Bancada do PT no Senado decide em peso visitar os mensaleiros; é solidariedade política; partido deixa claro que não reconhece a

Publicado em 18/11/2013 16:39 e atualizado em 20/02/2014 14:16
por Reinaldo Azevedo, de veja.com.br

Bancada do PT no Senado decide em peso visitar os mensaleiros; é solidariedade política; partido deixa claro que não reconhece autoridade do Judiciário

No debate de quinta da VEJA.com, previ que o próprio Apedeuta lideraria uma caravana de visita aos petistas mensaleiros na Papuda. Ainda não se chegou lá, mas quase — ou, em certo sentido, pior. A bancada do PT no Senado, informa Gabriela Guerreiro, na Folha Online, decidiu que irá ao encontro dos patriotas nesta quinta. Wellington Dias (PI) explica:

“É uma visita de solidariedade. Nós tivemos uma convivência com essas lideranças e reconhecemos a importância histórica. São pessoas que conviveram no parlamento, como ministro, dirigente sindical ou líder do nosso partido. As pessoas precisam desse apoio é nessas horas. A nossa bancada não pode esquecer uma das coisas que é a essência do nosso partido que é a solidariedade, o apoio pessoal, humano e o apoio à família, enfim, na hora que precisa”.

Lula ainda chega lá. É questão de tempo. A própria Dilma Rousseff já deu a sua contribuição. Seu perfil retuitou uma mensagem de protesto contra a prisão dos mensaleiros. Note-se: trata-se de uma operação de solidariedade com pessoas que são oficialmente declaradas pela Justiça como criminosas. Fosse um apoio humano, aos amigos, seria compreensível.

Quando, no entanto, uma bancada de senadores decide fazer uma visita como a anunciada, em grupo, nos termos em que a anuncia Wellington Dias, é claro que se está diante de uma questão política. Os petistas acatam a decisão da Justiça porque não fazê-lo obrigaria o Estado brasileiro a usar a força para que se cumprisse a decisão judicial. Isso não seria interessante. Acatam, sim, mas não reconhecem a sua legitimidade.

O que o PT está dizendo é que o Poder Judiciário não é Poder nas cercanias do partido. A legenda não reconhece a sua legitimidade.

Por Reinaldo Azevedo

 

Laudo aponta o óbvio: Genoino é “paciente com doença grave”. Ou: Inaceitável é o carnaval dramático

Conforme o esperado, o laudo do IML aponta que José Genoino é um “paciente com doença grave” — no caso, cardíaca. E que requer cuidados especiais. Sem ter examinado o petista, escrevi isso aqui, não? O que está em curso é uma espetacularização das questões médicas para tumultuar o meio de campo político e jurídico. A exame poderia ter sido feito sem estardalhaço e sem a demonização da Justiça. O mais provável é que passe a cumprir prisão domiciliar. E isso não o torna juiz dos juízes.

Seguem trechos de reportagem de Matheus Leitão, na Folha Online. Volto depois.
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O laudo do IML (Instituto Médico Legal) sobre a saúde do ex-presidente do PT José Genoino conclui que ele é “paciente com doença grave, crônica e agudizada, que necessita de cuidados específicos, medicamentosos e gerais”. O documento de três páginas, ao qual a Folha teve acesso, afirma ainda que é necessário controle periódico por exame de sangue, “dieta hipossódica” (regime alimentar em que se reduz o consumo de sal) e adequada aos medicamentos utilizados por ele. Segundo o laudo, Genoino precisa ainda de avaliação médica cardiológica especializada regularmente.
(…)
Assinado por dois médicos, o laudo não entra no mérito se o político pode ou não cumprir a pena na cadeia. (…) Nesta tarde, na hora do exame médico feito no IML, Genoino estava com a pressão arterial normal, medicado e sem febre.

Retomo
Genoino se entregou na sexta-feira. Depois disso, contou com assistência médica permanente. Tratá-lo como se estivesse sendo torturado pelo estado brasileiro é de um ridículo sem par. O pedido de seu advogado para a prisão domiciliar já foi encaminhado. Como escrevi aqui, acho que tem de ser concedido. Tão logo se execute a pena de Roberto Jefferson, o recomendável é que se faça o mesmo.

Inaceitável é o carnaval dramático.

Por Reinaldo Azevedo

 

A carta da “troika” “Dirceu-Delúbio-Genoino” de ódio à democracia. Ou: Um sotaque bolchevique para três corruptores

Nunca antes na história destepaiz o crime foi tão digno, tão senhor de si, tão cheio de honra. José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares insistem na farsa de que são presos políticos. Resolveram redigir uma carta, em lulês, a língua que se fala por lá, tornada pública por advogados. Dizem não aceitar “humilhação” e preferir o “risco e a dignidade”. O que isso quer dizer? Ora, nada! Trata-se apenas da demonização da Justiça. Os petistas estão tentando ver se o “povo” sai às ruas em defesa do crime. Até agora, não aconteceu. Abaixo, seguem os garranchos da “troika” de ódio ao estado de direito e à democracia. O que é “troika”? É “trinca”, “trio”, “grupo de três coisas semelhantes”. Escolhi a palavra russa para dar à coisa um sotaque bolchevique. É a carta-testamento de três corruptores e, por enquanto ao menos, três quadrilheiros. Mais uma vez, tentam pegar uma carona em Getúlio Vargas. É patético. Mas não creio que corram o risco de terminar como aquele, não é? Getúlio foi ao extremo porque era do tipo que acreditava na própria farsa. O petismo resolveu reviver o mito como comédia.

CARTA DIRCEU

Por Reinaldo Azevedo

 

Os “políticos presos” continuam a se fingir de “presos políticos” para achincalhar a Justiça, a democracia e o estado de direito

Vejam a foto abaixo, de Paulo Ladeira, da Folhapress. Ronan. Miruna e Rioco, filhos e mulher de José Genoino (PT), participaram nesta segunda de um protesto em frente ao complexo penitenciário da Papuda contra a prisão do deputado e dos demais mensaleiros.

Familia de Genoino protesto

A dor da família é compreensível, e acredito que seja real. O rosto da moça, em particular, parece não deixar muitas dúvida sobre o seu sofrimento. Cá nos meus valores, isso depõe a favor do indivíduo Genoino. Certamente é um pai amoroso. Mas se cuida, nesse caso, de outra coisa. A família do deputado, na verdade, integra uma pequena manifestação de protesto promovida por petistas. E os cartazes que a animam são um despropósito absoluto.

Não! Repita-se: não há presos políticos no Brasil, mas políticos presos, conforme afirmei no debate de quinta da VEJA.com. Tampouco se fez um julgamento de exceção. A acusação é ridícula. Se a dor da família é compreensível; se é justo e humano que se preocupe com o estado de saúde de Genoino, a demonização que se está a fazer do STF — e de Joaquim Barbosa em particular — é das coisas mais absurdas a que se assistiu no país em qualquer tempo. Num regime democrático, todos são livres para expressar seus pensamentos. Mas é preciso que se tenha muito claro quando o protesto se dá contra a democracia. A cruzada anti-Barbosa, como já demonstrei aqui, chega a mergulhar no mais asqueroso racismo.

Uma coisa é a dor do filho, da filha, da mulher; outra, muito diferente, é o achincalhe puro e simples da Justiça. No domingo, anunciou-se com estardalhaço — e o advogado de José Genoino, Luiz Fernando Pacheco, deveria, parece-me, ser um pouco mais contido — que o petista havia passado mal. Nesta segunda, o Ministério da Justiça, por intermédio do Departamento Nacional Penitenciário (Depen), desmentiu o boato em nota: “Não houve intercorrência médica até o momento”. O deputado foi atendido pelo médico Daniel França Vasconcelos — um atendimento de rotina para um cardiopata como ele.

Chegou-se a atribuir ao doutor a recomendação de que Genoino cumprisse prisão domiciliar. Informa reportagem da Folha que o medico reclamou com amigos que não havia dado opinião nenhuma a respeito, limitando-se a relatar o estado do paciente. Pacheco tentou se explicar: “Em nenhum momento nós dissemos que o médico fez algum tipo de recomendação. Coube a mim, como advogado, interpretar o que estava no laudo médico e recomendar o regime de prisão albergue domiciliar”. Ah, bom. Agora entendi. Era só uma interpretação do advogado de defesa.

José Nobre, aquele da cueca…
A família de Genoino e o PT perderam qualquer senso de medida. O deputado José Nobre (PT-CE), irmão de Genoino e chefe daquele pobre coitado que foi flagrado carregando dólares na cueca, mandou ver no Twitter no domingo: “O que acontecer com Genoino, a família responsabilizará o Barbosa. Ele sabe que o Genoino não pode estar onde está. Vamos reagir a essas injustiças. O PT não se calou na ditadura militar e não pode se calar contra essa truculência da toga midiática”.

Entenda-se: a Justiça é truculenta e midiática quando condena um petista. Mas certamente é correta e democrática quando livra a cara de alguém como José Nobre, que escapou incólume de um escândalo. No dia 8 de julho de 2005, José Adalberto Vieira da Silva, assessor e faz-tudo do deputado,  foi flagrado transportando US$ 100 mil na cueca e outros R$ 209 mil numa mala. O Ministério Público Federal no Ceará concluiu que o dinheiro era propina proveniente de um contrato de R$ 300 milhões fechado entre o BNB (Banco do Nordeste) e o consórcio Alusa/STN (Sistema de Transmissão do Nordeste). Nobre, então deputado estadual, foi denunciado por improbidade administrativa. Conseguiu se safar. Nesse caso, estou certo, ele considerou que a Justiça não foi nem truculenta nem midiática.

Nesta segunda, o Diretório Nacional do PT divulgou mais uma nota insana, em que se referiu, entre outros temas, à eleição de 2014 e à prisão dos mensaleiros (leiam post nesta terça).

Os petistas têm agora a pretensão de ser os juízes do STF. Acusam o tribunal e a “mídia” de espetacularização, mas transformam Genoino num mártir. Sua família, de modo consciente ou não (pouco importa), aceita participar da pantomima, que busca, na verdade, desmoralizar o próprio Poder Judiciário.

Ora, que os petistas tenham a coragem de se declarar acima da lei e pronto! Até porque, na democracia, só se tornam “políticos presos” — e nunca “presos políticos” — os que se comportam como marginais do poder. Reitero: que Genoino cumpra prisão domiciliar se ficar comprovado que as condições do presídio representam risco real à sua vida. Mas ele não é juiz dos juízes. Ele é um homem condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha, que participou de um grupo que cometeu um crime grave contra a ordem republicana. Só isso! Está preso por isso, não porque seja um mau pai. Dá para entender a diferença?

Por Reinaldo Azevedo

 

Que Genoino cumpra prisão domiciliar. Nada de errado nisso! Só não é aceitável que, por estar doente, ele vire juiz do Supremo!

Joaquim Barbosa encaminhou à Procuradoria-Geral da República o pedido da defesa de José Genoino para que sua prisão passe para o regime domiciliar em razão de seu estado de saúde. O presidente do STF e relator do caso do mensalão quer ouvir o Ministério Público a respeito. Faz bem.

O que eu penso a respeito? A serem verdadeiras as informações que circulam, acho que o benefício deveria ser concedido tanto a ele como a Roberto Jefferson (quando tiver decretada a prisão), que passa por um tratamento delicado de câncer. Se Genoino corre o risco de um agravamento repentino e sem aviso prévio em razão de uma cardiopatia crônica, Jefferson certamente tem de se haver com questões relativas à imunidade, o que pede cuidados especiais.

O que eu lamento é ver que certos sedizentes defensores dos direitos humanos se deram conta apenas agora dessa realidade dramática, não é? Quantos são os sem-eira-nem-beira que enfrentam condições ainda piores em presídios imundos Brasil afora?

Mas não penso com a cabeça “deles”. Até onde sei, a saúde de Genoino e Jefferson inspira, de fato, cuidados. Que se dispensem a eles, e a milhares de outros, o tratamento respeitoso — respeitoso, atenção!, para presos! O que não aceito é que Genoino, por estar doente, vire juiz do Supremo.

Por Reinaldo Azevedo

 

Marco Aurélio ajuda a demonizar o Poder Judiciário e pede que compreendamos a alma profunda de Pizzolato. Claro que sim, ministro! É pra já!

Já elogiei muitas vezes os votos de Marco Aurélio aqui, mesmo quando na contramão ou da metafísica influente ou da minha própria opinião. Parecia-me um ministro independente. Com o tempo, a coragem de não endossar consensos foi ganhando, assim, os contornos de alguém que parece falar “pour épater les bourgeois”, para causar espécie,  indignação, polêmica. E isso na melhor das hipóteses.

Está em curso um processo de demonização do Poder Judiciário, do STF em particular e, mais especificamente, do ministro Joaquim Barbosa. Ainda que se possam fazer reparo aos três, a gritaria que está por aí se dá por maus motivos. Leiam o que informa Severino Motta, na Folha. Volto em seguida.
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O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Marco Aurélio Mello criticou nesta terça-feira (19) a forma como foram feitas as prisões do mensalão. De acordo com ele, há dúvidas sobre a necessidade de levar todos a Brasília e teria havido pressa nesta última etapa do processo. Segundo o ministro, os detentos deveriam cumprir pena nos Estados onde moram, próximo de suas famílias. “O cumprimento se dá onde o réu, o reeducando –e tomara que todos saiam reeducados– onde o reeducando tem raízes, tem domicílio. Porque se pressupõe que, ficando mais próximo da família, vai haver a assistência, que é importante para a ressocialização”, disse.

Marco Aurélio ainda disse que a pressa para as prisões fez com que os apenados passassem um dia o complexo prisional da Papuda no setor controlado pela Polícia Federal, o que não deveria ter acontecido. De acordo com ele, caso houvesse mais calma, haveria maior segurança. Pouco antes de entrar numa das turmas de julgamento do STF, Marco Aurélio, que foi o ministro responsável por dar um habeas corpus ao ex-banqueiro Salvatore Cacciola em 2000, que acabou fugindo do país, também disse que é preciso compreender a decisão de fuga do ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato.

“Precisamos compreender a angustia de quem está condenado. É incito à pessoa tentar escapar, principalmente conhecendo as condições desumanas das nossas penitenciárias. Então, como ele tinha dupla nacionalidade, ele saiu do Brasil para se ver livre do que seria o recolhimento a uma das penitenciárias. Isso nós precisamos compreender”. Ele ainda alegou que o STF não poderia determinar medidas que limitassem a liberdade de ir e vir de Pizzolato antes de uma condenação definitiva e que agora só resta ao Brasil pedir a extradição e aguardar uma resposta do governo da Itália.

Por fim, o ministro também voltou a explicitar sua descrença em relação à possibilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desconhecer a existência do mensalão. “Eu presumo sempre o que normalmente ocorre. Eu não consigo imaginar o presidente da República alheio ao que ocorre na respectiva cozinha”.
(…)

Voltei
Angústias, creio, todos têm, menos os psicopatas, clinicamente incapazes de sentir simpatia ou empatia. A literatura brasileira é plena de jagunços comovidos. Ainda hoje, algumas das personagens que excitam a imaginação dos nossos cronistas, especialmente em certa imprensa, é o bandido humanista, não é assim? É realmente estupefaciente que Marco Aurélio, em fala tão curta, hostilize, ainda que de maneira oblíqua, Joaquim Barbosa e nos convoque a compreender os desvãos da alma de Henrique Pizzolato.

Sua fala é também perigosa. Daqui a pouco, os bandidos brasileiros reivindicarão o direito legítimo à fuga. Ou por outra: não se pode proibi-los de tentar fugir, mas se deve puni-los por isso. Estranho, não? Agora que a Papuda ganhou alguns hóspedes ilustres, deram para lembrar as condições miseráveis dos presídios brasileiros.

O ministro deveria ser um pouco mais prudente. Em qualquer país democrático do mundo, alguém nas condições de Pizzolato estaria com vigilância especial — e não haveria agressão a direito nenhum. Desde a sua condenação, isso teria sido determinado. Esperar-se-ia, como se esperou, o trânsito em julgado para a execução da pena, mas seus passos estariam vigiados. Quando se retira o passaporte, por exemplo, o que se tem? Na prática, é uma restrição de direito. Da forma como se fez no Brasil, convenham, todos poderiam ter simplesmente se mandado do Brasil. Lamento, mas a fala do ministro deixa implícita a ideia de que otário é quem não o fez.

Não dá! Há a hora em que se espera de um dos 11 ministros do Supremo que fale em nome da instituição. Se Marco Aurélio quer se comportar como advogado de defesa, que tire a toga dos ombros e abra um escritório. Lamentável! Passou dos limites mais uma vez. 

Por Reinaldo Azevedo

 

Dilma tem 43%, Aécio, 14%, e Campos, 7%, indica pesquisa Ibope

No Portal G1. Volto no próximo post:
Pesquisa Ibope divulgada nesta segunda-feira (18) aponta que a presidente Dilma Rousseff tem 43% das intenções de voto e venceria no primeiro turno se a eleição de 2014 fosse hoje e os adversários fossem o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), considerado atualmente o cenário mais provável da disputa.

Nessa hipótese, Aécio soma 14% das intenções de voto e Campos, 7%, segundo o Ibope. As opções por voto nulo ou branco acumulam 21%. Outros 15% disseram não saber em quem votar ou não responderam. Na pesquisa anterior, realizada pelo Ibope e divulgada no dia 24 de outubro, Dilma tinha 41%, Aécio, 14%, e Campos, 10%.

Dilma também venceria no primeiro turno nos cenários em que são incluídos pelo PSB Marina Silva e pelo PSDB, José Serra. O Ibope ouviu 2.002 eleitores de 7 a 11 de novembro em 142 municípios do país. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
(…)

 Ibope cenários 1 e 2

Ibope cenários 3 e 4
Ibope cenário 5

Por Reinaldo Azevedo

 

Dilma no primeiro turno: a vitória da inércia

O Ibope fez uma nova pesquisa. Vejam os números no post anterior. Apesar da propaganda maciça, a situação de Dilma não é um esplendor, mas é muito confortável. Dramática mesmo é a realidade da oposição. No cenário considerado mais provável, com Eduardo Campos como candidato do PSB (7%) e Aécio Neves, do PSDB (14%), Dilma vence no primeiro turno, com 43%. Caso Marina assuma o lugar do governador de Pernambuco, a realidade não se altera muito. Dilma fica com 42%; a criadora da Rede, com 16%, e o senador mineiro tende a murchar um pouco: 13%. ATENÇÃO! Se esses números detectam mesmo alguma mudança em curso, há sinais de queda de entusiasmo pela parceria Marina-Campos.. Há três semanas, ele tinha 10% no Ibope; agora, 7%; ela tinha 21%; agora, 16%.

Caso Serra assuma a vaga do PSDB como candidato, em lugar de Aécio, Dilma continua vencer na primeira rodada. Nesse caso, a petista passa de 40%, há três, semanas, para 41%; Serra, de 18% para 19%, e Campos, de 10% para 7%. Se os candidatos fossem Marina e Serra, tudo continuaria a se resolver na primeira rodada: a petista passa de 39% para 40%; Marina cai de 21% para 15%, e Serra passa de 16% para 17%.

A chance de segundo turno ficou para um cenário que já não existe mais: Serra e Aécio como candidato. Essa possibilidade acabou. Nesse caso, os adversários teriam 39%, contra 37% de Dilma.

Segundo turno
Segundo o Ibope, Dilma venceria a disputa no segundo turno com facilidade, qualquer que fosse o adversário:

- Dilma Rousseff: 47%
- Aécio Neves: 18%
- Branco/nulo: 22%
- Não sabe/não respondeu: 13%

- Dilma Rousseff: 44%
- Marina Silva: 24%
- Branco/nulo: 19%
- Não sabe/não respondeu: 13%

 - Dilma Rousseff: 48%
- Eduardo Campos: 12%
- Branco/nulo: 24%
- Não sabe/não respondeu: 16%

- Dilma Rousseff: 45%
- José Serra: 21%
- Branco/nulo: 21%
- Não sabe/não respondeu: 13%

Retomo
Essa pesquisa foi feita entre o dia 7 e o dia 11. A prisão dos mensaleiros foi decretada no dia 15. Terá tido algum impacto? Sabe-se lá. Uma coisa é certa: até agora, a maioria do eleitorado não vê a oposição como uma alternativa. A eleição ainda está distante, a campanha eleitoral não está nas ruas etc., e o governo dispõe de mais instrumentos para falar com a opinião pública.

O Ibope detectou que apenas 23% dos eleitores não querem mudança nenhuma; acham que tudo vai bem como está. Disseram que o governo deveria manter apenas alguns programas 38%, e 24% expressam o desejo de uma mudança total.

Leitura otimista para quem gostaria de ver o PT apeado do poder: 62% gostariam de mudanças. Ocorre que, em eleição, há diferenças entre gosto e gesto. Mudar para qual proposta? Sem uma fala mais objetiva e palpável, fica difícil. Vejam o caso de Marina: embalada pelas ruas, ela cresceu. Mas parece que já começa a ser fulminada por suas falas incompreensíveis.

Desde que saiba para onde, o povo até topa mudar de rumo. Mas insisto: para onde? Sem isso, vence a inércia.

Por Reinaldo Azevedo

 

UM POUCO DE HISTÓRIA – Em 2004, Diogo denuncia Pizzolato; em 2005, explode o mensalão; em 2007, petista perde processo que moveu contra colunista; em 2013, ex-diretor do BB foge do país

Ai, ai… Antes de fugir do país pela rota normalmente usada por traficantes, Henrique Pizzolato exibia gravatas-borboletas muito vistosas e era um homem poderoso, um quadro do PT no Banco do Brasil. E costumava apelar à Justiça, na qual ele não acredita, para tentar calar os críticos. Muito típico. Processou, por exemplo, Diogo Mainardi por causa de três colunas publicadas na VEJA. Sentiu-se difamado e pediu indenização. Perdeu em primeira instância. Recorreu. Perdeu de novo. O desembargador Renato Ricardo Barbosa foi muito eloquente. Transcrevo:
“E quando se fala em liberdade de informação, a imprensa tem-se revelado o meio de comunicação social mais bem equipado e eficaz na divulgação da notícia. Ao jornalismo sério incumbe, na maior escala, a atividade de informação. No repórter, no sentido genérico do termo, mais que em qualquer outro, recai o compromisso de bem informar, correspondendo ao dever contraposto de liberdade individual de acesso à informação. De priscas eras, nascida antes mesmo da proteção à vida privada, a notícia encontra somente nesta última o seu limite; e assim mesmo, quando o fato não se revista de relevante interesse público. (…) É nesse sentido, sistematicamente interpretado, que o artigo 49 § 1º da Lei 5.250/67 (Lei de Imprensa), prevê a exceptio veritatis, reputando-a inadmissível somente se a divulgação do fato imputado concerne à vida privada do indivíduo e assim mesmo se não foi motivada em razão de interesse público, excluindo a responsabilidade civil.”

Atenção, meus caros! O que vai acima aconteceu em meados de 2007. As colunas de Diogo que motivaram o processo são de 28 de julho de 2004, de 22 de junho de 2005 e de 6 de julho de 2005. A PRIMEIRA, PORTANTO, FOI PUBLICADA ANTES DE ROBERTO JEFFERSON BOTAR A BOCA NO TROMBONE E DENUNCIAR O MENSALÃO, O QUE SÓ ACONTECEU NO DIA 6 DE JUNHO DE 2005, em entrevista concedida à jornalista Renata Lo Prete, então na Folha. Seguem as três colunas. Na segunda, vocês lerão, escrita duas semanas depois da entrevista de Jefferson, Diogo prevê um futuro não muito bom para a reeleição de Lula. Não aconteceu daquele modo. É que ninguém antevia que as oposições, então, fariam a mais estúpida de todas as opções… Como é mesmo? “Deixar Lula sangrar no poder…” Deu no que deu.
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Coluna de 28 de julho de 2004 – Perde Brasil
O time de voleibol do Brasil acaba de conquistar a Liga Mundial. As finais foram em Roma. Os torcedores brasileiros ocupavam um setor inteiro das arquibancadas. Vestiam camiseta amarela, com a marca do Banco do Brasil. Usar dinheiro público para patrocinar o time de voleibol a gente engole. Usá-lo para patrocinar a torcida é demais. O departamento de marketing do Banco do Brasil irá gastar 9,5 milhões de reais para patrocinar a torcida brasileira nas Olimpíadas de Atenas. O mote da campanha é Brilha Brasil. O jeito é torcer contra nossos atletas. Perde, Brasil.

Além de patrocinar a torcida do time de voleibol, o Banco do Brasil está patrocinando a torcida pela reeleição de Lula. Dois dos maiores dirigentes do banco, Henrique Pizzolato e Ivan Guimarães, trabalharam na última campanha presidencial lulista, respectivamente como arrecadador de fundos e coordenador financeiro. Pizzolato foi premiado com o cargo de diretor de marketing do banco e é responsável pela campanha Brilha Brasil. Guimarães tornou-se presidente do Banco Popular do Brasil e é acusado de ter defendido o patrocínio de 5 milhões de reais aos cabos eleitorais petistas Zezé di Camargo e Luciano. O Banco do Brasil gastou 70.000 reais nos espetáculos em que a dupla sertaneja arrecadou fundos para a construção da nova sede do PT. Pizzolato e Guimarães são ligados à CUT, que tem contado com o patrocínio do Banco do Brasil em seus principais eventos, como a festa de vinte anos e o oitavo congresso nacional. Lula é a grande atração da TV CUT, programa semanal feito pelos mesmos publicitários que administram a conta de propaganda do Banco do Brasil. Uma conta que vale 142 milhões de reais anuais.

Quem cuidou do dinheiro de Lula na campanha eleitoral agora cuida de nosso dinheiro no Banco do Brasil. Quem cuidou de sua segurança agora cuida de nossa segurança. Um dos guarda-costas de Lula, Francisco Baltazar da Silva, foi nomeado superintendente da Polícia Federal de São Paulo. Atualmente, está sendo investigado pela compra de 134 600 dólares através do doleiro Toninho da Barcelona. Outro guarda-costas de Lula, Mauro Marcelo de Lima, ganhou a função de diretor-geral da Abin, nosso serviço de espionagem. Entre suas credenciais, há um curso de dublagem e uma ponta numa telenovela de 1982, Elas por Elas. Agente secreto com pendores artísticos é sempre uma temeridade. Em seu discurso de posse, algumas semanas atrás, Mauro Marcelo admitiu estar na “torcida por um bis” presidencial de Lula. O serviço de espionagem dos Estados Unidos, no passado, também torceu pela reeleição de um presidente. O resultado foi Watergate.

As campanhas pelo time de voleibol e pelo bis de Lula só perdem para a campanha pelo desarmamento. O sofisma é o seguinte: o cidadão corre mais riscos com uma arma na mão do que sem ela. O que se pretende demonstrar é que a responsabilidade pelo crime é nossa, não do poder público. Se os guarda-costas de Lula não sabem defender a população, então não podem impedi-la de tentar se defender por conta própria, mesmo que de maneira desastrada. Bem mais honesto do que desarmar o cidadão com falsos argumentos seria oferecer-lhe um curso de tiro e defesa pessoal. Todo mundo com uma arma no coldre e andando a cavalo. Perde, Brasil.

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Coluna de 22 de junho de 2005 – Eu sabia. Todo mundo sabia
Está a maior farra aqui em casa. Chegou a hora de tripudiar. De contar vantagem. De esfregar na cara. De soltar rojão. De me cobrir de glória. O depoimento de Roberto Jefferson na Comissão de Ética foi melhor do que Copa do Mundo. Foi meu hexacampeonato particular.

Lula reagiu ao ataque de Roberto Jefferson afirmando que não aceitaria “vender a alma pela reeleição”. Foi mais uma tentativa de engabelar o eleitorado. Seu governo não foi acusado de vender a alma aos parlamentares. Pelo contrário: foi acusado de comprar.

Agora a reeleição morreu. Não é tão surpreendente assim. Em outubro de 2004, numa coluna intitulada “O partido do topa-tudo”, apostei que Lula não seria reeleito, com o argumento de que “os eleitores estão nauseados com o PT. Ele será sempre identificado como o partido que compra o apoio de outros partidos com malas cheias de dinheiro. Que recebe doações de empresários acusados de corrupção. Que se alia desavergonhadamente a políticos que sempre combateu. Que dá carta branca a seu tesoureiro em reuniões ministeriais. Que protege os amigos do presidente”.

Eu não sou jornalista. Não tenho fonte no Congresso Nacional. Não conheço Roberto Jefferson. Não grampeio o telefone de José Dirceu. Só reuni a informação que estava escancarada na imprensa. Roberto Jefferson diz que todo mundo sabia do esquema de propina do PT. Ele tem razão. Eu sabia. O leitor sabia. Todo mundo sabia. Antes de Roberto Jefferson, um ilustre deputado já tinha dito que “Waldomiro Diniz era um dos caixas do José Dirceu”. Antes de Roberto Jefferson, um nobre senador já tinha chamado Marcelo Sereno de “PC Farias do PT”. Claro que, cedo ou tarde, o esquema seria revelado.

O plano para a reeleição de Lula sempre foi muito suspeito. Quando ele nomeou seu guarda-costas, Mauro Marcelo de Lima, para a diretoria da Abin, eu comentei: “Mauro Marcelo admitiu estar na torcida por um bis de Lula. O serviço de informação dos Estados Unidos, no passado, torceu pela reeleição de um presidente. O resultado foi Watergate”. Quando Lula indicou o arrecadador de fundos de sua campanha eleitoral, Henrique Pizzolato, para a diretoria de marketing do Banco do Brasil, eu também estranhei. Acusei Pizzolato de usar a verba de propaganda do Banco do Brasil para patrocinar a reeleição de Lula, através da TV CUT, da torcida do time de voleibol nas Olimpíadas e do curta-metragem ufanista de Jorge Furtado. Roberto Jefferson disse que a Abin e as agências de propaganda do Banco do Brasil estão envolvidas com o esquema de corrupção do PT. Sugiro que Lima e Pizzolato sejam ouvidos pela CPI.

Lula temia se transformar num Lech Walesa. Se a acusação de Roberto Jefferson for comprovada, é o que irá acontecer. Roberto Jefferson garantiu que Lula não sabia o que os petistas faziam por baixo do pano. Eu sabia. O leitor sabia. Todo mundo sabia. O único que não sabia era seu maior beneficiário: Lula.

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Coluna de 6 de julho de 2005 – Um país detestável
Michel Houellebecq, em Partículas Elementares, definiu o Brasil como uma porcaria de país, “povoado de brutos fanáticos por futebol e por corridas de automóvel. A violência, a corrupção e a miséria estavam no apogeu. Se havia um país detestável, era justamente, e especificamente, o Brasil”. Partículas Elementares é de 1998. Ou seja, foi publicado antes das comemorações do “Ano do Brasil na França”. Imagino que agora, tendo tido a oportunidade de conhecer melhor nossos músicos, cineastas, escritores, artistas plásticos e políticos, todos os franceses compartilhem a opinião de Houellebecq a respeito do país. Se eu fosse o ministro das Relações Exteriores, ou o ministro da Cultura, ou o diretor da Cacex, evitaria exibir o Brasil lá fora. Nossa única chance é que o resto do mundo continue a nos ignorar. Quanto menos contato os estrangeiros tiverem conosco, melhor. Uma iniciativa como o “Ano do Brasil na França” produz danos irreparáveis à nossa imagem. Os franceses levarão meio século para esquecer o que viram.

A comunidade muçulmana na França processou Houellebecq porque ele declarou numa entrevista que o islamismo era “uma religião estúpida”. Os brasileiros não podem fazer o mesmo. Houellebecq tem razão sobre o Brasil. A gente é uma porcaria. A gente é fanático por esporte. A gente é corrupto. Um fato não exclui o outro. Pelo contrário: há uma relação direta entre fanatismo esportivo e corrupção. A investigação sobre a roubalheira petista já revelou que a propaganda estatal era usada para a lavagem de dinheiro. Agora falta descobrir se o patrocínio de eventos esportivos tinha a mesma finalidade. Eu persigo o diretor de marketing do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato. Sou seu professor Moriarty. Cheguei a recomendar sua convocação à CPI. Tenho certeza de que ele pode explicar direitinho como funciona o esquema de distribuição de verbas promocionais das empresas públicas. Pizzolato está por dentro de tudo. Além de arrecadar fundos para as campanhas eleitorais de Lula, ele comanda o investimento em publicidade do Banco do Brasil e decide o patrocínio da estatal a eventos esportivos. É o nosso homem.

Um dos eventos esportivos patrocinados por Pizzolato foi um torneio hípico realizado pelo publicitário Marcos Valério. O maior quinhão do Banco do Brasil, porém, é destinado ao vôlei e ao tênis. O Banco do Brasil, quase sempre em sociedade com a Koch Tavares, financia praticamente sozinho todo o tênis nacional. Patrocina Gustavo Kuerten, o Brasil Open, o Ourocard Challenger, o circuito juvenil, o Masters e o Aberto de São Paulo, através de sua subsidiária Cobra Tecnologia. Nos dois primeiros anos do governo Lula, a Cobra foi comandada por Graciano Santos Neto. Ele é uma das figuras mais comentadas do petismo. Era diretor da Gtech na época em que Waldomiro Diniz negociava em favor da empresa. Na Cobra, foi acusado de beneficiar empresas privadas com o repasse de contratos sem licitação. Graciano é tenista amador. Em 2004, jogou uma partida preliminar da final do Aberto de São Paulo, torneio patrocinado pela própria Cobra. Ao término da partida, concedeu-se inclusive um troféu. Como diria Houellebecq, é detestável que Graciano tenha se aproveitado do dinheiro público para se exibir num torneio de tênis. E é ainda mais detestável, “especificamente detestável”, que ninguém tenha pensado em expulsá-lo da quadra a raquetadas.

Por Reinaldo Azevedo

 

APRENDAM O QUE É IMPRENSA SÉRIA – Na semana em que mensaleiros vão em cana, capa da “Carta Capital” chama a atenção para o risco de extinção de uma perereca

Vou imitar os petralhas nas redes sociais e quando tentam invadir a área de comentários do blog: “Quá, quá, quá…” “Rarararara”… “Kkkkk”. Não sei imitar o som dos zurros. Na semana em que o Supremo decretou a prisão dos mensaleiros; na semana em que José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoino e uma banqueira foram em cana por causa do mensalão, Mino Carta continua a assombrar o jornalismo mostrando como é que se faz. A capa da “Carta Capital”, generosamente bancada por patrocínio de estatais, chama a atenção para a extinção de uma perereca.

Sim, leitor amigo, um mundo sem pererecas seria certamente infernal, mas digamos que o assunto poderia ficar para a semana que vem, não é? O apocalipse das pererecas ainda tardará um pouco. Vejam.

Carta Capital

É claro que Mino faz isso para a chamar a atenção. Assim, ficaria evidenciada uma suposta conspiração midiática — entenderam? —, à qual a Cartilha Capital não aderiria para demonstrar, coisa de que ninguém duvida, que faz jornalismo de outra natureza. Um leitor me mandou a imagem. Achei que estivesse me sacaneando; cheguei a pensar que era uma dessas brincadeiras da Internet… Entrei no site da revista. É tudo verdade.

Nem no site a prisão dos mensaleiros merece destaque. Nada disso! A revista prefere anunciar que “Dilma cospe fogo”, revoltada com a paralisação das obras. Entendi. A Cartilha certamente escreveu um texto demonstrando que a presidente faz muito bem em lutar para que obras que roubam dinheiro público tenham continuidade. É coisa de gente com moral superior.

Agora entendi por que tantos vagabundos, alguns disfarçados de jornalistas, e congêneres no feminino ficaram tão furiosos quando passei a assinar uma coluna na Folha. Quem deveria estar lá, no meu lugar, é um desses defensores fanáticos do sapo cururu.

PS: E aquele “aguenta firme”? Isso mereceria um ensaio de semiótica. Coragem, perereca!

Por Reinaldo Azevedo

 

Pizzolato repete termos de PT, Dirceu e Genoino, diz confiar na Justiça italiana e se mostra grato à subimprensa financiada por estatais, inclusive o BB, de onde saiu parte do dinheiro do mensalão

Pois é… Henrique Pizzolato se mandou. Usou a rota Pedro Juan Caballero, a exemplo dos traficantes de drogas e de armas, dos bandidos comuns. Faz sentido. Segundo ficou comprovado nos autos, o dinheiro a que ele recorreu para alimentar o mensalão era do Banco do Brasil, era público. Pizzolato tirou dos pobres mais do que que costumam tirar aqueles outros bandoleiros. Como diria Padre Vieira, seu crime é ainda mais covarde. Os outros, ao transgredir a lei, sabem que estão correndo riscos, inclusive de vida. Isso, obviamente, não minimiza a fealdade do seu crime, mas há, vamos reconhecer, alguma ousadia. Os que enfiam a mão no dinheiro público abusando do cargo que ocupam, da facilidade dos ambientes com ar refrigerado, com suas gravatas italianas — compradas, é bem provável, com a grana dos desdentados —, estes têm uma mácula adicional: a covardia física. Já que decidiram ser delinquentes, que, ao menos, o fizessem, para citar o padre, “debaixo de seu risco”… Mas quê…

Pizzolato deixou uma carta explicando a sua fuga. Fala a linguagem dos heróis. É bom que fique claro: o texto repete as notas emitidas pelo PT, por José Dirceu e por José Genoino. Tudo igual! Reclama que não teve direito de apelar a corte superior — como se a competência originária do processo já não fosse da corte suprema brasileira; diz que cercearam o direito de defesa, o que é comprovadamente mentira; alega que não há provas contra ele, outra mentira; sustenta que se trata de um julgamento conduzido pela mídia, mentira de novo… E segue assim. Ora, partido, Dirceu, Genoino e congêneres afirmaram coisa diferente? Os chefões de verdade só não deram no pé também porque aí seria a desmoralização absoluta do partido. A fuga, ademais, seria mais difícil, já que estão sem os passaportes. Só se Dirceu mudasse de cara pela terceira vez…

No pé deste post, vai a íntegra das indignidades de Pizzolato, redigidas por advogados, como resta evidente. O trecho que realmente toca no sublime, que exprime, como nenhum outro, a essência do petismo — e ele é um petista graúdo, é bom que fique claro — é este, prestem bem atenção:
“Por não vislumbrar a mínima chance de ter julgamento afastado de motivações político-eleitorais, com nítido caráter de exceção, decidi consciente e voluntariamente fazer valer meu legítimo direito de liberdade para ter um novo julgamento, na Itália, em um tribunal que não se submete às imposições da mídia empresarial, como está consagrado no tratado de extradição Brasil e Itália.”

Espetacular! Os petistas Tarso Genro e Luiz Inácio Lula da Silva decidiram conceder refúgio ao terrorista italiano Cesare Battisti sob a alegação de que, na Itália, ele não teria direito a uma Justiça isenta. Segundo Tarso, este pensador assombroso, o Judiciário daquele país não era independente o bastante. Já o também petista Pizzolato pensa o contrário: no Brasil, sim, a Justiça é injusta; na Itália, ele assevera, conseguirá o devido equilíbrio.

A carta tem um outro trecho, a seu modo, delicioso. Pizzolato se mostra grato àqueles setores que se confundem com imprensa, financiados por estatais, inclusive o Banco do Brasil, do qual ele foi diretor de marketing, desviando mais de R$ 73 milhões para o esquema mensaleiro. Leiam que mimo:
“Mesmo com intensa divulgação pela imprensa alternativa – aqui destaco as diversas edições da revista Retrato do Brasil – e por toda a internet, foi como se não existissem tais documentos, pois ficou evidente que a base de toda a ação penal tem como pilar, ou viga mestra, exatamente o dinheiro da empresa privada Visanet. Fui necessário para que o enredo fizesse sentido. A mentira do “dinheiro público” para condenar. Todos. Réus, partido, ideias, ideologia”

É, com efeito, de uma espetacular ousadia. Pizzolato insiste na falácia de que o dinheiro da Visanet era privado. É um acinte. ATENÇÃO! Ele foi condenado por peculato por unanimidade: ONZE A ZERO. Peculato significa roubo de dinheiro público. A totalidade do tribunal considerou o óbvio: o dinheiro do sistema Visanet era… do Banco do Brasil. Nem Ricardo Lewandowski teve cara para dissentir. Atenção! Foi condenado por corrupção passiva por ONZE A ZERO. Mais uma vez, Lewandowski não conseguiu discordar. Foi condenado ainda por lavagem de dinheiro por 10 a 1 — só Marco Aurélio divergiu. Lewandowski, de novo, teve de se dobrar aos fatos, que gritavam.

Pizzolato tem dupla cidadania. Caso seja preso na Itália, o Brasil pode pedir a sua extradição. Seria concedida? Pois é: a Itália pode muito responder que a gente fica com o terrorista deles, e eles ficam com o nosso peculador, com o nosso corrupto passivo, com o nosso lavador de dinheiro. Assim, a decisão tomada por Tarso e Lula em relação a Battisti estará protegendo criminosos duas vezes.

Segue a íntegra da carta de Pizzolato. É mais um dos retratos do Brasil petista. Volto para encerrar.
“Minha vida foi moldada pelo princípio da solidariedade que aprendi muito jovem quando convivi com os franciscanos e essa base sólida sempre norteou meus caminhos.
Nos últimos anos minha vida foi devassada e não existe nenhuma contradição em tudo que declarei quer seja em juízo ou nos eventos públicos que estão disponíveis na internet.
Em meados de 2012, exercendo meu livre direito de ir e vir, eu me encontrava no exterior acompanhando parente enfermo quando fui mais uma vez desrespeitado por setores da imprensa.
Após a condenação decidida em agosto retornei ao Brasil para votar nas eleições municipais e tinha a convicção de que no recurso eu teria êxito, pois existe farta documentação a comprovar minha inocência.
Qualquer pessoa que leia os documentos existentes no processo constata o que afirmo.
Mesmo com intensa divulgação pela imprensa alternativa – aqui destaco as diversas edições da revista Retrato do Brasil – e por toda a internet, foi como se não existissem tais documentos, pois ficou evidente que a base de toda a ação penal tem como pilar, ou viga mestra, exatamente o dinheiro da empresa privada Visanet. Fui necessário para que o enredo fizesse sentido. A mentira do “dinheiro público” para condenar. Todos. Réus, partido, ideias, ideologia.
Minha decepção com a conduta agressiva daquele que deveria pugnar pela mais exemplar isenção é hoje motivo de repulsa por todos que passaram a conhecer o impedimento que preconiza a Corte Interamericana de Direitos Humanos ao estabelecer a vedação de que um mesmo juiz atue em todas as fases de um processo, a investigação, a aceitação, e o julgamento, posto a influência negativa que contamina a postura daquele que julgará.
Sem esquecer o legítimo direito moderno de qualquer cidadão em ter garantido o recurso a uma corte diferente, o que me foi inapelavelmente negado.
Até desmembrarem em inquéritos paralelos sigilosos para encobrir documentos, laudos e perícias que comprovam minha inocência, o que impediu minha defesa de atuar na plenitude das garantias constitucionais. E o cúmulo foi utilizarem contra mim um testemunho inidôneo.
Por não vislumbrar a mínima chance de ter julgamento afastado de motivações político-eleitorais, com nítido caráter de exceção, decidi consciente e voluntariamente fazer valer meu legítimo direito de liberdade para ter um novo julgamento, na Itália, em um tribunal que não se submete às imposições da mídia empresarial, como está consagrado no tratado de extradição Brasil e Itália.
Agradeço com muita emoção a todos e todas que se empenharam com enorme sentimento de solidariedade cívica na defesa de minha inocência, motivadas em garantir o estado democrático de direito que a mim foi sumariamente negado.”

Encerro
Precisamos financiar esse herói. Não há uma conta para a gente depositar uma ajuda? Se bem que isso não é necessário. Membros do PT nunca ficam na chuva desde que sejam fiéis. É um dos segredos de organizações desse gênero. A Itália sabe bem como é.

Por Reinaldo Azevedo

 

Pizzolato entra para a lista de procurados da Interpol

Por Laryssa Borges, na VEJA.com> Volto ao tema no próximo post.
Condenado a 12 anos e 7 meses de prisão no processo do mensalão e foragido na Itália, o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato está oficialmente inscrito na lista de procurados da Interpol. O site da polícia internacional reúne dados e fotos de Pizzolato e informa que ele foi condenado por corrupção e lavagem de dinheiro no país. A Interpol já emitiu alerta vermelho sobre Pizzolato para os 190 países membros. Em alguns países, o aviso tem validade de mandado de prisão. Em outros, é necessário que a Justiça local ratifique o mandado.

Fuga
Pizzolato deixou clandestinamente o Brasil há 45 dias para se esconder na Itália, fazendo uso de sua dupla cidadania. A fuga foi feita pelo Paraguai, na cidade fronteiriça de Pedro Juan Caballero. No fim da manhã de sábado, quando era esperada a apresentação do réu na Polícia Federal do Rio de Janeiro, o advogado Marthius Lobato telefonou para o delegado de plantão, Marcelo Nogueira, avisando que Pizzolato estava na Itália. A Polícia Federal informou que Pizzolato consta do Sistema Nacional de Procurados e Impedidos (Sinpi), o que, em tese, o impediria de deixar o país. A última atualização sobre Pizzolato no sistema é de sexta-feira.

Desgaste
A fuga de Pizzolato tem potencial para causar desgastes ao governo federal. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, havia determinado ao diretor-geral da PF, Leandro Daiello, que coordenasse os trabalhos de cumprimento das ordens de prisão.

Na sexta-feira, feriado da Proclamação da República, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, expediu mandados de prisão para doze condenados, entre eles o ex-diretor do BB. Apenas Pizzolato não se entregou. Na noite de sexta, uma equipe da PF foi aos dois endereços do petista em Copacabana. Um dos apartamentos está alugado há dois meses. No outro, os agentes encontraram um procurador da família, que avisou que Pizzolato se entregaria na manhã de sábado. Era tudo uma farsa.

Desde as 6 horas de sábado, Pizzolato é considerado foragido da Justiça. No entanto, como havia um acordo para que ele se entregasse até o meio-dia, a polícia não ordenou buscas. Às 11h30, Marthius telefonou para o delegado avisando que Pizzolato havia fugido para a Itália. Na portaria de um dos endereços do ex-diretor, o advogado distribuiu uma carta escrita por Pizzolato culpando a imprensa e a Justiça pela sua prisão.

Por Reinaldo Azevedo

 

A Itália dificilmente extraditará Pizzolato, mas isso nada tem a ver com vingança por caso Battisti

Henrique Pizzolato tem dupla cidadania, brasileira e italiana. Como Salvatore Cacciola. É remotíssima a chance de que um processo movido na Itália possa resultar na sua extradição para o Brasil. O tratado vigente entre os dois países não prevê a entrega de nacionais aos respectivos signatários — e, legalmente, ele também é italiano. Para ser mais claro: o Brasil não estaria obrigado a entregar à Itália um brasileiro que tivesse cometido um crime naquele país, mas que nada devesse à Justiça daqui. E vice-versa. Se Pizzolato tem a ficha limpa por lá, esqueçam.

O caso nada tem a ver com o do terrorista Cesare Battisti. Este é um condenado, já sem mais chance de apelo, em seu país de origem. Nesse caso, o tratado obriga a extradição. Mesmo assim, o Brasil disse “não”; mesmo assim, Tarso Genro e Lula deram uma banana para a Itália.

E qual é a “hipótese remota” de uma reviravolta? Não sei quando Pizzolato requereu a dupla cidadania. Se a obteve ainda antes de figurar como réu do mensalão, nem mesmo se pode alegar, sei lá, má-fé. Podia estar interessado apenas no passaporte europeu. Se, no entanto, ficar configurado que buscou a dupla nacionalidade para se livrar da lei, aí há uma chance de se abrir um processo naquele país.

Atenção! O governo brasileiro pode mover uma ação na própria Justiça italiana. Duvido que o faça. Em primeiro lugar, porque os petistas preferem manter bem distante o instável Pizzolato, que não tem a têmpera do “herói”, como Delúbio ou Dirceu. Em segundo lugar, porque seria alvo do escárnio de muita gente. Não custa lembrar que Tarso e a cúpula petista não gostaram de a Itália ter acionado o Judiciário daqui para obter a extradição de Battisti: consideram uma ingerência em assuntos internos — é claro que é patacoada…

A menos que Pizzolato cometa o erro de Cacciola e decida dar uns bordejos pela Europa, a Justiça brasileira não mais o alcançará, para a alegria da petezada. Mas deixar a Itália pra quê? Se é um lugar e tanto para abrigar o descanso dos justos, imaginem, então, para ser o berço de culpados. Em vez de seis metros quadrados na Papuda, Pizzolato pode passear pela Toscana. Com banho quente e campos de girassóis a perder de vista.

Já era!

Por Reinaldo Azevedo

 

Vejam o que diz o perfil de Delúbio no Twitter

Vejam como Delúbio Soares, o homem que cuidava da dinheirama do PT, se identifica no Twitter. Também ele, agora, se diz um “preso político”. Ignorava que fosse um “ambientalista”. Que bom! As pererecas, que ganharam a capa daquela revista, têm quem as proteja. Delúbio também cuida de sapos. E a gente sabe que esse homem não mede esforços para pôr em prática a sua convicção.

 Delúbio - perfil no twitter

 

Por Reinaldo Azevedo

 

“Não foi um julgamento político”, diz Aécio sobre o mensalão

Por Marina Dias e Patrícia Britto, naFolha Online:
O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), criticou a nota oficial do PT que classificou o julgamento do mensalão como “político” neste fim de semana. Segundo o tucano, a interpretação “não contribui para a democracia”.

“Não foi um julgamento político”, disse Aécio nesta segunda-feira (18) durante evento em Poços de Caldas (MG). “O que eu lamento, e falo agora como presidente nacional do PSDB, é o presidente nacional do PT ter confundido uma decisão da Suprema Corte brasileira com uma ação política”, completou o mineiro em referência ao petista Rui Falcão.
(…)
Aécio ponderou que “ninguém comemora prisões ou sofrimento de quem quer que seja”. No entanto, o provável candidato do PSDB à Presidência da República em 2014 disse que as prisões acabaram com o “sentimento de impunidade no país”.

Questionado sobre a postura do STF frente ao mensalão mineiro, que deve entrar em pauta no próximo ano para julgar irregularidades nas finanças da campanha de reeleição do então governador Eduardo Azeredo (PSDB), em 1998, Aécio afirmou que “o que serviu para este caso [mensalão do PT] deve servir para todos os outros”. Aécio participa de evento em Minas Gerais acompanhado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e dos oito governadores tucanos, além de vários dirigentes do partido.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

Lula tem seu lugar garantido na velha política brasileira

Um excelente artigo de Vinicius Motta na Folha desta segunda.
*
A paixão e a engrenagem

O braço esquerdo erguido, o punho cerrado. O discurso da vítima, do líder perseguido pela elite, do preso político. Um punhado de militantes mostra solidariedade às portas do cárcere. Entoa-se o hino da Internacional Socialista. O PT publica nota de repúdio ao tribunal.

Pipocam, enfim, lances mais explícitos da política como paixão no longo, e quase fleumático, processo do mensalão. E eles não são lá grande coisa. As massas não acudiram às ruas para abraçar José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares. Estavam engarrafadas no feriadão.

A hipocrisia, dizia La Rochefoucauld, é uma homenagem que o vício presta à virtude. Enquanto fazia acenos esporádicos aos líderes caídos, o mandachuva petista, Luiz Inácio Lula da Silva, girava a manivela da engrenagem recicladora.

As pedras de mó esmagaram não apenas algumas das figuras fundadoras do PT. Lula também aproveitou o escândalo para diluir o que restava de modernizante em seu partido. A substituta de Dirceu tornou-se emblema do fim da oposição ao varguismo e, especialmente após a queda de Palocci, à política econômica dirigista que marcou a ditadura militar sob Geisel.

Para evitar o impeachment, Lula abriu os braços a oligarcas e representantes do atraso no país. Sarney, Collor, Maluf e Renan são hoje amigos do peito do ex-presidente petista. Eles estão soltos. Dirceu e Genoino estão presos. Faz sentido.

Por isso, aguardam-se ansiosamente as palavras prometidas por Lula da Silva acerca do mensalão. Vão confirmar a entrevista de Paris, em 2005, quando jogou o PT aos leões a fim de preservar o mandato? Foram as mais sinceras frases já pronunciadas por ele sobre o caso.

Queimaram-se, afinal, uns poucos fusíveis para proteger a casa de máquinas. No reacender das luzes, Lula, enfim, enxergou o seu lugar na velha política brasileira.

Por Reinaldo Azevedo

 

IMPOSTURAS 1 – Por que Paulo Henrique Amorim não suporta ver um negro numa posição de destaque? Por que as entidades de defesa dos negros são tão covardes? Por que a CEF patrocina difamação, achincalhe, preconceito?

Joaquim Barbosa

Acima, Heraldo Pereira; no alto Joaquim Barbosa: há quem não suporte negros bem-sucedidos

Acima, Heraldo Pereira; no alto Joaquim Barbosa: há quem não suporte negros bem-sucedidos

Pode demorar um pouco, mas chegará o dia em que esta história será devidamente contada. Um leitor enviou para a área de comentários trecho de um, digamos assim, “texto” de Paulo Henrique Amorim sobre a decretação da prisão dos mensaleiros. Não fosse a página patrocinada pela Caixa Econômica Federal, uma estatal, eu deixaria pra lá. Mas é. Reproduzo trecho do texto. E isso é apenas parte das barbaridades que esse banco financia. Segue em vermelho. Volto em seguida.
*
No feriado, no Dia da República, o presidente do Supremo, Joaquim Barbosa expediu os mandados de prisão de membros da primeira geração de fundadores do PT, ao lado de Luis (sic) Inácio Lula da Silva.
Ainda não foi possível mandar prender Lula nem a Presidenta Dilma Rousseff.
O gesto fulminante, fora da rotina prisional, como se estivesse à caça de meliantes de alta periculosidade, o Presidente do Supremo se candidata de forma eloquente a um cargo supremo, no âmbito da Política.
E permite imaginar que tenha realizado um sonho de vingança.
Como Lula jamais justificou sua nomeação como derivada exclusivamente por méritos profissionais, Barbosa precisou mostrar que tinha outros atributos.

A ousadia, a obstinação, por exemplo.
Entrou para a História.
Em qual capítulo será preciso definir.
(…)
Dirceu, Delúbio e Genoino vão presos de cabeça erguida.
Com o braço erguido, desafiador.
Foram presos duas vezes.
Como lideres políticos em busca da Democracia e como vitimas dela.

Retomo
Ele escreve assim mesmo, nesse estilo esguicho de pato. A última linha é uma pérola mesmo quando se é Paulo Henrique Amorim. Então os petistas foram “vítimas da democracia”? Parece uma boa definição. Qualquer indivíduo lógico há de concluir que só é vítima da democracia” quem tenta fraudá-la, não é mesmo? Até este senhor é capaz de dizer uma coisa certa. Quando se distrai.

Mas isso não é o mais grave em seu texto. Eis como se refere a Joaquim Barbosa:
O gesto fulminante, fora da rotina prisional, como se estivesse à caça de meliantes de alta periculosidade, o Presidente do Supremo se candidata de forma eloquente a um cargo supremo, no âmbito da Política.
E permite imaginar que tenha realizado um sonho de vingança.
Como Lula jamais justificou sua nomeação como derivada exclusivamente por méritos profissionais, Barbosa precisou mostrar que tinha outros atributos.

Amorim está dizendo que Joaquim Barbosa foi nomeado para o Supremo porque é negro, não porque tenha currículo. A sugestão explica o uso da palavra “vingança”. Estaria se vingando, então, dos brancos. É impressionante! Quando decidiu atacar o jornalista Heraldo Pereira, da TV Globo, este senhor fez a mesma coisa. Além de chamá-lo de “negro de alma branca”, afirmou: “[Heraldo] não conseguiu revelar nenhum atributo para fazer tanto sucesso, além de ser negro e de origem humilde.”

Ele é livre para detestar Barbosa. Ele é livre para detestar Heraldo. Cabe, no entanto, uma pergunta óbvia, basilar, fundamental: e se os dois fossem brancos? Amorim, evidentemente, não poderia bater nessa tecla. Quaisquer que sejam as qualidades ou os defeitos do ministro e do jornalista, o que a cor da pele tem a ver com isso? É impressionante: Heraldo e Barbosa são negros. Heraldo e Barbosa são negros e bem-sucedidos. Heraldo e Barbosa são negros, bem-sucedidos e ocupam o topo das respectivas carreiras que decidiram abraçar. Nos dois casos, Amorim não se conforma. Acha que lhes foram concedidos privilégios só porque são… negros!

Quando esse cara vê um negro de vassoura na mão, servindo cafezinho ou lavando para-brisa no farol, não lhe ocorre dizer que aquelas pessoas só alcançaram a sua posição em razão da cor de sua pele. Isso não o incomoda? Parece que ele não suporta é ver um negro com a toga sobre os ombros. Parece que ele não suporta é ver um negro no Jornal Nacional, titular de uma coluna de política na maior emissora do país. O “Detector de Negros Injustamente Bem-Sucedidos” desse grande homem apita: “Aí tem coisa; se são negros e estão nessa posição, alguém decidiu ser bonzinho com eles: um branco!”.

A matriz desse registro, não há como, é o preconceito. No caso de Heraldo, a Justiça obrigou Amorim a publicar em jornais de circulação nacional uma retratação. Ele tentou debochar do juiz, mas acabou cumprindo a determinação. Fica evidente, no entanto, que não se emendou. O preconceito é mais forte.

Ora, é evidente que Amorim não se incomoda com negros bem-sucedidos que pensam o que ele pensa, que fazem o que ele acha que tem de ser feito, que se comportam da maneira que ela acha a correta. Esse Colosso de Rhodes da ética só não suporta negros que pensam errado, entenderam? Quando isso acontece, ele não tem dúvida: transforma a cor da pele num fator determinante de caráter — de um caráter que ele considera mau! É bem verdade que ser atacado por Amorim é uma distinção moral.

Cadê os movimentos negros?
Cadê os movimentos negros? Que covardia asquerosa é essa? No caso de Heraldo, já ficaram calados, não disseram um “a”, nada! Desde que o julgamento do mensalão começou, no dia 2 de agosto do ano passado, Joaquim Barbosa virou alvo dos ataques racistas os mais odientos. Também no seu caso, silêncio. Não é difícil saber por quê. Parte dos movimentos negros não passa de uma franja do PT ou está atrelada, de algum modo, ao governo federal. Esses grupos se tornaram oficialistas. São movimentos negros de alma negra, sim, mas a sua política é chapa-branca.

O arquivo está aí. Já critiquei Joaquim Barbosa dezenas de vezes. Há considerações que ele faz sobre política das quais discordo de modo absoluto. Já fiz reparos também a seu comportamento no tribunal. Mas eu discordo de um homem, de um ministro, de um juiz, não da cor da sua pele.

Para encerrar
A CEF deveria — mas sei que não vai — tomar cuidado com o que patrocina. Em 2011, uma peça publicitária do banco inventou um Machado de Assis verdadeiramente ariano, branco como leite. Apontei o absurdo aqui. A propaganda foi retirada do ar. Agora empresta o seu logotipo a um texto que atribui à cor da pele as decisões que toma Barbosa. E que se lembre: Henrique Pizzolato, o mensaleiro fujão, era diretor do Banco do Brasil, outra das estatais que financiam o vale-tudo na Internet.

Por Reinaldo Azevedo

 

IMPOSTURAS 2 – Quando Paulo Henrique Amorim tentou mandar Lula para a cadeia

Quando leio a indignação de Paulo Henrique Amorim com a prisão dos “fundadores” do PT (post acima), sou obrigado a acionar a memória. Quando o vejo afirmar, em tom de ironia, que “ainda não foi possível mandar prender Lula”, tenho de observar que quem tentou mandar Lula para a cadeia foi… Paulo Henrique Amorim, como já demonstrei aqui.

Quem vê ou lê o hoje ultrapetista, ultragovernista, ultraesquerdista e ultralulista Amorim não diria que, na campanha eleitoral de 1998, ele foi um implacável algoz de Lula.  Era o chefão do Jornal da Band e liderou uma verdadeira campanha contra o então candidato petista à Presidência, que disputava o cargo pela terceira vez. Lula teve de recorrer à Justiça e ganhou direito de resposta. Vejam uma das reportagens contra Lula. Volto em seguida.

Na reportagem acima, Amorim já informa que Lula ganhara na Justiça o direito de resposta. O vídeo é significativo porque o agora ultrapetista, ultragovernista, ultraesquerdista e ultralulista faz uma reconstituição de sua denúncia. O esforço da investigação de Amorim buscava demonstrar que o apartamento de cobertura em que morava (e mora) Lula era fruto de uma maracutaia envolvendo Roberto Teixeira, seu compadre, e o dono da construtora que levantou o edifício, que teria obtido um benefício ilegal na Prefeitura de São Bernardo quando o petista Djalma Bom era o prefeito. Existe o vídeo em que este incansável perseguidor da verdade apresenta a reportagem específica, contra Teixeira. Vocês terão a chance de vê-lo também.

Os filmes demonstram que Amorim pode mudar de opinião sobre o objeto de seus afetos e ódios, mas não muda o estilo. Em 1998, Lula era um pato manco. FHC o venceu pela segunda vez no primeiro turno. O PT tinha feito a besteira de combater o Real — do qual Amorim era, obviamente, um grande admirador. Mas também é o caso de louvar a coerência do Colosso de Rhodes do jornalismo: ele nunca muda de lado! É sempre governista e não abre mão de ser implacável com quem está fora do poder.

Entendam melhor a denúncia que ele fazia contra o Roberto Teixeira. Retomo depois.

Atenção! Não há um só — e a Internet está aí, aberta à pesquisa — desses governistas fanáticos que não tenha sido governista fanático em qualquer tempo. E isso inclui o passado mais remoto, o regime militar. Nesse particularíssimo sentido, são todos mais espertos do que este escriba. Como comecei cedo na militância política, fui crítico de todos os governos, de Geisel pra cá. Ontem, o alvo era Lula — um representante da oposição. Hoje, os alvos são outros: os que ele considera adversários do PT.

Direito de resposta
Lula ganhou direito de resposta e responde a Amorim. Vejam. Volto depois.

Voltei: a ética de Lula
Lula reclama do que considera ataque injusto contra ele, construído com inverdades. E como faz isso? Pontuo alguns momentos.

1min - Notem que ele sugere saber alguma coisa sobre a vida pessoal de Fernando Henrique Cardoso, mas, generoso que é, decidiu não usar na campanha. Nota: se a denúncia de Paulo Henrique Amorim tivesse fundamento, não se tratava de problema pessoal coisa nenhuma!

2min29s - Lula saca o argumento que ficou internacionalmente conhecido por “Minha mãe nasceu analfabeta”. Usa, para não variar, a sua origem humildade como atestado prévio de honestidade. O que é, evidentemente, uma mistificação.

3min08s – Vejam ali o chefão do PT, o partido dos dossiês, a reclamar que os jornalistas não pensam na sua família, nos seus filhos, que vão à escola. Quando foi que os petistas levaram isso em consideração? Sempre moeram a reputação dos adversários sem piedade.

4min - Para se defender, Lula sai atacando o governo FHC e saca a denúncia estupidamente mentirosa sobre o Proer. O homem que reclamava das injustiças de que era vítima atacava o muito bem-sucedido programa de reestruturação de bancos, que preparou o país para enfrentar crises. Anos depois, na Presidência, dado o estouro da bolha nos EUA, o Apedeuta sugeriu a Obama que adotasse o… Proer!

4min30s - Ataca a imprensa, que acusa de privilegiar o candidato do governo. Expoente hoje do jornalismo chapa-branca e “de alma marrom”, segundo Agamenon, Paulo Henrique acusa a imprensa de privilegiar os candidatos da oposição…

5min25s – Lula anuncia que vai processar seus acusadores. Não sei no que deu o processo. Se descobrir, eu conto.

A ética de Amorim
Vocês sabem que  Amorim resistiu a cumprir o acordo judicial em que se obrigava a publicar, sem comentários adicionais, uma retratação em que reconhecia a idoneidade do jornalista Heraldo Pereira. Muito bem! Vejam, a partir de 6min19s, o que o valente faz com o direito de resposta de Lula. Encerrado o pronunciamento do outro, sem nem um intervalo, ele reitera as denúncias e ainda acrescenta supostos elementos novos.

Vale dizer: ele decidiu cumprir, muito à sua maneira, a decisão judicial. É evidente que jornalistas e veículos não são obrigados a gostar do direito de resposta nem precisam se calar depois dele. Mas há um modo ético de conduzir a questão. E, evidentemente, não é esse.

Cumpre um esclarecimento: Amorim era fanaticamente antilulista em 1998, mas não trabalhava para o governo FHC. Certamente a Band, a exemplo de todas as emissoras, tinha anúncio de estatais, mas o Colosso de Rhodes não contava com patrocínio pessoal de empresas públicas. A prática, como se conhece hoje, é criação do lulo-petismo — foi uma das inovações do modelo petista de comunicação.

Lula pedia mais responsabilidade da imprensa. Hoje, com dinheiro público, seus áulicos fazem o que se vê. E Amorim se tornou seu amigo desde pequeno.

Por Reinaldo Azevedo

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Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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1 comentário

  • Maurício Carvalho Pinheiro São Paulo - SP

    O Gerolino disse que quem acreditava NO MENSALÃO ERA SIMPLÓRIO !! E ele que foi na conversa do amigão safado

    e agora curte uma da boa o que é, hein ??? Assinando como avalista de 80 mi sem ter nem um gato pra puxar pelo rabo.

    Só se for o que os laranjas assumiram. Pobrezinho !!!

    O Gerolino vai morrer de ódio e nem pode falar que os "amiguinhos" o sacanearam !!!! Ah ! Ah ! Ah! Burro [é burro mesmo. Acreditar no Safadão e Zé 2 caras, só êle mesmo, quando disseram que não ia dar em nada.

    2 - Essa pesquisa que diz que 860 caras representam um país de 124 milhões de eleitores (70% semi-analfa) e que não diz onde foi feita (sorteio conf. lei) nem detalha quais as classes entrevistadas conforme o formulário e a lei padrão e a Lei. Só a Globo mesmo e o Estadão acreditam e pagam por uma pesquisa fajuta e encomendada.

    e o TRE está dormindo. Até o Augusto e Reinaldo também acreditam !!! E ficam fazendo análises !!! São só 23 os itens a serem observados no questionário. Foram entrevistados 14 em média nos 143 municípios (quais, hein ??) e temos que considerar idade, sexo, renda (várias faixas), instrução (outras tantas), etc., E sempre dá o mesmo resultado apesar dos municipios serem escolhidos por sorteio. É sempre a escrivaninha do instituto !!! Ah ! Ah ! Ah ! Oh Marina, Eduardo, PPs, PSDB, voces estão dormindo de touca. Falem com o governador do PR, o Richa, que êle explica como9 se breca a maracutaia !!!!!!!!!!!!

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