O governo banca um negócio que só favorece o empresário de estimação, por Augusto Nunes

Publicado em 01/07/2011 18:23
Blog de Augusto Nunes, em veja.com.br

O governo banca um negócio que só favorece o empresário de estimação

Ao implodir todas as falácias forjadas pelo governo e pela direção do BNDES para explicar a inexplicável injeção de R$4 bilhões na fusão do Pão de Açúcar e do Carrefour, o artigo de Carlos Alberto Sardenbergpublicado na seção Feira Livre (abaixo) deixou claro que a operação foi montada para favorecer o empresário Abílio Diniz. Para confirmar em última instância o curto e preciso diagnóstico do senador Aloysio Nunes Ferreira, que qualificou o negócio de “absurdo e escandaloso”, só faltava a entrada em cena do advogado Márcio Thomaz Bastos. Agora não falta mais nada: ao contratar o advogado-geral do Planalto para representá-lo, Abílio produziu simultaneamente uma confissão de culpa e a prova definitiva de que o governo se meteu em outra enrascada de bom tamanho.

Criminalista talentoso, Márcio vem esbanjando inventividade desde 2005, quando abandonou as funções de ministro da Justiça para livrar da cadeia os quadrilheiros do mensalão. Transformou crime em erro, ladrão em tesoureiro distraído e produto do roubo em recursos não-contabilizados. Decerto encontrará alquimias menos bisonhas que as apresentadas pelos trapalhões federais. O mais recente se ampara na necessidade de defender a pátria ameaçada por vorazes concorrentes internacionais. “O patriotismo é o último reduto dos canalhas”, disse o escritor inglês Samuel Johnson. Como qualquer generalização, essa também é perigosa. Mas se aplica exemplarmente aos nacionalistas de araque em ação neste início de inverno.

“O mérito da operação é criar maioria nacional num conglomerado internacional”, recitou nesta quinta-feira o mineiro Fernando Pimentel, que ganhou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior por ter naufragado na tentativa de virar senador. O fervor nacionalista contagiou o vice-presidente do BNDES, João Carlos Ferraz: “A bandeira verde e amarela é sempre importante”, declamou a jornalistas interessados em saber se a doação bilionária tem motivações técnicas ou políticas. Se fosse tão importante assim, deixaram de replicar os repórteres, o banco não estaria financiando aventuras em Cuba, na Venezuela e em outras paragens controladas por parentes ideológicos do PT.

É muito cinismo, berram os fatos. Até as gôndolas dos supermercados sabem que Abílio Diniz foi um generoso patrocinador das campanhas eleitorais de Lula e Dilma Rousseff. Tornou-se amigo de infância de Lula e continua a entrar sem bater nos gabinetes federais ocupados por quem manda.  Por algum motivo, arrependeu-se de ter vendido o controle do Pão de Açúcar aos sócios franceses do grupo francês Casino, resolveu romper o contrato e, para manter-se entre os barões do reino, pensou na fusão com o Carrefour. Se a ideia fosse boa, não lhe faltariam parceiros na iniciativa privada. Como só ele sairá ganhando, foi cobrar a conta dos favores prestados aos amigos no poder.

 Feira Livre

‘Com uma pequena ajuda do governo’, um texto de Carlos Alberto Sardenberg

TEXTO PUBLICADO NO JORNAL O GLOBO, QUINTA-FEIRA

Carlos Alberto Sardenberg

O negócio Pão de Açúcar/Carrefour só para de pé com a entrada do BNDESpar como um importante acionista da nova empresa. Ora, por que um banco público deveria se associar a uma rede de supermercados?

Para impedir uma desnacionalização – foi a primeira resposta que ouvi de pessoas diretamente envolvidas no negócio. Explica-se: o Pão de Açúcar está praticamente vendido ao Casino, uma rede multinacional de origem francesa. Há alguns anos, Abilio Diniz vendeu parte de sua rede ao Casino, que adquiriu também, no mesmo contrato, o direito de assumir o controle integral do Pão de Açúcar em 2012.

Se isso acontecer, tal é a argumentação, os três maiores supermercados atuantes no Brasil (o próprio Pão de Açúcar, atual número um, Carrefour e Walmart) estarão sob controle estrangeiro. E daí? Daí que varejo é estratégico para o país e não pode ficar assim, sempre segundo o argumento de fontes privadas brasileiras.

A tese não se sustenta. O setor tem uma estrutura interessante. Os três maiores faturaram no ano passado R$ 87 bilhões, isso representando 43% do total. Do quarto lugar para baixo, aparecem redes pequenas, regionais, em um mercado bastante pulverizado.

Por outro lado, os três grandes competem ferozmente entre si – e essa competição seria muito reduzida com a fusão Pão de Açúcar/Carrefour. Ou seja, em nome de uma suposta desnacionalização se promoveria uma concentração. O que interessa mais ao consumidor e ao país?

Além disso, não haveria propriamente uma nacionalização do Carrefour, pois o supermercado resultante da fusão pertenceria meio a meio ao Carrefour francês e a uma holding chamada NPA (Novo Pão de Açúcar). Esta seria integrada por Abilio Diniz, BNDESpar, banco BTG Pactual e o Casino, aliás com a maior participação acionária individual. Assim, somando-se a participação dos dois grupos franceses, o capital estrangeiro seria majoritário no processo.

O controle, porém, estaria na holding NPA e, conforme regras estatutárias já incluídas nas propostas, nenhum acionista controlador teria mais que dois votos. Ou seja, Abilio Diniz, com apoio do BNDES, do BTG e de outros acionistas no mercado local, poderia manter o controle sobre o supermercado fundado por sua família.

Adicionalmente, esse NPA teria algo como 11% do Carrefour francês e pessoas, brasileiras, envolvidas na negociação asseguram que isso daria grande influência sobre a rede multinacional, cujo capital é bastante pulverizado.

Ou seja, se tudo sair conforme os idealizadores do negócio, a sorte de Diniz muda completamente: se em 2012 ele poderia ficar sem supermercado, agora ficaria com um negócio ampliado aqui e lá fora.

Ou seja, o BNDES, com o suposto propósito de evitar uma desnacionalização, estaria de fato apoiando um empresário brasileiro que já havia vendido participação a empresa estrangeira e que pretende seguir na internacionalização.

Difícil argumentação, não é mesmo? Talvez por isso mesmo o governo, por meio do BNDES e do ministro do Planejamento, Fernando Pimentel, tenha recorrido a outras justificativas. Fala-se da suposta internacionalização da companhia brasileira, mas a tese principal sustenta que o negócio poderia impulsionar as exportações brasileiras.

Como? A parte brasileira colocaria produtos nas lojas da rede internacional associada. Também não faz sentido. Primeiro, porque a parte brasileira não é grande fornecedora de produtos locais. Segundo, porque o comércio mundial de alimentos, principal ramo do supermercado, é muito regulamentado por governos e instituições internacionais. A União Europeia em geral e a França muito em particular impõem pesadas barreiras à entrada de alimentos brasileiros – e isso depende de negociações entre governos e no âmbito da Organização Mundial de Comércio, não de fusões entre empresas privadas. Além disso, o Pão de Açúcar já é sócio de uma rede internacional e não há notícia de significativo ganho nas exportações.

Por isso, talvez, uma pessoa participante das negociações me disse: a coisa é simples, o BNDESpar vai ganhar dinheiro; vai pagar 70 e tantos reais por ações que, pós-fusão, valerão mais de R$100.

Se tudo der certo, portanto, será um grande negócio. Ora, se é assim, por que os interessados não atraíram sócios privados? Será que não há no Brasil empresas e pessoas que possam juntar os R$4 bilhões que o BNDES vai colocar?

Ocorre que a presença do governo brasileiro, via BNDES, dá aval à fusão e exerce pressão sobre a direção do Casino – a parte prejudicada da história.

Os brasileiros idealizadores do negócio dizem que o Casino vai ganhar. Em vez de ter “só” o Pão de Açúcar em 2012, terá essa rede mais o Carrefour brasileiro e uma participação no Carrefour francês, seu concorrente direto.

Só que seria trocar um lucrativo Pão de Açúcar, sobre o qual terá controle total em 2012, por um negócio maior, mais difícil (o Carrefour brasileiro perdeu dinheiro) e no qual sua participação será menor, sem controle, e com a entrada do concorrente francês. A diretoria do Casino já se manifestou contra a fusão, considerando a proposta ilegal. Mas os brasileiros acham que, com apoio do governo, conseguem dobrar os acionistas.

A ver. Mas mesmo que tudo saia conforme os planos dos brasileiros, fica a questão: está certo o governo alinhar-se assim em um negócio privado? O BNDESpar não teria uso melhor para esses R$4 bilhões, como o de apoiar nascentes empresas de tecnologia, sempre carentes de capital?

BNDES investe em varejista 61% francês

Por Mario Cesar Carvalho e Toni Sciarretta, na Folha:
O BNDES autorizou a injeção de R$ 3,9 bilhões numa operação de fusão que, se der certo, será majoritariamente francesa -do Carrefour e do Casino. Os franceses têm hoje, direta e indiretamente, 61% da empresa que resultará da fusão entre o Pão de Açúcar e a unidade brasileira do Carrefour, se o projeto for aprovado pelo Casino, que resiste à oferta sob a alegação de que não foi consultado. A presença francesa no Pão de Açúcar cresceu nesta semana, após o Casino comprar US$ 1 bilhão em ações da varejista. Uma das justificativas do BNDESPar, braço de investimentos em empresas do banco estatal, para entrar no negócio é que o aporte ajudaria a fortalecer a presença internacional de um grupo brasileiro, o Pão de Açúcar. No caso, a operação brasileira, chamada de NPA (Novo Pão de Açúcar), terá 11,7% do Carrefour mundial. A proposta, feita pelo banco BTG Pactual, prevê a fusão do Pão de Açúcar/Casino com o Carrefour no Brasil.

O Casino é sócio do Pão de Açúcar desde 1999, quando entrou no capital da varejista brasileira para salvá-la da bancarrota. Em 2005, comprou o controle, que deveria assumir no próximo ano. A Folha apurou que o BNDES exigiu que o poder de cada um dos sócios seja limitado a 15%, independentemente da quantidade de ações que ele possuir. O limite foi criado para evitar que estrangeiros tenham poder de decisão em empresa com presença do BNDES.Aqui

Por Reinaldo Azevedo


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3 comentários

  • Adoniran Antunes de Oliveira Campo Mourão - PR

    Esse safado do Abilio Diniz,muy amigo del cumpanhero Lula,safadista maior desta naçao, nao foi de balde que pos muito dinheiro na campanha de Lula e da própria dilma.Empresário falido,ultrapassado, já tentou associar-se as casas bahia, lembram-se? Para fugir da bancarrota, e agora, vai usar o dinheiro meu,teu, nosso caro brasileiro,para nao falir, e a parte levar um bom trocao.Ora, depois alguns jornalistas ainda dizem que a dilma é boa gerentona,durona etc. É na verdade tao ou mais corrupta do que foram todos seus antecessores, lhe falta nacionalismo, bom carater e honestidade.Pobre Brasil.

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  • JUSTINO CORREIA FILHO Bela Vista do Paraíso - PR

    Atenção, tem cheiro forte no ar! Acaso é possível atuação de certo consultor de sucesso no negócio. O negócio deve oferecer uma excelente taxa de sucesso se concretizado.

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  • Petronilha Batista Muzambinho - MG

    Aqui vemos como o empresário é rápido:" na cerimônia de posse O empresário Abílio Diniz diz-se honrado em participara da Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade, criada pela presidente Dilma Rousseff na última quarta-feira (11/5), menos de 50 dias depois a dificuldade do cargo e as grandes realizações a serem feitas estão na pratica beneficiando seu grupo empresarial, nada mal para um pais em que é normal usar dinheiro público em beneficio próprio.

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