Mercadante derrapa no pedágio federal, por Augusto Nunes

Publicado em 07/03/2011 21:42


Candidato ao governo de São Paulo, Aloízio Mercadante atravessou a campanha pendurado em duas bandeiras: a imediata extinção do sistema de progressão continuada  e uma dramática redução das tarifas do pedágio. Segundo a discurseira no horário eleitoral, a metodologia adotada nas escolas públicas do Estado ─ o aluno é aprovado ou não quando termina o ciclo, não o ano escolar ─ “é um estímulo ao analfabetismo”. E o preço cobrado pelas concessionárias das rodovias paulistas não passa de “um assalto legalizado”.

As duas bandeiras foram reduzidas a farrapos pelo governo Dilma Rousseff. Em fevereiro, o MEC encampou o sistema de progressão continuada, com o nome de “suspensão da repetência”, ao determinar que nenhum aluno dos três primeiros anos do ciclo básico seja reprovado. “Reprovação não é um método de aprendizagem”, ensinou o ministro Fernando Haddad. “Abala a auto-estima da criança e atrapalha o seu sucesso escolar”. Deveria ter dito isso durante a campanha eleitoral, antes da derrota que valeu a Mercadante a nomeação para o Ministério de Ciência e Tecnologia.

O governo que consola órfãos das urnas com empregos no primeiro escalão deveria ter ordenado ao Herói da Rendição que passasse ao largo da questão do pedágio. Nesta segunda-feira, a manchete da Folha de S. Paulo constatou que o aumento das tarifas nas estradas federais privatizadas em 2007 superou amplamente a inflação oficial. Na rodovia Fernão Dias, que liga São Paulo a Belo Horizonte, por exemplo, o pedágio já subiu 30%. Na Régis Bittencourt (SP-Curitiba), o salto foi de 25%. Se fosse corrigido pela inflação, o índice ficaria em 19%.

Em fevereiro, quando soube da adoção do sistema instituído por Mário Covas, Mercadante deveria ter criticado publicamente a decisão e abandonado o gabinete. Nem miou. É o que fará agora. Importante é manter o emprego. E decerto anda muito ocupado com a coleta de provas para a teoria que enunciou num recente ensaio carnavalesco no Rio: o incêndio que destruiu os barracões de três escolas de samba foi provocado pelo aquecimento global.

“Geraldo Alckmin é o pedágio, eu sou o caminho”, recitou Mercadante ao longo da campanha. Se resolvesse percorrê-lo, o eleitorado paulista conheceria o caminho mais curto para o desastre irreparável.

Celso Arnaldo e o palavrório de Irecê: Dilma decidiu que todas as brasileiras são mães

Se cada palavrório cretino fosse punido com 10 chibatadas, Lula e Dilma Rousseff  atravessariam aos urros os intervalos entre uma e outra discurseira. Lula, por exemplo, acha que só sua mãe nasceu analfabeta.  E acredita que, como a Terra é redonda e gira, o Brasil fica às vezes em cima e às vezes embaixo do Japão. Dilma, entre outros hinos ao absurdo, enfiou na cabeça que as mulheres brasileiras, que somam 52% da população brasileira, são mães dos 48% restantes.

Como se baseia no último censo do IBGE, que só conta gente que não morreu, Dilma transformou o Brasil num enigma indecifrável. Aqui, todas as mulheres são mães, incluídas as recém-nascidas, as estéreis e as carmelitas descalças. Todos os filhos são homens. Todos os homens têm mães vivas, incluídos os maiores de 90 anos, e são órfãos de pai, incluídos os bebês de colo. Falta apenas resolver um pequeno problema aritmético: mesmo que todas as mães sejam viúvas e tenham um filho único, uma diferença de quatro pontos percentuais separa 52 de 48. É muita mãe para pouco filho.

Alheia a tais miudezas, Dilma reapresentou em Irecê, pela terceira vez, a tese amalucada, como comprova o vídeo que ilustra o texto do jornalista Celso Arnaldo Araújo. Foi só o começo da sequência de espantos capturados pelo nosso grande caçador de cretinices. A performance no interior da Bahia é, como sempre, tão divertida quanto assustadora. Só um país sem juízo pode eleger uma presidente assim. (AN)

É NO PRÓLOGO QUE A COISA PEGA
Celso Arnaldo Araújo

Na história da oratória política, há antológicos começos de discursos presidenciais:

“Há oito décadas e sete anos, os nossos pais deram origem neste continente a uma nova Nação, concebida na Liberdade e consagrada ao princípio de que todos os homens nascem iguais”. (Abraham Lincoln, no célebre discurso de Gettysburg)

“Muitos são os caminhos para a conquista do Poder. Viciosos, porém, se me afiguram todos aqueles que se apartam do voto do povo, deitado nas urnas soberanas”. (Discurso de posse de Jânio)

“Venho somar minha esperança à esperança de todos neste dia de congraçamento. Permitam que, antes do Presidente, fale aqui o cidadão que fez da esperança uma obsessão, como tantos brasileiros. Pertenço a uma geração que cresceu embalada pelo sonho de um Brasil que fosse ao mesmo tempo democrático, desenvolvido, livre e justo”. (Discurso de posse de Fernando Henrique Cardoso)

“Não é possível traduzir em palavras o que sinto e o que penso nesta hora, a mais importante de minha vida de homem público. A magnitude desta solenidade há de contrastar por certo com o tom simples de que se reveste a minha oração” (Juscelino, na inauguração de Brasília)

“Esses republicanos, não satisfeitos em atacar a mim, minha esposa ou meus filhos, agora incluem meu pequeno cão Fala em seus ataques. Eu não me incomodo com esses ataques, minha família não se incomoda com esses ataques. Mas Fala se incomoda” (Franklin Roosevelt, no famoso Discurso de Fala, sua cadelinha Scottish Terrier)

“Primeiro eu queria desejá boa tarde a todos. Boa tarde. Todos nós estamos aqui até agora, né, sem almoçá, mas tamo aqui firmes. Eu queria também dá um boa tarde especial às mulheres baianas aqui presentes. Com isso eu não estou preterindo os nossos companheiros homens, mas é porque hoje é o primeiro dia do mês da mulher, o mês em que se comemora o dia 8 de março, o Dia Internacional da Mulher. E aí também porque, apesar de nós sermos 52% da população, e portanto as mulheres serem maioria, os outros 48% são nossos filhos e aí fica tudo em casa. Então, ao comprimentar as mulheres eu estendo também um comprimento a todos os companheiros aqui presentes” (Dilma Rousseff, no discurso de Irecê, Bahia, depois de assinar o reajuste do Bolsa Família, 01/03/2011)

Quem assistiu a “O Discurso do Rei” notou que a grande agonia de George VI, o rei disfêmico da Inglaterra, era o preâmbulo da fala, o prefácio, as primeiras palavras. Dilma tem enormes dificuldades com o resto também, mas é no prólogo de seus discursos que a coisa realmente pega. Uma saudação que deveria ser simples e natural, para beneficiários do Bolsa Família, transforma-se num pastiche do pastiche. Aquele célebre “Primeiro eu queria comprimentar os internautas. Oi internautas” aqui virou “Primeiro eu queria desejá boa tarde a todos. Boa tarde”.

Dilma, obcecada com esse negócio de ser a primeira “presidenta”, cismou de fazer gênero com a mulherada – mas de um modo sempre desastroso. Dar “um boa tarde especial às mulheres baianas aqui presentes”, como se fosse possível dá-lo às dinamarquesas ou não devesse incluir as não-baianas ali presentes, só não é mais ridículo que o complemento: desde quando dar boa tarde às mulheres, no “mês da mulher”, é preterir “os companheiros homens”? Fazer média com gênero é sempre detestável, porque tão demagogo e antinatural quanto o “Queridos brasileiros e queridas brasileiras” do discurso de posse que enlevou a companheirada.

O pior é que, nesses momentos, Dilma tenta ser leve, arrisca uns truquezinhos de comunicador de auditório – mas seu repertório é constrangedor. E inclui, desde a campanha, onde foi repetido dezenas de vezes, esse monstruoso apedeutismo dos 52% de mulheres-mães dos outros 48%, que ela ouviu falar não sabe onde e repete sem noção de lógica e sem contestação. Como em Irecê.

Todos os homens que fazem parte dos 48% são filhos de mulheres, mas não necessariamente dessas mulheres da cota dos 52% – que naturalmente estão vivas, pelo menos no último censo do IBGE. Minha mãe já morreu — portanto eu, que faço parte dos 48, não sou filho de nenhuma dos 52. Entre os 52, há também as que não têm filhos – por imaturidade, infertilidade, decisão pessoal ou perda. Nenhum dos 48 evidentemente é filho dessas.

Válido o esdrúxulo raciocínio de Dilma, é só inverter a equação: os 52% são nossas filhas, o que, no meu caso, que tenho duas filhas, é um pouco mais verdadeiro que o inverso. Nós homens temos mais filhas que elas, filhos. E estamos todos em casa.

É possível confiar um PIB de 3,675 trilhões de reais, um “Pibão bão”, nas palavras da presidente, a uma pessoa com essa dificuldade de raciocínio?


Celso Arnaldo: a histórica apresentação do PAC da Omelete no Mais Você provou que qualquer uma pode virar presidente

Por Celso Arnaldo Araújo

A presidente Dilma Rousseff é uma mulher extraordinária ─ quando nada, por ser a primeira a chegar à Presidência da República. Mas, estimulada por seus marqueteiros, costuma celebrar essa primazia alimentando publicamente o desejo fantasioso de ser vista como uma mulher comum, como se dissesse: “Se eu cheguei lá, qualquer uma pode chegar”.

Eleita presidente, e passada a fase inicial da muda, entrevistas a programas de grande audiência fazem parte dessa estratégia meio feminista, meio oportunista ─ e Hebe vem aí. Está dando certo. Depois do Mais Você de hoje, muitas espectadoras de Ana Maria Braga, sobretudo as das emergentes classes C e D que ainda não tinham ouvido a presidente falar, devem estar pensando em voz alta e até comentando com a vizinha: “Se ela pode, eu também posso”.

Sim, antes de cometer “o” omelete, a presidente Dilma, sem esforço algum, com uma espantosa naturalidade, respondeu a virtualmente todas as perguntas da apresentadora como se fosse uma mulher sem instrução ou um mínimo de traquejo fingindo ser presidente da República. João Santana deve estar orgulhoso dessa performance.

Exemplos? Logo no começo do vídeo: Ana Maria Braga observa que o governo Dilma está completando dois meses e pergunta a ela se sentiu o tempo passar:

“Sinceramente, não. Não, é, é, parece que começou ontem. Passa rápido. Sabe pur que que passa rápido? Purque cê trabalha, é, é, tem momento que ocê trabalha, entra muito cedo e sai muito tarde”.

Qual é a média de horas de trabalho da senhora?

“Não menos de 12. Nove e nove. Se começá às 10 vai mais tarde.

Até na carga horária a presidente quer se parecer com pelo menos 20 milhões de mulheres brasileiras que entram cedo e saem tarde ─ e que ainda têm uma casa e uma família para cuidar, o que não é seu caso. A diferença talvez seja a hora de pegar no trabalho. Começar o dia às 10 não é para qualquer uma ─ apenas para presidentes que só têm de entregar cinco mil creches e dois milhões de casas em quatro anos.

Foi uma entrevista “Mais Você”: cheia de momentos mágicos, históricos ─ como a cerimônia de passagem da faixa para a primeira mulher presidente, a que Dilma assiste novamente ao lado da apresentadora. Como foi, presidenta? Ela guardará essa lembrança para sempre ─ mas imaginem a desolação de seu biógrafo, daqui a uns 10 ou 15 anos, escutando a descrição feita a Ana Maria Braga, exatos dois meses depois do ato:

“Olha, é, é, é uma turbulência na hora, viu? Purque é uma, um momento muito especial purque cê tem sobre si todo o peso e a responsabilidade, é, por baixo daquela faixa tão levinha de seda, ocê tem a responsabilidade de dirigi um país. Aí eu pensei assim: chegou a hora, agora é a minha vez, porque tava o presidente Lula passano pra mim, né?”.

Além de ser a primeira mulher presidente, é a primeira a descobrir que a transmissão da faixa presidencial não é um momento comum e que, assim que a recebe de seu antecessor, um presidente passa a ter a responsabilidade de dirigir um país.

Momento emocionante a despedida de Lula, não presidenta?

“Assim eu tava muito comovida, purque ele tava ino embora, essa duplicidade. Eu tava chegano, mas ele tava saino e tamém eu fiquei triste por ele tá saino. Então tinha esses dois sentimentos ali”.

Uma beleza a Teoria Sentimental do Estado da presidente Dilma. Por ela, ficavam os dois na Presidência.

Mas, se o Mais Você com Dilma teve algum mérito, foi o de trazer, no final deste vídeo, a explicação definitiva sobre o esquisitíssimo “presidenta” com que a presidente encasquestou.

Vivos fossem, nem Houaiss nem Aurélio, diante dos demais 38 acadêmicos, Sarney incluído, teriam a capacidade de formular uma justificativa de gênero tão bem construída. Por que presidenta, presidenta?

“Prá enfatizá o fato de que era, eu sou a primeira mulher a sê presidente do Brasil. Eu não estou cometeno nenhuma barbaridade ao querer ser presidenta do ponto de vista da gramática. Mas, do ponto de vista do significado pras mulheres, o que eu quero enfatizá é o a – que é aquele que é o signo do feminino. Então é presidenta. E não é errado. Entre presidente e presidenta, eu acho que a primeira mulher tem a obrigação de ser presidenta, porque é uma obrigação com as mulheres deste país”.

Muito claro, mas vale a pergunta — qual é o signo da omelete? Porque “o” omelete de Dilma não mereceu a deferência de um “a”?

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Blog Augusto Nunes (VEJA)

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