Dilma, a paradinha em Portugal... (e como é uma República, com ou sem olheiras...)
Dilma, a paradinha em Portugal e como é uma República, com ou sem olheiras
Impressionante a trapalhada, na melhor das hipóteses, em que se meteram Dilma Rousseff e seus gênios da estratégia, com essa história da escala em Portugal. Que se passa? Os poderosos no Brasil estão tão acostumados a mentir — não necessariamente por dolo, mas porque se considera que é parte do ofício da política — que se procura criar uma farsa até quando isso não traz benefício nenhum ao mentiroso, muito pelo contrário. E, como notam, estou, por princípio, sendo benevolente. Vamos ver.
Não custa lembrar que Portugal não é um bom país para petistas fazerem viagens misteriosas. Nada contra a Terrinha — muito pelo contrário, tudo a favor, incluindo, consta, o restaurante Eleven. É que, bem…, o país foi palco de um dos episódios mais estrepitosos do mensalão, não é?
Memória: em depoimento à Procuradoria Geral da República, Marcos Valério acusou a participação de Lula na intermediação de um “empréstimo” (assim mesmo, com aspas…) de R$ 7 milhões da Portugal Telecom para o PT. Segundo o publicitário, uma fornecedora da Portugal Telecom, sediada em Macau, repassou o dinheiro ao PT para quitar dívidas de campanha. Os recursos teriam entrado no país por meio das contas de publicitários que trabalharam para o partido. Segundo a denúncia, Lula teria se reunido com Miguel Horta, então presidente da Portugal Telecom, para negociar o repasse. A transação estaria ligada a uma viagem feita por Valério a Portugal em 2005. O episódio foi usado, no julgamento do mensalão como uma prova da influência do publicitário em negociações financeiras envolvendo o PT. Portugal é também uma das bases de operação do “consultor de empresas privadas” José Dirceu.
Das mentiras
A viagem não estava na agenda da presidente, e as desculpas oficialmente apresentadas, a esta altura, já foram desmoralizadas. Segundo informa a Folha, o “chef” Joachim Koerper, do restaurante Eleven, afirma ter recebido funcionários da Embaixada do Brasil em Lisboa para uma “vistoria” na véspera da visita de Dilma. Assim, a mudança de planos de última hora em razão do mau tempo nos EUA — o que teria forçado a escala em Portugal, já que o avião não teria autonomia par voar de Suíça a Cuba — não cola.
De fato, em princípio, é irrelevante se a escala é num lugar ou noutro. Ainda que a presidente tenha escolhido o maior conforto — e a gente nota que ninguém economizou dinheiro em Portugal —, isso não é um grande pecado. Mas mentir é feio.
A esta altura, está claro que o Planalto está escondendo alguma coisa. Mas o quê? Pode até ser nada — é o que chamo de “Comportamento Pipoca”, homenagem a uma vira-latinha aqui de casa. Se ela acha um papel de bala ou um pregador de roupa no chão, leva para o seu travesseirinho e se deita em cima da irrelevância, com aquele ar de quem “esconde alguma coisa”. Você se aproxima, e ela começa a bater nervosamente a causa: “Estou escondendo algo precioso…”
O PSDB já acionou o Ministério Público Federal e a Comissão de Ética da própria Presidência, pedindo que avalie o comportamento da presidente e de sua comitiva. Fazer o quê? Pode até parecer uma bobagem, mas a oposição tem a obrigação de fazê-lo. Uma bom modo de isso não acontecer é o Planalto parar de apresentar explicações falsas. Isso nos obriga a fazer a pergunta óbvia: mas que diabos Dilma foi fazer em Portugal? E noto: essa história de ela ter ido a um dos três restaurantes com uma estrela do Guia Michelin não quer dizer nada. Mentira é mentira — no Eleven ou num boteco.
A foto
Dilma posou para foto ao lado de Joachim Koerper, o tal “chef”. A foto já está em toda parte. Os politcólogos da presidente e ela própria não gostaram da imagem. A presidente aparece com olheiras jamais exibidas no Brasil. As redes sociais fazem a festa. O Eleven é controlado pela rede de hotéis “Thema”, que postou a foto no Istagram. O adminitrador da conta não economizou: “Nem todos podem ser bonitos”. Acho, sem querer ganhar um troninho entre os politicamente corretos, esse tipo de observação sempre complicada porque, fosse a presidente um homem, ninguém se ocuparia da questão. Esse peso só existe sobre o ombro das mulheres. Sem contar a grosseria. De resto, acho Dilma incompetente, mas não feia.
De todo modo, melhor teria feito Dilma se tivesse maquiado o entorno dos olhos, não o motivo da viagem. Mas que fique claro: a primeira questão não tem a menor importância; a segunda diz respeito às regras de funcionamento de uma República. Para homens e mulheres. Com ou sem olheiras.
Por Reinaldo Azevedo
PT vai aprimorar a sua Polícia Política na Internet
No dia 30 de abril de 2012, escrevi aqui um post sobre um troço chamado “MAV” — Mobilização de Ambientes Virtuais. Trata-se de um grupo criado pelo PT para vigiar a Internet e patrulhar as redes sociais. Uma personalidade mais ou menos conhecida faz alguma afirmação no Twitter de que os petistas discordam? Eles partem pra cima. O mesmo se dá no Facebook. Palavras de ordem e boçalidades contra a oposição e o jornalismo independente são replicadas em penca em centenas de sites, blogs etc. Trata-se, obviamente, de uma forma de fraudar as redes sociais.
Pois bem. Leiam o que informa Bruno Benevides na Folha (em vermelho). Voto em seguida:
O PT pretende fazer encontros com internautas de movimentos sociais para articular uma atuação na internet. “Existe uma presença conservadora nas redes, de pessoas que defendem a volta da ditadura, o [deputado federal Jair] Bolsonaro”, disse o secretário nacional de Comunicação do partido, o vereador José Américo (SP). Segundo ele, a ideia é organizar uma resposta progressista a essas ideias.
“Vamos fazer algo mais amplo, que reúna movimentos sociais, não só militantes do PT”, disse Américo, após reunião na sede do partido em São Paulo. O encontro discutiu exatamente a estratégia de comunicação do PT.
(…)
Retomo
Ou por outra: o PT vai azeitar a sua Polícia Política informal, criada para patrulhar a rede. Já escrevi bastante a respeito e reitero alguns pontos de vista.
Na Internet, no jornalismo impresso e também na TV, ex-jornalistas tiveram a pena alugada pelo petismo para agredir lideranças da oposição e, ainda com mais energia, a imprensa. Tentam desacreditá-la para dar, então, relevo às verdades do partido. Alguém poderia dizer: “Até aí, Reinaldo, tudo bem! Eles estão fazendo a guerra de opinião”. Não está tudo bem, não! Esse trabalho é financiado com dinheiro público — sejam verbas do governo federal e de governos estaduais ou municipais do partido, sejam verbas de estatais. Vale dizer: é o dinheiro público que financia uma campanha suja que é de interesse de uma legenda.
Essas publicações — blogs, sites e revistas sustentados com dinheiro dos cidadãos — formam uma espécie de central de produção de difamações que a tal “MAV” vai espalhar pela rede. O núcleo mais forte está em São Paulo, mas o próprio partido anuncia que está criando outros país afora. Assim, meus caros, já não se pense mais no PT como o partido que aparelha apenas sindicatos, movimentos sociais, ONGs, autarquias, estatais, fundos de pensão e, obviamente, o estado brasileiro. Não! Os petistas decidiram aparelhar também a Internet.
Este blog
Entenderam por que é quase impossível fazer um debate honesto, entre indivíduos, em áreas de comentários de páginas abertas ao público? Vocês serão sempre espionados, monitorados e, como se diz por aí, “trolados” por um grupo organizado. Que fique claro: não são indivíduos petistas debatendo. Trata-se de uma tropa de assalto à livre expressão. Não raro, são de um agressividade asquerosa. É por isso que expulso deste blog os chamados “petralhas”. Faço-o em benefício da verdade do debate — é uma mentira cretina essa história de que todos os meus leitores pensam a mesma coisa. Ora, eu não quero aqui patrulheiros da opinião alheia. Pior ainda: falando em nome da “verdade oficial”.
Qual é, no que diz respeito à informação, a natureza da Internet? É, ou deveria ser, o território dos indivíduos, que têm, finalmente, a chance de se expressar com seu pensamento, suas sentenças, seus conhecimentos e até seus preconceitos — afinal, no confronto e no convívio com outros, têm a chance de aprender e de mudar de opinião. E, por certo, políticos e partidos podem e devem criar suas páginas. Não há mal nenhum nisso. Desde que fique claro de quem é aquela voz.
O MAV subverte e corrompe a essência da liberdade na rede. A tropa que esse núcleo mobiliza nunca deixa claro que está cumprindo uma tarefa. O debate se dá de maneira desigual: de um lado, um indivíduo com suas opiniões, suas angústias, suas dúvidas; de outro o oficialismo organizado para impedir a livre circulação de ideias, tentando confiná-las nos escaninhos da verdade partidária.
Por Reinaldo Azevedo
O JN decide ser juiz de condenação da ação dos PMs de SP, que foram atacados. Pau nas vítimas!
O Jornal Nacional acaba de levar ao ar uma reportagem sobre o rapaz que levou dois tiros de policiais em São Paulo. Tudo foi razoavelmente equilibrado. E olhem que o equilíbrio entre a ação criminosa e ação de combate ao crime já rende um bom debate moral. Até que o JN decidiu desempatar a coisa e levou ao ar a opinião de Oscar Vilhena Vieira, apresentado como “especialista”. E o “especialista” desceu o pau na polícia, é claro.
Especialista?
Vieira e professor de “Direito Constitucional” da Fundação Getulio Vargas. Reproduzo o seu currículo, que está na página da GV. Leiam:
“É Diretor da DIREITO GV. Possui graduação em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1988), Mestrado em Direito pela Universidade de Columbia (1995), Mestrado (1991) e Doutorado em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (1998) e Pós-doutorado pelo Centre for Brazilian Studies (St. Antonies College, Oxford University). Oscar Vilhena Vieira foi Procurador do Estado em São Paulo, diretor executivo do Instituto Latino Americano das Nações Unidas para Prevenção do Crime (ILANUD), assim como fundador e diretor da organização Conectas Direitos Humanos. Na advocacia Oscar Vilhena Vieira tem se concentrado em casos de interesse público junto ao Supremo Tribunal Federal.”
Cadê a experiência que o habilita a ser apresentado como “especialista” em ações policiais?
Daqui a pouco o JN estará na Internet, e poderemos ouvir de novo, na íntegra, a sua fala. Ele diz, claro, que as manifestações não podem ser violentas e coisa e tal, mas afirma que a função da polícia é garantir a segurança das pessoas, principalmente dos manifestantes. Não! A polícia garante, como tem feito, a segurança TAMBÉM dos manifestantes. E cumpre o seu papel. Ou o JN registrou alguma agressão ao direito de manifestação?
Que história é essa de “principalmente dos manifestantes”??? É mesmo??? Quero a lei!!! Em que lugar está escrito isso??? Qual é o texto que ampara essa afirmação??? Se algum “especialista” disser que a Terra é quadrada, como Lula sonhou um dia, a fala vai ao ar, sem contraponto?
O Jornal Nacional, assim, resolveu assumir um lado. Ou será que não havia nenhum “especialista” para dizer que a polícia agiu com correção? Alguém poderia dizer: “Ora, Reinaldo, houve a fala do secretário e do governador”. É mesmo, né? Mas eles, convenham, são apresentados como parte da questão — assim como falou o irmão do rapaz ferido — para negar, contra todas as evidências, que o outro fosse adepto da tática black bloc. Segundo o jovem, seu mano anda com estilete porque é estoquista. Usa a arma para abrir as caixas. Entendi. E depois sai por cai carregando o seu instrumento de trabalho. Crível, sem dúvida.
Quando aparece um “professor” para falar como “especialista”, ele se coloca acima das contendas e se comporta como juiz da operação. O comando da PM deveria convidar o sr. Vilhena para dar uma palestra para a tropa. Já que ele é um “especialista”, certamente diria qual o melhor procedimento naquele caso. Poderia, inclusive, fazer uma demonstração prática.
Ah, sim. Conforme o previsto, o JN não mostrou o filme em que um black bloc é linchado pela pobrada.
Por Reinaldo Azevedo
NÃO EXISTE MANIFESTANTE BALEADO EM SÃO PAULO. ISSO É SÓ MAU USO DA LÍNGUA PORTUGUESA E EXERCÍCIO PORCO DO JORNALISMO
Não existe “manifestante baleado” em São Paulo. Isso é mau uso da língua portuguesa e exercício porco do jornalismo.
Quem quis se manifestar se manifestou, em praz e tranquilamente, protegido pela polícia. Fabrício Proteus Chaves decidiu enfrentar os policiais e atacá-los. Uma câmera de segurança o evidencia. Ele portava essas coisas em sua mochila.
Chave de grifo.
Estiletes.
Bolinhas de gude.
Óculos de proteção.
Vinagre.
Uma substância sólida, com pavio, inflamável, claro — a polícia está avaliando se é também explosiva.
É o kit. Tentaram fazer blague, em junho, com a história do vinagre. É piada para o riso dos idiotas. O vinagre serviria para minimizar os efeitos da bomba de gás lacrimogêneo. Quem entra nessa já demonstra que está disposto ao confronto — e o mesmo vale para os demais badulaques, não?
“Manifestante” é uma coisa; baderneiro é outra, distinta.
Para afirmar que “manifestante foi baleado”, é preciso considerar que o tal estava apenas “se manifestando” quando avançou contra um policial caído — levando, então, dois tiros.
Sugestão ao Comando da PM
Leio no Estadão (em vermelho):
O defensor público Carlos Weis, coordenador de direitos humanos da Defensoria Pública de São Paulo, acompanha o caso de perto. Outro defensor estava no local por acaso e conversou com pessoas que filmaram o rapaz baleado. “Segundo os relatos, havia três policiais contra uma pessoa com arma branca. É evidente que havia outros meios menos letais de resolver a situação.
Ah, é? Acho que o comando da PM deveria convidar o sr. Carlos Weis para dar um curso aos policiais. Ele vai lá, fica na posição daquele que cai, e alguém avança — mas vai ter de ser para valer — pra cima dele com uma arma branca. E ele, então, mostra aos homens como se safar.
Em defesa da sociedade ou de um país, a primeira obrigação de um policial ou de um soldado é não morrer e não deixar que seu parceiro morra. Se o sr. Weis não entende essa lógica, então ele não entende nada. Eu espero que Fabrício fique bom e se recupere plenamente para a tranquilidade dos seus familiares e para responder legalmente por aquilo que fez.
Por Reinaldo Azevedo
Um vídeo quase clandestino: um black bloc é linchado pelo “povo”; promotor de eventos diz em cima do palco: “Vamos dar porrada neles”
Pois é… Se a Polícia Militar não pode agir porque passa a ser tratada pela imprensa como bandida, a população começa a tomar a tarefa para si. Sim, leitor amigo, esse é o pior dos mundos. Vejam este vídeo, feito pelo Estadão, mas quase clandestino. Sei lá por quê, a página online do jornal decidiu não lhe dar a devida visibilidade. Volto em seguida.
Como se vê, um adepto da tal tática black bloc é descoberto por pessoas que estavam presentes a um show de black music. Na Praça da República. O rapaz é severamente espancado, linchado mesmo. Em sua mochila, a polícia encontrou um estilingue, quatro sacos de bolinhas de gude, um capacete preto, um par de luvas e máscaras. É, como se sabe, o uniforme dos black blocs.
Reitero: numa democracia, as forças de segurança, incluindo as polícias, detêm o monopólio do uso da força. Se, por qualquer razão, o estado se mostra ineficiente para cumprir o seu papel, a sociedade, de forma desorganizada, toma essa tarefa para si. E, aí, meus caros, vira a luta de todos contra todos. A população de São Paulo e de boa parte das grandes cidades brasileiras não suporta mais esses caras.
É claro que não endosso a selvageria. Mas pergunto: não é exatamente essa a linguagem dos black blocs? A do confronto? A da violência? Se os seguranças não tiram aquele infeliz de lá, é evidente que ele teria morrido. A irresponsabilidade de certas áreas do Poder Público, da imprensa, do Ministério Público e da Defensoria acabará produzindo cadáveres.
Assim não, senhor William Santiago
E cumpre censurar também severamente a fala do sr. William Santiago, o tal que, sobre o palco, afirma:
“Nós demoramos muito para ter esse espaço; um espaço nosso, da black music, dos nossos afrodescendentes. Se eles ciscarem por aqui, vamos dar porrada neles. Vamos dar porrada. Eles não entram mais aqui”.
É evidente que o caminho não é esse. É evidente que não é com o estímulo á violência e à pancadaria que as coisas se resolvem. E agora uma questão que diz respeito ao jornalismo.
Jornal Nacional?
Um vídeo como esse merece ou não ir para o Jornal Nacional? Alguém dirá, cheio de prudência: “Melhor não! Pode incentivar a população a quebrar esses caras”. Entendo. Mas tenho de perguntar: quando as TVs — não só a Globo — cobrem muitas vezes ao vivo os atos terroristas desses vândalos, dando-lhes visibilidade, não estaria contribuindo para lhes conferir uma importância política que não têm? É uma questão a ser pensada. Tudo o que eles querem é um “assinatura” na baderna.
Escrevi aqui no dia 23 para protesto de alguns: “A população de São Paulo — ESPECIALMENTE OS MAIS POBRES — gosta é de ordem e de polícia cumprindo a sua função. Quem gosta de bagunça é subintelectual do miolo mole, militantes de esquerda e, infelizmente, alguns coleguinhas.”
Muita gente protestou. Nesse mesmo texto, aconselhei:
“As redações deveriam enviar seus repórteres para fazer um treinamento intensivo com o “povo” — mas povo mesmo, de verdade, o que exclui as entidades e ONGs de militantes usurpadores, que pretendem falar em seu lugar.”
Por Reinaldo Azevedo
Estou me lixando se protestos violentos colaboram ou não com a reeleição de Dilma; petistas não definem o que eu penso; conservador que se regozija com a baderna não é conservador, mas burro
Eu estou pouco me lixando se a eventual retomada dos protestos de rua, com sua violência arreganhada, é útil ou prejudicial para Dilma, colabora ou não com a reeleição. Isso, para mim, não tem a menor importância.
Se o Brasil que está adormecido em berço esplêndido é esse, ele que fique lá dormindo. Não há nada de civilizado ou que preste nisso. Esses valores não me interessam e estão distantes da civilização que quero. Isso não me serve. Gente que sai quebrando tudo por aí merece é cana, é cadeia. Não tenho compromisso com esses vagabundos nem acho que eles são o sintoma de um mal-estar. São, a exemplo de outros desajustes, expressão da nossa dificuldade de fazer valer a lei. É simples.
“Ah, então isso nada tem a ver com o petismo?” Tem, sim, mas de um modo que a esmagadora maioria da imprensa se nega a ver pela simples e evidente razão de que boa parte dos jornalistas está à esquerda do PT. Hoje em dia, olha mesmo com olhos desejosos para coisas como PSOL e congêneres — vejam, por exemplo, a esquerda radical com vista para o mar da Vieira Souto, no Rio. Ou os extremistas do Alto de Pinheiros, em São Paulo.
Essa desordem é fruto, sim, do ataque sistemático à ordem, muito especialmente à ordem democrática. E o PT, é inequívoco, sempre incentivou essa prática e é seu tributário. Ocorre que o partido chegou ao poder e, hoje em dia, é beneficiário da ordem. Sem a dita-cuja, não há, por exemplo, Copa do Mundo — que, no que concerne à infraestrutura, será capenga, como todo mundo sabe.
Foi com o petismo que os “radicais” de agora aprenderam que esse negócio de lei e de respeito ao outro é um sentimento reacionário e burguês — um dos gritos de guerra da turma do quebra-quebra, diga-se, é este: “Ei, burguês, a culpa de vocês”. Sim, a gramática e a ideologia estão estropiadas. Tudo bem! Eles querem mudar o mundo, certo?
O PT fica perplexo porque não está preparado para isso. As franjas do partido que estão no Ministério Público, na Defensoria Pública, no jornalismo etc. não resistem à tentação de demonizar a polícia, quando ela acerta e quando ela erra. Como de hábito, fazem a luta do bem contra o mal.
A rede suja na Internet, financiada por estatais, ainda tenta — bando de bocós com os bolsos cheios — espalhar a besteira de que o “Não Vai Ter Copa” é coisa da “direita”, como fez aquele cineasta do Leblon. Tenham paciência! Se houver algum direitista ou conservador que condescenda com isso, não é nem direitista nem conservador; é apenas burro.
Não me pergunto agora e não me perguntei em junho se esses eventos são bons ou maus para Dilma. Pouco me importa saber o que ela e os petistas pensam a respeito — não para definir, ao menos, o que eu penso. Se me preocupasse com isso, seria escravo deles. E eu não sou. Eles não são, vamos dizer, o meu “oposto privilegiado”, os meus interlocutores imaginários “do outro lado”. Essa gente é de tal sorte ruim que, como adversária, nos deseduca.
A sociedade que eu quero, com menos estado e mais responsabilidade individual; com respeito aos direitos individuais e aos direitos coletivos; que saiba distinguir o espaço privado do espaço público; que assuma que a praça não é de ninguém porque é de todos; que não confere a grupos de pressão o direito de impor ao conjunto da sociedade a sua agenda, essa “minha” sociedade — liberal e conservadora dos valores democráticos — sai necessariamente perdendo com esse tipo de expressão do descontentamento.
Já escrevi aqui e reitero: não sou apocalíptico; não acho que sobrevirá um grande desastre se as coisas continuarem assim… Se as coisas continuarem assim, o país continuará assim, incapaz de respeitar seus cidadãos. Só isso. O Brasil não acaba. Sempre haverá um, de um jeito ou de outro.
Por Reinaldo Azevedo
Liberdade sem disciplina e valores é caos
A imprensa, felizmente, é livre para publicar o que acha que tem de ser publicado. A escola de pensamento que garante essa liberdade é tributária e herdeira da democracia liberal, como se sabe, não das esquerdas — sejam elas contra a Copa ou a favor dela. Essa é uma questão absolutamente irrelevante porque é falsa. Liberdade sem disciplina é escravidão. Liberdade sem hierarquia de valores atenta contra a Justiça, que, na raiz da palavra, quer dizer “equilíbrio”.
Vocês viram o vídeo em que o tal “manifestante” leva dois tiros. Vocês viram as circunstâncias. Como conciliar o que é fato com esta informação publicada pelo Estadão (em vermelho):
Um morador da região que não quis se identificar disse que estava chegando em casa quando presenciou a ação. ‘Eram três policias descendo a rua correndo atrás do menino. Depois dos tiros, o rapaz saiu cambaleando e um policial ainda deu um empurrão nele em cima da árvore’, relatou. Uma poça de sangue se formou em frente a um dos prédios da Rua Sabará, mas neste domingo só havia rastros de sangue no canteiro em que Chaves ficou esperando para ser socorrido.
Não fosse a câmera de segurança, a mentira do anônimo estaria consolidada. Sou do tempo em que informações dessa natureza só iam parar na imprensa depois de devidamente apuradas — checadas como se diz. Sim, o tempo passa. Naqueles dias, o “povo” ouvia Márcio Greyck: “Nããão, eu não consigo acreditar no que aconteceu/ era um sonho meu…”. Aí o tolo indaga: “Com saudade da ditadura, Reinaldo?”. Eu nunca tenho saudade de nada, só do futuro. Ditadura? Lutei contra e apanhei. O que o decoro tem a ver com isso?
Já chefiei um jornal. Certa feita espumei de ódio porque, num caso estrepitoso de suicídio de uma jovem, jornalistas acharam que era conveniente ouvir a vizinhança a respeito da morte da moça — que foi “suicidada” uma segunda vez, na boca dos vizinhos… “Ah, ela era estranha…” “Ela sempre chegava tarde.” “Ela não cumprimentava ninguém…” Estabeleci uma regra: “Fica proibida a fofoca no jornal. Declarações anônimas que comprometam a reputação de pessoas com nome não saem mais nestas páginas. As elogiosas ficam submetidas a consultas prévias”.
Por Reinaldo Azevedo
A antropóloga e o rolezinho. Ou: Caelum, non animum mutant, qui trans mare currunt
“Caelum, non animum mutant, qui trans mare currunt.” É do poeta latino Horácio (65 a.C.-8 a.C.), que disse quase tudo o que interessa saber ainda hoje. Os que atravessam o oceano mudam de céu, mas não de espírito. Eu mesmo, vejam bem, saí de Dois Córregos, mas Dois Córregos não saiu de mim, entendem? É a velha história: no fim das contas, tudo termina mesmo é no rio da nossa aldeia. Não acho isso ruim, não. É preciso descobrir o universo nos seus badulaques íntimos, leitor. Mas esse localismo também pode se manifestar de forma bem pouco virtuosa, sabem?
A Folha Online traz uma entrevista com a antropóloga, Rosana Pinheiro-Machado, professora de antropologia do desenvolvimento na Universidade de Oxford, na Inglaterra. Com esse currículo, a gente fica até receoso de ter perdido alguma coisa na leitura. Rosana analisa os rolezinhos — ela andou estudando a coisa. Antropólogos costumam ser bem, como direi, focados. Leiam duas perguntas e duas respostas:
Você escreveu que “há contestação política nesse evento”. Ela é consciente?
Não, é implícita, ao menos no passado. Se vestir bem e ocupar um shopping é uma forma de reivindicar espaço e o “direito à cidade”. Uma forma implícita de protestar contra o racismo e discriminação de classe. Para os jovens, é importante “estar bonito” para ir para “o centro”. Porém, nos últimos dias, temos visto uma politização bastante interessante. Os jovens da periferia estão sendo protagonistas agora e esse é um momento muito especial na nossa história.
Você também escreveu que “adorar os símbolos de poder – no caso, as marcas – dificilmente remete à ideia de resistência que tanta gente procura encontrar nesse ato”. Assim sendo, qual o sentido da contestação política nos “rolezinhos”?
Simples: a exclusão que existe é social. Ao se usar de símbolos de marca, eles querem pertencer a essa sociedade de bem estar que só aparece na televisão. Afinal, na vida real, o cotidiano é marcado por “porradas” da polícia, escola sem professor e fila do SUS. Resistência é um ato de resistir às normas hegemônicas do poder. Mas não se pode ter ilusão de que aqueles meninos de 16 anos queriam fazer uma revolução, eles apenas querem se divertir, brincar, mas fazem isso de forma que acaba sendo quase subversiva. Afinal, é inesperado para muitos que jovens da periferia pobres queiram também a riqueza.
(…)
Retomo
Adorei o “simples”!!! Ah, lá estão as “porradas da polícia” — que parece existir com a finalidade precípua de reprimir os pobres. A impressão que se tem é que a elite rica e branca montou uma força militar só para se proteger daqueles que Gilberto Carvalho chama “negros e morenos”.
Entendi o triplo salto carpado dialético: os meninos querem resistir, mas é uma resistência, vejam bem, que se dá por intermédio da assimilação dos valores daqueles que eles contestam, ainda que sem saber, compreenderam? Não??? Como culpá-los? Os meninos podem não saber que são subversivos, mas a antropóloga sabe.
Deixem-me ver se entendi: se os garotos da periferia, então, estivessem articulando valores novos, trajes novos e hábitos novos, um antropólogo diria tratar-se, não tenho dúvida, de “resistência”. Como, ao contrário, eles querem calça de grife, boné de grife e tênis de grife, não pensem que isso é adesão aos valores dominantes, então, dessa “maldita” sociedade de consumo. É nada!!! Continua resistência mesmo assim. Tanto resistem os que fazem uma coisa como os que fazem o seu contrário.
Para os nossos “intelequituais”, estejam em Dois Córregos ou em Harvard, o mundo se divide em castas e ponto final. Um “pobre da periferia” será sempre um pobre da periferia, mesmo quando ele se veste como um rico, cultiva os valores do rico, consome as coisas do rico e, ó escândalo!, se torna um rico. Nessa visão, as pessoas carregam suas máculas de nascimento. Ela vai pensar mais um pouco:
O “rolezinho” é um fenômeno tipicamente contemporâneo ou poderia ter acontecido no passado?
É um fenômeno contemporâneo e antigo. Antigo porque os grupos populares periféricos sempre ocuparam espaços das elites desde a abolição da escravatura no Brasil. E sempre foram expulsos desses lugares por meio de políticas higienistas e por meio da força policial. Mas também é um fenômeno novo porque está imbuído de novos elementos: o funk ostentação, a globalização, as redes sociais e o próprio momento especial da sociedade brasileira que, desde o ano passado, tem participado de uma fase de maior reivindicação democrática de todas as ordens, bem como de maior intolerância quanto às injustiças sociais.
Comento
A tese poderia, ao menos, não ser desmoralizada, de saída, pelo mais elementar de todos os fatos: os rolezinhos foram feitos em shoppings da periferia, construídos para os moradores dessa periferia e por eles frequentados. Aquele ambiente já é deles.
Eu sempre fico fascinado quando um “especialista” junta funk ostentação, globalização, redes sociais e reivindicações por mais democracia. Isso desperta na gente a sensação de estar diante de um pensamento mais profundo do que o jornal é capaz de registrar. Como a Internet está aí, e é possível escrever textos de 200 quilômetros sem gastar papel, eu fico à espera do desenvolvimento da tese. Interessa-me, sobretudo, a articulação entre o funk e a globalização. E também fiquei curioso em saber como a apropriação dos, vá lá, hábitos do “opressor” (o consumismo…) tem um caráter subversivo.
“Caelum, non animum mutant, qui trans mare currunt.” Com todo o respeito, a professora atravessou o oceano, mas o oceano não mudou a professora. Repete a bobajada que a esquerda nativa anda a dizer, em sua própria terra, sobre os rolezinhos porque vê o pobre segundo o manual da luta de classes.
Diga-me cá, ó mestra: quando o moleque põe um boné da John-John, ele não pode apenas estar querendo, genuinamente, um boné da John-John, além de estar dizendo para si mesmo que vai lutar, por seus próprios meios, para sair da pobreza? Se, um dia, ele chegar a ser presidente de uma multinacional, segundo o seu ponto de vista — o da incorporação do consumo como ato de resistência —, ele será o quê? Um Che Guevara?
É impressionante como todas as teses das esquerdas, sem exceção, são desmoralizadas pelos fatos, o que as torna, então, ainda mais convictas. Entendo. Deve ser terrível ver os “negros e morenos” (by Gilberto Carvalho) da periferia a desmoralizar anos de ideologia vertidas em antropologia da reparação.
Por Reinaldo Azevedo
Pelo direito de furar policiais e virar herói em setores da imprensa paulistana
Ah, bom! Agora aprendemos que, quando alguém perseguido pela polícia se volta, com um canivete na mão (pouco imposta se estilete, caco de vidro ou uma simples caneta esferográfica), contra um policial caído, este deve dizer: “Calma, meu rapaz, não é assim que se faz. Por favor, vamos dialogar”.
A escalada da irresponsabilidade no caso dos protestos, sob ou o silêncio cúmplice das autoridades federais — Dilma inclusive (ainda volto a esse ponto) —, ou o franco estimulo à baderna está perdendo a noção do ridículo.
Reivindicou — e levou — o “direito” de fazer manifestação onde dá na telha, de depredar patrimônio público e privado, de paralisar a cidade e por aí vai…
Agora, pelo visto, os “progressistas” querem também pôr fim ao direito à legítima defesa. Se o “sujeito” for um “manifestante”, ele ganha o direito de furar os policiais.
É asqueroso!
Por Reinaldo Azevedo
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