A Petrobras e o canibalismo ético de quem resiste aos males do mercado...

Publicado em 29/11/2013 16:32 e atualizado em 21/02/2014 19:13
por Reinaldo Azevedo, de veja.com.br

A Petrobras e o canibalismo ético de quem resiste aos males do mercado

Que pena que existe mercado no Brasil, não é? Feliz é a Coreia do Norte — para citar um, digamos, clássico, do coletivismo, que não está submetido a esses homens cúpidos, a essa canalha que só quer ganhar dinheiro especulando. É bem verdade, vamos admitir, que aquele país enfrenta alguns probleminhas e, de vez em quando, no campo, especialmente no inverno, coreanos do norte mais fortes comem coreanos do norte mais fracos, em sentido nada bíblico e numa releitura bastante, digamos, estomacal e particular de Darwin. Mas, ao menos, a gente sabe que são mortes morais, sem o vetor indecente do mercado.

Mas não precisamos chegar a esse extremo de pureza antimercado. Podemos ficar com uma versão mais amena. Vejam a Venezuela. A felicidade daquele povo é garantida, no momento, por um sábio que reúne os poderes do Legislativo e do Executivo. O homem regula até o valor dos aluguéis comerciais. Nicolás Maduro gosta do mercado ético. Falta papel higiênico no país — por isso, ultimamente, as pessoas têm visto pouco a imagem estampada de Chávez em borrões… —, mas não falta patriotismo.

É o mercado que estraga tudo.

Vejam o caso da Petrobras. Trata-se de uma empresa de capital misto. Durante os danosos anos tucanos, o Brasil chegou perto da autossuficiência de petróleo — não alcançada até agora, a despeito das mentiras de Lula — e ao pré-sal. E alcançou esse patamar seguindo as regras do… mercado. Mas aí se descobriu que isso era muito pouco social, entenderam? Em tese, as gestões petistas fortaleceram enormemente a empresa. A gigante petroleira é obrigada, por exemplo, a ser a operadora do pré-sal. Tem de entrar na exploração como sócia, queira ela ou não, tenha autonomia de caixa ou não. Não é pelo petróleo, não é pela eficiência, é pelo patriotismo, pô! Então vamos entregar todo o nosso “ouro negro” — que, a cada dia, menos gente quer — a sagazes negociantes? Nem pensar? Um dia veremos a imagem de Lula estampada por aí nas coisas mais improváveis… Você pedirá um suco e vai perceber uma caca meio repulsiva no copo mal lavado… Olhe direito, preste bem atenção… Você terá visto aquilo em algum lugar.

Com todo o poderio que o PT devolveu à Petrobras, deixou a empresa menor do que era, mais fraca, mais vulnerável. Culpa de quem? Dos homens de negócios! Podem reparar: as nações mais prósperas da Terra, aquelas que garantem a seus cidadãos uma vida verdadeiramente digna, são as que repudiam o jogo perverso dos que só pensam no lucro. Nesses países, falar em setor privado é um anátema. Todo mundo sabe que os grandes progressos da humanidade — das vacinas ao vaso sanitário, passando pelo McLanche Feliz — foram garantidos pelo estatismo, pelos sábios que se reúnem para definir os caminhos da felicidade humana.

Do petróleo ao mercado de arte, o estado sabe o que é melhor para nós. Os “neoliberais” ficam fazendo pressão porque estão a serviço de interesses inconfessáveis, entenderam? Vejam o caso do preço dos combustíveis. O que quer esse bando de gente indecente? Ora, elevar o preço e ver disparar a inflação para Dilma perder a eleição… E bem verdade que a gente constata que a inflação continua a pressionar mesmo com o preço dos combustíveis reprimido, o que é um sinal bastante evidente de que algo não vai bem na equação geral… Pare por aí, leitor!

Interrompa esse raciocínio! Isso é só o diabo da Razão tentando o seu cérebro, fazendo um esforço para se insinuar na sua crença, tirando-o do caminho reto. Toda a força da argumentação dos homens do livre mercado deriva do mundo que existe, do mundo dos fatos, e nós, os esquerdistas de antes e de agora, falamos em nome de um outro mundo possível. Não aceitamos que a realidade seja uma tirana do nosso pensamento.

Por Reinaldo Azevedo

 

Ações da Petrobras caem mais de 8% após reajuste aquém do esperado

Na VEJA.com:
As ações da Petrobras abriram em queda de mais de 7% na manhã desta segunda-feira, após o anúncio do reajuste do preço da gasolina e do diesel anunciado na noite de sexta-feira. A ação ordinária da estatal, com direito a voto, chegou a cair 9,06% às 10h45 (horário de Brasília), a 16,66 reais, mas teve leve recuperação ao longo da manhã. Às 13h, essa mesma classe de ação recuava 8,35%, a 16,79 reais. Já o papel preferencial, sem direito a voto, recuava 6,85%, cotado a 17,81 reais. O Ibovespa operava em queda de 1,30%, a 51.798 pontos. A forte desvalorização representa uma perda de valor de mercado de cerca de 20 bilhões de reais pouco mais de uma hora.

A queda ocorre porque o mercado aguardava reajustes de 6% a 10% para o preço da gasolina, além da divulgação da tão aguardada nova fórmula de reajuste automático, que tem como objetivo dar alguma previsibilidade aos gastos da estatal com a oscilação do preço do petróleo. Como o reajuste foi de apenas 4% para a gasolina e 8% para o diesel, e nenhuma fórmula foi divulgada pelo Conselho de Administração da companhia, a reação do mercado à decisão da última sexta deve pautar o movimento da BM&F Bovespa nesta segunda.

O desempenho das ações evidencia a decepção do mercado sobretudo com a decisão do Conselho da estatal, mais precisamente da própria presidente Dilma Rousseff, de não autorizar a divulgação de detalhes sobre a nova metodologia de reajustes de combustíveis. Segundo analistas, a falta de clareza sobre os critérios mantém incertezas para o mercado, num momento em que a empresa absorve forte defasagem dos preços domésticos na comparação com os internacionais.

Na noite de sexta-feira, a estatal anunciou o reajuste de preços nas refinarias de 4% na gasolina e de 8% para o diesel, já como consequência de uma nova política de preços. O impacto dessa alta nas bombas não deve passar de 2% para a gasolina e 4% para o diesel. No entanto, a empresa disse que “por razões comerciais, os parâmetros da metodologia de precificação serão estritamente internos à companhia”. A declaração priva o mercado de informações essenciais sobre o que esperar da companhia para os próximos trimestres.

Transparência
Para analistas do Itaú BBA, a falta de transparência preocupa. “Ninguém sabe exatamente quais são os indicadores ou quais são os gatilhos ou períodos para as revisões, deixando espaço para potenciais manobras nos preços”. “Nós nos questionamos o que realmente mudou”, disseram os analistas Paula Kovarsky e Diego Mendes, em nota a clientes no fim de semana. O Credit Suisse rebaixou, no domingo, a recomendação para as ações da empresa para “underperform” (abaixo da média do mercado). O preço alvo das ADRs (ações da estatal negociadas em Nova York) está estimado pelo banco em 14 dólares.

“Aumentos tímidos nos preços e uma metodologia de precificação opaca deterioram a percepção sobre a governança corporativa, enfraquecem a posição de uma equipe de gestão forte e técnica, têm um significativo impacto nos lucros e na avaliação e deixam o balanço financeiro extremamente frágil em meio a um 2014 cheio de incertezas”, disseram os analistas Vinicius Canheu e Andre Sobreira, do Credit Suisse, em relatório a clientes.

Por Reinaldo Azevedo

 

Coitado do Rio de Janeiro! Tão perto do Cristo, tão longe de Deus! — O retorno. Ou: Datafolha no Rio: A vida não presta!

O Cristo chora

Pois é, pois é… No dia 15 de agosto, escrevi aqui um post post sobre a situação política do Estado do Rio. Como não me lembro de ter escrito textos simpáticos aos depredadores de junho, tornados poetas por setores da imprensa, houve quem reclamasse comigo, afirmando que sempre fui um crítico severo do governador Sérgio Cabral e, de repente, estaria com peninha dele. Será assim? Reproduzo (em azul) trecho daquele artigo e volto em seguida.

(…)
“Reinaldo passou quase sete anos esculhambando Sérgio Cabral e agora começou a defendê-lo…” Eu não retiro uma linha do que escrevi sobre o governador do Rio e ainda poderia acrescentar outras milhares. O ponto, definitivamente, não é esse. O que estou demonstrando aqui — e já o fiz em outros posts — é que a demolição de sua imagem se dá de uma forma que pode ser nefasta para o futuro do estado do Rio de Janeiro. As alternativas que se desenham naquele horizonte de cartão-postal não são muito alvissareiras, daí ter parafraseado Porfírio Díaz, que exclamou sobre seu país: “Pobre México! Tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos”.
De resto, escrevo aqui uma obviedade. Não é a “população” do Rio que simula aquele estado de insurreição. A dita “população” está trabalhando. O jornalismo tem a obrigação de investigar quem são esses militantes e a que orientação obedecem. Não necessariamente para denunciá-los, mas para, ao menos, saber qual é a sua agenda — a sua verdadeira agenda.

Voltei
Coimo vocês leem acima, eu dizia que as alternativas que se desenham para o Estado do Rio não eram as melhores. Nesta segunda, a Folha divulgou a pesquisa Datafolha sobre as intenções de voto para o governo do Estado… O que foi que nos deram as ruas mesmo? O que custou a desconstrução da figura de Sérgio Cabral, feita pelo lado errado, por maus motivos, operada ou por esquerdistas xucros ou pela demagogia mais rasteira? Isto aqui (gráficos publicados pela edição impressa da Folha):

eleição rio de janeiro

Sérgio Cabral deve deixar o governo no fim de março. Talvez se candidate ao Senado. Pezão, o vice — e candidato a governador — assume. Buscará visibilidade. Hoje, ao menos, a figura de Sérgio Cabral não ajuda muito a fazer a sua boa fama, como se vê abaixo:

Sergio Cabral

Retomo
As respectivas máquinas do Estado e da Prefeitura, ambas nas mãos do PMDB, são bastante fortes. A chance de Pezão crescer, sem querer fazer graça, é grande. Pois é… De fato, eu, que cheguei a ser um dos dois críticos da forma que tomaram as UPPs no Rio, me vejo aqui quase torcendo — também não esperem demais de mim… — pela ascensão de… Pezão!

E depois alguns bobos dizem que tenho má vontade com o Rio — a capital é, com efeito, um dos lugares mais bonitos da Terra, excetuando-se o “feio” que a má consciência politicamente correta da cidade transformou no “belo horrível”, como diria Mário de Andrade, que fez poesia para o Tietê — antes de ele ser um esgoto, é verdade. Eu adoro o Rio! Só me incomoda um pouquinho é o excesso de rentistas de extrema esquerda do asfalto, com ar-condicionado e vista para o mar…

Má vontade? Eu? Olho para o quadro eleitoral e percebo que pelo menos 51% dos eleitores escolheriam Garotinho, Lindbergh ou Crivella… É claro que minha poesia se desconcerta e se desconserta. Ela tanto fica, assim, meio desenxabida como se desarranja… Como num rockinho dos anos 80, tendo a achar “que a vida não presta”…

Caminhando para a conclusão
Tanta coisa a reparar no governo Sérgio Cabral… Tanta coisa a corrigir pelo viés — lá vou eu provocar a fúria da turma — saudavelmente conservador, e os nossos progressistas do Leblon, de Copacabana e Ipanema decidiram que havia de ser pelo outro lado…

A escolha do mal menor, quando não há uma solução ótima, representa um peso danado. Os puros podem se ausentar do mundo real porque sempre terão o refúgio da utopia, do lugar-nenhum! E, no lugar-nenhum, tudo é sempre muito justo. E olhem que Marcelo Freixo, desta feita, não está na parada. Ele se guarda para a disputa pela Prefeitura, depois de seu partido ter deixado sem aula as crianças pobres. Em nome do povo!

Reinaldo Azevedo torcendo para Pezão ascender nas pesquisas porque, afinal, gosta do Rio de Janeiro… A vida não presta!

Por Reinaldo Azevedo

 

O gabinete do Dr. Janot. Ou: Genoino logo estará em prisão domiciliar

Rodrigo Janot, procurador-geral da República, tem sido um homem realmente singular. Como esquecer que ele requereu a prisão dos mensaleiros num momento em que esse pedido significaria, na prática, adiar a prisão dos mensaleiros? Agora, informa Severino Motta, na Folha Online, ele enviou ao STF um parecer pedindo que o deputado petista José Genoino fique 90 dias em prisão domiciliar.

Embora duas juntas médicas tenham asseverado que Genoino não padece de cardiopatia grave, o procurador-geral afirma que “as condições de saúde que não configuram uma cardiopatia grave e, portanto, não impedem o servidor de exercer suas atividades laborais, muitas vezes não são suficientes para contraindicar sua permanência em estabelecimento prisional”.

Caberá a Joaquim Barbosa tomar a decisão. Se sou o presidente do STF, decido apelando mais à poesia do que ao direito — que, nesse caso, manteria Genoino onde está: na cadeia. Como escreveu o poeta Horário, num belíssimo poema, de amor, não temos de saber “que destino os deuses nos reservaram; seja qual for, melhor é suportá-lo”. Descartem a conclusão e fiquem com a constatação. Vai que Genoino tenha um “piripaque cruzado” qualquer, coisa a que todos estamos mais ou menos sujeitos, e… Bem, se sou Joaquim, digo: “Ok, vá para a casa e só retorne à cadeia quando estiver recuperado”.

Noto que doutor Janot não está fazendo seu pedido com base no estado de saúde de Genoino. Ele resolveu abraçar uma tese genérica. E isso o deixa bastante confortável junto às milícias de opinião.

Sim, já defendi aqui e defendo a prisão domiciliar para Genoino e Roberto Jefferson. Mas eu não sou o doutor Janot, certo?

Por Reinaldo Azevedo

 

Datafolha 1: presidente só não venceria no 1º turno com Marina e Serra como candidatos, cenário dado como improvável; o mais provável é também o mais fácil para a petista. Sorria, Dilma!

A Folha publica na edição deste domingo uma nova pesquisa Datafolha sobre a eleição presidencial. A situação da presidente Dilma Rousseff melhorou um pouco em relação à pesquisa anterior do mesmo instituto. A petista tem razão para sorrir de orelha a orelha. Se a eleição fosse hoje, o melhor cenário para ela é justamente aquele considerado o mais provável (nos quadros abaixo, é o “A”): a petista teria 47% das intenções de voto; o tucano Aécio Neves ficaria com 19%, e Eduardo Campos, dos PSB, com 11%. Notem que a presidente oscilou dois para cima; o tucano, dois para baixo, e Campos caiu 4.

Quando Marina Silva aparece como a candidata do PSB, Dilma fica com 42%, a ex-senadora obtém 26%, e o tucano, 15%. Observem que nesse cenário (o “B”), a petista sobe 3 pontos, Marina cai 3%, e Aécio oscila dois para baixo. A soma dos adversários chega a 41 pontos, contra 42 de Dilma. O mais provável é que a presidente vencesse no primeiro turno também, embora fique na margem de erro. Vejam os quadros, publicados na edição impressa da Folha.

Datafolha 1º de dezembro A e B

Combinação Serra-Marina
A única hipótese, hoje, em que a eleição poderia caminhar para um segundo turno seria uma que combinasse Marina Silva como candidata do PSB e José Serra como candidato do PSDB. Ocorre que esse (o “D”) é, curiosamente, o cenário dado como o mais improvável. Nesse caso, Dilma somaria 41 pontos, contra 43 dos adversários. O cenário C, com Serra como candidato tucano e Campos como o nome do PSB, também não levaria a disputa para uma segunda etapa. A Folha testou ainda o nome de Joaquim Barbosa, tendo Aécio e Campos como candidatos: seriam 38 pontos dos adversários contra 44 de Dilma. O nome do ministro não aparece numa simulação com Marina e Serra — por razões óbvias, há de se supor que haveria segundo turno nesse caso também.

Datafolha 1º de Dezembro C e D

Datafolha 1º de dezembro E

Segundo turno
O segundo turno, para Dilma, seria tranquilo. A menor diferença seria para Marina (12 pontos); a maior, para Campos: 36. Em relação a Aécio, abriria 30; contra Serra, 26, e 24 no enfrentamento com Barbosa.

Datafolha 1º de dezembro segundo turno

Por Reinaldo Azevedo

 

Datafolha 2 – Por que é tão difícil se opor a um governo ruim?

Pois é… A situação eleitoral da presidente Dilma, no Datafolha, melhorou um pouquinho, e a da oposição piorou o mesmo tantinho. Como a dela já era muito melhor, e a de seus adversários, muito pior, então ela pode comemorar. E os que se opõem a ela que lamentem! Antes que entre no mérito da coisa, vamos a algumas obviedades. A candidata Dilma abriu uma folga maior porque, conforme se anteviu aqui (ver arquivo), ela está num processo de recuperação de prestígio. O piso foi junho, quando apenas 30% julgavam seu governo “ótimo ou bom” — agora, são 41%. Curiosamente, de lá pra cá, o governo piorou (escolham o quesito), e a vida das pessoas não melhorou. É que havia bastante coisa de artificial naquela gritaria — e vocês sabem que apontei isso aqui, mesmo pensando o que penso do governo. Caiu os que acham a gestão “ruim ou péssima”: de 25% para 17%. Vejam quadro publicado pela Folha.

Datafolha 1º de dezembro avaliação

A recuperação do prestígio da presidente é mais lenta no Sudeste, a região mais populosa do país, mas teve expressiva melhora no Nordeste, a segunda em número de eleitores. Os dados sobre renda servirão para excitar os petistas chegados a um arranca-rabo de classes: Dilma obtém seus melhores índices entre os que ganham até 2 salários mínimos, e os piores, entre os que recebem mais de 10. No primeiro grupo, os que acham seu governo bom/ótimo são o triplo dos que acham ruim/péssimo; no outro extremo, as opiniões positivas e negativas estão quase empatadas. Ocorre que a grande massa dos eleitores está  na faixa até cinco salários mínimos. Vejam os quadros.

Datafolha 1º de dezembro regiões e renda

Agora o mérito
Sei que é um pouco cacete ficar repetindo certas coisas, mas o que posso fazer? Quando os fatos convergem para aquilo que parecia tão óbvio e que foi apontado precocemente em textos analíticos, cumpre, então chamar a atenção para os… fatos!

O Brasil brasileiro e inzoneiro pode inventar o que quiser, mas não conseguirá parir uma teoria revolucionária sobre o regime democrático. Se há coisas que só andam acontecendo por aqui, o mais provável é que se trate de um vício, não de uma virtude; de um defeito, não de uma qualidade — a exceção fica para a simpática jabuticaba.

Para que se possa organizar um discurso de oposição, é necessário que existam valores de oposição. Apelando a alguma ironia, eu diria que tanto eu como os petistas acreditamos na eficácia da guerra cultural. A diferença é que eles sabem travar essa batalha, e seus opositores não têm a menor ideia do que isso significa. Os teóricos da esquerda — mesmo essa esquerda que aí está, de viés cartorial — leram Gramsci para aplicá-lo, e seus adversários não leram para repudiá-lo.

Eu nunca achei, e não acho ainda, que um combate mais aguerrido apenas a um ano do pleito possa dar bom resultado. Todos sabemos que não faltam motivos para se por ao governo. Ocorre que o enfrentamento, tudo indica, já vem um tanto tarde. Na última edição da revista VEJA de 2010, escrevi um longo artigo sobre o futuro da oposição. Transcrevo um trecho. Insisto: texto tem três anos!!!

Nesse ambiente, fazer oposição ao governo liderado pelo PT, partido que atribui a si mesmo a missão de depurar a história, é tarefa das mais difíceis, especialmente quando a minoria parlamentar será minoria como nunca antes na democracia deste país. Ao longo de oito anos, é preciso convir, os adversários de Lula não conseguiram encontrar o tom e se deixaram tragar pela voragem retórica que fez tabula rasa do passado e privatizou o futuro. O PT passa a impressão de já ter visitado o porvir e estar entre nós para dar notícias do amanhã.

A pergunta óbvia é com que discurso articular o dissenso, sem o qual a democracia se transforma na ditadura do consentimento?

Não existem receitas prontas. Mas me parece óbvio que o primeiro passo consiste em libertar a história do cativeiro onde o PT a prendeu. Isso significa mostrar, e não esconder, os feitos e conquistas institucionais que se devem aos atuais oposicionistas e que se tornaram realidade apesar da mobilização contrária bruta e ignorante do PT. Ajuda também falar a um outro Brasil profundo, que não aquele saído dos manuais da esquerda, sempre à espera de reparações e compensações promovidas pelo pai-patrão dadivoso ou a mãe severa e generosa, à espera da “grande virada”, que nunca virá!

Temos já um Brasil de adultos contribuintes, com uma classe média que trabalha e estuda, que dá duro, que pretende subir na vida, que paga impostos escorchantes, diretos e indiretos, a um estado insaciável e ineficiente. Milhões de brasileiros serão mais autônomos, mais senhores de si e menos suscetíveis a respostas simples e erradas para problemas difíceis quando souberem que são eles a pagar a conta da vanglória dos governos. É inútil às oposições disputar a paternidade do maná estatal que ceva megacurrais eleitorais. Os órfãos da política, hoje em dia, não são os que recebem os benefícios – e nem entro no mérito, não agora, se acertados ou não -, mas os que financiam a operação. Entre esses, encontram-se milhões de trabalhadores, todos pagadores de impostos, muitos deles também pobres!

Esse Brasil profundo também tem valores – e valores se transformam em política. O que pensa esse outro país? O debate sobre a descriminação do aborto, que marcou a reta final da disputa de 2010, alarmou a direção do PT e certa imprensa “progressista”. Descobriu-se, o que não deixou menos espantados setores da oposição, que amplas parcelas da sociedade brasileira, a provável maioria, cultivam valores que, mundo afora, são chamados “conservadores”, embora essas convicções, por aqui, não encontrem eco na política institucional – quando muito, oportunistas caricatos os vocalizam, prestando um desserviço ao conservadorismo.

Terão as oposições a coragem de defender seu próprio legado, de apelar ao cidadão que financia a farra do estado e de falar ao Brasil que desafia os manuais da “sociologia progressista”? Terão as oposições a clareza de deixar para seus adversários o discurso do “redistributivismo”, enquanto elas se ocupam das virtudes do “produtivismo”? Terão as oposições a ousadia de não disputar com os seus adversários as glórias do mudancismo, preferindo falar aos que querem conservar conquistas da civilização? Lembro, a título de provocação, que o apoio maciço à ocupação do Complexo do Alemão pelas Forças Armadas demonstrou que quem tem medo de ordem é certo tipo de intelectual; povo gosta de soldado fazendo valer a lei. Ora, não pode haver equilíbrio democrático onde não há polaridade de ideias. Apontem-me uma só democracia moderna que não conte com um partido conservador forte, e eu me desminto.

Antes de saber quem vai liderar um dos polos, é preciso fazer certas escolhas. O Congresso aprovou há pouco, por exemplo, o sistema de partilha para o pré-sal. Não se ouviu a voz da oposição, a exceção foi a senadora Kátia Abreu (DEM-TO). O PT inventou a farsa, amplamente divulgada na campanha eleitoral, de que não passava de “privatização” o sistema de concessão, que conduziu o país à quase auto-suficiência e que fez dobrar a produção de petróleo no governo FHC. Mentiu, mas venceu o embate. Podem vir por aí as reformas. Quais setores da sociedade as oposições pretendem ter como interlocutores? Continuarão órfãos de representação milhões de eleitores que não se reconhecem na ladainha pastosa do “progressismo”? As oposições têm de perder o receio de falar abertamente ao povo que trabalha e estuda. Que estuda e trabalha. Em vez de tentar dividir os louros da caridade, tem de ser porta-voz do progresso.

Essa oposição tem, em suma, de enfrentar uma esquerda que, se morreu há muito tempo na economia, exerce inquestionável hegemonia na cultura e na política, onde se esforça para aplicar o seu programa, cuja marca é ódio à divergência, que ela entende ser expressão da má consciência. Não houve um só teórico esquerdista relevante cujo objetivo não fosse a superação dos “limites” da democracia. Sem esse horizonte escatológico, inexiste esquerdismo.

(…)

Volto a novembro de 2013
O óbvio, leitor, está se lembrando de acontecer, como sempre. Quem sabe surja um dia um partido adversário do PT que não tenha medo do que pensa boa parte, com boa chance de ser a maioria, dos brasileiros…

Por Reinaldo Azevedo

 

Apesar da pauleira do “cartel” patrocinada pelo PT, Alckmin venceria no 1º turno se eleição fosse hoje. Ou: PT nunca entendeu o interior de SP

Eleição em SP

Pesquisa Datafolha publicada na Folha desta segunda aponta que, se a eleição para o governo de São Paulo fosse hoje, o governador Geraldo Alckmin, do PSDB, seria reeleito com 43% dos votos. Antes das jornadas de junho, ele chegou a ter 52%; caiu para 40% depois da aluvião das ruas e, agora, recuperou 3 pontos. Em segundo lugar, está Paulo Skaf, do PMDB, com 19%, mesmo índice de junho. Alexandre Padilha, do PT, ainda ministro da Saúde, não conseguiu sair dos 4% e está em quarto lugar. Gilberto Kassab tinha 6% na pesquisa anterior e agora aparece com 8%, em terceiro lugar.

A votação de Alckmin é compatível com a avaliação de seu governo: 41% dos paulistas consideram a gestão boa ou ótima, com uma recuperação de 3 pontos em relação a seu pior momento, no fim de junho. E caiu o índice dos que acham o governo ruim ou péssimo: de 20% para 17%, chegando perto do número pré-manifestações. A situação de Alckmin, em São Paulo, é bem parecida com a de Dilma no Brasil. De certo modo, até o discurso daqueles que tentarão apeá-los do poder será o mesmo: chegou a hora de mudar.

Alckmin - avaliação

A recuperação de Alckmin é mais significativa do que parece — e escrevo isso nem tanto pelos 3 pontos a mais de “ótimo e bom” e 3 a menos de “ruim e péssimo”. Relevante é o momento em que ela se verifica. Há mais de dois meses, martela-se diariamente no noticiário a história da formação de cartel em São Paulo. Notem que não entro no mérito aqui se existiu ou não (que se investigue e se punam os eventuais culpados). O que impressiona é a fórmula: “As irregularidades teriam acontecido nas gestões Covas, Alckmin, Serra, todas do PSDB”, repete-se à exaustão, especialmente na Globo — o que vale, obviamente, como uma tentativa de condenação dos três governos e de um partido.

A fórmula saiu prontinha do Cade, como já se sabe, transformado numa central de vazamentos de informações, ou boatos, cuidadosamente pinçados. Os aspectos políticos mais picantes da denúncia, que tentam fazê-la explodir no Palácio dos Bandeirantes, nascem de três cartas anônimas, provavelmente redigidas por um sujeito que confessa ter combinado a forma da denúncia com Vinicius Carvalho, presidente do Cade. Mais do que isso: ele também pediu a proteção do PT e que o partido lhe arrumasse um empregão. Com um pouco de esforço, não foi difícil detectar a movimentação buliçosa do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.

Padilha
É claro que Alexandre Padilha vai crescer. O PT é bem maior em São Paulo do que esses 4%. Noto, em todo caso, que Lula, mais uma vez, a exemplo do que se viu com Fernando Haddad, escolheu um candidato pesado. O “Mais Médicos” gerou quilômetros de notícia. Inicialmente, por conta do quiproquó com os cubanos, elas eram ambíguas. Há muito tempo, no entanto, passaram a ser positivas. Se Padilha fosse uma escolha fácil, já teria crescido. Mas não é. Vai requerer, como aconteceu com Haddad, muita saliva de Lula e de Dilma.

E aí está o busílis. Lula vendeu um primeiro poste — Dilma. Deu relativamente certo. Ela faz, como direi?, um bom mau governo, não é mesmo? Mais a fraqueza da oposição faz a sua força do que outra coisa. Mesmo com uma safra impressionante de más notícias para o Planalto, os adversários da presidente não conseguiram deixar claro por que querem ocupar o lugar dela. Lula vendeu um segundo poste: Fernando Haddad — e esse, vejam post a respeito, está se revelando um desastre. Lula agora decidiu vender um terceiro poste, que é justamente Alexandre Padilha.

Notem: se Haddad fosse um sucesso de crítica e de público, seria mais fácil vender a “mercadoria Padilha”. Mas não é o caso. O PSDB certamente saberá explorar a questão durante a campanha eleitoral. Lula dirá  que “Padilha foi o maior ministro da Saúde que o Brasil já teve” — assim, como, claro!, Haddad era “o maior ministro da Educação que o Brasil já teve”, certo?

Há outro aspecto importante. Se, em boa parte dos estados brasileiros, a pobreza maior está no interior — e a miséria, infelizmente, é sempre presa fácil da demagogia —, em São Paulo, tem-se o contrário. O PT nunca entendeu direito o rico interior do estado. Atenção! Não me refiro a pessoas ricas, mas a uma região do país em que uma economia rural sólida, desenvolvida, não se queda refém do discurso caritativo-estatista. A avaliação de Alckmin na capital e região metropolitana é boa, mas é muito melhor no interior, como se vê.

Metade da população do estado se concentra na capital e região metropolitana, mas a outra metade está nesse interior que não se deixa seduzir muito facilmente pelo discurso petista, razão do desencanto, por exemplo, de Marilena Chaui, segundo quem São Paulo tem uma “classe média reacionária”. Ela gosta é de ver os “progressistas” votando em Fernando Haddad, de braços dados com Paulo Maluf.

Alckmin avaliação capital e interior

Skaf e Kassab
Paulo Skaf, presidente da Fiesp e garoto-propaganda do Senai, obtém um resultado bastante expressivo como candidato do PMDB. Mesmo os 8% de Kassab são expressivos. Caso Alckmin não vença no primeiro turno — não será fácil —, os dois estarão unidos a Padilha, pouco importa quem seja o segundo colocado na disputa. E aí, claro!, dona Chaui virá a publico para nos explicar por que Alckmin é um conservador e Skaf e Kassab são dois progressistas desde criancinhas. Ah, sim: depois dessa pesquisa, as franjas do estado policial ficarão ainda mais assanhadas.

Por Reinaldo Azevedo

 

Filha de Genoino diz que pai não se arrepende e acha que paga o preço para fazer “funcionar o governo Lula e Dilma”. Então chega de ladainha! Ou: Marcola também não pode dar entrevista e não é “preso político”

Na minha coluna na Folha do dia 22 de novembro, escrevi:
“Um dos bons fundamentos do cristianismo é amar o pecador, não o pecado. Fiel à tradição das esquerdas, o PT ama é o pecado mesmo. O pecador é só o executor da tarefa em nome da causa. Leiam a peça “As Mãos Sujas”, de Sartre, escrita antes de o autor se tornar um comunista babão. É esquemática, mas vai ao cerne do surrealismo socialista.”

Muita gente chiou. Pois é… Miruna Kayano Genoino, filha de José Genoino, concede uma impressionante entrevista à Folha deste domingo. Diz que o pai não está arrependido de jeito nenhum! Então tá bom. Cometeu crimes e não se arrepende. Lembrei do que escrevi. No PT, ama-se mesmo é o pecado. O ainda deputado se considera apenas o pecador circunstancial. Segundo Miruna, o pai pensa o seguinte: “Se esse é o preço que tem que pagar para que o projeto do governo Lula e Dilma funcione, ele paga”. Bem, então por que tanta gritaria e chororô? NOTO, EM TODO CASO, QUE, SEGUNDO MIRUNA, GENOINO CONSIDERA QUE FEZ TUDO PARA REALIZAR O PROJETO DE LULA. Eu nunca duvidei disso.

Compreendo que a filha de Genoino defenda o pai. É humano, claro! Só que ela dá uma entrevista política. Idiota, esta professora, que é mestranda, não é. Conhece muito bem o peso das palavras. Até outro dia, parecia que a cardiopatia de Genoino era obra de Joaquim Barbosa. Depois dessa entrevista, a gente descobre que a culpada é a… “mídia”. Sim, Miruna também chama jornalismo de “mídia”. Leiam este trecho (em vermelho):
“Só não larguei o mestrado por causa dele. Soube da aprovação dias depois da condenação [novembro de 2012]. Ele me disse: ‘Querem nos destruir e você não pode permitir. Você vai continuar lutando e fazendo as suas coisas porque não podem nos apagar’. Se você me perguntar quem é o sujeito do “querem”, de cara vou falar que a mídia teve muito a ver com isso. Meu pai teve muitas decepções. Mas com a mídia ela foi devastadora, o coração dele começou a rasgar ali. Ele tem uma mágoa profunda, uma dor com tudo o que é publicado. Quando os jornalistas ficam lá fora de casa, essas manchetes, essa agressividade, esse recorte da realidade é um punhal para ele.”

Pois é… Genoino, então presidente do maior partido do país, participou daquela lambança, teve o topete de voltar à Câmara, de integrar a Comissão de Constituição e Justiça, mas não queria que jornalistas se ocupassem dele.

A entrevista, no que diz respeito à política — só louvo o amor da filha —, é patética do começo ao fim. E chega a ser tola. Leiam este trecho:
“Meu pai está proibido de emitir opinião, de dar entrevistas, e dizem que ele não é preso político. Então por que ele não pode falar? É preso político, sim. Meu pai foi condenado porque era presidente do PT.”

Fernandinho Bier-Mar e Marcola também estão proibidos de conceder entrevistas, e ninguém diz que são “presos políticos” — Genoino, aliás, concedeu uma já depois de preso. “Está comparando os três, Reinaldo?” Os crimes são diferentes, mas todos são condenados pela Justiça. A proibição de conceder entrevistas não torna ninguém um “preso político”.

Errado, moça! Seu pai é um “político preso”. E não pode dar entrevistas porque é um preso, a menos que você ache que ele deveria ter esse privilégio por ser um político… Acha?  Seu pai está preso porque meteu a assinatura em empréstimos fraudulentos. Mais do que isso: serviu de avalista de operações sabendo que nem mesmo tinha bens compatíveis com essa condição.

A filha Miruna dá mais uma prova de amor. A Miruna que fala sobre política demonstra que não aprendeu nada.

Por Reinaldo Azevedo

 

Jefferson, ao menos, não usa a doença para fazer baixa política. Ou: De bandidos e heróis

É evidente que o estado de saúde de Roberto Jefferson inspira cuidados. Não se trata de fazer uma competição com José Genoino para saber quem está mais doente. São males distintos. Essas questões demandam respostas de natureza técnica — são as únicas aceitáveis na esfera da Justiça. Juízes precisam ter parâmetros. Se estamos falando da saúde dos presos, então a voz abalizada é a dos médicos. Por mim, já escrevi aqui, os dois cumpririam prisão domiciliar. Mas eu não sou o juiz de execuções penais; eu posso fazer escolhas — no caso, meramente hipotéticas — sem repercussão nenhuma.

Cumpre destacar, e não tenho simpatia nenhuma por suas escolhas ao longo de sua trajetória política, que Jefferson, no que concerne à saúde, tem um comportamento muito mais digno do que Genoino. Até agora, que eu tenha percebido ao menos, não espetaculariza a própria doença; não a transforma em causa política ou fator de mobilização de simpatizantes. Basta olhar para ele para saber que o tratamento impõe sofrimento e desconforto. As coisas falam por si.

Sem entrar no mérito das motivações — penso apenas nas consequências —, acho que ele deveria ter sido merecedor de alguma compensação da Justiça. Prestou, à sua maneira, um serviço para o Brasil. E não teve, como se nota, nenhum benefício por isso; tampouco continuou a lucrar com as práticas que o levaram à condenação. Por que escrevo isso?

Não acho que o Brasil deva abrir mão do estatuto da delação premiada, mas acho que é preciso pensar essa questão com calma. Como merece reflexão o tal “acordo de leniência” que a Simenes, por exemplo, assinou com o Cade. Se a empresa admite ter participado de cartel, sabendo que transgredia a lei — e nem entro aqui no mérito do alcance da contaminação da prática criminosa na estrutura de governo (que se apure) —, parece-me um excesso de facilidade que o principal beneficiário de uma crime passe à condição de denunciante, mas preservando o status que lhe propiciou praticar o delito. É preciso que acordos de leniência e delações premiadas não se transformem num refúgio de canalhas que têm tal disposição para a delinquência que, quando criminosos, traem o povo; quando supostamente virtuosos, traem até seus próprios parceiros.

Jefferson sabia que também estava confessando um crime quando botou a boca no trombone. É advogado e nunca foi idiota. Mas volto ao ponto. Na saúde, ele e Genoino fizeram o que fizeram. Na doença, ele se comporta, com dignidade. Sabe que nem o STF nem Joaquim Barbosa são culpados pelo mal que o aflige. Não é o caso de Genoino e de seus amigos.

Por Reinaldo Azevedo

 

STF determina perícia para avaliar saúde de Jefferson

Por Marcela Mattos, na VEJA.com. Volto em seguida:
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, determinou nesta sexta-feira a realização de perícia médica para avaliar a saúde do delator do esquema do mensalão, Roberto Jefferson. O laudo servirá para definir se o ex-deputado cumprirá a pena de sete anos e 14 dias em regime semiaberto, como prevê a lei, ou domiciliar, conforme pede a defesa. Barbosa determinou que o Instituto Nacional de Câncer (Inca) indique, no prazo de 24 horas, pelo menos três oncologistas para avaliarem Jefferson. O STF aguarda a apresentação dos nomes dos peritos para definir dia e hora da realização da perícia.  O ex-deputado enfrentou um câncer no pâncreas e segue em tratamento. Ao pedir a autorização para o cumprimento da pena em casa, a defesa de Jefferson argumenta que ele “está acometido de grave e irreversível comprometimento de sua saúde em razão do tratamento para neoplasia maligna”.

O processo contra o delator do mensalão já transitou em julgado e ele já poderia ter estar preso. No entanto, o presidente do STF quer definir o tipo de regime a que lhe será imposto antes de dar início ao cumprimento da pena. Em nota, Barbosa disse que os advogados de Jefferson alegaram ainda que o tratamento ocasionou uma “deficiência nutricional crônica” e episódios intermitentes de febre. “Mostra-se condizente com as finalidades da execução penal o pronto exame do pedido feito pelo sentenciado Roberto Jefferson, antes de dar início à execução de sua pena”, afirmou.

Genoino
Assim como Jefferson, o petista José Genoino também pleiteia prisão domiciliar. O ex-presidente do PT passou mal dentro da cadeia, deixou a Penitenciária da Papuda e foi internado em um hospital. No entanto, com o resultado da perícia médica realizada a partir de pedido da Corte, que aponta que seu caso não é “grave” e que o tratamento em casa “não é imprescindível”, Genoino deverá voltar para a cadeia.

Por Reinaldo Azevedo

 

O gerente Dirceu e o professor Delúbio. Ou: “Empregos” acintosos

Delúbio e Dirceu: o professor de

Delúbio e Dirceu: o professor de “formação” e o gerente: escolhas acintosas

É claro que José Dirceu e Delúbio Soares fazem, à sua maneira, pouco caso da Justiça e da punição ao anunciar as suas respectivas intenções de trabalho. Se alguém me passasse uma lista de atividades possíveis para Dirceu exercer e me pedisse para excluir algumas, a primeira seria justamente aquela que ele escolheu. Que mente tem este rapaz! Ooops! Desculpo-me com o ancião que agora quer ser beneficiado pelo Estatuto do Idoso! Que mente tem o vovô Dirceu! Confesso que chego a ficar impressionado!

Pensem bem: em que outro ramo ele poderia, se quisesse (é claro que ele será um gerente de hotel dedicadíssimo; sabe tudo da área!), exercer seu trabalho de “consultor de empresas privadas” sem ser importunado por ninguém? Bastará ao empresário interessado em seus conselhos hospedar-se no St. Peter. O mesmo vale para políticos, que sempre podem passar por lá para tomar um cafezinho. Assim, só as noites representarão uma quebra na rotina do lobista bem-sucedido, que continua, como se sabe, a ser um dos chefões do PT mesmo na cadeia. Não é o primeiro presidiário que passa “salves” para os colegas que estão do lado de fora do muro, não é mesmo?

É evidente que Dirceu sabe que a gente sabe e sabe que a Justiça sabe… A graça da coisa está justamente nisto: arrancar do Judiciário uma espécie de consentimento para a não pena. Caso não seja bem-sucedido nos embargos infringentes, a sua condenação volta a ser de 130 meses (10 anos e 10 meses). Ao menos um sexto desse total (quase 1 ano e 10 meses) tem de ser cumprido em regime fechado mesmo. Aí estará criada a questão: esse início em regime semiaberto será “descontado” de que fase? O seu “patrão”, no entanto, não se importa em, eventualmente, ter de abrir mão de seu “gerente administrativo”.

O “emprego” de Delúbio não é menos acintoso. A sua origem, como é sabido, é o sindicalismo — nem Lênin via essa gente com bons olhos… O homem pertence à velha-guarda lulista, que levou para a política os métodos vigentes nos sindicatos, que nem sempre são os mais suaves. A CUT, de que ele já fi dirigente, decidiu contratá-lo justamente para o seu chamado “setor de formação”. Isso quer dizer que a central considera que a experiência de Delúbio é fundamental para formar a têmpera e o caráter de seus quadros.

E não deixa de ser, à sua maneira, verdadeiro. De todas as personagens do mensalão, nenhuma foi tão fiel à causa como Delúbio Soares. Ninguém fez, nesses anos todos, um silêncio tão obsequioso. Outros — até Lula — deram uma fraquejada, mínima que fosse. O próprio Dirceu, basta pesquisar um pouco, andou dando recados aqui e ali — faz isso até hoje. Já houve até a ameaça de uma “biografia” contando tudo. Isso foi no tempo em que Dirceu temeu que o Apedeuta pudesse jogá-lo ao mar. Mas Lula não roeu a corda, e os originais da tal biografia desapareceram. Delúbio nunca nem mesmo tremeu. Está com a causa e fim de papo!

No setor de “Formação” da CUT, Delúbio será um professor. O que ele tem a oferecer? Certamente não vai falar sobre a necessidade de respeitar as instituições democráticas… Que fique claro: ao contratá-lo, ainda que fosse para ele ficar sentado numa sala caçando moscas, a central sindical está dando de ombros para a Justiça e deixando claro que não acata seus fundamentos e seus valores.

“Ah, então é assim com qualquer empresa que contrate um presidiário em regime aberto ou semiaberto?” Claro que não! Ocorre que a CUT é uma entidade que representa trabalhadores — parte de seus ganhos, diga-se, deriva do indecente Imposto Sindical, compulsoriamente pago pelos trabalhadores. Delúbio cometeu um crime contra a ordem republicana, contra os fundamentos do próprio estado de direito. Chamá-lo para o “setor de formação” corresponde a dizer que a entidade não contrata apenas o seu trabalho, mas também referenda os seus valores.

E que se note: A Justiça tem a prerrogativa, sim, de vetar tanto um emprego como outro se julgar que não farão bem à ressocialização dos presos. Eu, por exemplo, vetaria — para preservar os dois de si mesmos. Um presidiário tem a sua liberdade tutelada pelo estado. Como o objetivo é fazer com que Dirceu e Delúbio sejam pessoas melhores ao fim da pena, conviria não lhes facultar circunstâncias que acabem predispondo ao crime, não é mesmo?

Pensando no bem de ambos, fosse eu o juiz das execuções penais, diria “não” a um e a outro. É preciso pensar na alma desses reeducandos.

Por Reinaldo Azevedo

 

E Dirceu, quem diria?, ficou velho! Ou: por que o diabo é diabo

É, gente, aconteceu! A defesa de José Dirceu resolveu apelar ao Estatuto do Idoso para tentar apressar a tramitação do seu pedido para trabalhar no hotel St. Peter. Ai, ai…

Uma coisa tem de ficar bem clara nessa história: mesmo num regime semiaberto, a permissão para que o condenado trabalhe fora da cadeia pode ou não ser concedida pelo juiz de execuções penais. O trabalho tem de ser, por exemplo, considerado adequado, contribuindo para a ressocialização do preso. Eu, se juiz fosse, não deixaria Dirceu solto num ambiente em que circulam tantos poderosos e endinheirados. Sabe como é? A tentação é a grande arma do capeta.

Quanto à questão da idade, não resisto: o diabo é diabo porque é velho, não porque seja sábio.

Por Reinaldo Azevedo

 

Justiça determina fim da farra na Papuda

Na VEJA.com:
A Vara de Execuções Penais (VEP) do Distrito Federal determinou nesta quinta-feira o fim dos privilégios que os condenados no escândalo do mensalão mantinham no presídio da Papuda, em Brasília. Os mensaleiros recebiam visitas em dias e horários mais flexíveis que os demais detentos. Deputados e senadores chegaram a realizar verdadeiras caravanas para visitar o trio petista José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares na prisão.

De acordo com a VEP, juízes detectaram que esses benefícios estavam causando “instabilidade” e “insatisfação” na população carcerária. Para os magistrados, os mensaleiros não podem ter regalias. “É justamente a crença dos presos nesta postura isonômica por parte da Justiça que mantém a estabilidade do precário sistema carcerário local. Essa quebra encontraria justificativa apenas se fosse possível aceitar a existência de dois grupos de seres humanos: um digno de sofrer e passar por todas as agruras do cárcere e, outro, o qual dever ser preservados de tais efeitos negativos, o que, evidentemente, não é legítimo admitir”, diz a decisão. Conforme decisão da VEP, a vigilância deve ser intensificada nos arredores do Complexo Penitenciário da Papuda para garantir a segurança da área.

Mulheres
Também nesta quinta-feira, a VEP determinou a imediata transferência da ex-funcionária de Marcos Valério, Simone Vasconcelos, e da banqueira Kátia Rabello para Penitenciária Feminina do DF, na cidade do Gama. Atualmente elas estão no 19º Batalhão da Polícia Militar, dentro da própria Papuda.

Por Reinaldo Azevedo

 

Romaria a presídio foi um equívoco, diz Dilma a petistas

Por Natuza Nery e Valdo Cruz, na Folha:
Apesar de ter determinado silêncio no governo sobre as prisões dos condenados do mensalão, a presidente Dilma Rousseff reprovou o regime privilegiado que permitiu visitas fora de hora aos petistas presos no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília. Ela considerou um erro a romaria de políticos que foi à cadeia visitar os petistas na primeira semana de detenção. E vê o risco de que outros presos e seus parentes fiquem revoltados com a situação.

Em viagem a Fortaleza no dia 22, Dilma discorreu sobre os três anos em que ficou presa durante o regime militar e, diante de ministros e congressistas, falou sobre o que a experiência lhe ensinou para evitar problemas na prisão. Além de auxiliares do primeiro escalão, estavam a bordo do avião presidencial o líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), irmão do deputado José Genoino (SP), preso na Papuda com o ex-ministro José Dirceu e o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares.
(…)
Dilma recomendou aos petistas que as visitas sejam breves para não irritar os familiares dos demais presos, com acesso mais restrito às áreas de segurança e sempre submetidos a controle rígido para conseguir entrar no local.
(…)
“Eu estive lá, sei como é”, disse a presidente, conforme relatos de participantes da viagem a Fortaleza, relembrando seus anos na Torre das Donzelas, apelido da ala onde ficava no antigo presídio Tiradentes de 1971 a 1974. Dilma afirmou que a regra básica no cárcere é conquistar a confiança dos outros presos. Também é “fundamental saber cozinhar”, aconselhou a presidente durante a conversa no avião.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

Por que o ministro José Eduardo Cardozo, o Garboso, está tão nervoso, o que rima, sim, mas não é solução? Ou: Pede pra sair, Cardozo!

Em tese, numa primeira mirada, José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, está acima da carne-seca. É o Fortão do Bairro Peixoto. Leio aqui e ali que recebeu aval da presidente Dilma para “reagir aos tucanos”. Entendo. Estimulado, então, ele decidiu ameaçar Deus e o mundo com ações judiciais. Disse que vai processar todos os que o caluniaram.

Engraçado: até agora não li “calúnia” nenhuma contra o ministro. “Calúnia” é acusar alguém, injustamente — ou sem provas — de um crime. Não me lembro, até agora ao menos, de alguém ter feito isso. Leio na Folha que ele disse o seguinte:
“Eu sempre fui muito tolerante no debate político em relação àqueles que me acusaram. [...] No entanto, hoje sou ministro de Estado da Justiça e o ministro da Justiça não pode jamais aceitar, pelo cargo que ocupa, pela função que ocupa, receber injúrias como as que tem acontecido”.

Huuummm…

Eu, por exemplo, acho que Cardozo é um péssimo ministro da Justiça. Avalio que, mais de uma vez, teve uma atuação deletéria contra São Paulo e já expus aqui os motivos. Espero que o ministro não queira me processar porque acho que ele fez muito mal, por exemplo, quando, diante de um ataque do crime organizado ao Estado, no ano passado, elegeu como alvos o governador e a Polícia, não os bandidos. Ou ainda: quando, diante do vandalismo nas ruas, ele, mais uma vez, preferiu atacar o governador e a Polícia a atacar os vândalos.

Isso tudo é muito feio. É coisa que não se faz.

Nesse episódio envolvendo a investigação que o Cade faz sobre a formação de cartel em São Paulo, sua atuação não é menos lamentável. Eu exponho, mais uma vez, os motivos. Não é ataque ao Ministério da Justiça, não! Ao contrário! É uma defesa da Pasta. Penso que Cardozo, o Garboso, não está à altura do cargo. Será que ele me dá esse direito ou tentará me levar aos tribunais? Acusação: “Esse Reinaldo aí me acha incompetente para o cargo; cortem-lhe a língua…”.

Mas volto. No caso do Cade:
- Cardozo não disse uma vírgula, até agora, sobre o fato de o Cade ter se transformado numa central de vazamentos de uma apuração que, em tese, é sigilosa;
- Cardozo assumiu ter sido ele a entregar papelório anônimo à Superintendência da Polícia Federal quando a própria Polícia Federal, em duas manifestações, diz ter recebido o material do próprio Cade;
- Cardozo acha que “só cumpre a sua função” quando se torna, então, segundo a versão assumida, despachante de material acusatório que um deputado petista — Simão Pedro, ex-chefe do atual manda-chuva do Cade — larga em sua casa. Dadas as autoridades que estavam sendo acusadas, quando menos, o material deveria ter sido remetido à Procuradoria-Geral da República.

Diz ainda o ministro:
“Aquele que pede a investigação, na lógica deles, tem que se defender. É a investigação do mensageiro e não da mensagem. É isso? [...] Isso é um vil pretexto para criar uma cortina de fumaça sobre o fato de que o ministro tinha os documentos e os encaminhou para a PF. A PF é que vai apurar. É só isso. Não há mais nada além disso.”

É… Há, sim, muita coisa além disso.

Quem está a dever explicações é o Ministério da Justiça, pasta à qual o Cade é subordinado. Como é possível que, num dos documentos enviados à PF (pouco importa, nesse particular, se por Cardozo ou não), o denunciante — Éverton Rheinheimer — admita ter marcado reuniões prévias com Vinicius Carvalho, o chefe do Cade, para, digamos, organizar a operação? Na mesma carta, diz esperar a proteção “do partido”, deixando claro que os alvos da operação são o PSDB e o DEM. Ora, a Siemens é uma das maiores fornecedoras do governo federal na área de energia. Nesse caso, sua política era outra? Um acordo de leniência só abrange São Paulo e Distrito Federal pré-governo do PT, e Cardozo, o Nervoso, quer que os seres lógicos considerem isso normal?

Encerro
Quando Cardozo resolveu matar a bola no peito para preservar o Cade, perdeu a condição de continuar ministro da Justiça. Melhor do que ficar tão bravo, seria pedir demissão nesta sexta mesmo. Eu acho. Esse nervosismo e essa braveza são incompatíveis com quem se considera tão isento e técnico nesse imbróglio todo.

Um homem público deve ser um fortalecedor de instituições. De dia e de noite. Pede pra sair, Cardozo, pede! Antes que seja sábado — quero dizer, antes que seja tarde.

Por Reinaldo Azevedo

 

Ministro da Justiça manteve encontros com empresário que PF chama de “lobista”; petista omitiu relação pregressa com investigado. Pede pra sair, Cardozo!

É claro que num país normal, que honra a tradição democrática e a transparência, José Eduardo Cardozo já não seria mais ministro a partir de amanhã. Agora está claro por que ela anda tão nervoso.

Há sinais de que pode ter havido irregularidades na relação entre a Siemens — e, quem sabe?, outras empresas — e o Metrô e a CPTM. À diferença da prática corriqueira no petismo, ninguém, no PSDB, classifica a apuração em si de uma conspiração contra patriotas. O que não é aceitável é que a investigação obedeça a critérios que são de natureza político-partidária. E isso, lamento, está mais do que evidenciado pela sequência dos fatos e pelas decisões e falas de autoridades envolvidas na investigação. O manda-chuva do Cade é o petista Vinicius de Carvalho; o chefe de Carvalho é José Eduardo Cardozo. Pois é…

Um dos principais investigados no caso é o empresário Arthur Teixeira, que a Polícia Federal chama de “lobista”. Eduardo Carnelós, seu advogado, rechaça a classificação e apresenta evidências de que ele é um consultor da área e que faz um trabalho legal. Pois é… Em defesa de seu cliente, Carnelós poderia evocar nada menos, parece-me, do que o testemunho justamente do ministro. Por quê? Porque Cardozo conhece Arthur. Mais do que isso: Cardozo esteve ao menos duas vezes com Arthur. Mais do que isso: Cardozo quis discutir com Arthur temas relativos justamente à área de transportes. O ministro sabe que os encontros aconteceram. Cardozo, um homem preocupado, queria debater o fortalecimento da indústria nacional no setor.

E olhem que Arthur foi procurado por emissários do petista. Os encontros aconteceram há coisa de dez aos, talvez um pouco mais. Isso nos remete a 2002, ano em que Lula foi eleito presidente pela primeira vez, e Cardozo, deputado federal. O emissário do companheiro entrou em contato, na verdade, com Sérgio Meira Teixeira, que morreu em 2011, então sócio de Arthur.

Indagado a respeito, Carnelós admite que os encontros, de fato, aconteceram. E afirma que Sérgio e Arthur não tiveram qualquer conversa com o petista que implicasse práticas ilegais. E emenda o advogado: “Nem com o agora ministro nem com as demais autoridades e políticos com os quais meu ciente se encontrou em razão de suas atividades profissionais regulares e legais”.

Cardozo, pede pra sair!
Não dá! A Polícia Federal que o senhor Cardozo chefia chama Arthur de lobista. Ele próprio e seu advogado exibem elementos demonstrando que é um consultor da área. O agora ministro tem de dizer se seus encontros foram mantidos com um lobista ou com um consultor. Arthur não mudou de ramo. O petista deve saber por que considerava os dois empresários referências na área.

Teixeira, justa ou injustamente, está no centro da, como chamarei?, “operação Cade-Polícia Federal”. Cardozo é o chefe dos dois órgãos. Sua relação pregressa com um investigado dessa importância — e é impossível o ministro não se lembrar das conversas — não poderia ter sido omitida. Suponho que nem a presidente Dilma soubesse.

“Ah, o encontro aconteceu há dez anos…” Certas coisas não morrem nem envelhecem, não é mesmo? A memória, por exemplo. E Cardozo é um homem de boa memória. “Encontrar-se com alguém é crime?” Claro que não! Quando, no entanto, esse encontro aconteceu entre o agora ministro da Justiça, a quem estão subordinados Cade e Polícia Federal, e um empresário que é considerado por esses órgãos um elemento essencial da investigação, aí as coisas se complicam muito. E se complicam ainda mais quando se examina o papel de Cardozo em todo esse episódio.

Já havia elementos de sobra para o ministro pegar o boné. Apareceu mais um.

Por Reinaldo Azevedo

 

Suspeitos de receber propina, dois assessores de Guido Mantega deixam os cargos

Por Fernanda Odilla e Mariana Schreiber na Folha Online:
Em função de suspeitas de que receberam propina, dois assessores do ministro da Fazenda, Guido Mantega, deixaram seus cargos na Esplanada nesta sexta-feira (29). Marcelo Fiche, chefe de gabinete do ministro, e Humberto Alencar, chefe da assessoria técnica e administrativa são acusados de terem recebido pelo menos R$ 60 mil de uma empresa que mantém contrato de R$ 4,75 milhões com o órgão. Ambos, que estão em férias desde que as denúncias vieram à tona, negam as acusações.

A Polícia Federal abriu inquérito na quinta-feira (28) para apurar o suposto pagamento de propina. O Ministério da Fazenda anunciou que a polícia apuraria o caso no dia 14 de novembro. O inquérito foi instaurado na Superintendência da PF no Distrito Federal. A Folha apurou que a polícia pretende concluir a investigação até janeiro, para evitar que as investigações sofram, ainda que de forma indireta, interferência do processo eleitoral.

A acusação de que os dois servidores receberam propina é atribuída pela revista “Época” a Anne Paiva, 26. Ela é ex-secretária da empresa Partnersnet Comunicação Empresarial que, em dezembro passado, firmou contrato para prestar serviços de assessoria de comunicação ao gabinete de Mantega.
(…)
Além de ter pedido ao Ministério da Justiça que apurasse o caso, a Fazenda anunciou uma investigação interna para averiguar as denúncias. A Controladoria-Geral da União indicou um integrante para participar dessa sindicância e também abriu um procedimento para monitorar a investigação interna da pasta.

Leia a nota em que Marcelo Fiche comunica sua saída:

Diante das notícias veiculadas hoje por alguns veículos de imprensa, informo que pedi ao ministro Guido Mantega para, ao final das minhas férias, não retornar à chefia de gabinete. Dessa forma, contribuo para que as investigações ora em curso sejam feitas com toda tranquilidade e com a maior celeridade possível para que a verdade seja restaurada e as mentiras que foram publicadas sobre a minha pessoa sejam rapidamente derrubadas.

Tenho sido atacado injustamente, inclusive com ilações mentirosas sobre a minha vida privada na imprensa. Não sei a que interesses servem tais ataques, mas posso dizer com toda tranquilidade que fizemos um processo licitatório para contratação de empresa de assessoria de imprensa do Ministério com todo zelo e respeito pela coisa pública e que, por ter sido pela modalidade pregão eletrônico (menor preço) em vez de técnica e preço, gerou uma grande economia aos cofres públicos.

Informo também que, a pedido dele mesmo, e com o mesmo objetivo, o chefe da assessoria técnica, Humberto Alencar, também não retornará a sua função ao final de suas férias.

Por Reinaldo Azevedo

 

PT: mentir, conspirar, trair

Seguem trechos da minha coluna na Folha desta sexta.
*
O PT nem inventou a corrupção nem a inaugurou no Brasil. Mas só o partido ousou, entre nós, transformá-la numa categoria de pensamento e numa teoria do poder. E isso faz a diferença. O partido é caudatário do relativismo moral da esquerda. Na democracia, sua divisa pode ser assim sintetizada: “Aos amigos tudo, menos a lei; aos inimigos, nada, nem a lei”. Para ter futuro, é preciso ter memória.

Eliana Tranchesi foi presa em 2005 e em 2009. Em 2008, foi a vez de Celso Pitta, surpreendido em casa, de pijama. Daniel Dantas, no mesmo ano, foi exibido de algemas. Nos três casos, e houve uma penca, equipes de TV acompanhavam os agentes federais. A parceria violava direitos dos acusados. Quem se importava? Lula batia no peito: “Nunca antes na história deste país se prendeu tanto”. Era a PF em ritmo de “Os Ricos Também Choram”.
(…)
Até que chegou a hora de a trinca de criminosos do PT pagar a pena na Papuda. Aí tudo mudou. O gozo persecutório cedeu à retórica humanista e condoreira.
(…)
Essa mentalidade tem história. Num texto intitulado “A moral deles e a nossa”, Trotsky explica por que os bolcheviques podem, e devem!, cometer crimes, inaceitáveis apenas para seus inimigos.
(…)
Para ler a íntegra, clique aqui

Por Reinaldo Azevedo

 

Por que o ministro José Eduardo Cardozo, o Garboso, está tão nervoso, o que rima, sim, mas não é solução? Ou: Pede pra sair, Cardozo!

Em tese, numa primeira mirada, José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, está acima da carne-seca. É o Fortão do Bairro Peixoto. Leio aqui e ali que recebeu aval da presidente Dilma para “reagir aos tucanos”. Entendo. Estimulado, então, ele decidiu ameaçar Deus e o mundo com ações judiciais. Disse que vai processar todos os que o caluniaram.

Engraçado: até agora não li “calúnia” nenhuma contra o ministro. “Calúnia” é acusar alguém, injustamente — ou sem provas — de um crime. Não me lembro, até agora ao menos, de alguém ter feito isso. Leio na Folha que ele disse o seguinte:
“Eu sempre fui muito tolerante no debate político em relação àqueles que me acusaram. [...] No entanto, hoje sou ministro de Estado da Justiça e o ministro da Justiça não pode jamais aceitar, pelo cargo que ocupa, pela função que ocupa, receber injúrias como as que tem acontecido”.

Huuummm…

Eu, por exemplo, acho que Cardozo é um péssimo ministro da Justiça. Avalio que, mais de uma vez, teve uma atuação deletéria contra São Paulo e já expus aqui os motivos. Espero que o ministro não queira me processar porque acho que ele fez muito mal, por exemplo, quando, diante de um ataque do crime organizado ao Estado, no ano passado, elegeu como alvos o governador e a Polícia, não os bandidos. Ou ainda: quando, diante do vandalismo nas ruas, ele, mais uma vez, preferiu atacar o governador e a Polícia a atacar os vândalos.

Isso tudo é muito feio. É coisa que não se faz.

Nesse episódio envolvendo a investigação que o Cade faz sobre a formação de cartel em São Paulo, sua atuação não é menos lamentável. Eu exponho, mais uma vez, os motivos. Não é ataque ao Ministério da Justiça, não! Ao contrário! É uma defesa da Pasta. Penso que Cardozo, o Garboso, não está à altura do cargo. Será que ele me dá esse direito ou tentará me levar aos tribunais? Acusação: “Esse Reinaldo aí me acha incompetente para o cargo; cortem-lhe a língua…”.

Mas volto. No caso do Cade:
- Cardozo não disse uma vírgula, até agora, sobre o fato de o Cade ter se transformado numa central de vazamentos de uma apuração que, em tese, é sigilosa;
- Cardozo assumiu ter sido ele a entregar papelório anônimo à Superintendência da Polícia Federal quando a própria Polícia Federal, em duas manifestações, diz ter recebido o material do próprio Cade;
- Cardozo acha que “só cumpre a sua função” quando se torna, então, segundo a versão assumida, despachante de material acusatório que um deputado petista — Simão Pedro, ex-chefe do atual manda-chuva do Cade — larga em sua casa. Dadas as autoridades que estavam sendo acusadas, quando menos, o material deveria ter sido remetido à Procuradoria-Geral da República.

Diz ainda o ministro:
“Aquele que pede a investigação, na lógica deles, tem que se defender. É a investigação do mensageiro e não da mensagem. É isso? [...] Isso é um vil pretexto para criar uma cortina de fumaça sobre o fato de que o ministro tinha os documentos e os encaminhou para a PF. A PF é que vai apurar. É só isso. Não há mais nada além disso.”

É… Há, sim, muita coisa além disso.

Quem está a dever explicações é o Ministério da Justiça, pasta à qual o Cade é subordinado. Como é possível que, num dos documentos enviados à PF (pouco importa, nesse particular, se por Cardozo ou não), o denunciante — Éverton Rheinheimer — admita ter marcado reuniões prévias com Vinicius Carvalho, o chefe do Cade, para, digamos, organizar a operação? Na mesma carta, diz esperar a proteção “do partido”, deixando claro que os alvos da operação são o PSDB e o DEM. Ora, a Siemens é uma das maiores fornecedoras do governo federal na área de energia. Nesse caso, sua política era outra? Um acordo de leniência só abrange São Paulo e Distrito Federal pré-governo do PT, e Cardozo, o Nervoso, quer que os seres lógicos considerem isso normal?

Encerro
Quando Cardozo resolveu matar a bola no peito para preservar o Cade, perdeu a condição de continuar ministro da Justiça. Melhor do que ficar tão bravo, seria pedir demissão nesta sexta mesmo. Eu acho. Esse nervosismo e essa braveza são incompatíveis com quem se considera tão isento e técnico nesse imbróglio todo.

Um homem público deve ser um fortalecedor de instituições. De dia e de noite. Pede pra sair, Cardozo, pede! Antes que seja sábado — quero dizer, antes que seja tarde.

Por Reinaldo Azevedo

 

O Cade, a investigação e a valentia de Cardozo. Ou: A diferença entre apuração policial e estado policial

Leio em reportagem no Globo Online que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, diz não se intimidar com o que chama de “pressão” do PSDB. Ora, por que ele se intimidaria se está no comando da festa? Vamos botar um pouco de ordem na bagunça que Cardozo, o PT e Vinicius Carvalho, o petista que chefia o Cade, estão fazendo. Há duas questões essenciais de saída:
a: a investigação – houve ou não formação de cartel na compra de trens para o metrô e a CPTM? Que se investigue. Tendo havido, que os responsáveis sejam punidos, seja lá em que esfera for.
b: a operação política – o que deveria ser uma investigação séria, imparcial, transformou-se numa operação própria de um estado policial, coisa que o Brasil, por enquanto, não é.

Então vamos lá. Há três “documentos” (ou que nome tenham) nesse imbróglio, todos sem assinatura.
1) uma carta de 2008, em inglês, endereçada por alguém — e se sabe que o autor é Everton Rheinheimer, ex-diretor da empresa — ao ombudsman da Siemens denunciando que a empresa participava de acertos em licitações;
2) uma versão em português dessa carta, que circulou em 2009, mas com acréscimos, que acusava políticos do PSDB.
3) um terceiro relatório — e se tem como certo que seja Rheinheimer— que reitera as denúncias e acusa outras figuras do PSDB.

O busílis da questão
Acompanhem:
- data do terceiro documento: 17/4/2013;
- data do acordo de leniência com o Cade: 22/5/2013 (em absoluto sigilo, então);
- data do ofício do delegado federal Bráulio Galloni, encaminhando o documento ao Superintendente da PF em SP: 11/6/2013;
- data das buscas realizadas pelo Cade, quando ficou conhecida a existência do acordo de leniência: 4/7/2013.

Por que isso é importante? Já vamos saber.

José Eduardo Cardozo decidiu assumir, conforme foi publicado pela VEJA.com, que foi ele quem remeteu o papelório todo à Polícia Federal para que fosse anexado ao inquérito. Como escrevi aqui, isso pode ser verdade e mentira ao mesmo tempo. Sim, leitor, em matéria de petismo, é plenamente possível. Ou por outra: que ele tenha acompanhado cada passo dessa operação, não tenho a menor dúvida. Que o Cade não tenha nada com isso, aí é outra história.

O terceiro documento, o de 17 de abril, é aquele em que Everton Rheinheimer admite que, “com a ajuda de Simão Pedro, encontrou-se duas vezes com o presidente do Cade, Vinícius Carvalho, para orientá-lo sobre aspectos importantes do acordo de leniência a ser assinado entre o órgão e a Siemens”. Nesse mesmo documento, o sujeito diz contar com a proteção do PT (que ele chama “o partido”, com intimidade) e ainda expressa a esperança de arrumar um emprego na Vale. A empresa tem gestão privada, mas o governo é um dos sócios, como se sabe, além dos fundos de pensão, ligados ao PT. De todo modo, note-se: o emprego não foi dado.

Atenção! Esse terceiro documento, também sem assinatura, deixa claro que o Cade ORGANIZOU a denúncia, que houve uma combinação prévia. É absolutamente ilegal uma condução dessa natureza. Esse documento, diga-se, deveria servir para abrir uma investigação sobre a forma como se deu o acordo de leniência — que, conforme resta claro, passou a ser outra coisa. Esse terceiro documento evidencia, em suma, que se trata de uma ação PARTIDÁRIA.

Os termos do acordo de leniência são desconhecidos. De toda sorte, sabe-se que a “apuração” do Cade se limita a São Paulo e ao Distrito Federal, quando governado pelo DEM. A Siemens tem contratos Brasil afora, na esfera dos estados e, sobretudo, é uma grande fornecedora de estatais federais. Com que então, nesses outros casos, tudo transcorria com a seriedade dos conventos?… Tenham paciência! Que tipo de acordo o tal executivo negociou com Carvalho?

De volta às datas
Se, em 11 de junho, o delegado Bráulio encaminha o documento (aquele que tem até pedido de emprego) à Superintendência da PF e diz tê-lo recebido do Cade, é difícil de acreditar que tenha havido aí um engano, como agora se alega. Afinal, o procedimento de busca e apreensão é de 4 de julho — como era sigiloso e nem tinha acontecido, o delegado não tinha como adivinhá-lo, não é mesmo?

Notem: que o documento saiu do Cade para a Superintendência da PF, isso parece óbvio. Que Carvalho e Cardozo soubessem de tudo, também parece óbvio. Assim, é ao menos parcialmente verdadeira a confissão do ministro. Ocorre que a minha hipótese é que o ministro esteja lavando a traficância. Por quê? Caso fique caracterizado que o Cade, ALÉM DE COMBINAR PREVIAMENTE OS TERMOS DO ACORDO DE LENIÊNCIA, ainda encaminhou o papelório à PF, aí fica caracterizado que um órgão do estado está mesmo sendo usado como instrumento de luta política.

Cardozo resolve matar a bola no peito e admitir a responsabilidade justamente para falar o que está falando agora: teria apenas cumprido a sua função ao encaminhar a denúncia à PF. Assim, aquilo que tem todo jeito de tramoia político-partidária acaba parecendo muito natural.

Desde o começo
Eu não sei se houve cartel ou não, se autoridades estavam envolvidas ou não. O que sei é que uma investigação não pode ser conduzida como se fosse uma conspiração. E é o que se tem. Desde quando essa história veio a público, o Cade funcionou como uma central de vazamentos de informações contra o governo de São Paulo, que ficava sabendo deste ou daquele aspectos da investigação por intermédio da imprensa.

Nas democracias, investiga-se o que tem de ser investigado, doa a quem doer. Os tucanos não podem reivindicar a condição de quem está acima de qualquer apuração — e, diga-se, não estão fazendo isso. Mas seria estúpido se calar quando é claro que um órgão de estado — o Cade — está sendo instrumentalizado em favor da luta político-partidária. O PARTIDO, DIGA-SE, DEMOROU A REAGIR. É UM DOS SEUS DEFEITOS.

O terceiro documento, reitero, em que há a confissão de que o Cade foi mais do que um simples órgão do estado empenhado na apuração das denúncias, deveria bastar para pôr na rua o senhor Vinícius Carvalho, sem contar as suas óbvias ligações com Simão Pedro, que está na raiz da denúncia e volta à cena para dizer que foi ele quem entregou o papelório a Cardozo.

Há larápios? Cana neles! O que é inaceitável é que Cade e ministro da Justiça apareçam como protagonistas do que vai assumindo as características de dossiê — mais um dos dossiês a que se dedicam os petistas em períodos pré-eleitorais. Isso corresponde a usar o estado contra adversários políticos, o que viola as regras da democracia.

A investigação de irregularidades e a persecução penal de culpados têm de se dar nos marcos da democracia e do estado de direito; não podem servir para encobrir a ação de lobos disfarçados de cordeiros.

Por Reinaldo Azevedo

 

Petistas fazem ato de desagravo a Donato, acusado de vínculo com máfia dos fiscais, e o recebem com a saudação que costumam dispensar a Dirceu

É impressionante, é estupefaciente, é absurdo, mas aconteceu. Nesta quinta, o PT reuniu a cúpula do partido em São Paulo — num ato de apoio ao vereador Antonio Donato, ex-secretário de Governo de Fernando Haddad, prefeito da capital. Era o homem forte da administração. O prefeito compareceu e fez um discurso entusiasmado em defesa do homem que coordenou a sua campanha. O vereador foi recebido com a saudação que os petistas costumam dispensar a José Dirceu: “Donato, guerreiro do povo brasileiro”. Leiam o que informa Giba Bergamin na Folha Online. Volto mais tarde ao tema.
*
O PT reuniu nesta noite lideranças nacionais, deputados federais, estaduais e secretários da gestão Fernando Haddad (PT) para um ato em defesa do vereador Antonio Donato, ex-homem forte do prefeito Fernando Haddad (PT). O ex-secretário deixou o cargo após a Folha mostrar que Donato empregou o auditor fiscal Eduardo Barcellos, acusado de integrar a máfia do ISS.

Barcellos disse à Promotoria que pagava R$ 20 mil por mês quando ele era vereador, entre 2011 e o ano passado. Donato diz que é alvo de “mentiras absurdas” e que ajudou a desbaratar a quadrilha de auditores que dava descontos no ISS a construtoras em troca de propina. Entre os “defensores da honra de Donato” estava o presidente nacional do partido, Rui Falcão. O prefeito Haddad, que estava em Paris até ontem, chegou ao evento por volta das 21h. “Donato, guerreiro do povo brasileiro”, gritaram militantes assim que Donato chegou ao evento, no Sindicato dos Engenheiros, no centro da cidade.

“Não vamos permitir que manchem a sua imagem. Querem derrubar tudo o que estamos construindo par atingir a gestão Fernando Haddad”, disse o secretário de Subprefeituras, Chico Macena.

Em discursos, as lideranças criticaram o Ministério Público e a imprensa. “Vivemos num país em que o Ministério Público tem viés político”, disse o presidente da Câmara, José Américo. Além das lideranças petistas, havia integrantes de partidos apoiadores, como PSB, PMDB, PTB e PC do B. Esteve no evento boa parte do secretariado de Haddad: José Floriano (Habitação), Mariane Pinotti (Pessoa com Deficiência), Chico Macena (Subprefeituras), José de Filippi (Saúde), Osvaldo Spuri (Infraestrutura) Jilmar Tatto (Transportes), Eliseu Gabriel (Trabalho), Roberto Porto (Segurança Urbana) e Rogério Sotilli (Direitos Humanos).

Haddad
O prefeito Fernando Haddad (PT) saiu em defesa de Donato durante discurso no Sindicato dos Engenheiros. Discursou por 14 minutos. “Desde o ano passado, desde que deixei o ministério da Educação, Donato é a pessoa que mais me acompanhou”, disse. Ele disse que Donato foi quem ajudou a “levar uma quadrilha de vigaristas” à prisão.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

Haddad no ato de desagravo a vereador que aparece ligado a fiscais da máfia: o PT como herdeiro de um pântano moral

Homens de vermelho: Donato e Fernando Haddad. Eles estão juntos. Sempre.

Homens de vermelho: Donato e Fernando Haddad. Eles estão juntos. Sempre.

O PT reuniu nesta quinta deputados estaduais, federais, vereadores, lideranças nacionais do partido e, não poderia faltar, o prefeito Fernando Haddad num ato de desagravo ao vereador Antonio Donato, ex-secretário de Governo da Prefeitura — teve de ser demitido — e ex-coordenador de campanha de Haddad. Donato foi recebido, como já se informou aqui, aos gritos de “Donato guerreiro do povo brasileiro” — é o grito de saudação que o partido costuma dispensar ao patriota José Dirceu. Isso quer dizer que os petistas consideram os dois igualmente inocentes, entenderam?

É claro que é um escracho e um acinte. Haddad decidiu deflagrar a operação para pegar os fiscais — havia mesmo uma máfia atuando na Prefeitura — e tinha a intenção de jogar o passivo no colo de Gilberto Kassab. Era um esforço para tentar reverter o brutal desgaste de sua imagem na cidade. Ocorre que a primeira vítima política do escândalo acabou sendo… Donato! De resto, Kassab tinha um acordo de mais alta esfera com Dilma Rousseff, e do Planalto veio a ordem para deixar o ex-prefeito em paz. Adiante.

De todos os políticos com alguma projeção na cidade, nenhum apareceu tão perto da máfia como Donato:
a: já secretário de governo, ele nomeou para uma diretoria da SPTrans Ronilson Rodrigues, considerado o chefe da máfia;
b: Donato chamou para trabalhar em seu gabinete outro auditor fiscal envolvido com a fraude: Eduardo Barcelllos;
c: num acordo de delação premiada, Barcellos afirmou que pagava uma pensão mensal de R$ 20 mil ao vereador; o dinheiro, afirmou, era entregue em seu gabinete na Câmara;
d: quando soube que estava sendo investigado pela Controladoria do Município, Ronilson decidiu procurar justamente Donato;
e: a ex-namorada de um dos auditores, num telefonema ameaçador, captado pela polícia, ameaça revelar que o vereador era ligado ao esquema e que recebeu R$ 200 mil do grupo para financiar sua campanha eleitoral;
f: em depoimento ao Ministério Público, uma ex-auditora diz que o grupo de fiscais financiou a campanha de Donato.

Donato caiu. Mas deixou claro que não aceitava a condição de boi de piranha. Vale dizer: não tem a têmpera de um Delúbio Soares ou mesmo de um José Dirceu. Não é do tipo que aguenta o tranco calado. O vereador exigiu a solidariedade do partido — inclusive a do prefeito — e a obteve.

Atenção! Que petista se reúnam para declarar a inocência de seus soldados, convenham, é do jogo. E todos já estamos acostumados com isso. Que Fernando Haddad tenha comparecido ao evento sem que o Ministério Público tenha concluído a investigação e sem que a própria Controladoria do Município tenha terminado o seu trabalho, eis um absoluto despropósito. Donato exigiu, e obteve, a solidariedade do prefeito. Eu já havia cantado essa bola aqui no dia 15 de novembro.

Donato - cúpula do PT

Sabem como é… Um coordenador de campanha é sempre um homem muito sabido.

Concluindo
Um dos principais alvos dos petistas no desagravo ao “guerreiro do povo brasileiro” foi o Ministério Público. Como a gente sabe, esse órgão só é batuta quando investiga os adversários do PT

Na minha coluna na Folha desta sexta, lembro um trecho do texto de Trotsky “A moral deles e a nossa”. O líder socialista responde a uma suposta indagação: na luta contra os capitalistas, todos os meios são admissíveis, inclusive “a mentira, a conspiração, a traição e o assassinato”? E ele então diz: “Admissíveis e obrigatórios são todos os meios, e só eles, que unam o proletariado revolucionário (…), que o ensinem a desprezar a moral oficial e seus democráticos arautos”.

Ou seja: sim, tudo é permitido em nome da causa, inclusive mentir, conspirar, trair e matar.

O PT é herdeiro desse pântano moral.

Por Reinaldo Azevedo

 

O indulto coletivo e o indulto individual

Caros leitores,

Nesta quinta, no debate da VEJA.com, vejam lá, debatemos a questão do indulto. Roberto Podval citou a possibilidade do indulto individual, e eu tratei do indulto coletivo — aquele que nasce de um decreto presidencial. Mas que se note: a presidente indulta quem quiser. Basta que se siga um ritual. A defesa encaminha o pedido ao Conselho Penitenciário, que o remete ao ministro da Justiça, que o leva ao presidente da República. Ao 48 minutos, digo que a presidente pode, sim, decretar o indulto individual, mas afirmo não acreditar que a presidente chegará a tanto porque seria “uma vergonha”. A propósito: afirmei que o artigo da Constituição que lhe faculta tal competência é o 89. Errado. É o 84.

Na semana passada, tratei do assunto na minha coluna da Folha.

coluna - folha indulto

 

Por Reinaldo Azevedo

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Fonte:
Blog de Reinaldo Azevedo (VEJA)

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