitoria. Ele é membro da Associação Juízes para a Democracia, a mesma a que pertence o seu colega de toga João Damasceno, aquele que participa de um vídeo de globais convocando uma passeata no Rio. Naquele vídeo, uma senhorita justifica as depredações feitas pelos black blocs.

Os invasores da reitoria vão fazer uma assembleia logo mais, a partir das 18h, para decidir, ai, ai, se acatam ou não a decisão da Justiça. Atenção! A comunidade uspiana, é evidente, não apoia a invasão. A dita “greve” da USP atinge uns dois ou três cursos — e, ainda assim, é imposta pela truculência dos militantes de partidos de extrema esquerda.

A chance de que decidam “resistir” é grande. O PSOL e o PSTU querem provar que o estado brasileiro é tirânico e reprime os paladinos da democracia e da liberdade como eles… Caso haja uma retirada forçada de invasores, sempre há a chance de a imprensa aparecer por lá e se solidarizar com os criminosos; sempre há a chance de um repórter se referir aos brucutus como “os meninos”…

“Criminosos”??? É, gente! Invadir prédio público é crime. Quem pratica crime é criminoso. Simples assim.

Por Reinaldo Azevedo

 

Tatto diz que “não lembrava” de sociedade da sua mulher com auditor investigado

Por Felipe Frazão, na VEJA,com:
O secretário municipal de Transportes de São Paulo, Jilmar Tatto (PT), disse nesta quarta-feira que a empresa de sua mulher, Adli Tatto, e do auditor fiscal Moacir Fernando Reis – investigado pela Controladoria-Geral do Município – nunca movimentou dinheiro. O site de VEJA revelou nesta terça-feira que a mulher de Tatto é sócia de Reis no estacionamento Samepark – uma microempresa com sede registrada na residência do petista na Vila Mariana, na Zona Sul da capital paulista. “A empresa foi aberta em 2010 e ficou escanteada, parada, ninguém deu bola. Nem lembrava da existência dessa empresa”, disse Tatto em entrevista coletiva nesta quarta. “Essa empresa não vingou, faliu antes de começar e não teve movimentação [financeira] nenhuma.”

Reis namora a irmã de Adli. “Volta e meia a gente se encontra. Mas o contato é social pelo fato de ser namorado da minha cunhada”, disse o secretário. Tatto afirmou que “ficou surpreso” e “não sabia que o servidor estava sendo investigado”. “Não sei dizer se tem algo contra ele, porque não tenho informações sobre a investigação. Mas, do ponto de vista do cotidiano, do dia a dia, não tem qualquer coisa externa que aparente desvio. Mas aí deixa a investigação verificar, tá certo?”, disse Tatto. Questionado se confiava no auditor, Tatto respondeu: “Veja, eu confio em mim”.

Segundo dados da Junta Comercial de São Paulo, além de Adli e Reis, são sócios no negócios Jamile Osman e Salah Ali Osman, cunhados do secretário municipal. Salah Osman também é doador de campanha do parlamentar e do irmão dele, o vereador Arselino Tatto (PT). O auditor prestou depoimento no âmbito de uma sindicância que apura a evolução patrimonial de servidores da Secretaria Municipal de Finanças, onde é diretor do Departamento de Fiscalização. Quatro servidores já foram presos por fraude e cobrança de propina de construtoras – um deles liberado após um acordo de delação premiada. O esquema pode ter desviado até 500 milhões de reais do Tesouro, segundo as investigações.

Haddad
Indagado sobre o possível afastamento cautelar de Reis do cargo de confiança, o prefeito Fernando Haddad (PT) disse que vai “aguardar os desdobramentos” e que ainda não era necessário tirar o servidor do cargo. “O importante é que a Controladoria tem carta branca para tudo e vai punir os fiscais que se envolveram em maracutaia”, disse Haddad. “A reputação das pessoas tem de ser preservada.”

Por Reinaldo Azevedo

 

Justiça aceita denúncia contra seis por quebra de sigilo de tucanos. Crimes: corrupção ativa, violação de sigilo funcional, falsificação de documento, falsidade ideológica e uso de documento falso

Por Matheus Leitão e Severino Motta, na Folha:
A Justiça Federal em Brasília aceitou denúncia contra o jornalista Amaury Ribeiro Jr. e outros cinco réus por quebra do sigilo fiscal de integrantes e familiares de políticos do PSDB. O juiz Marcus Vinicius Reis Bastos, da 12ª Vara do Distrito Federal, tomou a decisão no último dia 30 e transformou os envolvidos em réus no processo que investiga o caso. Em julho deste ano o Ministério Público Federal denunciou à Justiça Ribeiro Jr. e os despachantes Dirceu Garcia e Antonio Carlos Atella, o office-boy Ademir Cabral e a então funcionária do Serpro (serviço de processamento de dados do governo) cedida à Receita Federal, Adeildda dos Santos, pela quebra de sigilo de pessoas ligadas ao ex-governador José Serra (PSDB) em 2009. A Procuradoria pediu ainda a abertura de inquérito para identificar mentores da ação.

Em 2010, quando Serra enfrentou Dilma Rousseff na vitoriosa campanha dela pela Presidência, dados sigilosos do ex-ministro tucano Eduardo Jorge foram encontrados num dossiê em posse da equipe da pré-campanha petista. Segundo investigação da PF, o sigilo de Veronica Serra, filha do ex-governador, também foi quebrado. Após o caso ser revelado pela Folha, tucanos acusaram o comando da campanha de Dilma de encomendar a quebra de sigilo. Em depoimento à Polícia Federal, Amaury Ribeiro acusou o presidente do PT, Rui Falcão, de copiar de seu computador dados de pessoas ligadas a Serra. Falcão sempre negou a acusação.

 Na denúncia apresentada à Justiça Federal em Brasília, o Ministério Público pede autorização para “continuar a apuração do núcleo criminoso de Brasília e as ligações com a comunidade de informações”. A declaração de Imposto de Renda de Eduardo Jorge integrava o dossiê elaborado pelo chamado “grupo de inteligência” da pré-campanha petista. Para a Procuradoria, foram cometidos crimes de corrupção ativa, violação de sigilo funcional, falsificação de documento, falsidade ideológica e uso de documento falso.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

Não peço licença nem peço desculpas! E não vou parar

Escrevi nesta segunda um post em que anunciava, em tom obviamente irônico, que iria parar de escrever e, assim, fazer um bem ao Brasil: “Vou parar de escrever para que os mansos e doces continuem mansos e doces. Não é bom que eles se tornem ferozes porque, afinal de contas, eu tenho um blog hospedado na VEJA e uma coluna na Folha. Vou parar de escrever para não mais açular a paixão sanguinolenta dos cordeiros.”

Vocês podem não acreditar, mas aconteceu: os seres trevosos começaram a comemorar. Por algum tempo, levaram a sério. Realmente acharam que eu fosse me intimidar com o espetáculo de truculência, de intolerância e de baixaria a que se entregaram os sites financiados por gestões petistas e por estatais. Mas não só eles: Miriam Leitão, que é considerada por muitos a principal colunista de economia do país, decidiu usar a sua coluna no Globo para comentar a contratação de um colunista feita por um outro jornal. Deve ser inédito na história. Tento de novo: um dos nomes mais destacados do maior grupo de comunicação do país se achou no direito de criticar uma escolha feita por um veículo de uma outra empresa.

Sem que ela tenha me pedido nada — escrevo o que quero —, apontei aqui em vários textos as muitas vezes em que Miriam foi vítima de ataques boçais, desonestos, promovidos por gente paga para caluniar, difamar, distorcer, injuriar, sem atentar para quaisquer limites do bom senso, do bom gosto, nada… Ainda que eu discordasse dela em muitos aspectos, sempre considerei o óbvio: tem o direito de escrever o que pensa. Não, senhores! Não estou fazendo muxoxos e chororôs, não! Ela não precisaria ter me devolvido na mesma moeda. Não faço trocas. Quem me conhece sabe disso. Respondendo a alguns leitores, informo: não estou minimamente arrependido do que escrevi. Repetidas as circunstâncias, eu a defenderia de novo.

O absurdo, nesse caso, é de outra natureza. Mesmo alvo dos ataques mais indecentes — a exemplo do que também já fizeram comigo, até fotografias suas foram adulteradas para lhe conferir um aspecto monstruoso —, Miriam nunca respondeu. Ela só decidiu fazê-lo agora, e se nota que os seus detratores à esquerda não são os alvos principais de sua fúria. Não! Escreveu aquele artigo com o fito de me atacar. O alvo era eu.

Ao fazê-lo, arrancou elogios dos furiosos que sempre a atacaram — e talvez isso atenda a alguma necessidade sua, que remete à ideologia, sim, mas envereda também para o terreno da psicologia. Miriam foi militante de esquerda — também fui. Tornou-se uma jornalista de sucesso. Entusiasta, por bons motivos, do Plano Real, passou a ser identificada pelo petismo, especialmente a versão petralha — sim, Miriam, petralha — como “tucana”. Dadas as muitas deformações do debate no Brasil, foi transformada numa espécie de ícone da, santo Deus!, “mídia neoliberal”, que nunca existiu. Tudo estupidez. Tudo bobagem. Tudo boçalidade.

Miriam, no entanto, não é “de direita”. A classificação deve incomodá-la. Em relação a alguns temas, dada a geografia ideológica um tanto caótica no Brasil, está à esquerda de muitos petistas. E, claro!, pesa o passado; pesa a memória afetiva; pesam as afinidades pregressas. Ao emprestar o seu peso ao linchamento de Reinado promovido pela subimprensa petista, Miriam Leitão tenta, na verdade, enviar um sinal à esgotosfera financiada. Ela, que nunca reagiu mesmo às maiores ignomínias, lançou-se contra mim com a fúria dos justos. Segundo diz, “rosno” e “ladro”.

Que coisa! Os outros, vá lá, estão, ainda que de maneira suja, ainda que financiados, “trabalhando”. Fazem o que fazem por dinheiro. Alguns dos que me atacam com mais virulência me cobriam de elogios até anteontem. Como sabem que nunca me deixei impressionar pela lisonja fácil — nem a graça de um simples cafezinho lhes dei —, também não me intimidam os ataques os mais grotescos. Mas e Miriam? Em certo sentido, o seu ataque, que é feito de graça — os outros recebem para isso —, é mais brutal. Nesse caso, o que ela não suporta mesmo é a divergência; o que ela não aceita é que possa haver um pensamento com o qual não concorda.

Disse que “rosnei” para ela. É mentira! O link está acima. Eu apenas discordei dela em uns dois ou três assuntos, especialmente Código Florestal e cotas para cor de pele (o termo “raciais” é impróprio; negro e branco não são raças) nas universidades.

Falácias
Miriam Leitão dá curso à falácia grotesca, repetida pelos áulicos a soldo, de que a imprensa estaria adernando à direita. No noticiário, desde sempre, isso é escandalosamente falso. No colunismo, façam vocês mesmos o levantamento: é mais falso ainda. Listem todos os colunistas dos grandes veículos de comunicação — os nomes estão disponíveis nas páginas eletrônicas. Consideradas todas as áreas, devem passar de duas centenas. Vejam ali quantos poderão ser chamados NÃO DE DIREITISTAS, mas, vá lá, de “liberais”. Não vou eu ficar aqui a categorizar pessoas, mas não consigo chegar a dez.

Estamos, isto sim, é diante de um espetáculo de intolerância como há muito tempo não se via. Afinal de contas, o que há de tão errado com as opiniões de Reinaldo Azevedo? Quais delas são incompatíveis com o estado democrático e de direito? Quais delas violam direitos fundamentais do homem? Quais delas agridem os fundamentos da civilidade e da civilização? Por que não fazem o elenco das minhas opiniões inaceitáveis?

Desonestos! Truculentos! Vigaristas! É o que são. Sempre que divirjo de um jornalista, de um ministro do Supremo (a exemplo de Luís Roberto Barroso, no sábado), de algum especialista, reproduzo seu texto ou fala em vermelho, sem omitir nada, e contesto em azul. Ao fazê-lo, exponho-me também. JAMAIS RECORRO AO EXPEDIENTE CANALHA DE EU MESMO SINTETIZAR, A MEU GOSTO, A FALA DO OUTRO. Não me dou essa facilidade. Fiz isso, diga-se, com o artigo de Miriam.

Não preciso esconder ou distorcer o que o outro diz ou pensa para facilitar a minha resposta. Ao me atacar sem dizer o que há de errado no meu pensamento; ao engrossar uma corrente de difamação sem contestar opiniões que eu tenha emitido; ao escolher o caminho do simples achincalhe, DONA MIRIAM LEITÃO SE IGUALA ÀQUELES QUE A DIFAMAM. Então por que eu? Por que comigo? De algum modo, devo ser aquele que a devolve a seu nicho ideológico original, do qual emocionalmente ela ainda não se distanciou.

Já respondi, sim, de maneira inadequada a ataques covardes de que fui vítima. Com o tempo, aprendi que muitos de seus autores buscam notoriedade; querem é pegar uma casquinha na polêmica. Citar meu nome, como é sabido, rende visitas. Agora mesmo, há uma legião de autores de si mesmos, de blogueiros sem leitores, de gente que não deve ser lida nem pelos respectivos cônjuges fazendo o diabo para ter seu nome mencionado aqui. Já cheguei a cair nessa cilada. Não caio mais.

Muitos assistem ao linchamento em silêncio. Outros se divertem: “Vamos ver se esse cara aprende…”. Não aprendo, não! Já lhes falei a respeito aqui. Cabe mencionar mais uma vez.

Há um textinho famoso sobre o nazismo, que merece ser lembrado. Nove entre dez citadores o atribuem a autor indevido: Maiakovski, Bertolt Brecht ou o brasileiro Eduardo Alves da Costa (que escreveu, com efeito, coisa bem parecida):
“Um dia, vieram e levaram meu vizinho, que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho, que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia, vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram. Já não havia mais ninguém para reclamar.”

Seu autor é o teólogo protestante alemão Martin Niemöller (1892-1984). Ele teve uma trajetória curiosa. Chegou a flertar com o nazismo nos primeiros tempos. Quando, vamos dizer, já havia ficado claro quem era Hitler e o que queria, ainda ambicionou incutir-lhe um tanto de sensatez. Até que percebeu do que se tratava e migrou para a oposição aberta. Foi processado em 1938 e enviado para o campo de concentração de Dachau, onde permaneceu até o fim da guerra. Correto estava o Niemöller do texto acima, não o que sonhou com as mãos estendidas para o ditador facinoroso.

Encerro
Não vou parar, não! Vou continuar a escrever o que penso aqui e na Folha enquanto estiver aqui e na Folha. Se um dia não estiver mais, será onde der: na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapé… Eu entrei numa organização clandestina com 15 anos. Era contra o governo. E nunca mais me tornei governista — e isso inclui os oito anos de FHC.

Noto que sou alvo da fúria sanguinolenta dos que, ao contrário de mim, sempre são governo — alguns deles (nesse particular, não é o caso de Miriam) são governistas desde a ditadura militar.

Não me intimida o silêncio dos covardes.

Não me intimida a gritaria dos covardes.

Não peço licença, não peço desculpas e não paro.

Por Reinaldo Azevedo

 

“É bem verdade que Reinaldo Azevedo não matou quatro pessoas, mas pensa cada coisa!!!”

Ai, ai… Vamos lá. Cesare Battisti — sim, o terrorista italiano que recebeu refúgio no Brasil — era o principal palestrante de um evento da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) chamado, PRESTEM ATENÇÃO!, “Quem tem direito ao dizer”, promovido pelo PET Letras, programa nacional gerenciado pelo Ministério da Educação. A reportagem etá na Folha Online. O nome é este mesmo: “Quem tem direito ao dizer”, com a substantivação do verbo — que, para mim, data vênia, costuma ser um índice de picaretagem intelectual. Quase sempre é uma tentativa de enrolar o ouvinte. O professor Fábio Lopes da Silva, curador local do programa, explica por que Battisti. Segundo ele, o objetivo é “dar voz aos malditos, aos proscritos e aos excluídos”. Tá. Quem será o convidado do ano que vem? Marcola? Fernandinho Beira-Mar? Afinal, esses dois são ainda mais “excluídos” do que Battisti.  Não contam, não que eu saiba, com o apoio de certa elite universitária e de chefões do petismo…

“Quem tem direito ao dizer?”, professor Fábio? As quatro pessoas que Battisti matou certamente não têm, certo? Uma outra, que ele aleijou, tem direito a falar, mas teve cassadas outras faculdades. “Ah, não foi ele…” Essa é a opinião de Tarso Genro. Isso é o que ele diz. A Justiça italiana, um país em que vigoram todas as garantias democráticas, sustenta outra coisa. A Corte Europeia de Direitos Humanos não cedeu a seus apelos. Battisti fugiu para o Brasil e, aqui, foi adotado pela elite de esquerda.

Muito bem! Battisti era o convidado. Falaria nesta quarta, mas caiu a ficha. O próprio governo recomendou que ele não comparecesse ao evento, o que lhe foi transmitido por uma de suas babás, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP). O governo só se manifestou porque um grupo de professores de bom senso da UFSC protestou. Um deles foi Sérgio Colle, docente de engenharia mecânica e consultor do Ministério da Ciência e Tecnologia: “O evento é um despropósito, sobretudo uma afronta à instituição universitária brasileira”. Na mosca!

Atenção! Refugiados não podem participar de manifestações políticas. Se não obedecerem a essa determinação, podem até ser expulsos do país. Em carta à universidade, em que anuncia que não comparecerá ao evento, Battisti afirma:
“Repliquei com todos os detalhes que a palestra seria feita na faculdade de letras, que o objetivo era exclusivamente o meu percurso enquanto escritor. Apesar disso me foi fortemente recomendado de não ir a Florianópolis porque as consequências para mim poderiam ser graves”.

Uma ova! Até esse trechinho da carta é político e não deixa de sugerir uma certa intolerância com aqueles que, afrontando o bom senso (e as leis), decidiram lhe conceder refúgio. O tal professor Fábio também deixa claro o aspecto político do convite: “Ele é uma figura tatuada com o emblema da exclusão”, disse à Folha. Como???

Observem, então, que não são as qualidades literárias de Battisti que o levaram a ser convidado. Alguém duvida? A questão é mesmo de natureza política. Um sujeito que matou quatro pessoas em ataques terroristas foi transformado em herói da resistência pelo professor Fábio e por parte considerável das esquerdas brasileiras. Não fossem os protestos de alguns que chamaram a atenção para o despropósito — E PARA A ILEGALIDADE —, esse benfeitor da humanidade estaria lá deitando falação.

A Universidade Federal de Santa Catarina reúne, sim, gente de muito valor. Mas não dá para esquecer que é lá que se abriga, atenção!, um “núcleo bolivariano”, que reúne alunos e… professores. Que eu saiba, nem o Complexo PUCUSP, onde a fauna ideológica prima pelo exotismo, foi tão longe — mas também não estou assegurando nada.

É claro que a turma não se deu por vencida. Battisti não vai, mas falará em seu lugar o seu biógrafo — ooopsss!, o seu hagiógrafo —, Carlos Lungarzo. Fez hagiografia do tipo que Chico Buarque aprova: autorizada.

Battisti sim, eu não!
Esquerdistas da rede estão inconformados. Acham que Battisti está sendo vítima da censura. Parte deles certamente concorda com Miriam Leitão e acha que, no Brasil, quem deveria ser proibido de trabalhar e de falar é esse tal Reinaldo Azevedo. É bem verdade que ele não matou quatro pessoas. Mas pensa cada coisa!!!

Por Reinaldo Azevedo

 

O “rei” Roberto Carlos cai fora do “Procure Saber” e deixa na chuva os “plebeus” Caetano, Chico e outros súditos

Em seu artigo no Globo na semana passada, Caetano Veloso já deixava claro que as coisas haviam se complicado no tal “Procure Saber”. Transcrevo trecho: “E RC [Roberto Carlos] só apareceu agora, quando da mudança de tom. Apanhamos muito da mídia e das redes, ele vem de Rei. É o normal da nossa vida. Chico era o mais próximo da posição dele; eu, o mais distante. De minha parte, apesar de toda a tensão, continuo achando que estamos progredindo. Assunto global quente, o Brasil não pode tratar tolamente.”

Às vezes, até Caetano Veloso pode estar certo, ainda que, no caso, dentro do erro. Roberto Carlos concedeu uma entrevista ao Fantástico em que afirmou ser contrário à licença prévia para as biografias, o que ia de encontro à posição defendida com tanta ênfase pelo Procure Saber, de que Paula Lavigne é comandante e porta-voz. Convenham: ela não deve ter tirado aquilo tudo da cachola. A entrevista do “Rei”, na verdade, era um troço confuso, nem lá nem cá. Indagado se liberaria a biografia que pediu que fosse recolhida, disse um “vamos conversar”. Ou seja: não! Num vídeo ainda mais atrapalhado, ele, Erasmo Carlos e Gilberto Gil engrolam incongruências. Dizem-se contra a censura, mas falam de um certo direito à privacidade que pode, dado o texto, resultar em… censura.

No fim das contas, Roberto Carlos concluiu que a notoriedade que Paula Lavigne acabou dando à causa foi contraproducente. O “rei” conta com um esquadrão de advogados — incluindo o notório Kakay, estrela coruscante do processo do mensalão. Talvez, com efeito, tudo tivesse andado melhor para ele sem debate público. Nesse sentido, já escrevi aqui, Paula prestou um serviço involuntário à causa da liberdade de expressão.

Muito bem! Embora seja o dono da posição mais reacionária, embora seja, vamos dizer, o cérebro que organiza o movimento em favor da censura, Roberto decidiu romper publicamente com o Procure Saber. Seu empresário emitiu uma nota não muito elegante, segundo a qual a, digamos, notoriedade obtida pelo “Procure Saber” é incompatível com a majestade discreta de Roberto Carlos. O texto de Caetano deixa claro que ele se sentiu o boi de piranha na história.

Leiam texto da VEJA.com, a que se segue a nota do empresário de Roberto Carlos.

*
As divisões internas do grupo Procure Saber, evidenciadas no fim de semana passado após críticas feitas por Caetano Veloso à postura de Roberto Carlos no debate das biografias não autorizadas, causaram a primeira baixa na associação de artistas. Por meio de um comunicado de seu empresário, Dody Sirena, Roberto rompeu com os outros membros do Procure Saber na noite desta terça-feira. “A partir de agora, fiquem à vontade com o andamento do Procure Saber sem a presença direta do Roberto”, diz o texto.

O comunicado deixa claro que os advogados contratados por Robert — e que vinham prestando assistência jurídica ao Procure Saber; entre eles Antonio Carlos Almeida, o Kakay — falarão a partir de agora apenas em nome do cantor. No centro do racha do grupo, formado também por Chico Buarque, Gilberto Gil, Djavan, Milton Nascimento e Erasmo Carlos, estão as declarações feitas por representantes do Procure Saber sobre o posicionamento dos artistas.

Segundo interlocutores, Roberto Carlos não gostou de como a empresária Paula Lavigne, presidente da associação, expôs as opiniões do grupo nas últimas semanas. No entendimento do cantor e de seus advogados, a ex-mulher de Caetano Veloso prejudicou o Procure Saber ao iniciar o debate declarando que as biografias só deviam ser comercializadas com autorização do biografado ou de sua família, e mediante compensação financeira, bem como da maneira “truculenta” como ela teria se portado nas discussões.

No final de semana passado, Caetano Veloso criticou Roberto em sua coluna dominical no jornal O Globo. Para o compositor baiano, o cantor só se expôs publicamente após ele, Chico Buarque e Gilberto Gil terem “apanhado muito” ao defenderem a autorização prévia das biografias e o Procure Saber mudar de postura – coisa que o próprio Roberto Carlos anunciou em entrevista ao Fantástico. Ao programa da Globo, ele declarou ser a favor das publicações sem autorização prévia – desde que com “ajustes” e “conversa” entre biógrafo e biografado. “RC só apareceu agora, quando da mudança de tom. Apanhamos muito da mídia e das redes, ele vem de Rei”, escreveu Caetano.

Leia a seguir a íntegra do comunicado em que empresário de Roberto Carlos anuncia o rompimento do cantor com o Procure Saber:
“Caros amigos do Procure Saber,
Este ano ainda não encerrou e vejo quantos movimentos interessantes aconteceram para os artistas brasileiros. Demos um grande passo com o Ecad e trouxemos à tona o tema biografias/privacidade. Falamos sobre direitos e, como administradores/empresários dos maiores nomes da música brasileira, sabemos que no futuro tudo isso será uma grande referência de um movimento coletivo, como outros que estes ícones já participaram. Interessante lembrar que a tropicália e as guitarras andaram em calçadas diferentes, que a imprensa anunciava que a MPB não gostava da Jovem Guarda, e com o tempo todos se uniram no mesmo pensamento.

Caminhamos bastante, divergimos algumas vezes, mas acredito que podemos nos ver como uma seleção de futebol onde os grandes craques se reúnem para defender o país e depois voltam para os seus times. Roberto conversou muito comigo em função dos últimos acontecimentos. Não é bem assim o nosso jeito de trabalhar, somos mais discretos, afinal defendemos também a privacidade no sentido profissional.

Concluímos que neste momento é importante continuar o trabalho que iniciamos há muitos anos sobre biografias, independente de estarmos em uma associação ou grupo. Portanto, a partir de agora, fiquem à vontade com o andamento do Procure Saber sem a presença direta do Roberto. O comitê criado na última reunião na Urca para atender as biografias continuará atuando de forma intensa apenas em nome do Roberto, já que Dr Marco Antonio Campos, Dr Antonio Carlos Almeida/Kakay, Dra Fernanda Gutheil e Dra Ana Paula Barcelos, são profissionais de sua equipe.

Gostaria de sugerir que o Procure Saber nomeie representantes para falar em nome do grupo quanto a liberação das biografias e em defesa da privacidade, principalmente no Congresso Nacional, em razão do pronunciamento coletivo e do comunicado oficial. Sempre que outros assuntos surgirem com tema coletivo, se Roberto entender que a pauta vai de encontro aos seus pensamentos, considerem sua adesão. Como exemplo, a pronta e efetiva participação dele no caso do autoral/Ecad e nos futuros desdobramentos com órgão regulador, como já discutimos em outras ocasiões, bem como as questões trabalhistas e a plataforma digital.

Foi muito importante termos participado deste grupo e desejamos boa sorte para os próximos passos.

Com respeito e admiração por cada um de vocês.”

Dody Sirena
DCSet Promoções”

Por Reinaldo Azevedo

 

Dilma assina projeto para cotas raciais no serviço público: o racialismo avança, violentando a Constituição. Ou: Debates delinquentes

A presidente Dilma Rousseff assinou nesta terça um projeto de lei que reserva 20% das vagas em concursos públicos a “afrodescendentes”, este nome cretino inventado pelo discurso politicamente correto. Nota: entre os afrodescendentes, estão os mestiços, que são, como se sabe, também eurodescendentes. Já entro no mérito. Antes, algumas considerações.

Não há forma mais desonesta de debater do que transformar uma opinião contrária à sua numa caricatura. Ai o bobo grita: “Chamar o sujeito de petralha, por exemplo!”. Não! “Petralha” é um tipo específico, cuja definição está em livro e já em dicionário: é o sujeito “que justifica o roubo de dinheiro público em nome da causa ou da construção do partido”. E se o cara roubar só para si? Ora, é um ladrão sem qualificação especial. Não é nem melhor nem pior do que o outro. O debate no país está viciado. Palavras como “direita” são usadas como xingamento, e xingamentos como “fascista” são pau para toda obra. Aprendemos que defender o uso de animais como cobaias em laboratórios é coisa de… fascistas! Os fascistas alemães, também conhecidos por “nazistas”, preferiam usar gente em suas experiências. Mas preservavam borboletas. Tinham grande apreço pela natureza.

“Você é contra cotas raciais? Ah, eu sabia! Então defende a exclusão dos negros, a discriminação e se incomoda de vê-los nos aeroportos”.  Entende-se, assim, que a defesa de cotas raciais não é mais a escolha de uma política pública, mas um dever moral. Se negros, e os há aos montes, forem contra cotas, das duas uma: a) ou não são dignos da pele que têm; b) ou ainda não despertaram para a verdadeira consciência, o que implicaria que ser negro é, antes de mais nada, não poder, em certas circunstâncias, ser livre para escolher. Há outras implicações. Um branco pode, se decente, ser a favor das cotas; se detestável, contra. Um negro que as defenda está apenas sendo coerente com a cor de sua pele; um que se oponha não seria digno nem da pele que tem; é um nada: não é branco porque não é e não é preto porque não quer. Trata-se de um juízo intelectualmente delinquente.

O debate se reduz à sua dimensão mais miserável. Os supostos monopolistas do bem já não se ocupam em contestar argumentos. Basta pregar a eliminação daquele que é visto como um adversário. Sei muito bem do estou falando, não é? Em especial, nestes dias. Não faz tempo, no que concerne à questão racial, um caso chamou atenção. O jornalista Heraldo Pereira foi tachado por um desses seres trevosos de “negro de alma branca”. Heraldo teria assumido uma posição de destaque na maior emissora do país, segundo aquele elemento, por conta de alguma compensação generosa feita à cor de sua pele em troca da sua submissão, não por seu talento ou competência profissional. A Justiça obrigou o dito-cujo a se retratar da injúria racial cometida.

Heraldo é meu amigo, meu irmão. Divergimos sobre muita coisa — inclusive sobre cotas raciais (nunca sobre o Corinthians!). Ele é favorável. Eu não. Está entre os profissionais mais competentes que conheço. Tem uma formação intelectual rara no nosso meio. Ascendeu porque é bom, não porque é negro. Um branco com o seu talento teria chegado ao mesmo lugar. Muito bem!

Quantos representantes de movimentos negros apareceram para repudiar a afirmação asquerosa contra Heraldo? Quantos intelectuais de esquerda? Quantos jornalistas engajados? Ouviu-se um enorme silêncio! Afinal de contas, o agressor e um dos sedizentes “blogueiros progressistas”, e Heraldo, ora vejam, é da Globo. Sendo assim, eles até podem tolerar alguma injúria racial, não é?

Se a agressão, afinal de contas, é dirigida contra um negro que exerce posição de destaque na maior emissora do país, há de se desconfiar que coisa boa esse cara não é. Na Globo, é preciso que um preto faça a faxina para que os “conscientes” possam confirmar os seus próprios preconceitos. Houve canalhas brancos — vejam o meu vocabulário de rottweiler — que se atreveram a ensinar a Heraldo como ser um verdadeiro negro.

De volta a Dilma
É nesse ambiente viciado que Dilma Rousseff envia o seu projeto de lei. Como se informou aqui há dias (e descobri hoje que já há jornalista fazendo lobby em nome da causa), proposta aprovada na CCJ da Câmara impõe cotas raciais também para a composição da Câmara. A proposta de Dilma foi encaminhada em regime de urgência e tem de ser votada em 45 dias. Será aprovada.

Vamos ver. A distribuição dos brasileiros segundo a cor da pele é esta, apontam os dados do IBGE de 2010.

composição racial Brasil 2010 ibge

Se é para estabelecer cotas e se estamos falando de uma questão de justiça, cabe desde logo a pergunta: por que, então, só 20%? Se são reservadas a afrodescendentes e se entram nessa categoria os negros e pardos, então a reserva tem de ser 50,74%. De onde saiu o número mágico? Por que não 15% ou 25%?

Como regra geral, na universidade ou no serviço público, qualquer critério que não mire apenas o desempenho fere, entendo, a Constituição (o STF acha que não; eu acho que sim; o STF manda, eu acato, mas não preciso concordar com o mérito) e o bom senso. Mas noto uma questão importante: cotas em serviço público e nas universidades não são a mesma coisa; têm características absolutamente distintas.

Nas escolas, vá lá, pode-se ainda argumentar que se trata de criar condições especiais de acesso ao ensino que qualifiquem, então, os negros e pardos para competir com os brancos em condições de igualdade — há caminhos para fazer isso sem ferir o princípio da igualdade perante a lei. O futuro servidor não entrará no serviço público para ganhar uma nova competência (como a oferecida pela universidade) que o mercado de trabalho lhe vai cobrar mais adiante. Não! Do estado brasileiro, espera-se apenas que cumpra o seu dever e selecione os mais aptos — em benefício, diga-se, de brancos, mestiços e negros.

“Ah, você antevê que o serviço vai piorar?” Não antevejo nada. Como não estou certo de que pioraria a representação da Câmara se as cotas fossem aprovadas. Ocorre que se trataria, nesse caso, de uma violação ao direito que tem o eleitor de escolher livremente em quem quer votar e se trata, no caso das cotas para servidores, de uma clara violação do princípio da igualdade entre, atenção!, profissionais já formados. Não é o estado que vai lhe dar uma nova competência; eles é que estarão fornecendo a sua competência ao estado.

Mas como resistir? Quem vai dizer “não”? Quem terá a coragem de enfrentar as hostes militantes e a rede de desqualificação na Internet? A própria Advocacia-Geral da União tem dúvidas acerca da constitucionalidade da medida, mas está certa de que ninguém ousará recorrer ao Supremo Tribunal Federal. Insisto que essa não é uma questão similar à das cotas nas universidades públicas, embora eu me oponha também àquelas.

Perguntas essenciais
Dilma tem, se não erro na conta, 39 ministros, que ela escolhe livremente entre os representantes da base aliada. Espero que tenha o bom senso, então, de aplicar o regime de cotas na escolha de seus auxiliares diretos, o que significaria pelo menos oito ministros “afrodescententes”. E que não os confine em pastas para as quais ninguém dá muita bola. Da mesma sorte, o regime tem de ser aplicado no comando das estatais, autarquias e fundações federais.

Não só isso. O governo federal conta com mais de 20 mil cargos de confiança, que são livremente escolhidos por quem governa. Pergunta-se: haverá cotas também nesse caso? Se é justo que alguém que preste concurso possa eventualmente ser preterido em razão da cor da pele, por que aqueles que não se submetem a exame nenhum seriam regidos por regime diferente?

Para encerrar
Dilma anunciou ainda que áreas quilombolas e indígenas terão preferência para o envio de profissionais do programa “Mais Médicos”. Está entendido. Brancos eventualmente pobres, com a pança tomada por verminoses, são, em alguma medida, herdeiros do branco explorador. Poderão até ser tão ferrados como os negros pobres ou ainda mais, mas a sua cor os condena.

Por Reinaldo Azevedo

 

Roubalheira em SP – Auditor investigado é sócio da mulher de Jilmar Tatto, um dos homens fortes de Haddad

Por Felipe Frazão, na VEJA.com:
O auditor fiscal Moacir Fernando Reis, um dos servidores da prefeitura de São Paulo investigados pela Controladoria-Geral do Município (CGM) por desvio de recursos, é sócio da mulher do secretário municipal de Transportes, o deputado federal licenciado Jilmar Tatto (PT), um dos principais quadros da gestão petista. Reis prestou depoimento à CGM no último dia 24 de outubro, às 10 horas, no âmbito de um processo administrativo.

Ao lado de Adli Tatto, mulher do secretário, o auditor fiscal é um dos quatro proprietários do estacionamento Samepark, na Vila Mariana. Segundo a Junta Comercial de São Paulo, o Samepark é uma microempresa constituída em 2010, com capital social declarado de 20 000 reais. A sede fica no mesmo endereço da residência de Jilmar Tatto. Reis também é namorado de uma das irmãs da mulher do secretário.

A assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Transportes afirmou que Tatto “conhece” Reis, mas “não sabia” que ele era investigado pela CGM. Disse ainda que o secretário não faria comentários sobre a conduta do servidor, que recebe remuneração bruta de 19.607,61 reais da prefeitura.

Além de Adli Tatto e de Moacir Reis, também são sócios do estacionamento Jamile Osman e Salah Ali Osman. Ambos possuem uma clínica médica em Cidade Dutra, na Zona Sul, região de influência política dos Tatto. Salah é médico otorrinolaringologista. Já fez diversas menções ao PT nas redes sociais e aparece como doador de pequenas quantias — geralmente pagamento por convites para eventos de campanha — ao próprio Jilmar Tatto (1 500 reais nas eleições de 2006) e ao irmão dele, o vereador Arselino Tatto (1 600 reais, em 2008), também do PT. Dentista, Jamile aparece como doadora de 600 reais a Arselino em 2008.

Empresário
Reis também é o maior cotista de uma empresa de compra, venda e aluguel de imóveis próprios, a MFPR Administração de Bens. Aberta em 2010, ela tem capital social de 541 000 reais. A sede declarada é o apartamento na Vila Mariana onde mora Reis.

O uso de empresas de fachada, declaradas como administradoras de bens, era um dos expedientes usados pelos fiscais que desviaram 500 milhões de reais dos cofres públicos por meio de fraudes na cobrança do Imposto Sobre Serviços (ISS), de acordo com as investigações do Ministério Público Estadual. Reis ainda é sócio de um comércio em Embu, a Florbela Decorações Conveniência, com capital social de 45 000 reais. Ele comprou metade da empresa em julho do ano passado.

Na segunda-feira, o prefeito Fernando Haddad (PT) e o controlador-geral do município afirmaram que dezesseis servidores são investigados. Três auditores fiscais continuam presos e um fiscal foi liberado após assinar termo de delação premiada com os promotores.

Leia a íntegra da nota da prefeitura de São Paulo sobre as investigações:
A respeito da investigação do MP sobre o suposto enriquecimento ilícito de dezenas de auditores fiscais, a Controladoria Geral do Município esclarece:
1. Em fevereiro de 2013, a CGM recebeu uma denúncia anônima que listava, em anexo, cerca de 100 nomes da carreira de auditor fiscal, sem mais provas. A mesma denúncia foi enviada à CGM pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Estado de São Paulo – GAECO.

2. Alguns dos nomes já eram investigados em procedimentos abertos pela CGM, inclusive um dos nomes da Operação Necator. Não pesavam sobre os demais, até aquele momento, indícios fortes o suficiente para ensejar a abertura de um processo de investigação formal. A Controladoria optou pela realização da apuração patrimonial com base na declaração patrimonial eletrônica realizada em junho por todos os servidores da Prefeitura.

3. Com base nessa análise, foi constatado que em mais de 80% dos casos não existia indícios de incompatibilidade patrimonial. Essa conclusão foi informada ao Ministério Público.

4. Com relação aos demais, a CGM prossegue com a verificação sobre a existência de justificativa para o acúmulo patrimonial dos servidores e as conclusões serão informadas ao Ministério Público, que exerceu sua autonomia para a abertura de investigações.

Por Reinaldo Azevedo

 

(post de segunda-feira):

Chega! Vou parar de escrever para o bem do Brasil

Vou parar de escrever. Eles me convenceram de que sou o mal do Brasil.

Vou parar de escrever porque, assim, a imprensa será mais plural e tolerante. Vou parar de escrever porque, assim, se eleva a qualidade do debate. Vou parar de escrever porque, assim, ninguém mais será chamado de cachorro no colunismo pátrio. Vou parar de escrever para ninguém mais ser obrigado a me chamar de cachorro. Vou parar de escrever para que os mansos e doces continuem mansos e doces. Não é bom que eles se tornem ferozes porque, afinal de contas, eu tenho um blog hospedado na VEJA e uma coluna na Folha. Vou parar de escrever para não mais açular a paixão sanguinolenta dos cordeiros.

Se eu parar de escrever, os que me odeiam poderão cuidar, em suas respectivas colunas, da alta política. Então será possível perceber o seu diálogo com Maquiavel, com Tocqueville, com Rawls, com Burke, essa gente toda que ignoro em meus textos e que os levo a ignorar nos seus porque, infelizmente, são obrigados a me odiar — aprendi com Miriam Leitão que sou eu que os obrigo a isso.

Vou parar de escrever porque, se o fizer, é certo que o Brasil sairá ganhando. Se eu parar de escrever, a escola pública melhora. Na verdade, vai ser possível perceber que ela, como disse aquele sobre a saúde, já está “perto da perfeição”. Eu é que me nego a ver. Se eu não produzir mais nenhuma linha, os brasileiros, finalmente, serão tratados como gente nos hospitais e nos aeroportos. Haverá mais igualdade.

Não escrevendo mais nada, haverá mais investimentos púbicos e privados. O país poderá, finalmente, ser mais rigoroso com as despesas. Quando eu pendurar as chuteiras, a oposição, finalmente, encontrará o seu caminho. Quem a impede de organizar um discurso para enfrentar o PT, como é visível, sou eu. No dia em que eu não produzir mais nenhuma linha, os petralhas deixarão de existir. Nunca mais haverá um político justificando a roubalheira em nome de amanhãs sorridentes.

Quando eu não mais escrever, vai aumentar a qualidade dos empregos no Brasil, e crescerá também a renda média do trabalho. Quando os leitores não mais forem torturados pelos meus textos, haverá, então, um debate de qualidade, que é aquele, como se sabe, que se deve fazer entre pessoas que concordam.

Por Reinaldo Azevedo

 

A democracia brasileira tem uma falha grave: PUBLICA AS MINHAS OPINIÕES. Ou: Bem-aventurados os covardes porque deles será o reino dos… covardes!

censura

“Eles” já não podiam suportar que eu tivesse um blog hospedado no site da maior revista do país. Era demais! Aí ficou evidente que o tal blog era a página de política mais acessada do país. E isso lhes parecia terrivelmente injusto. “Quem é esse? Em que prédio da Vieira Souto ele mora?” Alguém ainda foi prudente: “Fica, ao menos, na Delfim Moreira?”. Não fica! Os ventos que me chegam de “áfricas utópicas” (né, Caetano?) vêm de outras latitudes. Venho de um lugar onde as tardinhas não caem e os barquinhos não vão. Venho de um lugar sem mar. Ah… No plural, as coisas não rimam.

E, quando me dá na telha, eu meto no plural as fórmulas que só dão certo na singularidade da Zona Sul do Rio. “Eles” sabem do que falo. E, às vezes, falo por parábolas porque me apiedo dos covardes. Mas os covardes também sabem que não fujo da luta. Os covardes sabem que podem contar comigo porque eu jamais conto com o apoio ou a solidariedade de covardes. Alguém já me viu pedir??? Não careço disso. Sei o que penso. Penso o que penso. Vivo bem pensando o que penso. Sobretudo, vivo bem escrevendo o que penso.

Aí eu desafino o coro dos contentes, dos “progressistas” com vista para o mar. “Quem é esse caipira que fala ‘porrrrta’”? Impossível reproduzir o som do interior de São Paulo, da carnadura concreta do melaço de cana sem João Cabral, que este é lá de Pernambuco. São Paulo nem tem poesia caipira em antologia… Eu sou Dois Córregos. Eu sou Mococa. Eu sou Jaú. Eu sou Piracicaba. Eu sou Presidente Prudente. Eu sou Ribeirão Preto. Eu sou Barretos. Eu sou a música caipira que foi fazer metáforas no Paraná e no Mato Grosso, também o do Sul, e em Goiás. Eu sou o PIB que não pede licença. Eu sou daqueles lugares, seu Caetano, que não veem quem sobe ou desce a rampa.  ”Não sou rampeiro”, disse Ulysses. Não peço desculpas.

Quando este cara, eu mesmo, passou a ser colunista também do maior jornal do país, a Folha… Caramba! A maior revista do país já era demais pra ele! Aí eles decidiram que era preciso fazer alguma coisa. Não dá! Maior revista e maior jornal do país? Nem pensar!!! E se vier a maior rádio do país? Pois é… E se vier?

Fiquem tranquilos! Na maior emissora de TV do país, ao menos, eu não entro nem que seja disfarçado de cachorro, como disse Bruno Tolentino. Não entraria nem que fosse (vario o subjuntivo, para os puristas da gramática) disfarçado de beagle.  Beagles têm direito a “outro lado”. Eu não! Antes que eu diga “oi”, a “polícia política” do centro — que, claro!, não é nem de esquerda nem de direita — vai tentar me fulminar.

Eu não pisco para black blocs.
Eu não tenho medo de black blocs.
Eu não receio o cocô de cavalo dos black blocs.
Eu não apoiei a ditadura.
Eu apanhei da ditadura.
Eu sou um fichado da ditadura.
Eu não peço desculpas.

Miriam Leitão, jornalista de todos os produtos das Organizações Globo, não gosta de mim. Ela escreveu um artigo no jornal “O Globo” deste domingo (post abaixo) explicando por que a Folha fez muito mal em contratar a minha coluna. Ela também tenta, ainda que de forma oblíqua, explicar à VEJA por que não é uma boa ideia manter o meu blog. Nada disso, claro!, é explicitado. Tudo é dito, assim, à socapa, covardemente. A pluralidade no Brasil tem um defeito grave, uma falha inaceitável: publica as minhas opiniões. A democracia brasileira será muito melhor, mais plural, quando eu não puder escrever. Com isso concordam a esquerda, certa direita e, sobretudo, o centro. Só não concordam muitos milhares de leitores.

Em vermelho, no post abaixo, segue a coluna de Miriam Leitão, publicada no Globo deste domingo. Respondo em azul. Sua covardia, confesso, me constrangeu. Suas tolices, confesso, quase me intimidam — a tal vergonha alheia. Cheguei perto de ignorar, de deixar pra lá. Mas eu não posso me negar a fazer a crônica destes tempos. Se, um dia, o PT tratar o grupo Globo como Cristina Kirchner trata o grupo Clarín, é preciso que eu tenha escrito: “Não digam que não avisei”. Se o PT não fizer isso por bons motivos (seus bons motivos), é preciso que eu tenha escrito: “Não digam que não avisei”. Não consigo ser mais sutil do que isso. Não consigo ser mais claro do que isso.

Bem-aventurados os covardes porque deles será… o reino dos covardes. No post abaixo, Leitão!
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PS – Ainda que a coluna de Miriam Leitão seja de uma indignidade escandalosa, aviso que não serão publicados comentários com agressões pessoais a esta senhora. Miriam Leitão chame de cachorro quem ela bem entender. Ninguém precisa nem deve tomá-la como padrão.

Por Reinaldo Azevedo

 

Alô, Organizações Globo! Peguem a “Lista de Miriam Leitão” e comecem a cortar cabeças em nome do radicalismo de centro! Ou: Não farei com Miriam um latido de surdos!

Miriam Leitão está pronta para comandar os expurgos na Rede Globo em nome do radicalismo de centro

Miriam Leitão está pronta para comandar os expurgos na Rede Globo em nome do radicalismo de centro

Abaixo, em vermelho, o artigo da jornalista Miriam Leitão no Globo. Respondo em azul.
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O Brasil não está ficando burro. Mas parece, pela indigência de certos debatedores que transformaram a ofensa e as agressões espetaculosas em argumentos. Por falta de argumentos. Esses seres surgem na suposta esquerda, muito bem patrocinada pelos anúncios de estatais, ou na direita hidrófoba que ganha cada vez mais espaço nos grandes jornais.
Vocês verão que Miriam Leitão inclui a mim e a Rodrigo Constantino, que é também articulista de O Globo, onde ela escreve seu texto, na “direita hidrófoba”. Miriam Leitão é intelectualmente covarde. Há alguns anos, a canalha da Internet financiada por estatais faz um trocadilho grotesco com o seu nome e a chama de “Miss PIG”, numa alusão à “Miss Piggy”, a simpática porquinha. Vocês já entenderam a falta de graça da coisa: “PIG (porco; Leitão)-Piggy”. “PIG” é também a sigla a que alguns vagabundos recorrem para designar um certo “Partido da Imprensa Golpista” — como se todos os veículos de comunicação e todos os articulistas da chamada “grande imprensa” tivessem um ponto de vista comum. Como resta evidente, isso é mentira.

É mentira, mas deixa muitos covardes assustados. Eu, confesso, não me assusto. No dia em que essa gente falar bem de mim, aí, sim, vou me preocupar. Miriam Leitão nunca respondeu. Miriam Leitão nunca contra-atacou. Miriam Leitão nunca escreveu uma vírgula contra a canalha a soldo da Internet. Ela decidiu fazê-lo só agora. Covarde que é, no entanto, resolveu atacar também a mim e a Constantino. Ou por outra: Miriam Leitão só consegue responder à esquerda a soldo da Intenet se criticar também o que ela chama de “direita hidrófoba”. Miriam Leitão, em suma, precisa de um país burro para que ele possa parecer independente.

É tão falso achar que todo o mal está no PT quanto o pensamento que demoniza o PSDB. O PT tem defeitos que ficaram mais evidentes depois de dez anos de poder, mas adotou políticas sociais que ajudam o país a atenuar velhas perversidades. O PSDB não é neoliberal, basta entender o que a expressão significa para concluir isso.
Nunca escrevi aqui, o arquivo está à disposição, que “todo mal está no PT”. Na verdade, desconheço quem pense essa bobagem.  O que sempre escrevi é outra coisa: “O PT não inventou a corrupção; o seu mal é tentar transformá-la em categoria de pensamento”. Dos mais de 40 mil posts publicados neste blog, algumas centenas são dedicadas a demonstrar que é uma bobagem chamar o PSDB de “neoliberal”. Na verdade, eu nem reconheço a existência dessa categoria. Assim, nada do que escrevo habitualmente no blog diverge de Miriam Leitão nesse particular.

A ele [ao PSDB], o Brasil deve a estabilização e conquistas institucionais inegáveis. A privatização teve defeitos pontuais, mas, no geral, permitiu progressos consideráveis no país e é uma política vencedora, tanto que continuou sendo usada pelo governo petista. O PT não se resume ao mensalão, ainda que as tramas de alguns de seus dirigentes tenham que ser punidas para haver alguma chance na luta contra a corrupção. Um dos grandes ganhos do governo do Partido dos Trabalhadores foi mirar no ataque à pobreza e à pobreza extrema.
Até aqui, não teria divergência nenhuma com Miriam Leitão porque os meus textos — que são públicos — não negam isso. Ao contrário. Por uma questão de honestidade intelectual, é preciso fazer uma ressalva que ela não fez: a esmagadora maioria dos tucanos reconhece alguns méritos do PT, mas os petistas, ao contrário, jamais reconheceram méritos do PSDB. Ao contrário. Lula inventou a farsa da “herança maldita”. Qualquer pessoa razoável sabe que a herança foi bendita — inclusive aquela de que o PT se aproveitou, a estabilização da econômica, para tocar o seu projeto.

Os epítetos “petralhas” e “privataria” se igualam na estupidez reducionista. São ofensas desqualificadoras que nada acrescentam ao debate. São maniqueísmos que não veem nuances e complexidades. São emburrecedores, mas rendem aos seus inventores a notoriedade que buscam. Ou algo bem mais sonante.
Começo pelo fim do trecho. “Algo mais sonante”, minha senhora, é aquele dinheiro que certos consultores de ONGs e empresas ganham para fazer terrorismo ambiental.  “Algo mais sonante” é aquela bufunfa que se recebe em palestra antevendo o apocalipse caso os ouvintes não adotem as ideias do consultor… Vá pentear macaco, dona Miriam Leitão! Quer falar de coisas sonantes? Eu topo!

Agora vamos às palavras. Como está definido neste blog e no glossário de “O País dos Petralhas I”, o “petralha” é um tipo específico de petista. Nunca escrevi — e já disse isso na televisão —  que todo petista é petralha.  O petralha é aquele que justifica o roubo em nome do partido; é aquele que explica a safadeza em nome da causa; é aquele que diz ser necessário fazer determinadas lambanças para construir o partido. Não estou emprestando agora esse sentido à palavra, que já entrou no dicionário. Está registrado, reitero, em livro.

Quanto à palavra “privataria”, dizer o quê? Que eu saiba, é uma criação de Elio Gaspari. Ele inventou “privataria”; eu inventei “petralha”. Gaspari escreve na Folha, onde também escrevo (e já divergi dele dezenas de vezes, sem nunca ofendê-lo pessoalmente) e no Globo, onde Miriam publica seus textos. Gaspari fale por si. Eu discordo da expressão; não acho que tenha havido “privataria” no Brasil, mas também não acho que ele tenha criado a palavra para ganhar dinheiro, como sugere Miriam. Reitero: É MAIS FÁCIL GANHAR DINHEIRO DANDO PALESTRA SOBRE O APOCALIPSE AMBIENTAL. É MAIS FÁCIL VENDER O FIM DO MUNDO.

Quanto às questões emburrecedoras, daqui a pouco.

Tenho sido alvo dos dois lados e, em geral, eu os ignoro por dois motivos: o que dizem não é instigante o suficiente para merecer resposta e acho que jornalismo é aquilo que a gente faz para os leitores, ouvintes, telespectadores e não para o outro jornalista. Ou protojornalista. Desta vez, abrirei uma exceção, apenas para ilustrar nossa conversa. Recentemente, Suzana Singer foi muito feliz ao definir como “rottweiller” um recém-contratado pela “Folha de S.Paulo” para escrever uma coluna semanal. A ombudsman usou essa expressão forte porque o jornalista em questão escolheu esse estilo. Ele já rosnou para mim várias vezes, depois se cansou, como fazem os que ladram atrás das caravanas.
Tola. Prepotente. Reitero o que já publiquei em outro post. Em sete anos e meio, Miriam Leitão teve o nome escrito neste blog 29 vezes. Atenção! Com 40.065 posts e 2.286.143 comentários, há VINTE E NOVE MENÇÕES (estão todas reunidas aqui). Dessas 29, 14 são meras referências (“Fulano disse para Miriam Leitão que…”). Em sete das vezes, elogio a jornalista. Em oito posts, contesto opiniões suas — contesto, sem ofensa. O arquivo está aí, e vocês podem fazer a pesquisa.

Acontece que Miriam acha que só se pode discordar dela “rosnando”. Observem que ela nem cita o meu nome, como se isso fosse conspurcar a limpeza de seu texto. Quem rosna é cachorro. Se eu chamá-la de cadela, isso resolve alguma coisa? O debate se transforma num latido de surdos. Suzana Singer, ombudsman da Folha, chamou-me, vocês sabem, de rottweiler. Miriam está dizendo que não há nada de mal nisso. Segundo esta senhora, fiz por merecer o xingamento.

O link vai acima. Tentem achar uma só ofensa que eu tenha dirigido a Miriam. Não há. Ela escreveu, certa feita, um texto mentiroso afirmando que o novo Código Florestal estimularia ocupações urbanas irregulares, por exemplo. Provei que era mentira e cobrei que se retratasse. Ela não o fez. Jamais me perdoou. Evidenciei que a lei que cuida da ocupação de áreas urbanas é outra. Estava desinformada. Confundia a militância ambiental — que, em matéria de moeda sonante, costuma ser muito rentável — com os fatos. Ela não respondeu. Porque não havia o que responder. Agora vem o trecho mais desonesto de seu artigo.

Certa vez, escreveu uma coluna em que concluía: “Desculpe-se com o senador, Miriam”. O senador ao qual eu devia um pedido de desculpas, na opinião dele, era Demóstenes Torres.
O texto a que ela alude está aqui. Nunca estive com esse político. Nunca apertei a sua mão. Falava, sim, com ele ao telefone, como falo com outros — Miriam também. Assino cada linha daquele post. Cobrei que ela se retratasse porque afirmou uma porção de bobagens sobre a questão racial no Brasil, matéria em que é de uma espantosa desinformação. Reitero: se tiverem tempo, leiam o post. Nesse artigo, mais uma vez, não a ataco, mas divirjo. Ao contrário. Reconheço méritos. Escrevo lá, por exemplo: “A jornalista de economia Miriam Leitão é um dos alvos costumeiros do subjornalismo a soldo que toma conta da Internet. Mais de uma vez, sua reputação profissional foi atacada de maneira vil pelos tontons-maCUTs, especialmente nos tempos em que ela ficou praticamente sozinha na defesa da sobrevalorização cambial. À época, eu achava que ela estava equivocada — o que ficou claramente evidenciado. Mas nunca considerei que fosse má fé. Às vezes, as pessoas erram. Seu prestígio profissional, felizmente, sobreviveu a um erro histórico. Sinal de que ela tinha e tem qualidades que podem suportar uma escolha errada. Quando se erra de boa-fé, sempre há a chance para corrigir as falhas. Miriam, é verdade, nos tempos da sobrevalorização cambial, não abria muito espaço para o contraditório. Havia sempre a sugestão nada leve de que os que se opunham à sua teoria gostavam mesmo era de farra, de inflação, de gastança.”

É um texto de 8 de março de 2010. O então senador Demóstenes combatia a política de cotas. Isso quer dizer que todos os que se opõem à proposta estão comprometidos com as lambanças daquele político? A sugestão é de uma desonestidade asquerosa. Mais: à época, Miriam afirmou que ele havia sustentado que os escravos eram corresponsáveis pela escravidão. E ele não o havia feito.  Cobrei, sim, que ela se desculpasse pelo argumento falacioso. Depois de achar que faço por merecer ser chamado de cachorro, Miriam escreve um parágrafo abjeto tentando me ligar a Demóstenes, sem deixar claro aos leitores do que se trata. Aquele texto  de 2010 de Miriam segue sendo mentiroso. As ligações do então senador com Carlinhos Cachoeira não tornaram verdade uma mentira.

Não costumo ler indigências mentais, porque há sempre muita leitura relevante para escolher, mas outro dia uma amiga me enviou o texto de um desses articulistas que buscam a fama. Ele escreveu contra uma coluna em que eu comemorava o fato de que, um século depois de criado, o Fed terá uma mulher no comando.
Além de exibir um constrangedor desconhecimento do pensamento econômico contemporâneo, ele escreveu uma grosseria: “O que importa o que a liderança do Fed tem entre as pernas?” Mostrou que nada tem na cabeça. Não acho que sou importante a ponto de ser tema de artigos. Cito esses casos apenas para ilustrar o que me incomoda: o debate tem emburrecido no Brasil. Bom é quando os jornalistas divergem e ficam no campo das ideias: com dados, fatos e argumentos.

É um trecho de impressionante vigarice intelectual. Miriam Leitão já apoiou o ataque que sofri de Suzana Singer, que me chamou de “rottweiler”; ela mesma afirmou que rosno — nada menos! —, mas diz que gosta é do debate de ideias. Ora, cadê os artigos em que a ataco? Onde estão? Por que ela não os exibe? Miriam Leitão não suporta é ser contestada. A propósito: ela se refere, no trecho acima, a Rodrigo Constantino, como ele mesmo deixa claro em seu post a respeito. Não custa perguntar: “Dona Miriam, o que importa o que a liderança do Fed tem entre as pernas?”. Prove que a senhora tem algo na cabeça e nos explique. Existirá um jeito “feminino” de conduzir a instituição? Como se vê, desonestidade intelectual, por exemplo, não tem sexo.

Isso ajuda o leitor a pensar, escolher, refutar, acrescentar, formar seu próprio pensamento, que pode ser equidistante dos dois lados. O que tem feito falta no Brasil é a contundência culta e a ironia fina. Uma boa polêmica sempre enriquece o debate. Mas pensamentos rasteiros, argumentos desqualificadores, ofensas pessoais, de nada servem. São lixo, mas muito rentável para quem o produz.
Se Miriam Leitão tiver um mínimo de honestidade intelectual, um pouquinho que seja, vai apontar trechos dos meus textos em que incorro na violência retórica gratuita, como ela faz comigo. Quem diz que o outro rosna só porque ousou discordar apela à “contundência culta é à ironia fina”???  Ora, tenha mais pudor, minha senhora!

O mais interessante é que esse seu texto bucéfalo foi freneticamente reproduzido pelos blogs e sites financiados por gestões petistas e por estatais, os mesmos que a chamam  de “Miss PIG”; os mesmos que costumam fazer trocadilhos grotescos com seu nome; os mesmos que a acusam de, como direi?, escrever o que escreve por motivos “sonantes”. Miriam nunca reagiu. Ela precisava de um bom pretexto para responder aos esquerdistas cretinos que a achincalham. Para demonstrar que é isenta, atacou também a “direita”. Assim, pode posar de “radical de centro”.

No fim das contas, dona Miriam Leitão está é pedindo a minha cabeça e a de Constantino. Segundo diz, a “direita hidrófoba” ganha cada vez mais espaço na mídia. É mesmo? Vamos cobrar de Miriam que dê os nomes que compõem tal grupo. Ela poderia dar início a seu macarthismo às avessas fornecendo à própria direção das Organizações Globo a lista de profissionais que incorrem nesse pecado. Afinal, convenham: se limparmos a maior empresa de comunicação do país dessa escória, já será uma profilaxia e tanto, não é? Assim, pergunto — e espero que ela tenha coragem intelectual de apontar:
– quais são os nomes que integram a “direita hidrófoba” na Rede Globo?
– quais são os nomes que integram a “direita hidrófoba” no jornal O Globo?
– quais são os nomes que integram a “direita hidrófoba” na GloboNews?
– quais são os nomes que integram a “direita hidrófoba” na, para ser mais amplo, Globosat?

Vamos lá, Rainha de Copas! Comece por propor uma limpeza na própria casa. Não sem antes demonstrar como essa tal “direita hidrófoba” ameaça a liberdade de expressão no Brasil. Não sem antes demonstrar como essa “direita hidrófoba” ameaça cassar concessões do grupo. Não sem antes demonstrar como essa “direita hidrófoba” persegue nas ruas os jornalistas do grupo. Não sem antes demonstrar como a “direita hidrófoba” manda recados.

Num desses blogs financiados por estatais, publicou-se certa vez:
“Bem, falando-se da FSP, nossa sorte é q esse jornal vende apenas 300 mil exemplares num universo de quase 190 milhões de brasileiros… Ainda é pouco! Do contrário teríamos de eliminar a balas (sic) seres do naipe de Clóvis Rossi, Mainardi, Reinaldo Azevedo, Civita, famiglia Marinho, Jabor, Leitão, Noblat… Um infinito de jornalistas medíocres…”

Escrevi a respeito. Miriam Leitão, claro!, não disse nada! Não disse porque, tudo indica, no fundo, ela concorda que pelo menos parte dessa lista merece mesmo levar um tiro na cara.

E esse foi um dos 29 posts — dos 40.066 que já publiquei — em que citei Miriam. Sinto, ao ler o seu texto, a vergonha que ela certamente não sentiu ao escrevê-lo. Há 11 anos o PT recorre ao dinheiro público para criar sites e blogs que patrulham a imprensa e demonizam pessoas  — inclusive ela própria. Nunca se ouviu um pio de Miriam.  Só teve a coragem de tocar no assunto quando viu a oportunidade de atacar também “a direita”. Vergonhoso!
*

PS – Ainda que a coluna de Miriam Leitão seja de uma indignidade escandalosa, aviso que não serão publicados comentários com agressões pessoais a esta senhora. Miriam Leitão chame de cachorro quem ela bem entender. Ninguém precisa nem deve tomá-la como padrão.

Por Reinaldo Azevedo

 

Perderam

Leiam o artigo de Vinicius Motta na Folha desta segunda:
*
Quem passou da infância à vida adulta nas décadas de 1980 e 1990 acostumou-se ao padrão. Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil nunca perdiam. Alinhados às boas causas, eram reputados como reserva de sabedoria de nossa vida pública corrompida.

Tratava-se, obviamente, de uma fábula. O primeiro compromisso desses artistas sempre foi com seus legítimos interesses profissionais e empresariais. A qualidade intrínseca de suas intervenções na política e no debate de ideias jamais se aproximou do seu desempenho como letristas.

A influência que exerciam nos palanques nacionais indicava a rarefação de nossa esfera pública. A conversão de capital cultural em capital político não é certa nem imediata nas democracias consolidadas, que separam muito bem esses campos.

Celebre-se, portanto, como sinal de amadurecimento do país a derrota esmagadora do (ex-)grupo Procure Saber, encabeçado pelo trio de ouro da MPB, no debate das biografias não autorizadas.

A causa era decerto ingrata. O grupo propunha-se a convencer a opinião pública de que biografias só poderiam circular mediante autorização do biografado ou de seus familiares. Não há meio de aceitar essa cláusula sem ferir a liberdade de expressão, consagrada na Carta de 88.

Sim, a liberdade de expressão é também a liberdade de injuriar, caluniar e difamar. Para esses males, a lei determina remédios. Mas é sobretudo a liberdade de criticar e contar histórias e versões menos abonadoras sobre quem quer que seja. E de oferecê-las ao crivo do debate público.

Habituados a despertar solidariedade automática nos círculos intelectuais e políticos, Chico, Caetano e Gil talvez pensassem que iriam levar mais esta. O tempo passou na janela, mas eles não notaram.

O Brasil começa a descobrir que, como políticos e intelectuais, eles são apenas bons compositores e empresários.

Por Reinaldo Azevedo

 

A INCRÍVEL ENTREVISTA DE UM MINISTRO DO SUPREMO – Barroso confessa que anencéfalos eram mero pretexto; ele quer é a liberação de qualquer aborto. Ou ainda: Quando a causa é “progressista”, atropelar a Constituição, para ele, é um dever; já os embargos infringentes…

Ministro Luís Roberto Barroso: um juiz não pode ter paixões nem ser militante de causas

Ministro Luís Roberto Barroso: um juiz não pode ter paixões nem ser militante de causas

O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, concede uma entrevista gigantesca a Carolina Brígido e Francisco Leali, do Globo. Está na edição online de sábado. Suponho que haja uma versão na impressa deste domingo. E ponham “gigantesca” nisso: mais de 25 mil toques! Se, um dia, o papa Francisco decidir dar um pingue-pongue ao jornal, será maior do que a Enciclopédia Britânica. Questão de proporção, certo? Barroso faz uma confissão espantosa: ao patrocinar a causa do aborto de anencéfalos, tinha outra coisa em mente: a defesa de qualquer aborto. À época, apontei isso aqui. Disseram que eu delirava e que minha oposição ao aborto retirava a minha objetividade. Ao argumentar, cita como exemplo positivo uma farsa grotesca ocorrida nos EUA em 1973. Não é só isso, não. Como vocês poderão notar, o doutor acha legítimo deixar pra lá a Constituição e as leis quando ele concorda com as demandas. Bem, vamos lá. Registro trechos de perguntas e respostas em vermelho e comento em azul. Embora a entrevista seja o chamado “pingue-pongue”, o que se lê é “pingue-pingue”. Então eu me encarrego dos “pongues”, entenderam?

PINGUE-PINGUE – A REVOLUÇÃO
Agora que o senhor já está há um tempo no tribunal, pode avaliar: o Supremo é como o senhor imaginava, ou é diferente?

Embora eu conhecesse o tribunal como um observador externo, o volume e a diversidade do trabalho ainda assim me surpreenderam, assim como a quantidade de coisas que eu acho que não deveriam estar lá. Há no Supremo um varejo de miudezas maior do que o que eu imaginava e que consome muito o tempo dos ministros. Parte do meu trabalho e da minha equipe é identificar, num oceano de processos, o que justifica uma atuação do Supremo. Em três meses de tribunal, confirmei o meu sentimento de que é preciso fazer uma revolução no modo como o Supremo atua, sobretudo no modo como escolhe sua agenda.

PONGUE – CONVERSA MOLE
Todos os que se propõem a fazer “revolução” acabam cometendo injustiças novas sob o pretexto de combater as velhas. Por isso, leitor, acredite apenas em “reforma”. A melhor maneira de você manter sempre novo um poste, já observou Chesterton (perdoem-me por não citar Taiguara ou Caetano Veloso), é pintá-lo. Um poste novo, sem manutenção, envelhece. Quem ler a entrevista vai constatar que o ministro propõe apenas uma nova forma de exercer o foro por prerrogativa de função — logo, não é “revolução”. É que a palavra é atraente e lhe confere um ar “moderno”. De resto, ele poderia ter rechaçado a demagogia — na imprensa, jornalistas são contra o foro especial sem se dar conta das implicações da sua eventual extinção — e lembrado que os réus do mensalão julgados na primeira instância permanecerão impunes por anos a fio. Só existe a possibilidade de punição de alguns porque o processo correu no Supremo.
(…)

PINGUE-PINGUE – QUANDO O SUPREMO LEGISLA?
Há temas que o Supremo deveria tratar? Que mereceriam ainda uma definição mais clara?
Nem tudo que hoje é premente no Brasil comporta uma solução judicial. Acho que há muitas questões importantes no país que dependem de decisões políticas, e o Supremo não é o espaço mais adequado para as decisões políticas, salvo por exceções.
Mas quando o Congresso não legisla…
O Supremo deve tomar decisões que têm impacto político basicamente em três situações. A primeira, quando o legislativo não tenha podido ou conseguido legislar sobre uma questão importante. Em segundo lugar, quando esteja em jogo um direito fundamental de uma minoria. Em terceiro lugar, para a proteção das regras do jogo democrático. São esses os três grandes papéis políticos de uma corte constitucional. (Em relação à) proteção das minorias, o Supremo fez, e bem, na questão das uniões homoafetivas. Em toda parte do mundo, direitos das minorias, homossexuais, negros, mulheres, dependem frequentemente do poder judiciário. As minorias, por serem minorias, não conseguem prevalecer no processo político majoritário. Então, para avançar uma agenda de direitos fundamentais das minorias muitas vezes só é possível fazer isso via judiciário. De certa forma, foi o que aconteceu nos Estados Unidos na questão do aborto em 1973. Transportando para o Brasil, acho que foi o que aconteceu nas uniões homoafetivas, na questão das interrupções das gestações de fetos anencefálicos.

PONGUE – A FARSA
É impressionante que um ministro do Supremo cite como exemplo virtuoso, quando  debate é aborto, o que se deu nos EUA em 1973. Pesquise a respeito. Trata-se de uma das maiores farsas da história recente do país. Instruída e manipulada por advogados, como ela mesma confessou, e financiada por uma revista, Norma L. McCorvey (“Jane Roe”) alegou ter sido estuprada para obter o direito ao aborto legal. Estudem sobre os desdobramentos. Seu filho nasceu antes do término do processo. Foi dado para a adoção. Era tudo guerra de propaganda. Mais tarde, afirmando ter cometido o maior erro de sua vida, ela confessou: não tinha sido estuprada coisa nenhuma; era só a personagem de uma causa.

Quando um ministro do Supremo diz que, para fazer avançar os direitos das minorias, é preciso que se recorra ao Judiciário e cita aquele exemplo, eu sou obrigado a constatar que as palavras fazem sentido. E acho que ele está obrigado a responder uma questão: MESMO UMA FARSA SERVE PARA FAZER AVANÇAR OS TAIS DIREITOS, MINISTRO? Se a sua resposta for “não”, então mude de exemplo. Se a resposta for “sim”, estamos ferrados.

Há mais: quando se fala em “direitos de minoria”, entende-se que se está a falar de DIREITOS FUNDAMENTAIS. O aborto serve como exemplo de um direito fundamental que se nega a uma minoria só por ela integrar essa minoria??? Desenvolva a tese, ministro Barroso. Peguemos outro exemplo eloquente: cotas raciais. Que direito fundamental estariam alguns brasileiros impedidos de exercer em razão da cor da pele? A resposta é óbvia: nenhum! “Ah, mas, na prática, não é o que acontece…” Então que se pensem medidas suplementares. O que uma democracia não pode tolerar é que se solapem direitos de uns para que possa tratar desigualmente os desiguais.

PINGUE-PINGUE – A CONFISSÃO DE BARROSO SOBRE ANENCÉFALOS
Até hoje temos uma legislação antiga que criminaliza o aborto. O senhor acha que é um tema que o Supremo poderia resolver?

Sobre as questões que envolvam o Supremo, só gostaria de falar olhando para trás. Não gostaria de falar olhando para frente, porque isso poderia comprometer minha atuação como juiz. Mas tenho facilidade de responder a sua pergunta porque, no caso de anencefalia, se você ouvir a minha sustentação final (como advogado) e os memoriais finais que apresentei em nome da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde, a tese que eu defendia era a da liberdade reprodutiva da mulher. Portanto, a mulher tem o direito fundamental a escolher se ela quer ou não ter um filho. E esta tese vale para a anencefalia, como vale para qualquer outra gestação. O meu ponto de vista é transparente desde sempre. Se eu acho que o Supremo pode ou deve fazer isso, eu não vou te responder.

PONGUE – MINISTRO CONFESSA CASO DE ANENCÉFALOS FOI SÓ PRETEXTO
Assim como, nos EUA, a acusação de estupro serviu como pretexto para que se fizesse a campanha em favor do aborto, por aqui, no Brasil, os anencéfalos foram só uma estratégia. Quem confessa é Luís Roberto Barroso, o patrocinador da causa. A resposta acima é mais do que eloquente. O curioso é que, à época, apontei isso aqui. Apanhei muito.

Barroso tem um modo realmente especioso de argumentar. Reproduzo: “A tese que eu defendia era a da liberdade reprodutiva da mulher. Portanto, a mulher tem o direito fundamental a escolher se ela quer ou não ter um filho.” Como? Então o mundo é assim: ele tem uma opinião e, em seguida, recorre a uma conjunção conclusiva — PORTANTO — para dela extrair um valor universal. Vamos submeter esse método a outras situações: “A tese que eu defendo é que biscoito faz mal à saúde; portanto, biscoitos devem ser proibidos”. Ou: “A tese que é eu defendo é que maconha é inócua para a saúde; portanto, maconha deve ser liberada”.

Que fique claro: o Supremo não liberou o aborto coisa nenhuma. A fala do ministro acaba atribuindo ao tribunal uma decisão que ele não tomou. Ainda que eu considere a confissão de Barroso, com o devido respeito, a admissão de uma fraude intelectual, dou-me por satisfeito: EU ESTAVA CERTO. Sempre achei que era outra a causa real.

Observem que ele não dá a sua opinião sobre se o Supremo deve ou não liberar todos os abortos. Se o tribunal o fizer, estará tomando o lugar do Congresso, que é o Poder que redige a Constituição. NOTA: a pergunta do Globo é militante. Entende-se que a legislação é “antiga” porque criminaliza o aborto. Sei! Se fosse moderna, liberava. Assim, o mérito de uma lei agora não se define por seu conteúdo, mas por sua reputação: “antiga” ou “moderna”. Sigamos com mais um pouco de pingue-pingue.

PINGUE-PINGUE – UM RACIOCÍNIO TORTO
A judicialização da política acontece mais em momentos em que o legislativo atua menos. O legislativo tem sido leniente em certas questões?
(…)

Onde haja lei, o judiciário deve fazer cumprir a lei, salvo as hipóteses extremas de a lei ser incompatível com a constituição. Agora, quando o legislativo não tenha atuado, porque não pôde, não quis ou não conseguiu, aí eu acho que muitas vezes o judiciário tem que se expandir, porque surgem as situações da vida, como foi em uniões homoafetivas, como foi em anencefalia, e o judiciário tem que atuar. Em algumas, o judiciário estendeu um pouco mais a corda para atender certas demandas sociais que não foram atendidas pelo processo político majoritário. (…)

PONGUE – ARGUMENTOS VERGONHOSOS
A Constituição define o que é união estável. Está no Parágrafo 3º do Artigo 226: “Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento”. O Código Penal estabelece os casos de aborto legal. Nem a Constituição era incompatível consigo mesma nem o código é incompatível com a Carta. O papo é outro: Barroso acha que o Supremo deve atuar como Legislativo quando ele concorda com a causa e deve se ater ao texto escrito quando ele não concorda. E isso ficará claríssimo na resposta seguinte.

PINGUE-PINGUE – O DEPUTADO PRESIDIÁRIO: CRIAÇÃO DE BARROSO
Mas no caso do deputado Donadon, tinha uma decisão do Congresso…
Quando eu entrei no Supremo, ele era dividido: cinco ministros achavam que a competência para determinar a perda do mandato em caso de condenação criminal era do próprio Supremo. E cinco ministros achavam que era do Congresso. Acho que o modelo ideal é de que a perda do mandato em caso de crime grave não dependa do Congresso. O modelo ideal é o que a perda de mandato em caso de crime grave seja uma consequência natural da decisão do Supremo. Embora ache isso, a Constituição é inequívoca, ela é claríssima ao dizer que a palavra final é do Congresso Nacional. Acho ruim, acho que não deveria ser assim, mas eu não sou o constituinte. No caso Donadon, o Supremo condenou esse parlamentar a mais de 13 anos de prisão com regime inicial fechado. Ele tem que cumprir efetivamente preso um sexto da pena pelo menos, o que dá mais de dois anos. Aí a Câmara, para a surpresa geral, delibera não retirar o mandato dele, preservar o mandato dele. Aí um parlamentar do PSDB entra com um mandado de segurança dizendo, neste caso, que a competência não deve ser do plenário, mas da mesa. Verifico que este parlamentar vai ter que passar mais tempo preso em regime fechado do que o prazo que lhe resta de mandato. Portanto, ele tem uma impossibilidade material e jurídica de preservar este mandato. A Constituição diz que o parlamentar que se afastar por mais de 120 dias terá a perda do mandato declarada pela mesa da Câmara, e não uma decisão política do caso. Então está aí a solução para o caso Donadon. Embora a regra geral seja a perda de mandato por uma decisão política do Congresso, na hipótese de regime fechado, como ele tem que se ausentar por mais de 120 dias, o próprio sistema da Constituição transfere a decisão desse caso para a mesa. Acho que a decisão é compatível com a Constituição e preserva o Congresso.

PONGUE – MINISTRO TENTA SE LIVRAR DE VEXAME, MAS…
Barroso foi a principal estrela — teórica ao menos — de um grande vexame. Com o seu infeliz voto de desempate, decidiu-se que cabia ao Senado e à Câmara cassar ou não o voto de um parlamentar condenado, com sentença transitada em julgado, em processo criminal. Vocês se lembram do debate. A Constituição, com efeito, é ambígua a respeito, mas também oferece saída. Esse julgamento se deu no caso do senador Ivo Cassol. O de Donadon era anterior. O tribunal não tratara da cassação de seu mantado porque, à época do julgamento, havia renunciado, elegendo-se de novo posteriormente. De todo modo, a tese de Barroso foi testada na prática: a Câmara se negou a cassar o mandato do condenado, e se criou a figura do parlamentar presidiário.

Deputados recorreram ao Supremo, e Barroso concedeu um liminar que, vênia máxima, é escandalosa: para ele, o mandato está automaticamente cassado, independendo da vontade dos parlamentares, se o tempo que restar desse mandato for inferior à pena… Como já demonstrei aqui, segundo o pensamento desse grande especialista, se um senador for condenado a uma pena inferior a oito anos logo nos primeiros meses de mandato, então senador ele continuará… Mais: seu texto fez lambança: considerou como fator impeditivo apenas o regime fechado, o que ele repete na resposta acima. Ocorre que os regimes “semiaberto” e “aberto” são também… fechados (pesquisem), embora mais relaxados. A tese do doutor, portanto, comporta o parlamentar-presidiário, que passa o dia na Câmara e no Senado e a noite na prisão. É um escracho!

Ora, ora… O ministro que defende que o Supremo faça o que o Congresso não faz; o ministro que defendeu a união civil de homossexuais contra o que vai na Constituição; o ministro que defendeu o aborto de anencéfalos (e, confessa agora, qualquer aborto) contra o que está na Carta e no Código Penal, esse mesmo ministro alega que, no caso dos mandatos, não poderia ter votado diferente porque, afinal, é o que está na lei…  Perfeitamente! É um legalista quando convém e um, digamos, “criativo” quando se comporta como militante de uma causa.

PINGUE-PINGUE – O CONTRAMAJORITÁRIO DO MENSALÃO
Assustou como os ânimos estão postos no STF com relação ao mensalão?

Julguei primeiro os embargos de declaração e depois o cabimento dos embargos infringentes da maneira que achava correta. A despeito de reações e de paixões, vivi e continuo a viver dias intimamente muito tranquilos. Fiz o que acho certo. Os embargos infringentes estavam em vigor. Eles constavam do regimento interno do STF. Se você quiser minha opinião pessoal, te diria que estava louco para acabar com esse processo. O país não aguenta mais a AP 470. Mas o meu papel como juiz não é fazer o que eu quero, é fazer o que é certo, e o que é certo é o cabimento dos embargos infringentes. Decidi pelo seu cabimento lamentando, mas a Constituição existe para que o direito de 12 ou de 13 não seja atropelado pelo desejo de 100 milhões. Sou um juiz e ser juiz significa imunizar-se contra o contágio das paixões.

PONGUE – COMPROVADO O LEGALISMO AD HOC         
A Constituição existe para ser cumprida. Nem pode a vontade de 100 milhões fraudá-la para punir 12 ou 13, como ele diz, nem pode a causa influente de 12 ou 13 — ou de 13 mil ou de 13 milhões — atropelar seus fundamentos. O problema de Barroso é que, não há como concluir outra coisa, ele acha legítimo que se mandem às favas os textos legais quando ele concorda com as demandas, mas, se discorda, mesmo o que encontra amparo legal é logo tratado como agressão a direitos fundamentais. Sua tese sobre os embargos infringentes, embora majoritária no Supremo, é que é escandalosa. Banânia deve ser o único país do mundo em que um Regimento Interno de um tribunal pode mais do que uma lei.

PINGUE-PINGUE – O SOFRIMENTO
As críticas não o incomodaram?

As críticas me incomodaram na medida em que a minha mulher sofreu, os meus filhos sofreram. As redes sociais dizem barbaridades. Porém, ou não sofri na minha relação comigo mesmo um segundo sequer. Na minha relação com o mundo, evidentemente eu lamento. Uma coisa que nós precisamos fazer no Brasil no debate público em geral, e não tem nada a ver com mensalão, é trabalhar sob duas premissas civilizatórias importantes. A primeira: quem pensa diferente de mim não é meu inimigo, é meu parceiro na construção de um mundo plural. Vinicius de Morais diz “bastar-se a si mesmo é a maior solidão” e eu acho isso também. A segunda coisa: a divergência deve focar no argumento, e não na pessoa.

PONGUE – DEIXA COMIGO!
O ministro fique tranquilo: as redes sociais bateram ainda mais naqueles que se opuseram aos embargos infringentes porque os petistas, que as aparelham, mobilizaram ao sua tropa de choque. Com um agravante: boa parte da campanha suja é financiada com dinheiro público, oriundo de administrações petistas e de estatais — dinheiro do povo.

Quanto ao mais, ele pode ficar tranquilo. Se depender deste blog, o debate será sempre feito, segundo premissas as mais civilizatórias. Barroso, está posto, não é um inimigo. É só alguém que está, segundo o ponto de vista aqui exposto, errado sobre um monte de coisas. E fico, sim, escandalizado que um agora ministro confesse que, quando advogado — e faz bem pouco tempo — usou uma causa (os anencéfalos) para tentar emplacar outra: a liberação de qualquer aborto. A desonestidade intelectual faz parte da história da civilização — da parte ruim. Apontá-la é, entendo, uma premissa civilizatória. Parece-me, igualmente, um princípio importante que um juiz, no caso de uma omissão legal, decida com base em fundamentos gerais, em valores expressos pelos códigos em vigência. O que tenho por inaceitável é que tome uma decisão CONTRA o que está escrito em nome do que pensa ser um mundo melhor.

O prédio onde se cuida dessas coisas é outro. E um juiz sempre pode largar a toga e se candidatar.

Por Reinaldo Azevedo

 

NA VEJA DESTA SEMANA – Lei de Acesso à Informação vem sendo utilizada para encobrir segredos do poder

Por Rodrigo Rangel e Robson Bonin:
A transparência, a publicidade e o acesso às informações oficiais são direitos elementares de qualquer cidadão numa sociedade subordinada aos princípios democráticos. No Brasil, a norma está escrita na Constituição e regulamentada por uma lei específica que não deixa margem a dúvida: o interesse público deve sempre servir como referência número 1 na hora de decidir o que pode ou não ser divulgado pelos governos. A prática, porém, tem revelado um paradoxo. A Lei de Acesso à Informação, que está completando dois anos de existência, é celebrada como um avançado instrumento para garantir a transparência das ações de governo, mas, ao mesmo tempo, vem sendo sistematicamente usada em sentido inverso — para dificultar o acesso, evitar a publicidade e continuar mantendo em segredo assuntos que podem constranger determinadas autoridades, quase sempre envolvidas com o mau uso do dinheiro dos contribuintes.

A Força Aérea Brasileira gasta milhões de reais por ano para operar uma frota de jatos à disposição das autoridades. Os aviões deveriam ser usados exclusivamente em deslocamentos de serviço. Vez por outra, descobre-se que um político menos diligente requisitou uma aeronave para ir a um jogo de futebol, ao casamento de um amigo ou para levar a família a uma praia paradisíaca. Existe uma lenda segundo a qual um ex-presidente da República, que se comporta como se ainda fosse o presidente da República, até hoje solicita o helicóptero oficial para pequenas viagens. Quem faz isso? Com que frequência? Quanto se gasta? Se depender do governo, o contribuinte jamais saberá. Como não saberá como altos funcionários torram milhões de reais por ano nos cartões corporativos, as condições em que foram concedidos os milionários financiamentos do BNDES a países como Venezuela e Angola e os detalhes do acordo que permitiu a chegada dos médicos cubanos. Em todos os casos, há dinheiro público envolvido. Em todos os casos, há suspeita de irregularidades. São, porém, apenas alguns exemplos de assuntos que continuarão escondidos do público porque o governo se recusa a liberar as informações.

Por Reinaldo Azevedo

 

Roubalheira na Prefeitura de SP – Interceptação telefônica cita doação de R$ 200 mil a secretário de Haddad

Por Bruno Ribeiro, noEstadão:
Uma escuta telefônica autorizada pela Justiça aponta que o secretário de Governo de Fernando Haddad (PT), Antonio Donato, é citado pelo recebimento de R$ 200 mil do auditor Luis Alexandre Camargo Magalhães, um dos quatro servidores da Prefeitura presos na semana passada por formar um esquema de propinas para sonegação de impostos na gestão Gilberto Kassab (PSD). A conversa em que o secretário e o valor são citados é entre Magalhães e sua ex-amante, que o ameaçava. O áudio foi divulgado nesse domingo, 3, pelo Fantástico, da Rede Globo. Donato nega veementemente ter recebido dinheiro de Magalhães ou de qualquer outro membro do grupo.

O Estado apurou que o Ministério Público investiga denúncia que o dinheiro teria sido usado na campanha de Donato para vereador em 2008. O valor relatado na investigação, no entanto, seria a metade, R$ 100 mil. O Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime de Formação de Cartel e à Lavagem de Dinheiro (Gedec) pretende repassar as informações para Promotoria Eleitoral. O eventual crime eleitoral, no entanto, se ocorreu, já está prescrito, de acordo com a legislação.

Conforme o Estado antecipou nesse domingo, Donato é citado em outro grampo da investigação, realizado em 16 de junho, quando o ex-subsecretário de Arrecadação da Secretaria Municipal de Finanças, Ronilson Bezerra Rodrigues, diz a um interlocutor que o procuraria depois de ter sido chamado para depor na Controladoria-Geral do Município (órgão da Prefeitura que, junto com o MPE, conduziu as investigações). No áudio, Rodrigues também diz ter marcado com o vereador Paulo Fiorilo (PT), atual presidente da CPI dos Transportes. Donato confirmou ter se encontrado com Rodrigues no dia em que o fiscal prestou depoimento. Disse que Rodrigues pediu a intervenção na investigação, mas que ele afirmou que não poderia ajudar.

O secretário também foi apontado, por outro secretário, Jilmar Tatto, de Transportes, como responsável pela manutenção de Rodrigues em cargos de diretoria da atual gestão. Rodrigues ocupou o cargo de diretor de Finanças da São Paulo Transporte (SPTrans), empresa que administra a bilionária conta sistema, do bilhete único. Em entrevista concedida nesse domingo, Donato também negou a indicação. Disse que a nomeação foi feita por Marcos Cruz, secretário de Finanças, mas reconheceu que sugeriu o servidor para Cruz por considerá-lo um técnico capacitado, que ele conhecia por ter mantido contato profissional na época em que presidiu a Comissão de Finanças da Câmara. “É o secretário de Finanças (Cruz) que indica os cargos de diretoria de Finanças das empresas públicas”, disse Donato.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

Tribunal de Justiça condena Maluf por superfaturar obra de túnel

No Portal G1:
O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) manteve nesta segunda-feira (4) a condenação contra o deputado federal Paulo Maluf (PP-SP), ex-prefeito da cidade, por improbidade administrativa em superfaturamento de obra. Segundo a sentença, Maluf está proibido de fazer negócios com o poder público e teve suspensos seus direitos políticos por cinco anos. Além disso, terá que devolver o dinheiro desviado e pagar multa. Com a decisão tomada por um órgão colegiado em segunda instância, Maluf pode, aos 82 anos, ingressar na categoria dos fichas-sujas e não disputar eleições por oito anos.

Maluf havia apresentado um recurso contra a condenação sofrida em 2009 no processo sobre o superfaturamento das obras do túnel Ayrton Senna, executadas em sua gestão como prefeito da capital (1993-1996). Cabe recurso ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e Supremo Tribunal Federal (STF).

Maluf foi um dos deputados federais mais votados nas eleições de 2010 em São Paulo. Ele recebeu cerca de 500 mil votos. Pela Lei da Ficha Limpa, uma pessoa condenada por um colegiado à suspensão dos direitos políticos por ato de improbidade administrativa pode ficar inelegível (por oito anos contados a partir da condenação) se a Justiça considerar que houve lesão ao patrimônio publico e enriquecimento ilícito. No caso de Maluf, ele pode pedir o registro da candidatura em 2014 e se alguém, um partido ou o Ministério Público questionar, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) vai analisar caso de inelegibilidade. Em março deste ano, o TSE entendeu que quando não há lesão ao erário ou enriquecimento ilícito o político pode se candidatar. Os advogados de Maluf, Eduardo Nobre e Patricia Rios, por meio de nota, afirmaram que a decisão não impede que o deputado participe das próximas eleições.

 Segundo os advogados, para ser impedido pela Lei da Ficha Limpa é necessário que a condenação por improbidade administrativa tenha as seguintes características de forma cumulativa: “proferida por órgão colegiado; determine a suspensão de direitos políticos; que o ato tenha sido praticado na modalidade dolosa; que o ato importe em prejuízo ao erário; e que o ato cause enriquecimento ilícito do agente público”. Ainda de acordo com Nobre e Rios, o Tribunal de Justiça não condenou o deputado Paulo Maluf pela prática de ato doloso, como também não o condenou por enriquecimento ilícito. “Por essas razões a Lei da Ficha Limpa não impede que o deputado participe das próximas eleições”, diz o texto.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

Padilha diz que recorreria a um médico reprovado no Revalida. Ele sabe que isso jamais acontecerá e que tem o Sírio-Libanês à disposição, como Lula e Dilma

Se o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, tiver um problema relativamente sério de saúde, aonde ele vai? Muito provavelmente, ao Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, que está entre os melhores do Brasil e do mundo. Foi lá que Lula e Dilma trataram do câncer que os acometeu. É para lá que correm os poderosos de Brasília. E notem: nem estou aqui a dizer que deveriam ter recorrido ao SUS. Essa é uma das coisas que me atribuem e que nunca escrevi. O que afirmei, sim, é que a cobrança que muitos fizeram para que apelassem ao sistema público de saúde não tinha nada de “antidemocrático” ou “demagógico”, como afirmaram alguns colunistas alinhados com o poder

Ou Lula não é aquele que chegou a declarar que o SUS estava “próximo da perfeição”? Ao inaugurar uma unidade pública de saúde, afirmou certa feita que até sentia vontade de ficar doente só para ser tratado lá… O pudor não é o forte dos nossos valentes. Pois bem… Nesta sexta, Padilha, fiel à sua estirpe política, disse que não teria nenhum problema em recorrer aos serviços de um médico estrangeiro reprovado no exame “Revalida”. Sabem onde ele estava quando disse isso? No… Sírio-Libanês!

Explica-se. Reportagem da Folha apurou que 48 de um total de 681 médicos selecionados para o programa “Mais Médicos” tinham sido reprovados no Revalida. Nesse grupo, apenas um profissional havia passado na primeira fase da prova. Atenção! Sem o Revalida, médicos que obtiveram o diploma em outros países SÓ PODEM TRABALHAR no programa do governo.

Padilha ainda tentou explicar: o Revalida é para profissionais que vão se dedicar a trabalhos mais complexos, não para os vão fazer o atendimento básico. Ah, bom!!! Agora entendi. Quer dizer que  há médicos de primeiro nível — os capazes de procedimentos complexos — e os de segundo nível. Certo! São, para empregar a linguagem da presidente Dilma, os “apalpadores” — no caso, apalpadores de pobres.

A fala de Padilha é expressão do populismo mais rasteiro. Todo mundo sabe que ele jamais será refém de médicos de segunda linha, incapazes de praticar determinados procedimentos. Ao contrário: se ficar doente, será tratado por profissionais de ponta e com os equipamentos mais avançados que a medicina pode oferecer.

A fala escarnece dos pobres!

Mais cubanos
Informa a Folha(em vermelho):
O governo aumentou de 1.600 para 3.000 o número de médicos cubanos na segunda etapa do Mais Médicos. Eles chegam ao país na segunda e ficarão hospedados inicialmente em cinco cidades: São Paulo, Brasília, Fortaleza, Vitória e Belo Horizonte. Já estavam no Brasil 2.400 cubanos. Inicialmente, a meta era trazer de Cuba 4.000 profissionais. O número sobe agora para 5.400 para preencher as vagas que ficaram abertas por causa do desinteresse de médicos brasileiros e de outros países. O aumento no número de cubanos não altera a meta geral do programa federal, de 13.000, prevista para ser atingida em abril.

A eleição está chegando. Não se espantem se Padilha for “surpreendido” pelos marqueteiros do PT na fila do SUS… Encerro o post com um vídeo que traz o pronunciamento de Lula no IX Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, em novembro de 2009. Quatro anos depois, o PT entregará a saúde dos pobres a médicos reprovados num exame de proficiência.

Por Reinaldo Azevedo

 

Desde o surgimento da Internet, todo mundo é fascista

Li com atraso um artigo de Sandro Vaia, publicado no Blog do Noblat. Mas nunca é tarde. Eu o reproduzo abaixo.
*
A observação foi feita em tom irônico pelo professor norte-americano Douglas Harper em seu dicionário etimológico e convenientemente lembrada esta semana pelo crítico literário Sérgio Rodrigues em seu blog. Esse passou a ser o xingamento campeão nas redes sociais.

Usa-se a torto e direito, mais ainda do que reacionário e direitista, e por ironia das ironias na maioria das vezes é usado por quem não sabe que seu significado lhe serviria como uma luva. Mal comparando, seria como se o Tiririca chamasse alguém de palhaço.

Na semana passada, dois acontecimentos muito didáticos jogaram luzes sobre esse jogo de sombras onde se esconde esse crescente autoritarismo castrador que se espalha como unha-de-gato em muro chapiscado.

A Folha contratou dois novos colunistas semanais para, segundo ela, ampliar o pluralismo de opiniões em seu caderno “Poder”: Reinaldo Azevedo, que tem um blog campeão de audiência hospedado na Veja, e Demétrio Magnoli, sociólogo e geógrafo conhecido por combater a imposição de cotas raciais nas universidades brasileiras.

A internet se encheu de gritos de maldição contra os articulistas e o jornal que os contratou, leitores anunciaram que cancelariam as suas assinaturas e, fato inusitado, a coluna de estreia de Azevedo, sobre a ação de libertação dos beagles de um instituto de pesquisas científicas, levou a ombudsman do jornal a classificar delicadamente o colunista como um “rotweiller” — o que ela explicou depois, claro, era só uma força de expressão.

Um caso claro de intolerância ideológica, que pode ser facilmente curado por duas providências simples: ou deixar de ler o jornal ou continuar lendo o jornal, mas não ler os colunistas desagradáveis. Rebater argumentos e tentar provar com fatos que os deles estão errados e que os seus estão certos nem pensar. Isso dá muito trabalho. Negar em bloco e chamar de “fascista” facilita a vida. Desqualificar sempre, debater nunca.

Mais grave do que isso foi o que aconteceu numa feira literária em Cachoeira, no interior da Bahia, quando ativistas armados apenas pelas suas bordunas de intolerância intelectual impediram, aos gritos, que se realizassem os debates entre o sociólogo Demétrio Magnoli e a cientista social Maria Hilda Baqueiro Paraíso e o filósofo Luiz Felipe Pondé e o sociólogo francês Jean Claude Kaufmann.

Magnoli e Pondé foram impedidos de falar — como Yoani Sánchez já havia sido impedida meses atrás – por pessoas que os xingavam de “fascistas”. Exemplo perfeito daquilo que os franceses chamam de “glissement semantique” – ou deslizamento de sentido das palavras.

País estranho e paradoxal onde opiniões fortes são comparadas com mordidas de rotweiller e onde fascistas em ação proíbem debates e quem é impedido de falar é que é o fascista.

Por Reinaldo Azevedo

 

O Pensador Coletivo

Segue o primeiro parágrafo da coluna de Demétrio Magnoli na Folha de hoje.
*
Você sabe o que é MAV? Inventada no 4º Congresso do PT, em 2011, a sigla significa Militância em Ambientes Virtuais. São núcleos de militantes treinados para operar na internet, em publicações e redes sociais, segundo orientações partidárias. A ordem é fabricar correntes volumosas de opinião articuladas em torno dos assuntos do momento. Um centro político define pautas, escolhe alvos e escreve uma coleção de frases básicas. Os militantes as difundem, com variações pequenas, multiplicando suas vozes pela produção em massa de pseudônimos. No fim do arco-íris, um Pensador Coletivo fala a mesma coisa em todos os lugares, fazendo-se passar por multidões de indivíduos anônimos. Você pode não saber o que é MAV, mas ele conversa com você todos os dias.

O Pensador Coletivo se preocupa imensamente com a crítica ao governo. Os sistemas políticos pluralistas estão sustentados pelo elogio da dissonância: a crítica é benéfica para o governo porque descortina problemas que não seriam enxergados num regime monolítico. O Pensador Coletivo não concorda com esse princípio democrático: seu imperativo é rebater a crítica imediatamente, evitando que o vírus da dúvida se espalhe pelo tecido social. Uma tática preferencial é acusar o crítico de estar a serviço de interesses de malévolos terceiros: um partido adversário, “a mídia”, “a burguesia”, os EUA ou tudo isso junto. É que, por sua própria natureza, o Pensador Coletivo não crê na hipótese de existência da opinião individual.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

Os dados vergonhosos da violência: homicídios voltam a superar marca dos 50 mil; SP segue com a mais baixa taxa (confiável) de mortes; violência na Bahia, maior estado governado pelo PT, continua alarmante

Já começam a circular os dados do 7º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O site do Fórum ainda não traz o relatório completo, que, segundo entendi, estará no ar nesta terça. Mas já dá para fazer algumas considerações. O levantamento traz os números da violência no Brasil em 2012. Atenção! O país voltou a superar a marca dos 50 mil homicídios: 50.108, contra 46.177  em 2011. A taxa de mortes violentas subiu de 24 por 100 mil habitantes para 25,8. 

Aqui e ali, já noto, tenta-se forçar a mão e fazer de São Paulo o dado, vamos dizer, negativo do levantamento. Em 2012, com efeito, houve um aumento de número de homicídios no Estado: de 4.193 para 4.936. Pois é… Ocorre que o Estado segue sendo, segundo dados do próprio governo federal, o SEGUNDO EM QUE MENOS SE MATA NO PAÍS EM NÚMEROS RELATIVOS — vale dizer: que leva em conta o tamanho da população: 12,4 homicídios por 100 mil. Só perderia para o Amapá, com 10,4. Ocorre que o anuário distingue dados de alta confiabilidade — como os de São Paulo — dos de “baixa confiabilidade”, como os do Amapá. Assim, entre os estados em cujas estatísticas se pode confiar, São Paulo ainda é o que apresenta a menor taxa de homicídios.

Tão logo os quadros estejam disponíveis, eu os publico aqui. Por enquanto, fiquem com alguns número. Houve um aumento do número absoluto de homicídios e da taxa em 16 das 27 unidades da federação: Amapá (210,9%) Pará (188,1%);  Piauí (47,2%); Ceará (31,2%); Goiás (26,2%); Acre (22,3%); Sergipe (18,2%);  São Paulo (14%);  Rio Grande do Sul (13,1%); Rio Grande do Norte (11,2%);  Tocantins (9,9%); DF (9,9%); Minas Gerais (8,4%); Maranhão (3,4%) Rondônia (0,8%) e Roraima (14,3%).

A Bahia
Dilma prometeu uma verdadeira revolução na segurança pública. Anunciou que a experiência das UPPs no Rio de Janeiro se espalhariam Brasil afora — não disse como faria. Só anunciou o milagre. O PT governa o estado mais populoso do Nordeste, o quarto do país: só perde para São Paulo, Minas e Rio (por pouco). Jaques Wagner está no sétimo ano de mandato. A violência no Estado segue sendo escandalosa, estupefaciente.

Com mais de 42 milhões de habitantes, São Paulo registrou 5.180 mortes violentas (latrocínios, homicídios e lesão seguida de morte). Com pouco mais de 15 milhões, houve 5.764 ocorrências na Bahia. Assim, a taxa por 100 mil habitantes no Estado governado por Jaques Wagner situa-se entre as maiores do país: 40,7 por 100 mil, contra 12,4 de São Paulo. 

“Por que falar da Bahia? Só para pegar no pé do PT?” Não! Só para ser óbvio. Os petistas prometeram, na disputa eleitoral, dar uma resposta eficaz à segurança púbica. Dilma, reitero, anunciou uma  revolução na área. Wagner governa o estado, diz, em parceria com o governo federal e PRATICAMENTE SEM OPOSIÇÃO. A Bahia é um estado rico, mas que concentra um grande número de pobres; tem à sua disposição tudo o que pode oferecer a modernidade, mas também bolsões de atraso. É uma boa síntese do Brasil. Ali os petistas poderiam demonstrar a sua expertise na área. Em vez disse, nos sete anos de governo do partido, a violência explodiu.

Os nefelibatas ficarão furiosos
Os tempos andam hostis aos fatos. Vejam estes dados sobre número de presos por 100 mil habitantes:
São Paulo – 633
Bahia – 134
Alagoas – 225

Agora vejam as taxas de homicídios por 100 mil desses mesmos estados:
Alagoas – 62
Bahia – 40,7
São Paulo – 12,4

Vejam que coisa curiosa: mais bandidos presos, menos mortos nas ruas. Mas não diga aos nefelibatas e aos poetas da segurança pública. Eles consideram que esse negócio de afirmar que lugar de criminoso é na cadeia é coisa de rotweiller furioso, de direitista. O submarxismo chulé entende que o “encarceramento” é só uma das expressões da luta de classes. Digo ser “submarxismo” porque os comunas mesmo, os originais, nunca deram trela para maginais e nunca julgaram que o crime fosse um instrumento útil à sua causa. Lênin mandava passar fogo na tigrada. Como não sou leninista, acho que basta prender.

Com todos os dados em mãos, voltarei certamente ao assunto.

Por Reinaldo Azevedo

 

Todos espionam. Até o Brasil!

Pois é… Mais de uma vez dei de ombros para essa conversa da espionagem americana. Quando não o fiz, tratei Edward Snowden por aquilo que é: um pilantra. Como ele não me deixa mentir, tornou-se um fiel servidor do regime de Vladimir Putin… A grande conspiração que Glenn Greenwald denunciou ao mundo não passa de operação de rotina. A China, até onde sua tecnologia alcança, faz a mesma coisa. A Rússia idem. Todo mundo espiona todo mundo. O equilíbrio que há no mundo — ou, segundo alguns, “desequilíbrio” — se deve também à espionagem. Há, emendo à margem, algo de patético em querer disciplinar esse tipo de coisa. Ainda que se estabeleçam as regras, é próprio da atividade não haver regra nenhuma.

Dilma Rousseff fez grande escarcéu — não iria perder a oportunidade, não é? — com a história da suposta espionagem. Cancelou uma visita oficial aos EUA. O Brasil exigiu um pedido de desculpas que nunca veio — e, na forma pretendida ao menos, não virá.

A Folha de hoje traz uma reportagem de Lucas Ferraz informando que diplomatas estrangeiros — russos, iranianos e iraquianos — foram espionados no Brasil. Leiam trecho. Volto em seguida.
*
O principal braço de espionagem do governo brasileiro monitorou diplomatas de três países estrangeiros em embaixadas e nas suas residências, de acordo com um relatório produzido pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e obtido pela Folha. O documento oferece detalhes sobre dez operações secretas em andamento entre 2003 e 2004 e mostra que até países dos quais o Brasil procurou se aproximar nos últimos anos, como a Rússia e o Irã, viraram alvos da Abin. Segundo o relatório, que foi elaborado pelo Departamento de Operações de Inteligência da Abin, diplomatas russos envolvidos com negociações de equipamentos militares foram fotografados e seguidos em suas viagens.

O mesmo foi feito com funcionários da embaixada do Irã, vigiados para que a Abin identificasse seus contatos no Brasil. Os agentes seguiram diplomatas iraquianos a pé e de carro para fotografá-los e registrar suas atividades na embaixada e em suas residências, conforme o relatório. A Folha entrevistou militares da área de inteligência, agentes, ex-funcionários e ex-dirigentes da Abin nas últimas duas semanas para confirmar a veracidade do conteúdo do documento que obteve. Alguns deles participaram diretamente das ações.

O Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, ao qual a Abin está subordinada, reconheceu que as operações foram executadas e afirmou que todas foram feitas de acordo com a legislação brasileira. Segundo o governo, foram operações de contrainteligência, ou seja, com o objetivo de proteger segredos de interesse do Estado brasileiro. Nos últimos meses, o vazamento de documentos obtidos pelo analista americano Edward Snowden permitiu que o mundo conhecesse detalhes sobre atividades de espionagem dos EUA em vários países, inclusive no Brasil.
(…)

Retomo
Vejam bem… A “nossa” espionagem parece ser uma pouco mais rudimentar, não é? Lembro-me de um quadro do infelizmente extinto “Casseta & Planeta” em que apareciam os “homens do saco” — espiões que se apresentavam com saco pardo enfiado na cabeça, com dois buracos no lugar dos olhos. Comparado o que se deu aqui com a operação da NSA, a da Abin está mais para a caricatura.

Pouco importa a qualidade do serviço; a questão é de princípio. A espionagem é parte do jogo. É claro que a Abin vai tentar saber quem passou a informação à Folha para punir os agentes. É o seu papel. Imaginem se fosse o contrário; imaginem uma agência de Inteligência, que é braço do estado brasileiro, a incentivar o vazamento de informações…

Outra informação de Ferraz:
“A Abin (Agência Brasileira de Inteligência) monitorou um conjunto de salas alugadas pela embaixada dos Estados Unidos em Brasília por suspeitar que eram usadas como estações de espionagem. A operação ‘Escritório’ é descrita em relatório elaborado pelo Departamento de Operações de Inteligência da Abin e obtido pela Folha. Segundo o documento, os agentes brasileiros concluíram que os americanos tinham ali equipamentos de comunicação, rádios e computadores. ‘Funcionando diariamente, com as portas fechadas e com as luzes apagadas, e sem ninguém trabalhando no local’, diz o relatório. ‘Esporadicamente a sala é visitada por alguém da embaixada.’ Como as outras operações descritas no documento da Abin, a ‘Escritório’ foi classificada pela agência como uma ação de contraespionagem.”

E aí?
O que farão os países “espionados”? Muito provavelmente, nada! Tudo está dentro do jogo. O mínimo que se espera da Abin é que faça isso mesmo. O que não é parte do jogo é haver vazamento de uma operação como essa. É um sinal de que o serviço precisa ser aprimorado. Snowden, no entanto, é a evidência de que não é a sofisticação do aparato que faz a segurança.

Por Reinaldo Azevedo

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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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5 comentários

  • Maurício Carvalho Pinheiro São Paulo - SP

    Voce passou a escrever para a Folha mas eu não assino em baixo. Este grupo ou empresa foi assumido pelos senhores Octavio Frias de Oliveira e Carlos Caldeira Filho segundo se sabia à época no mercado, não posso afirmar, que eram compradores de espólios de viuvas e filhos que não sabiam o valor de bens e escrituras que tinham recebido de herança, por preços aviltantes (para baixo) a título de ajuda e de amizade eterna ao falecido, e o segundo era o rei das manipulações de café do porto de Santos e até mesmo contrabando. Por um lado faz acusações de vários escândalos (Folha) e por outro publica por seu Inst. Datafolha pesquisas mentirosas e fajutas de aprovação de políticos do PT, tipo Lula e Dilma, que dizem entrevistar 1/2 duzia de gatos pingados em 1/2 duzia de muncipios enquanto temos 5.536 e que essa opinião se refere à de 200 milhões afirmando que //seriam eleitos já no 1º turno se as eleições fossem hoje// o que nunca ocorreu, nem com a Martaxa que estava em 1º turno na última eleição que participou e liderava com folga a 3 dias do 1º turno e perdeu para o 3º, o Kassab, nos dois turnos, de //galopinho//como se diz na giria turfista, segundo este instituto, que até hoje não veio a publico explicar o que houve, e que mais recentemente respon deu a uma solicitação de detalhamento de uma delas // que não era possível saber em que locais foram foram feitas as entrevistas , nem as quantidades e catego rias de cada um dêles //pelo formato// !!! Só que é uma exigência prevista em lei que rege eleições e pesquisas eleitorais e o seu formulário padrão !!!

    E pune com multa e até prisão no caso de fraudes nelas.

    Mas que servem para manipular o cérebro dos 70% de semi-analfas eleitores obrigados a votar sem saber escolher. Daí não sei se representa uma boa opção de sua parte escrever para esses caras e emprestar o seu prestigio e credibilidade a êles !!!! Pergunte aí ao Datafolha sobre o que escrevo !!!

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  • Nadir Razini VILHENA - RO

    Olha, sr. Reinaldo, o que vem de baixo não deve atingi-lo. Esta senhora, de pseudo comentarista de economia, em quem nunca acreditei, passou a comentarista ecológica por puro oportunismo. Seus comentários, além de muito pobres, passando por falsos e tendenciosos, são ... Não sei onde a Globo está com a cabeça. Siga em frente.

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  • Maurício Carvalho Pinheiro São Paulo - SP

    A solução para o país é primeiramente tornar o voto opcional. Só vota quem realmente sabe das coisas e tem interesse em sua melhora. O único perigo é ninguem querer votar (quém, quém, quém, quem, .....) em virtude da classe política que temos !!!!! Mas mesmo assim seria muito melhor e acabaria com a compra de votos pelos mais variados motivos, como hoje ocorre.

    Nos EUA são eleitos presidentes com 30 a 40% dos eleitores !!! E nem por isso o país deixa de liderar o mundo !!!

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  • Maurício Carvalho Pinheiro São Paulo - SP

    A respeito de tudo aí em cima eu tenho os seguintes comentários:

    1) O grupelho do PT só foi eleito porque mente para o país

    que é composto por 70% de semi-analfas, segundo a Folha, a maioria recebe Bolsa Esmola, mas são obrigados a votar sem saber escolher, até para receber o Bolsa.

    2) Êles, para terem maioria no congresso, sem ter inteligência e competência suficientes para consegui-la com propriedade, descobriram o suborno como forma de obter apoio ao seu cérebro de fécula de batata.

    3) O PT apareceu e cresceu sob as asas das montadoras que até então dominavam o país, tipo GM, Ford, Volks e Mercedes. E pelegavam elas em troca de salários, aumentos e empregos. Até faziam e fazem até hoje greves quando os estoques estão altos. São tão idiotas que não percebem que a produção de veículos dobrou ultimamente pela adoção de robots que além da qualidade do produto, muito maior do que a dos macacos da Nasa em que se tornaram, trabalham 24 horas, não cansam, não ganham horas extras, nem tiram férias, não tem dissídio coletivo, não recebem nem FGTS e nem auxilio Afastamento/Desemprego, nem licença materni dade. Alguns deles trazidos para cá por obsolescência lá fóra, como as matrizes e prensas.

    3) Com doações dessas empresas e aditando aí empreitei ras, construtoras, bancos e de paisecos tipo Venezue la vem se alimentando para propagandear aos quator ventos suas façanhas de araque, tipo estaleiros, navios (como o João Cândido que não vai ao alto mar senão corre risco de afundar com sua carga,sondas para o pré-sal a (Paulipetro nacional que vai gastar US$ 600 bi na frente para em 2025 ou 2030, se a miragem se realizar, ter algum petróleo que dizem ser de alta qualidade; hoje só tem pesado; para vender e distribuir royalties que livrarão o país de toda a incompetencia acumulada resolvendo problemas de saúde, educação, etc.. Tudo lá na frente !! Sempre !1 Prometer é só prometer !!

    4) Jorram as verbas estatais e esses cronistas que falam essas m...., mercadorias, só estão garantindo a sua boquinha. Um não lê matéria do outro, principal mente se for algo que êle não sabe nem tem conhecimen tos para saber do que se trata. E morrem de ciumeiras

    quando um deles alcança notoriedade. E fazem como o PT, como não conseguem subir pelos próprios meios tentam derrubar os outros, para ficar por cima. Um dêles por mim questionado, que também aparece na Globo, se não haveriam outras variáveis, além de juros para controlar a inflação, que é no seu âmago, fruto de um desiquilíbrio econômico,me chamou de ignorância atrevida, porque deve ter fugido da escola.

    6) Esse grupo usa de pesquisas de aprovação fajutas, que entrevistam, se é que fazem de verdade, mas que mesmo assim nada significam, pois entrevistam 1/2 duzia de gatos pingados enquanto temos quase 200 milhões de pessoas no país e em 130 a 180 municípios enquanto temos 5.536, e para acochambrar resultados fajutos acrescentam mais 2, 3 e até 4 pontos para desonestamente, dar autenticidade a trabalho que não é científico, probabilístico ou qualquer outra coisa tecnicamente corréta. O pior dos mundos é que todo mundo aceita e não vê que é tudo mentira !!! Eu nunca vi pautar 0,0010.... % como regra e verdade para atribuir a outros 99,9989..... % como opinantes na mesma direção. Pesquisas essas patrocinadas pelas CNT e CNI com nossa grana e usando os Ibope, Datafolha, Sensus e outros que aceitam encomenda de resultados favoráveis, segundo o Ciro Gomes.

    7) Esse negócio do quem tem entre as pernas não prevalece a meu ver pois alguns dos componentes deste governo parecem ser gays e machorras. E o que vai lá em cima do pescoço é uma porcaria.

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  • João Alves da Fonseca Paracatu - MG

    Reinaldo,esta senhora(Míriam Leitão)criou um classificação para os todos produtores rurais(caloteiros,chorões e destruidores da natureza)e,embora escreva sobre economia sempre negou a sustentação da economia pelo agronegócio,entretanto, talvez contratada por alguma entidade do setor sucro alcooleiro,passou a mostrar as vantagens do etanol e do biodíesel, num verdadeiro samba do crioulo doido...me dá asco toda vez que tenho de vê-la ou ouvi-la, pois ela é previsível, ou dirá a favor de ongs ambientalóides(ela tem uma),ou nos agredirá.

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