Apocalípticos ressuscitam a expressão “aquecimento global” e aposentam “mudanças climáticas”

Publicado em 27/09/2013 19:36 e atualizado em 17/02/2014 11:30
por Reinaldo Azevedo, de veja.com.br

Apocalípticos ressuscitam a expressão “aquecimento global” e aposentam “mudanças climáticas”: não tinha o mesmo peso escatológico. Ou: Posso fazer algumas contas? Ou ainda: Um especialista pra chamar de seu — e não sou eu!

Alguns amigos, gente que gosta sinceramente de mim, costuma recomendar que eu não entre em determinados temas. Dizem que só rendem desgaste; afinal, vão contra a “doxa” ou o “espirito do tempo”. Mas então existimos, os jornalistas, para referendar tudo o que há? Um desses temas é o “aquecimento global”, expressão que foi ressuscitada, depois de ter sido substituída por “mudanças climáticas”.

Ocorre que o apelo publicitário e escatológico — no sentido teológico da palavra — de “mudança climática” é muito inferior ao de “aquecimento global”. Este último desperta no imaginário o temor de que a Terra vá mesmo derreter se a gente não fizer alguma coisa. Seu horizonte apocalíptico é muito mais forte. O outro era fraquinho, não mobilizava o medo — e houve até quem começasse a considerar os aspectos positivos da “mudança”: poderia ser favorável à produção agrícola em alguns lugares, facilitaria o trânsito de navios no polo Norte do planeta… Então que se recupere o original: o “aquecimento global” está de volta. E com força!

“Lá vem você, que não entende nada de clima…” É verdade! Mas entendo um pouco de linguagem religiosa e sei fazer algumas contas. Nessa área, costumo acompanhar o pensamento de Richard S. Lindzen, sobre quem já escrevi aqui algumas vezes. Ele entende. É professor de Meteorologia do Massachusetts Institute of Technology. As pessoas têm todo o direito de achar que, no MIT, só existem picaretas. Eu tenho o direito de achar que não. Lindzen não é um “cético”. É só um cientista sério que afasta a hipótese apocalíptica. Ele era o coordenador do capítulo científico do Terceiro Relatório de Avaliação do IPCC, em 2001. Seus “colegas” publicaram, então, conclusões sem o seu conhecimento. Como não é um embusteiro, demitiu-se.

Quem quiser contestações científicas as mais detalhadas contra os apocalípticos tem em Lindzen um bom caminho. Leio agora em reportagem da VEJA.com que o novo relatório da ONU amplia de 90% para 95% a possibilidade (ou certeza…) de que o aquecimento global seja mesmo produzido pelo homem. E, noto, o Apocalipse de São João voltou a ameaçar a humanidade.

De novo: quem quer contestação com minudências científicas deve recorrer a Lindzen. Ele tem um currículo respeitável. Eu me atenho a algumas circunstâncias que são ditadas pela lógica — ou falta dela. O IPCC, como é sabido, passou por um processo de desmoralização — e por bons motivos. Suas previsões catastrofistas de curto prazo não se realizaram, e surgiram evidências de que cientistas falsificavam dados para não perder o financiamento de pesquisas. Agora eles estão de volta anunciando que seus métodos de análise são bem mais severos e precisos. Certo! Como a esmagadora maioria da humanidade confiava nos anteriores, resta-lhe confiar neste também. Leio, por exemplo, o que segue na reportagem da VEJA.com (em vermelho):

“Como resultado, o IPCC baixou — um pouco — sua previsão de aquecimento global para este século. Enquanto o relatório de 2007 previa que esse aumento na temperatura iria ficar entre 1,1 e 6,4 graus Celsius, o novo relatório afirma que a temperatura deve subir entre 0,3 e 4,8 graus Celsius — o que está longe de ser tranquilizador.”

VAMOS FAZER CONTA?
No modelo anterior, a diferença entre a elevação mínima estimada (1,1) e a máxima (6,4) era de 482%. No novo modelo, muito mais preciso, segundo se informa, vejam que maravilha: a elevação mínima é de 0,3, e a máxima, de 4,8 — uma variação de 1.500%. Entenderam? O modelo teria se tornado mais preciso, isso forçou os apocalípticos a baixar as previsões, mas a diferença entre o mínimo e o máximo aumentou estupidamente: de 482% para 1.500%. Deve ser o único modelo matemático no mundo que, ao aumentar o espaço da incerteza, reivindica o estatuto de “modelo mais preciso”.

O “reconhecimento”
Reproduzo outro trecho da reportagem de VEJA.com (em vermelho):
A principal controvérsia do relatório, no entanto, deve ser mesmo o hiato constatado no aquecimento global. Segundo o texto de 2007, a Terra vinha passando por um aquecimento linear nos últimos 50 anos, aumentando 0,13 grau Celsius por década. Os cientistas, no entanto, haviam falhado em perceber que, desde 1998, essa tendência havia sido interrompida — o que serviu de forte munição para os críticos do IPCC.

Hoje, o painel reconhece o hiato, afirmando que, entre 1998 e 2012, o aquecimento global caiu para apenas 0,05 grau Celsius por década. No entanto, os cientistas preveem que a taxa deve voltar a subir nos próximos anos. Segundo eles, hiatos de dez ou quinze anos nas mudanças climáticas são comuns, e o que deve ser levado em conta para traçar tendências devem ser períodos mais longos de tempo.

Voltei
Notem que não se trata apenas de uma revisão, mas, quando menos, da admissão de um erro estúpido — e as malandragens denunciadas fazem supor que era, digamos, um erro metódico. Num modelo em que “zero vírgula alguma coisa” pode representar o fim do mundo, é preciso que se note, então, que haviam superestimado o aquecimento por década em… 160% (de 0,05 para 0,13) — e isso, claro, na hipótese de que o 0,05 não seja um, digamos, novo engano.

O novo relatório, como se vê, vai aumentar a certeza dos cientistas, mas ampliando o intervalo do palpite, com uma redução das grandezas, menos num item: o nível do mar. Afinal, é preciso trazer de volta o risco da tragédia. Em 2007, previa-se que ele subiria de 18 cm a 59 cm até 2100 (227% de variação) — em seu filme, Al Gore previu 6 metros!!! Agora, a coisa piorou: a estimativa vai de 26 cm a 82 cm (215%). O mínimo teve uma majoração de 44,4%, e o máximo, de 40%.

Concluo
Eu só faço algumas contas que me deixam um tanto espantado num modelo em que, insisto, índices de “zero vírgula alguma coisa” significam a diferença entre a sobrevivência e o fim da Terra. Como o modelo é chamado “matemático”, parece que a matemática é importante. Mas não sou, obviamente, referência em matéria de contestação científica. Já Richard S. Lindzen é.

E agora volto ao começo. Uma economia bilionária, trilionária, sei lá eu, já se formou em torno desse negócio de aquecimento global. Que importância tem, no balanço geral, um jornalista fazer algumas contas? Não escrevo com a finalidade de mudar o mundo, de ganhar adeptos ou de impor uma agenda. Logo, não sou ideólogo, guru ou político. Só faço algumas continhas e noto que, com modelo “matemático” com essa precisão, em vez de chegar à Lua, o homem teria ido parar na casa do chapéu. Já os “especialistas” e fanáticos do aquecimento, reitero, briguem com Lindzen (entre outros), não comigo. Provem que é ele o idiota. 

Por Reinaldo Azevedo

 

O Agosto da economia brasileira

Na VEJA.com:
O governo central (formado pelo governo federal, Banco Central e Previdência Social) registrou superávit primário de 87 milhões de reais no mês passado, no pior resultado para meses de agosto da série iniciada em 1997, informou o Tesouro Nacional nesta sexta-feira. Superávit é a economia feita pelo governo para pagar os juros da dívida. O valor significa uma queda de 97,7% em relação a julho, quando o superávit foi de 3,77 bilhões de reais. O resultado de agosto ficou dentro do intervalo projetado por analistas (de 1,8 bilhão de reais a um valor positivo de 3 bilhões de reais), mas abaixo da mediana projetada, de superávit de 250 milhões de reais.

O resultado, influenciado pelo elevado déficit de 5,733 bilhões de reais na Previdência Social, só não foi deficitário porque o governo antecipou dividendos de bancos estatais para fechar a conta do mês no balanço positivo. Em agosto, a receita líquida totalizou 73,271 bilhões de reais enquanto a despesa ficou em 73,184 bilhões de reais. No acumulado dos oito primeiros meses do ano, a economia feita para o pagamento dos juros da dívida pública acumula saldo positivo de 38,474 bilhões de reais, apresentando uma queda de 28,2% em relação ao mesmo período do ano passado.

Já as despesas do governo central subiram 12,5% no acumulado de janeiro a agosto frente um ano atrás. As receitas tiveram alta de 8,1%, conforme os dados do Tesouro Nacional. Os recursos arrecadados com concessões no mês passado somaram 876,1 milhões de reais. No acumulado de janeiro a agosto de 2013, as receitas com concessões totalizaram 6,984 bilhões de reais.

Dividendos
O Banco Nacional de Desenvolvimento, Econômico e Social (BNDES) pagou o maior valor de dividendos em agosto, 1,725 bilhão de reais. A Caixa foi responsável pela transferência à União de 1,2 bilhão de reais e o Banco do Brasil, de 1,135 bilhão de reais. Em agosto, as receitas do Tesouro foram reforçadas com a transferência de 4,814 bilhões de reais em dividendos. Se não houvesse essa entrada de recursos, o resultado seria de déficit. No acumulado de janeiro a agosto, os dividendos recebidos pela União somam 12,578 bilhões de reais, queda de 22% sobre o mesmo período do ano passado.

Cai o esforço fiscal
De acordo com dados divulgados pelo Tesouro, o esforço fiscal do governo central caiu de 1,86% do Produto Interno Bruto (PIB) de janeiro a agosto de 2012 para 1,23% do PIB no mesmo período deste ano. Em outro dado ruim, o investimento público acumulado até agosto atingiu 42,1 bilhões de reais com queda de 0,8% em relação ao ano passado. Os dados fiscais continuam mostrando uma dinâmica de gasto público elevado, investimento estagnado e aumento do risco de descumprimento da meta fiscal.

A meta de superávit primário para o setor público consolidado (governo central, Estados e municípios) era de 155,9 bilhões de reais, equivalente a 3,1% do PIB, mas foi reduzida para 2,3% diante da previsão do governo de descontar 45 bilhões de reais em gastos com desoneração e investimento. Contudo, o mercado é cético quanto a esse cumprimento e prevê que o superávit real não deverá passar de 1,5% do PIB.

Do total da meta ajustada, o governo central responde por 63 bilhões de reais e se comprometeu a economizar mais 10 bilhões de reais para compensar eventual descumprimento do objetivo de superávit de 47,8 bilhões de reais dos governos regionais.

Por Reinaldo Azevedo

 

Depois de 15 anos, taxa de analfabetismo volta a crescer no Brasil

Por Cecília Ritto, na VEJA.com. Volto no próximo post.
Pela primeira vez em quinze anos, o índice de analfabetismo cresceu no Brasil. É o que mostra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada em 2012 e divulgada nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O índice de pessoas de 15 anos de idade ou mais que não sabem ler nem escrever subiu de 8,6% em 2011 para 8,7% no ano passado. Isso significa que no período de um ano, o país “ganhou” 300.000 analfabetos, totalizando 13,2 milhões de brasileiros. A tendência de queda, que se mantinha desde 1997, estacionou, despertando a atenção dos pesquisadores do IBGE, que agora se debruçam em busca de explicações. “Ainda estamos verificando o que levou a essa variação, já que o porcentual vinha caindo há tanto tempo”, diz Maria Lucia Vieira, coordenadora da pesquisa e gerente do IBGE.

Com a lupa sobre cada região brasileira, o que se observa é que o Nordeste foi o principal responsável por elevar a taxa nacional – é onde moram 53,8% de todos os analfabetos do país, ou 7,1 milhões. No mesmo período de um ano, o índice local passou de 16,9% para 17,4%. No Centro-Oeste, também houve crescimento, de 6,3% para 6,7% entre 2011 e 2012. Já no Sudeste, os números estão estagnados, enquanto o Norte e o Sul conseguiram manter a redução. “O analfabetismo tem endereço no Brasil: está concentrado na população mais velha e nordestina”, frisa Maria Lucia.

O alagoano José Carlos Vieira dos Santos, de 54 anos, se encaixa no perfil observado pelo IBGE. Morador da cidade de Murici, começou a trabalhar aos 14 anos no corte de cana. Não teve tempo de frequentar a escola e chegou à idade adulta sem qualquer intimidade com as letras. “Ele escreve o nome todo, devagar, e se aborrece porque tem dificuldade”, conta a mulher, Maria Cícera Guedes, da mesma idade, que cursou até a 5ª série do Ensino Fundamental (hoje 6º ano). Dos quatro filhos do casal, a mais velha largou a escola ainda na 1ª série. Atualmente com 30 anos, também não sabe ler nem escrever.

Maria lamenta. Diz que tem o sonho de ver os filhos concluindo os estudos. Mas apenas o de 18 anos lhe dá esperanças. No 2º ano do Ensino Médio, é o único com disposição de conquistar o diploma. Os outros dois irmãos, de 16 e 21 anos, ainda frequentam as salas de aula do primário. “Vejo muita coisa errada por aqui – drogas, por exemplo. Coloquei meus filhos no colégio para que aprendessem alguma coisa e ficassem longe da rua”, diz a matriarca da família que exemplifica bem outra constatação do estudo: a dificuldade dos adultos em ultrapassar a barreira do analfabetismo.

Idade
Foi na faixa dos 40 aos 59 anos o crescimento mais representativo de analfabetos no país, de 9,6% para 9,8%. Uma das possibilidades é de que este grupo esteja mais crítico em relação ao conceito de analfabetismo. Por alfabetizado, o IBGE entende ser uma pessoa com condições de ler e escrever um bilhete simples. Mas a maioria dos analfabetos do país ainda tem 60 anos ou mais – eles são 3,2 milhões. Priscila Cruz, diretora executiva da ONG Todos pela Educação, enfatiza que a idade adulta é a mais resistente à escolarização. “Essas pessoas procuram o ensino só quando querem, e se tiverem tempo e disposição.”

Cícero Custódio, morador de Lagoa do Ouro, interior de Pernambuco, engrossa as estatísticas. Assim como Santos, foi levado pelo pai ainda criança, aos 7 anos, para o trabalho na roça. Pisou na escola pela primeira vez somente aos 30 anos, ficou 15 dias, aprendeu a escrever o nome e viu a instituição fechar as portas. Até hoje, aos 63, não teve outra oportunidade. “Entendo as letrinhas muito pouco. Não sei fazer as palavras, nem juntar as letras para ler. Fico enrascado nisso aí”, explica. Fez questão de matricular os seis filhos na escola, mas não viu nenhum chegar ao Ensino Médio. “A maior ajuda que os pais podem dar é apoiando os estudos.”

Escolarização
Entre os mais jovens, o índice de analfabetismo é drasticamente menor – apenas 1,2% dos 15 aos 19 anos, por exemplo -, o que pode indicar uma redução no futuro das taxas entre os mais velhos. O gargalo, neste caso, fica por conta do Ensino Fundamental, incompleto para 33,5% da população com 25 anos ou mais (que exclui os grupos em processo de escolarização). É o caso de Ionácio Santana, carioca de 37 anos, pai de doze filhos, morador da favela do Vidigal e conhecido na praia de Ipanema pela barraca em frente à Rua Farme de Amoedo, onde aluga cadeiras e vende bebidas.

Gostava de estudar, garante. Chegou à 6ª série do Ensino Fundamental (hoje 7º ano), até que desistiu para viver o sonho de ser jogador de futebol. Entrou para o profissional da Ponte Preta e os juniores do Botafogo. Mas a carreira não foi adiante, e ele admite arrependimento da escolha que fez no passado. “Toda vez que empurro um carrinho de mão para carregar material de obra, lembro da minha irmã avisando que era melhor eu estudar. A escola era muito boa. A professora acordava cedo para ajudar trinta alunos a serem alguém na vida.”

Para não repetir o erro com os filhos, Nélio, como é conhecido, mantém sete deles na escola. Até o caçula, de 10 meses, está prestes a entrar na creche. “Se com estudo está difícil, imagina sem. Com os meus filhos, eu sou duro”, afirma ele, revelando que também tem planos de retomar os estudos, no próximo ano. Entre os motivos, está o carro que comprou há pouco tempo mas não pode dirigir, porque precisa passar pela prova teórica exigida para tirar a carteira de motorista.

A Pnad 2012 traz também dados positivos, como a redução no índice de analfabetos funcionais (capazes de ler e escrever mas com dificuldades de interpretação do texto). Entre a população com 15 anos de idade ou mais, 18,3% tem menos de quatro anos de estudo completo, o equivalente a 27,8 milhões de brasileiros. O número é significativo, mas representa uma queda de 2,1 pontos porcentuais em relação a 2011, quando eles eram 20,4% do total. As regiões Norte e Nordeste ainda apresentam as maiores taxas de analfabetismo funcional, de 21,9% e 28,4% respectivamente.

Futuro
A situação geral, porém, é preocupante. O país está se distanciando da meta firmada com a Organização das Nações Unidas (ONU): diminuir o índice de analfabetos para 6,7% até 2015. Faltam dois anos, portanto, para fazer ler e escrever cerca de 3 milhões de pessoas. Mas o governo não tem se esforçado para atingir o objetivo. A diretora executiva da ONG Todos pela Educação, Priscila Cruz, alerta para o fato de que, neste sábado, o país completa mil dias sem um Plano Nacional de Educação, responsável por nortear políticas públicas pelos próximos dez anos. “O não avanço é sempre um retrocesso em educação”, critica.

Por Reinaldo Azevedo

 

Há três anos, apontei aqui a tendência que resultaria no aumento do analfabetismo: governo ignorou o assunto, e a petezada partiu pra porrada, como sempre… Eis aí!

O Brasil teve um grande ministro da Educação. Seu nome: Paulo Renato Souza. Foi, mais de uma vez, alvo da máquina de destroçar reputações criada pelo PT, por intermédio, no caso, de seu braço sindical. Em junho de 2011, por ocasião de sua morte, escrevi aqui um post sobre os números da educação brasileira, desfazendo alguns mitos. O décimo item da minha lista era este, que reproduzo na íntegra (em azul):

“10 – Cresceu o número de analfabetos no país sob o governo Lula – e eu não estou fazendo graça ou uma variante do trocadilho. Os números estão estampados no PNAD (Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios), do IBGE. No governo FHC, a redução do número de analfabetos avançou num ritmo de 0,5% ao ano; na primeira metade do governo Lula, já caiu a 0,35% – E FOI DE APENAS 0,1% ENTRE 2007 E 2008. Sabem o que isso significa? Crescimento do número absoluto de analfabetos no país. Fernando Haddad sabe que isso é verdade, não sabe? O combate ao analfabetismo é uma responsabilidade federal. Em 2003, o próprio governo lançou o programa ‘Brasil Alfabetizado’ como estandarte de sua política educacional. Uma dinheirama foi transferida para as ONGs sem resultado – isso a imprensa noticiou. O MEC foi deixando a coisa de lado e acabou passando a tarefa aos municípios, com os resultados pífios que se veem.”

Retomo
É isso aí. Com base nos dados no PNAD, apontei, então, que caía o ritmo da redução de analfabetos, o que estava a indicar o constante aumento do número absoluto de analfabetos. Mantida a tendência, é claro que acabaria acontecendo o que agora se verifica: haveria um aumento da taxa — pela primeira vez em 15 anos. É matemática, não tem jeito. Os “companheiros” podem até achar que essa ciência só existe para sabotar seus propósitos, mas a gente sabe que não é assim.

O dado, que reproduzi no texto de novembro de 2011, já estava num artigo que escrevi em agosto de 2010. Três anos depois, o fatal acontece.

Notem: quando, então, naquele agosto de 2010, apontei que havia a tal redução da queda do analfabetismo, eu não o fazia porque, afinal de contas, não comungo — e não comungo mesmo, com todo o direito que tenho! — dos valores petistas (ou da falta deles). Eu o fiz porque era um dado da realidade, haurido dos números oficiais.

Alguns abestalhados acharam que se tratava apenas de má vontade, uma forma de negar os formidáveis avanços obtidos pelos companheiros na educação. Já então Fernando Haddad estava sendo treinado para vir a ser um “líder” no petismo. Deu no que deu. Imaginem o escândalo que não se faria nas redes sociais e na máquina de propaganda das esquerdas e assemelhados se uma reversão dessa natureza tivesse se dado num governo tucano.

Analfabetismo universitário
No ano passado, a ONG Ação Educativa e o Instituto Paulo Montenegro divulgaram dados sobre o Alfabetismo Funcional (Inaf) segundo a escolaridade. O quadro é este.

Em 2001/2002, 2% dos alunos universitários tinham apenas rudimentos de escrita e leitura. Em 2010, essa porcentagem havia saltado para 4%. Vale dizer: 254.800 estudantes de terceiro grau no país são quase analfabetos. Espantoso? Em 2001/2002, 24% não eram plenamente alfabetizados. Um número já escandaloso. Em 2010, pularam para 38%. Isso quer dizer que 2.420.600 estudantes do terceiro grau não conseguem ler direito um texto e se expressar com clareza. É o que se espera de um aluno ao concluir o… ensino fundamental!

Concluo
Sim, meus caros, o diabo é invariavelmente mais feio do que se pinta — ou não seria o diabo, mas outra coisa de menor malignidade. Aquela taxa lá do alto, que aumentou, é do analfabetismo mesmo, a parte do Brasil que forma a sociedade ágrafa. Caso se leve em consideração o analfabetismo funcional, aí é que a gente se defronta com uma parte do Brasil real que o discurso ufano-triunfalista esconde.

Nas democracias convencionais, exemplos escandalosos de ineficiência, como o que se vê acima, costumam ser levados para as campanhas eleitorais. É o certo. “Você prometeu fazer e não fez etc.” É um direito da sociedade confrontar intenções com gestos. No Brasil jabuticaba, como tenho tratado aqui há tempos, não só inexiste um grande partido conservador que seja alternativa de poder (única democracia da Terra com essa característica) como inexistem forças políticas capazes de fazer essa cobrança. Ao contrário: todas as campanhas eleitorais, da oposição ou da situação, exploram o Brasil grande, o Brasil que vai pra frente, o ninguém segura este país.

Algumas drogas perigosas atentam contra o nosso futuro: o ufanismo sem lastro é uma delas.

Quando apontei a redução do ritmo da queda de analfabetismo, algo deveria ter sido feito. Já estaria dando resultado. E deveria não porque fui eu a apontar, claro!, mas porque eram números extraídos de dados oficiais. Mas quê… Fernando Haddad saltou do Ministério da Educação (“o melhor ministro da históriadestepaiz”, segundo Lula) para a Prefeitura de São Paulo. Ele tinha uma grande tarefa a cumprir: prometer o Arco do Futuro e, no presente, devolver o Centro de São Paulo aos traficantes e consumidores de crack. “O que uma coisa tem a ver com outra?” Só estou evidenciando como o processo político brasileiro, por um conjunto de razões que não cabem neste artigo, premia a ineficiência.  

Por Reinaldo Azevedo

 

Como entender os números da pesquisa Ibope, que não surpreendem os leitores — e eleitores — deste blog

O resultado da pesquisa Ibope (ver post na home) a muitos pode surpreender, não aos leitores deste blog ou a este que vos fala, não é? É claro que eu não gosto dos números, mas o nosso compromisso aqui é dizer tudo, na alegria e na tristeza… Uma pesquisa rápida vai indicar as vezes em que afirmei que Dilma seguia sendo franca favorita, mesmo depois do tsunami de junho. Como sabem, sempre achei que havia muito de artificialismo naquilo tudo — em larga medida, decorrente do fato de que importantes veículos de comunicação resolveram brincar um pouco de “Primavera Árabe” verde-amarela. Como o Brasil ainda não é uma tirania, as coisas acabariam voltando a seu leito. Não havia como aquele movimento fortalecer um projeto de oposição — e isso era o principal. Por que era o principal? Porque a alternância de poder seria importante para que as instituições, um tanto sufocadas, respirassem um pouco. Em nenhum momento, no entanto, isso se anunciou.

Quem cresceu junto com a bolha das manifestações foi Marina Silva, que agora também reflui, junto com a volta do povo ao leito. “Mas não seria ela o projeto de oposição, então?” Não. Boa parte dos que expressam sua crença em Marina devotam, na verdade, repulsa à política. Ela própria faz um discurso com esse viés. Hoje, é uma agregadora de descontentes. Há de tudo: de conservadores (em economia, direitistas mesmo!) a esquerdistas hostis ao pragmatismo brucutu dos petistas; nesse caso, o viés ideológico assume a coloração verde. Marina é uma queridinha da imprensa, transita com desenvoltura entre os inteligentes, que lhe devotam respeito quase reverencial — tenho certeza de que há gente que acredita que ela faz uma espécie de download do divino enquanto dorme. No que há de vínculo entre Marina e as ruas, a inflexão desse eleitorado está à esquerda, em muitos aspectos, do próprio PT.

É o que eu achava que iria acontecer. Como disse com toda as letras nos debates da VEJA.com (e o fiz quando a popularidade de Dilma ameaçou ficar abaixo dos 30%), ela seguia sendo favorita, e aquele curto junho da anarquia não daria flores olorosas. Eis aí. Dilma abre, segundo o Ibope, uma liderança de 22 pontos sobre Marina (38% a 16%), que passa a ser ameaçada por tucanos: Aécio aparece com 11% (tinha 13% em julho), e Serra com 12%. “Ah, mas, ao menos, parece que um tucano já consegue passar para o segundo”. Pois é, mas todos em queda. Caso tudo dê errado para a ex-senadora e seu partido não se viabilize a tempo e caso Serra não se candidate por outro partido, o PT pode tentar realizar um segundo turno já no primeiro. Para Eduardo Campos (PSB), a situação também não é boa (foi de 5% para 4%). No segundo turno, Dilma venceria com folga.

É evidente que o resultado é ruim para o PSDB — na verdade, para as oposições. Aécio oscila negativamente num momento em que a propaganda política tucana, de que ele é estrela única, está no ar. Seria o caso de reavaliar o tipo de abordagem? Marqueteiros têm uma lógica muito particular, que desafia — e isso é bom — o senso comum. Mas não é raro que desafie também o bom senso, e isso não é. Li uma entrevista de Renato Pereira, que cuida da área no PSDB. Ele se mostra, acho, sensato, inteligente, ponderado.

“Tudo está muito no começo ainda”, dirá alguém. É verdade. Mas parece que já dá para saber o que funciona e o que não funciona. Tudo indica que esse negócio entre o bom-mocismo e o didatismo, por mais bem-feito que esteja (e está), pode não ser lá muito eficiente. “Mas, então, qual é a receita?” Não tenho. A minha questão com a oposição é de mais fôlego, como sabem. Não vejo por que o Brasil deva ser uma jabuticaba universal, constituindo-se na única democracia do mundo a não ter um partido conservador forte. Mas isso, é evidente, não é coisa que se resolva para a próxima campanha. Como o PSDB não é nem quer ser esse partido, as coisas ficam difíceis. Já escrevi muito a respeito. Partidos que são alternativas de poder são mais do que indivíduos talentosos, habilidosos ou competentes. São, antes de mais nada, um conjunto de valores. Por mais que se possa detestar o PT — e vocês sabem o que eu penso a respeito —, a sigla transita muito bem nessa área. Mesmo Marina Silva, sem cargo e sem máquina — e falando, a meu ver, coisas incompreensíveis —, se sustenta num patamar apreciável, dado que não tem ainda partido, porque “simboliza” algumas causas.

Ainda falaremos muito a respeito. Uma coisa me parece clara a essa altura — e torço para estar errado; tampouco quero me colocar na questão de modo professoral, porque não há razão para isso: se o PSDB decidir transitar naquela área dos valores genericamente “progressistas” em que transita o PT, as chances de sucesso serão pequenas, pouco importa quem seja o candidato: Aécio, Serra ou J. P. Fernandes.

Por Reinaldo Azevedo

 

Segundo Ibope, Dilma cresce e aumenta diferença em relação a Marina

Do Estadão, de José Roberto de Toledo e Daniel Bramatti. Comento mais tarde:
Pesquisa nacional Ibope em parceria com o Estado mostra que Dilma Rousseff (PT) abriu 22 pontos sobre a segunda colocada, Marina Silva (sem partido), na corrida presidencial. Em julho, a diferença era de 8 pontos. Desde então, a presidente cresceu em ambos os cenários de primeiro turno estimulados pelo Ibope, enquanto Marina perdeu seis pontos, se distanciando de Dilma e ficando mais ameaçada pelos outros candidatos.

No cenário que tem Aécio Neves como candidato do PSDB, Dilma cresceu de 30% para 38% nos dois últimos meses. Ao mesmo tempo, Marina caiu de 22% para 16%. Aécio oscilou de 13% para 11%, enquanto Eduardo Campos (PSB) foi de 5% para 4%. A taxa de eleitores sem candidato continua alta: 31% (dos quais, 15% dizem que votarão em branco ou anularão, e 16% não sabem responder).

O cenário com José Serra como candidato do PSDB não tem diferenças relevantes: Dilma tem 37%, contra 16% de Marina, 12% de Serra e 4% de Campos. Nessa hipótese, 30% não têm candidato: 14% de branco e nulo, e 16% de não sabe. Não há cenário idêntico a esse em pesquisa anterior do Ibope para comparar.

Nos dois cenários, Dilma tem intenção de voto superior à soma de seus três adversários: 37% contra 32% (cenário Serra) e 38% contra 31% (cenário Aécio). Isso indica chance de vitória no primeiro turno. Mas convém lembrar que praticamente 1 em cada 3 eleitores não tem candidato e ainda falta um ano para a eleição. (…)

Segundo turno
Não foi apenas no cenário estimulado de primeiro turno que Dilma se distanciou de Marina. Na simulação de segundo turno entre as duas, a petista venceria a rival por 43% a 26%, se a eleição fosse hoje. Em julho, logo depois dos protestos em massa que tomaram as ruas das metrópoles, Dilma e Marina estavam tecnicamente empatadas: 35% a 34%, respectivamente.

Segundo as simulações do Ibope, tanto faz se o candidato do PSDB for Aécio ou Serra. Se a eleição fosse hoje, a presidente venceria ambos por 45% a 21% num segundo turno. Contra Eduardo Campos, a vitória seria mais fácil: 46% a 14%.

Por Reinaldo Azevedo

 

Como entender os números da pesquisa Ibope, que não surpreendem os leitores — e eleitores — deste blog

O resultado da pesquisa Ibope (ver post na home) a muitos pode surpreender, não aos leitores deste blog ou a este que vos fala, não é? É claro que eu não gosto dos números, mas o nosso compromisso aqui é dizer tudo, na alegria e na tristeza… Uma pesquisa rápida vai indicar as vezes em que afirmei que Dilma seguia sendo franca favorita, mesmo depois do tsunami de junho. Como sabem, sempre achei que havia muito de artificialismo naquilo tudo — em larga medida, decorrente do fato de que importantes veículos de comunicação resolveram brincar um pouco de “Primavera Árabe” verde-amarela. Como o Brasil ainda não é uma tirania, as coisas acabariam voltando a seu leito. Não havia como aquele movimento fortalecer um projeto de oposição — e isso era o principal. Por que era o principal? Porque a alternância de poder seria importante para que as instituições, um tanto sufocadas, respirassem um pouco. Em nenhum momento, no entanto, isso se anunciou.

Quem cresceu junto com a bolha das manifestações foi Marina Silva, que agora também reflui, junto com a volta do povo ao leito. “Mas não seria ela o projeto de oposição, então?” Não. Boa parte dos que expressam sua crença em Marina devotam, na verdade, repulsa à política. Ela própria faz um discurso com esse viés. Hoje, é uma agregadora de descontentes. Há de tudo: de conservadores (em economia, direitistas mesmo!) a esquerdistas hostis ao pragmatismo brucutu dos petistas; nesse caso, o viés ideológico assume a coloração verde. Marina é uma queridinha da imprensa, transita com desenvoltura entre os inteligentes, que lhe devotam respeito quase reverencial — tenho certeza de que há gente que acredita que ela faz uma espécie de download do divino enquanto dorme. No que há de vínculo entre Marina e as ruas, a inflexão desse eleitorado está à esquerda, em muitos aspectos, do próprio PT.

É o que eu achava que iria acontecer. Como disse com toda as letras nos debates da VEJA.com (e o fiz quando a popularidade de Dilma ameaçou ficar abaixo dos 30%), ela seguia sendo favorita, e aquele curto junho da anarquia não daria flores olorosas. Eis aí. Dilma abre, segundo o Ibope, uma liderança de 22 pontos sobre Marina (38% a 16%), que passa a ser ameaçada por tucanos: Aécio aparece com 11% (tinha 13% em julho), e Serra com 12%. “Ah, mas, ao menos, parece que um tucano já consegue passar para o segundo”. Pois é, mas todos em queda. Caso tudo dê errado para a ex-senadora e seu partido não se viabilize a tempo e caso Serra não se candidate por outro partido, o PT pode tentar realizar um segundo turno já no primeiro. Para Eduardo Campos (PSB), a situação também não é boa (foi de 5% para 4%). No segundo turno, Dilma venceria com folga.

É evidente que o resultado é ruim para o PSDB — na verdade, para as oposições. Aécio oscila negativamente num momento em que a propaganda política tucana, de que ele é estrela única, está no ar. Seria o caso de reavaliar o tipo de abordagem? Marqueteiros têm uma lógica muito particular, que desafia — e isso é bom — o senso comum. Mas não é raro que desafie também o bom senso, e isso não é. Li uma entrevista de Renato Pereira, que cuida da área no PSDB. Ele se mostra, acho, sensato, inteligente, ponderado.

“Tudo está muito no começo ainda”, dirá alguém. É verdade. Mas parece que já dá para saber o que funciona e o que não funciona. Tudo indica que esse negócio entre o bom-mocismo e o didatismo, por mais bem-feito que esteja (e está), pode não ser lá muito eficiente. “Mas, então, qual é a receita?” Não tenho. A minha questão com a oposição é de mais fôlego, como sabem. Não vejo por que o Brasil deva ser uma jabuticaba universal, constituindo-se na única democracia do mundo a não ter um partido conservador forte. Mas isso, é evidente, não é coisa que se resolva para a próxima campanha. Como o PSDB não é nem quer ser esse partido, as coisas ficam difíceis. Já escrevi muito a respeito. Partidos que são alternativas de poder são mais do que indivíduos talentosos, habilidosos ou competentes. São, antes de mais nada, um conjunto de valores. Por mais que se possa detestar o PT — e vocês sabem o que eu penso a respeito —, a sigla transita muito bem nessa área. Mesmo Marina Silva, sem cargo e sem máquina — e falando, a meu ver, coisas incompreensíveis —, se sustenta num patamar apreciável, dado que não tem ainda partido, porque “simboliza” algumas causas.

Ainda falaremos muito a respeito. Uma coisa me parece clara a essa altura — e torço para estar errado; tampouco quero me colocar na questão de modo professoral, porque não há razão para isso: se o PSDB decidir transitar naquela área dos valores genericamente “progressistas” em que transita o PT, as chances de sucesso serão pequenas, pouco importa quem seja o candidato: Aécio, Serra ou J. P. Fernandes.

Por Reinaldo Azevedo

 

Os trapalhões 1 – “O Brasil estragou tudo?”

Na Folha Online:
Se em 2009 a revista britânica “The Economist” sinalizava que a economia brasileira estava pronta para decolar, hoje o sentimento é de pessimismo. Naquele ano, a revista trazia na capa o Cristo Redentor na forma de um foguete, prestes a levantar voo, com o título “Brasil takes off” (“Brasil decola”, em tradução livre). A nova edição, de outubro, e que deve ser publicada nesta quinta-feira (26), também mostra o Cristo, mas, desta vez, em trajetória de queda.

A reportagem de capa, de 14 páginas, questiona “Has Brazil blown it?” (“O Brasil estragou tudo?”, em tradução livre). Não é a primeira vez que a revista critica a economia brasileira. Em junho, chamou de medíocre o desempenho da país desde 2011 e pediu, em tom irônico, para o ministro Guido Mantega permanecer no cargo. Em reportagem anterior, havia pedido sua saída.

Desde 2012 a publicação britânica já vem adotando tom mais cauteloso quando o assunto é o Brasil. As matérias dedicadas ao país chamam a atenção, entre outros fatos, a riscos políticos, elevados custos para fazer negócio e protecionismo no petróleo, o que afastaria investidores externos.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

Mais “Economist” – Revista diz que brasileiros têm poucos motivos para reeleger Dilma

De um foguete, representado pelo Cristo Redentor, que apontava para o alto, imponente, para uma aeronave desgovernada nos céus, perto de colidir com o Corcovado. Essa é a comparação feita pela revista britânica The Economist ao tratar da evolução do Brasil nos últimos quatro anos. A edição distribuída na América Latina questiona se o Brasil, de fato, “estragou tudo”, depois de ter sido, por um breve período, a estrela dos emergentes. Segundo a reportagem, a presidente Dilma Rousseff tem sido incapaz de enfrentar problemas estruturais do país e interfere mais que o antecessor na economia, o que tem assustado investidores estrangeiros para longe de projetos de infraestrutura e minado a reputação conquistada a duras penas pela retidão macroeconômica. A The Economist é categórica ao afirmar: “até agora, eleitores brasileiros têm poucas razões para dar a Dilma um segundo mandato”.

 O especial de quatorze páginas sobre o Brasil é assinado pela jornalista Helen Joyce, correspondente da revista no país. “Na década de 2000, o Brasil decolou e, mesmo com a crise econômica mundial, o país cresceu 7,5% em 2010. No entanto, tem parado recentemente. Desde 2011, o Brasil conseguiu apenas um crescimento anual de 2%. Seus cidadãos estão descontentes – em julho, eles foram às ruas para protestar contra o alto custo de vida, serviços públicos deficientes e a corrupção dos políticos”, informa a revista, que já chegou a pedir, com certa ironia, a saída de Guido Mantega do ministério da Fazenda.

Em 2009, em meio à crise econômica mundial, a revista fez também um especial de quatorze páginas para ressaltar os anos de bonança do país, reproduzindo a imagem do Cristo decolando como se fosse um foguete. À época, a economia brasileira patinava, ainda sofrendo o impacto da turbulência nos Estados Unidos. Contudo, indicadores macroeconômicos estáveis acabaram contando mais, para aEconomist, do que a retração econômica de 2009, de 0,2%.

Para a revista, a falta de ação do governo Dilma é a principal razão para o chamado “voo de galinha” do país, jargão usado para denominar situações em que países ou empresas têm um crescimento disparado, mas que não se sustenta. “A economia estagnada, um estado inchado e protestos em massa significam que Dilma Rousseff deve mudar de rumo”, informa a publicação.

O texto reconhece que outros emergentes também desaceleraram após o boom que teve o auge em 2010 para o Brasil. “Mas o Brasil fez muito pouco para reformar seu governo durante os anos de boom”, diz a revista. Um dos problemas apontados pela reportagem é o setor público, que “impõe um fardo particularmente pesado para o setor privado”. Um dos exemplos é a carga tributária que chega a adicionar 58% em tributos e impostos sobre os salários. Esses impostos são destinados a prioridades questionadas pela Economist. “Apesar de ser um país jovem, o Brasil gasta tanto com pensões como países do sul da Europa, onde a proporção de idosos é três vezes maior”, diz o texto que também lembra que o Brasil investe menos da metade da média mundial em infraestrutura.

Problemas antigos
A publicação reconhece que muitos desses problemas são antigos, mas Dilma Rousseff tem sido “relutante ou incapaz” de resolvê-los e criou novos “interferindo muito mais que o pragmático Lula”.”Ela tem afastado investidores estrangeiros para longe dos projetos de infraestrutura e minou a reputação conquistada a duras penas pela retidão macroeconômica, induzindo publicamente o presidente do Banco Central a cortar a taxa de juros. Como resultado, as taxas estão subindo, atualmente, mais para conter a inflação persistente”, diz o texto. “A dívida bruta subiu para 60% ou 70% do PIB – dependendo da definição – e os mercados não confiam na senhora Rousseff”, completa o texto. A Economist chega a ironizar, chamando a presidente de “Dilma Fernández”, que é o sobrenome de Cristina Kirchner, presidente da Argentina.

Apesar das críticas, a revista demonstra otimismo com o futuro a longo prazo do Brasil. “Felizmente, o Brasil tem grandes vantagens. Graças aos seus agricultores e empresários eficientes, o país é o terceiro maior exportador de alimentos do mundo”, diz o texto, que menciona também o petróleo da camada pré-sal. A publicação elogia ainda a pesquisa em biotecnologia, ciência genética e tecnologia de óleo e gás em águas profundas. Além disso, lembra que, apesar dos protestos populares, o Brasil “não tem divisões sociais ou étnicas que mancham outras economias emergentes, como a Índia e a Turquia”.

A Economist afirma que a presidente Dilma ainda tem tempo para começar reformas necessárias, fundindo ministérios e cortando gastos públicos, caso esteja disposta a colocar a “mão na massa”. Mas, diante do atual cenário, a revista afirma que, ainda que a presidente esteja com foco no possível segundo mandato, os “eleitores brasileiros têm poucas razões para dar a ela a vitória”.

Por Reinaldo Azevedo

 

Gilmar Mendes: “Muitos ministros ficaram sob um ataque fortíssimo de blogs e de órgãos de mídia que são vinculados a determinados réus”

De Gabriel Castro, na VEJA.com:

Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello disseram que o posicionamento da imprensa e da sociedade no caso do mensalão não significa pressão sobre a Corte. Para eles, o debate é legítimo, especialmente em casos de destaque. Comentando as afirmações do colega Celso de Mello à Folha de S. Paulo, os ministros disseram ao site de VEJA nesta quinta-feira que o debate e a discordância de ideias são naturais.

“A discussão se uma dada opinião está correta ou não é legítima no ambiente jornalístico e também no ambiente jurídico – principalmente em torno de uma matéria que dividiu o tribunal com profundidade”, comentou Mendes. Marco Aurélio concordou: “Não há pressão. O que há é a manifestação da sociedade e o que é veiculado pela mídia. Logicamente, nós não vivemos encastelados”.

Celso de Mello foi o responsável pelo voto de desempate quando o Supremo analisou se aceitava a legitimidade dos embargos infringentes, mecanismo que pode levar à revisão da pena de onze réus no processo do mensalão – entre eles, José Dirceu, José Genoino, Marcos Valério e Delúbio Soares. O ministro optou por conceder o novo julgamento ao grupo.

Em declarações publicadas pela Folha de S. Paulo nesta quinta, Celso de Mello se queixou do que chamou de “pressão” da imprensa no caso do mensalão.

Na visão de Marco Aurélio, não há razão para alarme: “O próprio ministro Celso reconhece que um integrante do Supremo tem de estar acessível ao que é estampado nos veículos de comunicação e ao que é pretendido pela sociedade. Mas o nosso compromisso maior é com o direito”, ressalta.

Gilmar Mendes também lembra que, apesar das queixas sobre a suposta pressão pela condenação imediata dos réus, os ataques mais fortes sobre a Corte vieram do outro lado: Gilma E nem por isso ninguém tem reclamado”, afirmou o ministro.

Para ele, a discussão de ideias é perfeitamente legítima. “A controvérsia se instalou inclusive no âmbito do próprio tribunal, de forma dura”, avalia.

Por Reinaldo Azevedo

 

Agora chega! Celso de Mello passa da conta, confunde liberdade de crítica com pressão indevida e fala bobagem. Ou: No país em que é permitido marchar até em favor do crime, será proibido escrever em favor da lei?

O ministro Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal (STF), resolveu soltar os cachorros — com a devida vênia por empregar uma metáfora quadrúpede — contra o que está a chamar de “pressão ostensiva para subjugar um juiz”. Deu declarações, vamos dizer, insólitas a um jornal de Tatuí e à colunista Mônica Bergamo, da Folha. Já chego lá. Vamos a algumas considerações prévias — sim, longas, como de costume.

Que bom que Celso de Mello, nesta página, nunca esteve acima do bem e do mal, nunca foi considerado um demiurgo, jamais foi tratado como alguém de quem não se pudesse discordar. Como sabem os leitores — e aí estão os arquivos, como sempre —, todas as vezes em que concordei com ele, escrevi “sim”; quando discordei, escrevi “não”. Deu votos memoráveis no processo do mensalão? Deu, sim! Equivocou-se de maneira brutal, por exemplo, no caso das Marchas da Maconha? Sim. E eu o critiquei por isso. Por quê? Porque o ministro exaltou, num tom verdadeiramente condoreiro, a liberdade de expressão para permitir o que, de fato, se revela apologia de um crime, o que também é crime, segundo o Código Penal. Como ninguém atribuiu a Mello — nem a seus pares — competência para legislar, achei que não lhe cabia ignorar o Código Penal. QUEM CONSIDERA APOLOGIA DO CRIME LIBERDADE DE EXPRESSÃO AINDA ACABARÁ CONFUNDIDO A LIBERDADE DE EXPRESSÃO COM UM CRIME. Entenderam?

E eu bati, sim. Fui respeitoso, como de hábito, mas duro, como de hábito também. E não economizei elogios quando achei que devia. Eu não concordo com Celso de Mello, nem com qualquer outro, em princípio. Concordo quando concordo — uma tautologia necessária nos dias que correm. Pois bem. Não havia gostado, como observei aqui, no debate da VEJA e no programa Roda Viva, do tom do voto do ministro no caso dos embargos infringentes. Fugindo à sua lhaneza habitual, estava um tanto colérico, bravo, cuidando menos da fundamentação técnica de seu voto — eu não considero suas digressões históricas, nem sempre pertinentes, fundamento técnico — do que da desqualificação dos votos divergentes. Então os outros cederam apenas ao clamor das ruas? Então os outros não cuidaram do devido processo penal? Então os outros não reconheciam o pleno direito de defesa? Ora… Mais respeito com seus colegas, excelência!

Mais: em seu voto, fez digressões absolutamente impertinentes — é isto: não sou advogado, jurista, nada, e sustento a impertinência (quanto atrevimento me garante a liberdade de expressão; eu, que só fumo Hollywood) — sobre os infringentes e o duplo grau de jurisdição. Não precisei esperar o julgamento para combater esse argumento tolo. Eu o fiz aqui, felizmente, com todas as letras, no dia 23 de abril. Faz cinco meses. O título do post: “O equívoco de Celso de Mello e o esforço da tropa de Dirceu para desmoralizar ministros do Supremo”. Escrevi lá (em azul):

Ao defender que os embargos infringentes são cabíveis, afirmou, leio na coluna “Radar”, de Lauro Jardim, que eles funcionam como uma espécie de duplo grau de jurisdição. Os condenados do mensalão que não exerciam cargos públicos alegam que não tiverem esse direito porque seus processos não foram remetidos para a primeira instância. Sempre que a lógica é frontalmente agredida, o troço fica aqui dando pontadas no meu cérebro, e me vejo obrigado a exercitar a discordância, nem que esteja do outro lado o papa e que se trate de matéria teológica. Celso de Mello é quase um papa no Supremo, e eu sou apenas um fiel seguidor das leis, mas acho que ele agrediu a lógica.

Se se trata, então, de ignorar a Lei 8038 (ver post anterior), admitindo os embargos infringentes como expressão do segundo grau de jurisdição, cumpriria indagar por que tal “direito” só será garantido a alguns réus, mas não a outros. “Ah, porque eles tiveram os quatro votos divergentes.” Mas isso nada tem a ver com o duplo grau de jurisdição; trata-se apenas de matéria regimental, já vencida pela lei. O argumento é ruim; não se sustenta. Ou bem se considera o Artigo 333 do Regimento Interno (o que prevê embargos infringentes) em sua área restrita, ou bem se tenta extrapolar, e, nesse caso, cumpriria, então não fazer justiça seletiva. Infelizmente, a especulação de Celso de Mello abre uma vereda para os chicaneiros acusarem todo o processo de ter sido uma farsa. Cumpre lembrar que o próprio ministro recusou as tentativas de desmembramento, o que implicaria enviar os casos dos réus sem cargos públicos para a primeira instância. Ou bem se considera que o Supremo agiu dentro da lei (e agiu) quando o manteve unificado, ou bem se considera que não. Trata-se de um mau argumento de um bom homem.

Retomo
“E quem é você para apontar o equívoco de Celso de Mello?” Ora, sou alguém com direito de marchar em favor da maconha — licença que ele me deu, de que me dispenso — e alguém com direito de apontar os equívocos de Celso de Mello, licença que a Constituição me dá.

Ainda mais quando não estou sozinho. Nunca exerci aqui o “argumento de autoridade”, até porque não poderia. Deixo isso para os doutores. Faço, a exemplo da imprensa honesta — que não está a serviço de um partido —, o debate.

Muito bem! Para o jornal de Tatuí, Mello disse o seguinte: “Há alguns que ainda insistem em dizer que não fui exposto a uma brutal pressão midiática. Basta ler, no entanto, os artigos e editoriais publicados em diversos meios de comunicação social (os “mass media’) para se concluir diversamente! É de registrar-se que essa pressão, além de inadequada e insólita, resultou absolutamente inútil”.

Eita! Não se chama imprensa de “mass media”, acho, desde os tempos em que professores de comunicação caceteavam os alunos com McLuhan — espero que já tenham mudado de assunto, se é que ainda se fala de livros em curso de jornalismo, sei lá… Desde quanto “artigos e editoriais” caracterizam “pressão insólita e inusitada”? Digam-me cá: os artigos e editoriais da subimprensa financiada por estatais e por gestões petistas — DINHEIRO PÚBLICO NA VEIA — em favor da aceitação dos infringentes entram nessa categoria? Os elogios rasgados que Celso de Mello recebeu — num deles, a imagem de Joaquim Barbosa aparecia associada a um macaco — depois do voto merecem também essa qualificação?

Ao conversar com a jornalista da Folha, Mello resolveu avançar. Leiam:
“Eu imaginava que isso [pressão da mídia para que votasse contra o pedido dos réus] pudesse ocorrer e não me senti pressionado. Mas foi insólito esse comportamento. Nada impede que você critique ou expresse o seu pensamento. O que não tem sentido é pressionar o juiz.”

Então, agora, a excelência se obriga a distinguir a “liberdade de expressão” — que, a seu juízo, entendo eu, abriga até a apologia do crime — da “pressão”. Quem o pressionou, ministro? Supõe-se que aquele que o faz disponha de instrumentos para tanto. Quais?

A queixa de Celso de Mello à coluna da Folha é longa. E ele jamais diz em que momento a liberdade de expressão passou à condição de pressão. Aí, julgando que já tinha batido bastante na ferradura, resolveu acertar ao menos uma no cravo. Tentando ser magnânimo, falou uma bobagem. Prestem atenção:
“Os meios de comunicação cumprem o seu dever de buscar, veicular informação e opinar sobre os fatos. Exercem legitimamente função que o STF lhes reconhece. E o tribunal tem estado atento a isso. A plena liberdade de expressão é inquestionável.”

Errado, ministro!
O STF não nos “reconhece” nada, meu senhor! A liberdade de expressão é uma conquista da democracia, que encontra abrigo na Constituição da República Federativa do Brasil. Eu não sou livre para dizer o que penso porque o tribunal “reconhece” o que quer que seja; sou livre porque é o que está disposto nos Artigos 5º e 220 da Carta Magna, ora bolas!

Mello quer saber o que é pressão?
Mello sabe o que escreve a “mídia petista” sobre os cinco ministros que recusaram os infringentes? Pior! Ela o faz, insisto no ponto, com dinheiro público. Não deixa de ser uma espécie de mensalão, exercido por outros meios. É isto: ESTATAIS E GOVERNO PAGAM UM MENSALÃO A ESSES VEÍCULOS PARA QUE ELES:
a) falem bem do governo;
b) falem mal da oposição;
c) ataquem a imprensa livre;
d) ataquem os ministros do STF que não fazem as suas vontades.

O próprio Celso de Mello foi alvo das baixarias quando decidiu que cabia ao Supremo a decisão sobre o mandato dos parlamentares condenados.

Pressão vagabunda, ilegal e inaceitável foi a que fez uma revista, com amplo financiamento oficial, ao acusar, por exemplo, o ministro Gilmar Mendes de estar numa lista de beneficiários do esquema de Marcos Valério. A peça indigna veio a público uma semana antes do início do julgamento. Dias depois, a evidência: a lista era falsa, produto do trabalho sujo de um conhecido lobista e estelionatário. Celso de Mello não ficou indignado? Incomoda-se agora com editoriais? Ora, ministro…

Concluindo
No dia 18, escrevi um longo e respeitoso artigo sobre o voto de Celso de Mello. Dizia por que discordava dele, mas notava:
“À diferença do subjornalismo a soldo, financiado por estatais e por aliados do governo federal para atacar jornalistas, juízes e políticos da oposição, sei a diferença entre a divergência e a pura e simples desqualificação. Assim, não me divorcio do respeito que nutro por Celso de Mello”.

Aquelas minhas palavras continuam valendo. Por esse Celso de Mello, no entanto, que passou a choramingar porque foi criticado; por esse Celso de Mello, que toma divergência por “pressão insólita”; por esse Celso de Mello, que classifica de “irracionais” os que dele discordam; por esse Celso de Mello, que ignora as pressões exercidas pela imprensa oficialesca contra seus colegas; por esse Celso de Mello, que finge ignorar que réus (então) como José Dirceu e João Paulo Cunha fizeram até plenárias Brasil afora para demonizar o STF, ah, meus caros, por esse Celso de Mello, não tenho respeito nenhum! 

O ministro se aposenta em novembro de 2015. Já fez menção de antecipar a saída. Àquele outro, que não confunde divergência com agressão, recomendei: “Fica!”. A este, que diz prezar a liberdade de expressão desde que ela não seja plenamente exercida, digo “Vai!”.

PS – Não custa notar: ao decano, caberia, dadas as circunstâncias, desarmar os espíritos, investir na concórdia, afastar o confronto. Por alguma misteriosa razão — pode até ser só vaidade —, ele faz o contrário. 

Por Reinaldo Azevedo

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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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